Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Repórteres violam privacidade de clientes

Repórteres da agência de notícias financeiras Bloomberg News usaram os terminais da empresa para obter informações privadas de assinantes. O sistema de terminais é um serviço pago usado por bancos e companhias para acesso em tempo real a dados do mercado financeiro.

A revelação de que jornalistas da Bloomberg News, braço jornalístico da Bloomberg L.P., teriam usado os terminais para monitorar o acesso de assinantes ao serviço e descobrir que funções eram utilizadas, como o canal de notícias, as negociações de títulos corporativos ou o índice de ações, foi confirmada pela empresa na sexta-feira (10/5). Os terminais custam anualmente mais de 20 mil dólares.

A Bloomberg disse que as funções que permitiam esse uso por jornalistas eram um erro e foram imediatamente desligadas após o banco de investimento Goldman Sachs reclamar que um repórter, ao perguntar sobre a demissão de um funcionário, apontou que o empregado não havia utilizado o seu terminal ultimamente. O incidente levou a questionamentos mais amplos sobre a relação entre os terminais e a competitiva redação da Bloomberg, ameaçando acabar com a credibilidade dos dois negócios da empresa.

“Em Wall Street, o anonimato é crucialmente importante. O sigilo é primordial”, disse Michael J. Driscoll, professor da Universidade Adelphi. “Se os repórteres da Bloomberg violaram essa linha, é um problema”.

Confiança

O uso dos terminais para a apuração de reportagens parece ser maior do que somente o incidente do Goldman Sachs, reportado pelo New York Post. Uma análise preliminar revelou que “centenas” de repórteres teriam usado a mesma técnica. Também há receio de que o monitoramento tenha ido além de Wall Street. Funcionários do Federal Reserve estão examinando se também foram monitorados pelos repórteres da empresa.

Os terminais da Bloomberg têm mais de 315 mil assinantes em todo o mundo, que dependem do serviço para pesquisa, comércio, comunicação e constante atualização de informações financeiras e notícias.

Daniel Doctoroff, executivo-chefe da Bloomberg L.P., disse em uma nota para funcionários que “a confiança é nossa maior prioridade e pedra fundamental para nosso negócio”. Michael Bloomberg, fundador da empresa, afastou-se das operações cotidianas quando se tornou prefeito da cidade de Nova York. “Para ficar claro, as informações disponíveis para nossos repórteres nunca incluíram acesso às nossas transações, portfólio, registros ou mensagens de clientes”, continuou Doctoroff. Ele escreveu uma mensagem para os clientes nos terminais e no blog da Bloomberg, classificando a prática de “erro”.

Matt Winkler, editor-chefe da Bloomberg News, também contatou o Goldman Sachs para se desculpar. Em uma reunião, ele lembrou os repórteres sobre a política da companhia para o uso de terminais e o acordo de confidencialidade com os clientes.

A Thomson Reuters, que compete diretamente com a Bloomberg, fez uma declaração abordando os erros da rival. “Os negócios de finanças da Thomson Reuters e a Reuters são completamente independentes. Os repórteres não possuem acesso a informações confidenciais dos clientes, especialmente qualquer informação relacionada ao uso de nossos produtos ou serviços”, disse Yvonne Diaz, porta-voz da agência.