Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

União Europeia e EUA criticam prisão de jornalistas

A polícia turca realizou uma série de operações em veículos de mídia acusados de proximidade com o clérigo muçulmano Fethullah Gülen neste domingo [14/12], e deteve 24 pessoas em todo o país numa manobra contra o que o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, diz ser uma rede de conspiração contra seu governo. Em nota, a União Europeia expressou sua preocupação com as prisões. Já os EUA pediram à Turquia que respeite a liberdade de imprensa, a independência da justiça e “seus fundamentos democráticos”, segundo a porta-voz do Departamento de Estado, Jennifer Psaki.

“As batidas policiais e prisões de vários jornalistas e representantes da mídia na Turquia hoje são incompatíveis com a liberdade dos meios de comunicação, que é um princípio essencial da democracia”, disse a chefe de política externa da UE, Federica Mogherini e o Comissário Johannes Hahn, em declaração conjunta. “Esta operação vai contra os valores e normas europeus, que a Turquia aspira a ser parte. Esperamos que o princípio da presunção de inocência prevaleça e lembramos o direito inalienável de uma investigação independente e transparente em caso de qualquer suposta irregularidade, com pleno respeito dos direitos dos suspeitos”.

As operações da polícia contra o diário “Zaman” e a rede de TV Samanyolu marcam uma aumento na batalha de Erdogan contra seu antigo aliado Gülen, com quem tem travado um conflito desde o surgimento de acusações de corrupção contra aliados de Erdogan surgiram, há um ano.

“A imprensa livre não pode ser silenciada”, gritou uma multidão nos escritórios do “Zaman” após o editor do jornal, Ekrem Dumanli, fazer um discurso desfiando a polícia a prendê-lo.

– A pessoa a ser presa está aqui esperando. Por favor, venham e me prendam. Estou esperando – afirmou Dumanli.

Mandados de prisão foram emitidos contra 32 pessoas, e 24 foram presas em operações policiais em todo o país, incluindo dois ex-comissários de polícia. Entre os detidos estão o presidente e funcionários da rede de TV Samanyolu.

‘Espetáculo vergonhoso’

Num comunicado divulgado no fim do dia, o Ministério Público revelou que os mandados de prisão foram emitidos contra suspeitos de “fundar, dirigir ou pertencer a uma organização armada terrorista, falsificação e calúnia”.

Produtores e funcionários de séries dramáticas da rede Samanyolu também foram presos, junto com o presidente do grupo. Antes de ser detido, Hidayet Karaca denunciou no Twitter a arbitrariedade das prisões.

“Este é um espetáculo vergonhoso para a Turquia”, escreveu Karaca, que passou a noite na redação esperando a polícia. “Infelizmente, na Turquia do século XXI, este é o tratamento dado a um grupo de mídia com dezenas de estações de rádio e televisão, mídia de internet e revistas”.

Kemal Kilicdaroglu, líder dos secularistas do CHP, principal partido da oposição, classificou as operações como “parte de um processo de golpe”, e afirmou que está do lado das vítimas, sejam elas quem forem.

– O que estamos assistindo não acontece numa democracia saudável – afirmou. – É um golpe do governo, um golpe contra a democracia.

Erdogan acusa Gülen de criar uma “estrutura paralela” com seus apoiadores no sistema judiciário, na polícia, e em outras instituições estatais, além de usar sua influência através dos meios de comunicação. O clérigo nega que esteja tentando derrubar o governo de Erdogan.

Recentemente, o presidente turco aumentou o controle do governo sob o judiciário, com uma lei que reestruturou dois dos principais tribunais do país. As acusações de corrupção – apresentadas em dezembro do ano passado – que causaram um escândalo no governo de Erdogan foram retiradas. (Com agências internacionais)