Saturday, 27 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Ex-agente nega vazamento; CIA defende demissão

Ty Cobb, advogado da ex-agente da CIA Mary O. McCarthy, demitida na semana passada, afirmou nesta segunda-feira (24/4) que sua cliente não vazou nenhuma informação confidencial e não revelou à repórter Dana Priest, do Washington Post, a existência de prisões secretas administradas pela agência no Leste Europeu. ‘Mary foi demitida porque a CIA concluiu que ela havia tido contatos não-autorizados com jornalistas, incluindo Dana, violando assim o acordo de sigilo. Isto não significa que ela tenha revelado a existência das prisões para Dana’, alegou Cobb. Segundo o advogado, Mary ‘não teve acesso à informação que é acusada de revelar’.


O advogado e a CIA – segundo um funcionário que não quis se identificar – não dão como certo que Mary tenha sido a fonte da reportagem de Dana, mas os discursos diferem em um ponto: se a ex-agente forneceu, ou não, alguma informação secreta a jornalistas. A CIA contesta as declarações de Cobb, que alegou que Mary nunca divulgou informações confidenciais à mídia. ‘A agente foi demitida pelas razões dadas por nós: por contatos não-autorizados com repórteres e por ter revelado informações confidenciais à imprensa. Não há dúvidas sobre isto; a própria agente confessou’, afirmou Jennifer Millerwise Dyck, porta-voz da CIA. O advogado defende sua cliente. ‘Ela não confessou, oralmente ou por escrito, ter vazado informações confidenciais’, rebate Cobb. Fontes da agência afirmam que o escritório de inspeção geral, no qual Mary trabalhava, sabia da existência do programa de prisões secretas, mas que ela não tinha acesso a informações detalhadas, como a localização das prisões.


Brechas na lei


Especialistas afirmam que promotores terão dificuldade em acusar Mary criminalmente, já que os testes com detectores de mentira não valem como evidência em julgamentos e não há leis específicas que determinem que tipos de vazamentos são considerados ilegais. O que existe nos EUA são estatutos individuais que proíbem revelações não-autorizadas de certas categorias de informações, como códigos secretos e conversas interceptadas. Para que a Justiça determine se a ex-agente violou algum destes estatutos, precisa de detalhes que ainda não foram elucidados no caso das prisões da CIA.


O Comitê de Inteligência do Senado pediu ao diretor de Inteligência Nacional, John D. Negroponte, para avaliar se é possível suspender a pensão de um aposentado sujeito a apenas punições administrativas ou civis, e não a condenação criminal. Ele terá 90 dias para fornecer os resultados da análise.


Campanha de investigações


Dana ganhou, este mês, o Prêmio Pulitzer na categoria de reportagem de denúncia, por uma série de artigos escritos no ano passado sobre agências de inteligência, incluindo o que revelava a existência das prisões administradas pela CIA em países do Leste Europeu. O Post não divulgou o nome dos países, a pedido do governo, e atribuiu a informação a ex e atuais funcionários da agência em três continentes.


Depois da publicação dos artigos, a CIA iniciou uma investigação com detectores de mentira, entrevistando funcionários que sabiam da existência das prisões secretas, incluindo Mary e seu chefe, o inspetor geral John L. Helgerson. Na declaração divulgada pela agência, na semana passada, não foi especificado o nome de Mary como a responsável por ter vazado as informações sobre as prisões. Alguns veículos de comunicação, entretanto, alegaram ter obtido a identidade da agente por fontes internas da CIA.


Mary, de 61 anos, trabalhou anteriormente na Casa Branca e no Conselho de Inteligência Nacional dos EUA (NIC, sigla em inglês). De acordo com Cobb, ela está ‘transtornada’ com o fato de sua carreira governamental de mais de duas décadas ser ‘para sempre associada a informações incorretas sobre os motivos de seu término’ e que sua demissão, a apenas 10 dias de sua aposentadoria, ocorreu ‘certamente não pelas razões atribuídas pela agência’.


A investigação que levou à demissão de Mary foi uma das várias iniciadas durante o governo Bush. Um inquérito está em andamento sobre a reportagem do New York Times, que também recebeu um Pulitzer, sobre o programa doméstico de vigilância da Agência de Segurança Nacional. ‘O vazamento de informações confidenciais é uma preocupação das agências que têm material secreto’, afirmou o diretor do FBI, Robert S. Mueller III. Informações de R. Jeffrey Smith e Dafna Linzer [Washington Post, 25/4/06] e Mark Mazzeti e Scott Shane [The New York Times, 25/4/06].