Wednesday, 08 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1286

A candidata Marina contra a Marina ambientalista

A Marina ambientalista sumiu na campanha presidencial. O foco é o Banco Central e outros tópicos escolhidos a dedo, provavelmente pelos marqueteiros e assessores. Sem falar do contrapeso que significa a escolha do vice Beto Albuquerque, um velho aliado do agronegócio (ver aqui). Olhando a candidata Marina Silva, nem de longe se percebe quem ela foi, tempos atrás, tão apagada que fica a imagem da brava seringueira que lutou junto com Chico Mendes contra os poderosos e bárbaros seringalistas, madeireiros e grileiros acreanos. O que se vê é uma candidata alinhada ao que de pior existe na politica brasileira, os poderosos rentistas, os 1% mais ricos, as 21 mil famílias que detêm, segundo estudo de Marcio Pochmann, mais de 50 % da renda nacional e, é claro!, querem autonomia do Banco Central y otrascositas más, como a Petrobras, por exemplo.

Antes que digam que também Lula e Dilma deram de forma não-explícita autonomia ao Banco Central, respondo que Lula, ao indicar Henrique Meireles, aceitou esta tese, talvez, como parte do movimento tático que compreendeu a assinatura da “Carta aos Brasileiros”. Dilma, no entanto, não só colocou um funcionário de carreira do Banco Central como ousou baixar os juros. Sob a ótica da Casa Grande, dos que sempre mandaram no país, esta é a suprema heresia, hoje cobrada com “juros e correção monetária” pela banca, termo criado pelo Elio Gaspari para denominar o setor financeiro como um todo.

A ironia é que o governo de Dilma pensava conseguir, com a redução dos juros, a simpatia do empresariado nacional, que a todo o momento se manifesta queixoso das altas taxas de juro. Não contavam com o fato de que o empresariado nacional se transformou em rentista (vide reportagem “O Mercado Contra Dilma” de Carlos Drumond na revista CartaCapital número 810, de 30 de julho de 2014) e como tal não estão disposto a aplaudir medidas prejudicais às suas aplicações financeiras. Portanto, a julgar pelo silêncio percebido na época nas fileiras dos donos dos meios de produção, dos empresários, a grita deles contra os altos juros parece mais jogo de cena do que pleito efetivo. Ali seria o caso de um movimento de massas, uma manifestação similar ou maior do que aquela feita pelos 20 centavos da passagem de ônibus. O âmago, ou, pelo menos, um dos pontos-chave da questão Interesse Nacional/Popular versus Capital Financeiro rentista estava em jogo. Como a questão “política de juros” remete mais para uma discussão técnico/acadêmica dada a sua aparente complexidade, ela se constitui um ponto de baixa visibilidade incapaz de gerar grita popular. Só ranger de dentes e promessas de vendetta na varanda da Casa Grande.

Voltando a Marina e ao seu novo discurso. Aliás, a única coisa nova e diferente é o fato de ela encampar integralmente o discurso neoliberal. Ricardo Kotscho vai mais longe e diz que ela não é o Lula de saias, mas Jânio e Collor (ver aqui). Para piorar, ela vai se despindo em slow motion em praça pública do seu passado ao dizer que fizeram uma leitura errônea do seu discurso e que, de fato, nunca foi contra os transgênicos. Só falta a ultima pá de cal, isto é, ela dizer: “Esqueçam pelo que lutei e militei no passado”. O precedente já existe. Seria uma versão déjà vu do dito efeagaciano: “Esqueçam o que escrevi”.

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Jorge Alberto Benitz é engenheiro e consultor