Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Lúcio Flávio Pinto

"O poder de Romulo Maiorana Júnior, o principal executivo do maior grupo de comunicação do Norte do país, contrasta com a situação de um Estado destituído de informação, de opinião e de posição. O grupo Liberal é mais poderoso do que o Estado no qual atua. Mais do que um título, esse é um epitáfio: o que lhe dá força é o que enfraquece o Pará.


Aos 45 anos, Romulo Maiorana Júnior é um dos homens mais poderosos do Pará. Exibe esse poder de várias maneiras. Em duas semanas seguidas, entre o final do ano passado e o início deste mês, ocupou páginas e páginas de seu jornal, O Liberal, com fotos e mais fotos suas, registrou seu repentino segundo casamento, o recebimento do título de um dos líderes setoriais nacionais no setor de comunicações (outorgado mais uma vez pelo jornal Gazeta Mercantil no ‘Fórum de Líderes Empresariais’) e uma visita exclusiva ao Mangal das Garças, antes da inauguração da obra pelo governo do Estado, como que para sacramentá-la.


Rominho é jornalista, mas nenhum dos editoriais bissextos publicados em O Liberal com sua assinatura foi escrito por ele. Falta-lhe a mais remota das intimidades com as artes e ofícios do jornalismo. Já viajou por meio mundo, mas não fala uma língua além da que traça com alguma dificuldade desde o nascimento. Não se conhece nenhuma contribuição original do seu intelecto, na forma de livro, palestra ou mesmo conversa informal.


Quando se permite sair do seu círculo íntimo, contempla os circunstantes com um ar blasé de enfado que nada tem a ver com a iconoclastia do déjà-vu. É desinteresse mesmo, ou alheamento. Conta-se que na jornada da campanha Andando pelo Pará, em Santarém, depois de subidas e descidas, vais-e-vens, fez sua primeira – e talvez primal – observação com a pergunta: este rio é o Tapajós? Ninguém fez pim-plim, mas bem que podiam chamar os nossos comerciais. Ou fazer baixar o pano.


Está aí, justamente, uma das fontes principais do poder de Romulo Júnior: a TV Liberal é uma das afiliadas da Rede Globo de Televisão. Essa conquista multiplicou a força que a corporação tinha quando o pai dispunha apenas de um jornal, já em carreira ascendente contra dois concorrentes, a Folha do Norte pré-moribunda e A Província do Pará claudicante. A retransmissão das imagens da Globo era feita pela TV Guajará, de Lopo e Conceição de Castro. Mesmo com todo trabalho de aproximação que empreendeu junto a Roberto Marinho, Romulo Maiorana pai não teria conquistado o trunfo se não contasse com a imperícia do antigo afiliado.


Na época, RM não pôde proclamar a vitória. Havia um veto não assumido dos militares dominantes ao seu nome. Associavam-no a uma das expressões dos maus hábitos políticos locais, de mãos dadas com negócios escusos, que atraía o furor moralista do regime estabelecido em 1964: o contrabando. Romulo tinha ligações com esse mundo por suas duas vertentes: o próprio contrabando e o pessedismo, centrado num homem pessoalmente honesto, Magalhães Barata, o maior líder político do Estado, cercado de corruptos por todos os lados. Dea, viúva de Romulo, é sobrinha de Barata.


Por isso, o novo afiliado da Globo teve que colocar sua TV Liberal formalmente sob o controle de outras quatro pessoas. Três lhe devolveram imediatamente a outorga de confiança quando o veto dos militares (que nem queriam sair em fotografias ao lado do cap das comunicações) foi extinto. Com um, Romulo precisou negociar pacientemente, usando como intermediário o principal dos seus advogados e um dos seus maiores amigos. Limpo o caminho, ele foi se distanciando dos concorrentes, perdendo-os de vista graças ao seu modo muito peculiar – e muito eficaz – de administrar seus negócios, sempre neles reinvestindo, ainda que pelo primado da imobilização em ativo fixo, com poucas sobras para a qualificação de pessoal.


Quando morreu, quase 18 anos atrás, deixou aos herdeiros uma empresa que liderava em todos os segmentos do mercado, com vantagem sem igual na história das comunicações no Pará, azeitada e com muitas reservas em caixa, além de planos de expansão em pleno andamento, como era sua característica: o crescimento em moto contínuo, sem descanso. A doença fatal, embora cruel, deu-lhe tempo para encaminhar a sucessão.


Ela estava posta quase naturalmente: o mais velho dos dois filhos homens, entre cinco mulheres, levava seu nome (mais uma garantia da marca RM, que começou a imprimir no comércio varejista de Belém) e já principiava, a enorme distância dos irmãos, a secundá-lo quando em vida. Romulo Junior parecia ter herdado o instinto do negócio, uma das qualidades do pai, e um certo feeling pelo jogo político. Mas parecia faltar-lhe experiência, assessoria e uma dose de bom senso, de olhar autocrítico.


Houve alguns momentos muito difíceis para o grupo Liberal depois da morte de Romulo. Do ponto de vista operacional, a compra de uma impressora sofisticada, mas superdimensionada para as necessidades e características da empresa. Além disso, com um inconveniente não detectado por ocasião da compra: devido a sua dimensão, ela exigia que o jornal se transferisse da sede, no centro velho da cidade, para novas oficinas capazes de suportar a dimensão da máquina e seu impacto quando em funcionamento.


O novo prédio de O Liberal é uma das mais bem instaladas sedes de jornal do país. Em particular, o gabinete do principal executivo não tem paralelo com o de nenhum outro publisher do país. É, de longe, o mais suntuoso, do tamanho de um latifúndio – e com o mesmo significado etimológico: muito espaço para pouco uso. O mesmo qualificativo de suntuosidade Rominho espera ver aplicado à mansão que está construindo no condomínio fechado do Lago Azul, na saída da cidade, numa área de cinco mil metros quadrados, mil deles construídos, com requintes hollywoodianos.


Tudo se tornou hiperbólico para Romulo Júnior. Ele passou a exigir o máximo, a partir da constatação de que seu poder aparenta ser ilimitado. Pode obrigar a justiça a passar por cima das exigências do rito do casamento civil e a Igreja a abrir mão de certas regras do preceito religioso para não prejudicar a pompa e circunstância de um matrimônio decidido a tempo e hora pelo rei, o noivo, conforme regras que prescreve do trono.


Romulo Júnior, porém, nos editoriais hebdomadários que assina, atribui a fonte de seu poder ao próprio trabalho (não exatamente matutino, muito pelo contrário), à colaboração dos funcionários da empresa (com os quais tem raros contatos) e à credibilidade dos veículos de comunicação sob seu mando principal (os seis irmãos são secundários; um deles, a irmã mais velha, abriu mão de participar da sociedade, vendendo sua cota de 7%, e a mãe antecipou os direitos do primogênito masculino e do caçula, Ronaldo).


Este é o ponto que mais interessa, entre tantas histórias paralelas. As pessoas acreditam no que publicam ou dizem os veículos de comunicação do grupo Liberal? Sem dúvida, acreditam (muitas também acreditam no chupa-chupa, entidade extraterrestre ressuscitada na capa da última edição dominical do jornal, com direito a suíte no dia seguinte). Sem isso, os dois jornais diários da casa (O Liberal e Amazônia Jornal) não seriam lidos com exclusividade por 8 dentre 10 compradores de impressos nem a emissora de televisão (em rádio a situação não é a mesma, mas a radiofonia é a mais delgada das fatias do bolo) teriam as folgadas lideranças de que desfrutam.


Grande parte dos consumidores que acreditam no produto dos veículos Liberal acredita por falta de opção. O quase-monopólio dos Maiorana cria um estado de inércia difícil de romper: seus clientes não se sentem estimulados a buscar sucedâneos, ou simplesmente essa alternativa não existe para eles. No caso da TV, em função do domínio arrasador da Globo. Em relação à mídia impressa, porque nenhum competidor enfrentou-os com o investimento requerido para derrubar uma situação de décadas, nem o Diário do Pará, do deputado federal Jader Barbalho, claudicante na profissionalização e tímido no capital de risco.


O fiel leitor e telespectador, que acredita no que lê e ouve, está realmente sendo servido pela verdade? Tem condições e capacidade de verificar a qualidade do produto que lhe servem para não comprar gato por lebre?


Estas perguntas precisam ser respondidas, principalmente em função do domínio que o grupo Liberal exerce em Belém, sem paralelo em qualquer outra capital brasileira. Em todas elas a disputa é bem maior. Esse quase-monopólio dá à empresa um poder sem medidas, do qual usa e abusa, tanto sobre o público quanto sobre anunciantes e os poderosos de ocasião, impondo-lhes suas condições leoninas, interesses e caprichos.


Muitos temem mais do que admiram o grupo Liberal. A empresa tem por norma não publicar cartas consideradas inconvenientes, nem que a justiça tente lhe obrigar a cumprir a lei (determinação que raramente chega ao fim em eventuais processos). Além disso, mata em vida aqueles que desafiam sua vontade. Uma vez indexado, o desafeto jamais sairá nas páginas de O Liberal ou na tela da TV Liberal. Para pessoas públicas, isso pode equivaler mesmo à morte.


Por isso, a controvérsia foi varrida dos veículos da casa. Ela também não se interessa pela opinião alheia. Exercita seu mando conforme as variações de interesse. Nos momentos em que se negou a comparecer ao caixa da corporação para atender a cobrança feita, a Companhia Vale do Rio Doce, a maior empresa em atividade no Estado, foi vítima de campanhas sistemáticas e transformada no inimigo público número um do Pará. Quando se curvou, recebeu os afagos devidos. Assim foi, sistematicamente, até que a empresa, sob nova direção privada, decidiu enfrentar o ultraje de ser levada às barras do tribunal como má pagadora. O objeto da cobrança, dessa vez, era uma duplicata, mas uma duplicata fria, ou seja, sem endosso do emitente, não confirmada por ele. A CVRD reagiu com uma ação de indenização civil, além de contestar a cobrança indevida.


Parecia que começaria uma guerra entre gigantes, mas tudo não passou de mais uma batalha de Itararé, aquela que ficou célebre por nunca ter havido. As ações passam agora por um momento de inanição no fórum de Belém. As partes fizeram libações noturnas no Rio de Janeiro e apararam as arestas. As moedas da Vale voltaram a tilintar no caixa do Liberal e a besta-fera de semanas antes virou príncipe da responsabilidade social, etiqueta que pode se transformar em gazua quando usada com responsabilidade para inglês ver.


Foi assim, antes, com a Rede Celpa e o Banco da Amazônia. A Rede também tentou se livrar de patrocínio furado ao grupo. Depois de saraivadas de matérias de denúncia, seguiu o caminho de todos os anunciantes. O Basa foi ameaçado com escândalos anunciados por ter veiculado apenas meia página de balanço, que coube em três páginas do concorrente. Mas quando publicou integralmente o balanço seguinte, as operações nebulosas ficaram subitamente solares e nunca mais se falou nisso. No recente escândalo do Banco Santos, escândalo mesmo, o Basa se beneficiou do silêncio obsequioso do grupo.


O contraste é brutal e chocante para qualquer pessoa que usa a memória como ferramenta de informação. Num momento o acusado é fulminado com editorial de primeira página, manchete de capa de jornal, como há muito tempo não se pratica na imprensa em qualquer parte do mundo. Parece que mereceu o ataque terrível por razões substantivas. No entanto, uma vez cumprida a função que lhe é atribuída, como anunciante, o tratamento muda do vinagre para o vinho, sem qualquer explicação ao distinto público, sem um mini-editorial (ou suelto) que seja. O jornal pode mudar de opinião, mas precisa explicar por que era contra antes e ficou a favor depois. Sem essa salutar providência, a repentina transformação pode ser creditada a interesses ocultos, escusos. Em linguagem de rua, chantagem.


Foi sempre assim numa publicação subterrânea, o Jornal Popular, criado e recriado por Silas Assis. Mas esse jornal era pouco mais do que um pé-de-cabra. Sua tiragem costumava ser uma fração da anunciada, boa parte dela distribuída gratuitamente, conforme o objetivo do editor. Um mosquito diante do elefante. Os métodos, porém, o aproximaram desse tipo de comportamento que o grupo Liberal costuma ter quando seus interesses comerciais são contrariados. A parte editorial passa a ser uma extensão a serviço do comércio, sem a menor preocupação com a coerência, a consistência e o direito de explicações do público.


O que sustenta o poder inquestionável de Romulo Maiorana Júnior não é o porte do seu negócio. Os Yamada, nesse ponto, são bem maiores. É a natureza especial do seu produto, a informação. Para RM Júnior, nos momentos de conflito, o que menos interessa é se a informação é certa, mas se é útil, se servirá aos seus propósitos. O resto é vã filosofia, ainda que de filosofia o personagem nada saiba.


Uma empresa jornalística pode – e às vezes deve – usar o caráter especial do seu produto contra adversários que a agridem ou para alcançar objetivos legítimos. O Wall Street Journal, segundo jornal em tiragem dos Estados Unidos e de uma influência sem a menor possibilidade de comparação com o segundo, o débil USA Today, empreendeu, na década de 20, do século passado, uma campanha contra a General Eletric, que era a maior empresa americana e do mundo na época.


A GE, contrariada por uma reportagem do WSJ, mas sem contestá-la (por ser verdadeira), decidiu, em represália, cortar a publicidade que fazia no jornal. A partir daí a poderosa GE começou a conviver com um hábito indesejado: ver todos os dias suas mazelas serem expostas no jornal, que deslocou dois dos seus melhores repórteres para cobrir a indústria em tempo integral. Mazelas reais, muitas das quais desconhecidas pelo próprio board da GE, não invenções ou chantagens, eram publicadas diariamente. Incapaz de contraditar as acusações, a GE restabeleceu a programação publicitária e o jornal voltou a dar a cobertura rotineira à empresa.


Não é esse o procedimento do grupo Liberal. Com seu jus império, a empresa se tornou árbitro único do próprio poder, independentemente do poder legalmente constituído e até das boas regras de convivência. Sua relação com Jader Barbalho, outro pólo de mando no Pará, com origens semelhantes e desdobramentos que divergiram até o antagonismo radical, é revelador desse modus operandi.


O grupo Liberal participou, como nunca, sob os Maiorana, da eleição de 1990. Apoiou Sahid Xerfan, candidato do governador Hélio Gueiros, e pintou Jader como a quintessência de tudo que não presta. Como de regra, perdeu a eleição (essa tem sido a única forma de reação aos Maiorana da opinião pública, protegida pelo amálgama da vontade coletiva anônima). O nome de Jader sumiu do noticiário da corporação. Mesmo ao tomar posse do maior cargo público do Estado, não recuperou seu nome: foi referido, em página interna, como ‘o governador’. Com os primeiros anúncios legais (os editais), recuperou o nome próprio. Com os anúncios institucionais, foi conquistando, sucessivamente, foto, primeira página e a anistia incondicional. O ladrão da véspera virara, ao som das caixas registradoras em fúria, o estadista do dia. Mas até o dia de uma nova cobrança sem retorno, quando raios voltaram a ser disparados dos fundos do Bosque.


O procedimento contra o pai se repete com o filho. Empossado prefeito do segundo maior município paraense, Helder Barbalho não existiu para O Liberal e TV Liberal nas festas do dia 1º. Se não existiu para os Maiorana, não existiu para o mundo paraense, que, sabendo das coisas pelos veículos do grupo, sabe quase nada sobre si – e o dobro sobre o mundo. É, de fato, um poder superlativo. Tanto que, dizem os confidentes, o filho Barbalho pediu ao pai que diminuísse a troca de tiros com os Maiorana para que sua nascente carreira de prefeito não enfrente um caminho cheio de espinhos, que os adversários – comerciais e políticos – já lhe apresentaram. Dizem que Jader atendeu o pedido e mandou desarmar um front, que fora municiado como jamais havia acontecido desde que o império Maiorana se consolidou, na década de 70, à base da unanimidade compulsória.


Houve alguma situação parecida na história anterior do Pará? Em matéria de imprensa, só com a Folha do Norte. Mas Paulo Maranhão, o dono do jornal (sem uma arma formidável como a afiliação à Rede Globo), precisava matar um leão por dia. Não só na caixa registradora, administrada pelo filho, João, mas, sobretudo, na redação. Paulo Maranhão raramente assinava seus editoriais, artigos e notas, mas todos eles saíam de sua fervente cabeça e, pelo estilo, eram logo identificados por quem sabia ler. Era o que dava legitimidade e grandeza ao seu papel. Pois se o que distingue a mercadoria jornalística é sua natureza subjetiva e especial, de informação, saber o que constitui uma informação é o que o autoriza a exercer o seu poder, para o bem ou para o mal, mas com seu valor intrínseco. Paulo Maranhão jamais iria a Santarém para perguntar se aquele rio lindo que a banha é o Tapajós. Já sairia de casa com a informação no bolso do colete.


Quando o negócio da informação se reduz a uma quitanda, o poder jornalístico se torna uma fonte de poder pessoal, imenso para quem o exercita e absolutamente vazio para todos os demais, e a informação, uma banana. É o que, em boa medida, explica o estado de prostração no qual o Pará se encontra, incapaz de entender seu drama, por falta de informações, e submisso à vontade do soba, que o manipula conforme seus caprichos.


O poder enorme de Romulo Maiorana Júnior, solitário e caprichoso, é a contrafação da impotência do Estado no qual esse poder se nutre."

Rodrigo Miotto


‘Jornalista espancado por rei da mídia do Norte pede audiência com ministro’, copyright Último Segundo (www.ultimosegundo.com.br), 23/01/05


‘A agressão feita pelo diretor-corporativo da maior rede de mídia do Norte do Brasil ao jornalista Lúcio Flávio Pinto mostra o ‘fascismo’ e a ‘farsa’ a que a imprensa é submetida no Pará. Essa é a avaliação feita pelo próprio jornalista, espancado em público na última sexta-feira por Ronaldo Maiorana Júnior, das Organizações Rômulo Maiorana, e dois seguranças particulares.

O jornalista Lúcio Flávio Pinto vai pedir uma audiência com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, para discutir o espancamento de que foi vítima na última sexta-feira. Ele foi agredido em público e ameaçado de morte pelo empresário Ronaldo Maiorana, diretor-corporativo das Organizações Rômulo Maiorana, Ronaldo Maiorana Júnior, e por dois seguranças, em Belém (PA).

Em entrevista ao site Amazônia.org, O jornalista afirma que o inquérito policial sobre o caso já está instaurado e que vai entrar na Justiça por conta da ameaça de morte, além de pedir uma ação de indenização. As Organizações Maiorana são a maior rede de comunicação do Norte e retransmitem programação da TV Globo.

‘Ao mesmo tempo, pretendo responsabilizar a família Maiorana por qualquer coisa que venha me acontecer’, disse Flávio Pinto. ‘Vou pedir uma audiência à OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e vou pedir uma audiência com o ministro da Justiça, pois no Pará não há garantia para o trabalho da imprensa.’

De acordo com o jornal ‘Diário do Pará’, o promotor de Justiça Militar Armando Brasil Teixeira vai enviar ofício para a corregedoria da Polícia Militar pedindo a abertura de um processo administrativo contra os seguranças de Maiorana. Eles seriam policiais militares.

A agressão

Flávio Pinto, conhecido e respeitado no meio jornalístico e entre ambientalistas do Brasil, estava num restaurante dentro da sede da Secretaria Executiva de Cultura, quando houve a agressão.

O local é administrado pelo governo estadual e freqüentado pela classe média da capital paraense. O espancamento ocorreu em frente a todos os cerca de 80 clientes do estabelecimento.

De acordo com o relato de Flávio Pinto e o apurado por parte da imprensa local, o jornalista estava com um grupo de oito pessoas numa mesa. Após meia hora, chegou Maiorana Júnior, que se sentou a uma mesa atrás do jornalista.

Depois de cerca de 20 minutos, Flávio Pinto levou um soco na face direita. O empresário estava com os dois seguranças. Depois, Maiorana Júnior deu uma gravata no pescoço do jornalista. Em seguida, foi empurrado e caiu no chão. O empresário gritava que iria matá-lo lá mesmo ou em outro local.

O empresário foi contido pelos seguranças, que saíram com ele do restaurante, antes de a polícia chegar. O jornal Diário do Pará tem fotos do local onde ocorreu a agressão. (vá até o final da página para ver).

O motivo

A agressão ocorreu após Flávio Pinto publicar em seu jornal – ‘Jornal Pessoal’, independente e sem publicidade – a reportagem ‘O rei da quitanda’.

Na reportagem, o jornalista conta a trajetória das Organizações Romulo Maiorana e traça o impacto da influência dos jornais e TV do grupo, acusando o empresário de usar as empresas para pressionar anunciantes.

Sobre o jornal do grupo, ‘O Liberal’, Flávio Pinto escreve: ‘Num momento o acusado é fulminado com editorial de primeira página, manchete de capa de jornal, como há muito tempo não se pratica na imprensa em qualquer parte do mundo. Parece que mereceu o ataque terrível por razões substantivas. No entanto, uma vez cumprida a função que lhe é atribuída como anunciante, o tratamento muda do vinagre para o vinho, sem qualquer explicação ao distinto público, sem um mínimo editorial (ou suelto) que seja. O jornal pode mudar de opinião, mas precisa explicar porque era contra antes e ficou a favor depois. Sem essa salutar providência, a repentina transformação pode ser creditada a interesses ocultos, escusos. Em linguagem de rua, chantagem.’.

O blog do jornalista Ricardo Noblat cobriu o caso desde sábado e tem uma nota divulgada por Flávio Pinto sobre o episódio.

A reportagem do Último Segundo não conseguiu contato com Maiorana.’

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‘Agressão por empresário da mídia mostra ‘fascismo’ no Pará, diz jornalista’, copyright Último Segundo (www.ultimosegundo.com.br), 24/01/05

‘A agressão feita pelo diretor-corporativo da maior rede de mídia do Norte do Brasil ao jornalista Lúcio Flávio Pinto mostra o ‘fascismo’ e a ‘farsa’ a que a imprensa é submetida no Pará. Essa é a avaliação feita pelo próprio jornalista, espancado em público na última sexta-feira por Ronaldo Maiorana Júnior, das Organizações Rômulo Maiorana, e dois seguranças particulares.

‘Aqui, a gente tem a liberdade de falar a favor e de não ser contra’, diz Flávio Pinto, proprietário da publicação independente ‘Jornal Pessoal’, cuja uma das reportagens foi motivo da agressão.

O jornalista, conhecido e respeitado no meio jornalístico e entre ambientalistas do Brasil, estava num restaurante dentro da sede da Secretaria Executiva de Cultura quando houve a agressão. O local é administrado pelo governo estadual e freqüentado pela classe média alta da capital paraense. O espancamento ocorreu em frente a cerca de 120 pessoas.

As Organizações Maiorana são a maior rede de comunicação do Norte e retransmitem programação da TV Globo. A agressão não encontra paralelo na história recente do País.

‘Existe uma farsa no Pará. É preciso que se tomem providências externas’, diz o jornalista, que ainda não recebeu nenhuma manifestação de órgãos públicos ou entidades de classe.

A agressão

‘Se eu tivesse reagido, teria saído morto’, acrescenta. De acordo com o relato de Flávio Pinto e o apurado por parte da imprensa local, o jornalista estava com um grupo de oito pessoas numa mesa. Após quase uma hora, chegou Maiorana Júnior, que se sentou a uma mesa atrás do jornalista. Ele estava sozinho. Só depois chegaram os seguranças.

Após cerca de 20 minutos, Flávio Pinto levou um soco na face direita. Depois, Maiorana Júnior deu uma gravata no pescoço do jornalista. Em seguida, foi empurrado e caiu no chão, onde levou chutes dos seguranças. O empresário gritava que iria matá-lo lá mesmo ou em outro local. O empresário foi contido pelos seguranças, que saíram com ele do restaurante, antes de a polícia chegar.

Como os seguranças estavam armados, o jornalista acredita que, se tivesse partido para cima do empresário, teria sido atingido. ‘Se eu não estivesse calmo, teria partido para cima dele. A cena parecia o sistema nazista, no qual (alguém) tem poder de vida e de morte’, afirma Flávio Pinto. ‘Foi um ataque covarde.’

Os seguranças do restaurante não agiram. Segundo o jornalista, eles alegaram que estavam ali apenas para defender o patrimônio.

(O ‘Diário do Pará’ publicou fotos da agressão. Vá até o meio da página do jornal para ver as imagens. O homem à esquerda é Maiorana Júnior. O jornalista está caído no chão)

‘Não vou me intimidar’

Apesar da agressão e das ameaças de morte – não foram as primeiras -, Flávio Pinto diz que não vai mudar sua rotina. ‘Vou fazer o que venho fazendo há quase 40 anos, não vou me intimidar.’ Para deixar clara a mensagem, ele vai lançar ainda nesta semana uma edição extraordinária do ‘Jornal Pessoal’, contando, entre outras coisas, o episódio da agressão.

Existe um inquérito policial instaurado sobre o caso. O jornalista vai entrar na Justiça contra Maiorana Júnior. A promotoria de Justiça Militar do Pará vai enviar ofício para a corregedoria da Polícia Militar pedindo a abertura de um processo administrativo contra os seguranças de Maiorana. Eles seriam policiais militares, fato corriqueiro entre seguranças no Pará.

O presidente da Sociedade Brasileira para Progresso da Ciência (SBPC), Enio Candotti, deve levar o caso até a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República na terça-feira. Flavio Pinto é um dos conselheiros da entidade.

Caso não seja tomada nenhuma atitude, o jornalista pretende recorrer pessoalmente ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e, se for preciso, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que conheceu no início da década de 1980.

‘Espero que ele (Lula) tenha sensibilidade por conta da gravidade do caso. Não é somente porque eu fui agredido.’ A assessoria do ministro dos Direitos Humanos, Nilmário Miranda, informou que o caso ainda não chegou até a secretaria.

OAB

Maiorana Júnior é presidente da Comissão de Defesa à Liberdade de Imprensa da seccional Pará da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). A reportagem do US ainda não conseguiu ouvir uma manifestação da entidade.

A Associação Nacional de Jornais (ANJ), a Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) e a ABI (Associação Brasileira de Imprensa) não se manifestaram por enquanto. A SBPC deve emitir uma nota ainda nesta segunda-feira.

A reportagem tentou entrar em contato com Maiorana Júnior, mas ainda não teve sucesso.

O motivo

A agressão ocorreu após Flávio Pinto publicar em seu jornal a reportagem ‘O rei da quitanda’.

Na reportagem, o jornalista conta a trajetória das Organizações Romulo Maiorana e traça o impacto da influência dos jornais e TV do grupo, acusando o empresário de usar as empresas para pressionar anunciantes.

Sobre o jornal do grupo, ‘O Liberal’, Flávio Pinto escreve: ‘Num momento o acusado é fulminado com editorial de primeira página, manchete de capa de jornal, como há muito tempo não se pratica na imprensa em qualquer parte do mundo. Parece que mereceu o ataque terrível por razões substantivas. No entanto, uma vez cumprida a função que lhe é atribuída como anunciante, o tratamento muda do vinagre para o vinho, sem qualquer explicação ao distinto público, sem um mínimo editorial (ou suelto) que seja. O jornal pode mudar de opinião, mas precisa explicar porque era contra antes e ficou a favor depois. Sem essa salutar providência, a repentina transformação pode ser creditada a interesses ocultos, escusos. Em linguagem de rua, chantagem’.’


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"Empresário nega o espancamento", copyright Último Segundo (www.ultimosegundo.com.br), 25/01/05


"O diretor-corporativo das Organizações Rômulo Maiorana, Ronaldo Maiorana Júnior, nega ter espancado o jornalista Lúcio Flávio Pinto, na última sexta-feira, em Belém (PA). Ele admite, entretanto, que agrediu o jornalista por conta de ‘extrema indignação’ e que o ameaçou de morte ‘impensadamente’.


De acordo com Maiorana Júnior, a história é esta: ele chegou sozinho ao restaurante que fica dentro da sede da Secretaria Executiva de Cultura e, sem perceber, sentou a uma mesa logo atrás de onde estava Lúcio Flávio. Um amigo do jornalista teria ido até a mesa dele e ‘incitado’ os ânimos.


Ele, então, foi até a cadeira do jornalista. ‘Eu o cutuquei e perguntei ‘quer brigar de pé ou sentado?’, afirma Maiorana Júnior. ‘Ele levantou, eu dei um tapa no pescoço, entrou o pessoal para separar’, acrescenta.


Segundo o empresário, seu motorista e um de seus seguranças entraram no restaurante no momento da briga, a fim de apartá-los. Ele nega que seus funcionários tenham participado da briga e exibido armas de fogo. Maiorana Júnior admite que ambos são policias militares. ‘Um estava em férias e o outro, prestes a se aposentar’. Maiorana Júnior afirma que Flávio Pinto caiu ao ser empurrado, mas que ele também sofreu uma queda e machucou a mão.


Ameaça – O empresário diz que realmente houve uma ameaça de morte feita por ele, mas a atribui ao calor do momento. ‘Eu disse ‘tu deveria (sic) morrer por causa de tua cara-de-pau’.’ ‘Lógico que, numa briga, existem palavras impensadas ou mal colocadas. Fui levado ao extremo da indignação.’


‘Foi um erro meu. Uma pessoa indignada fala uma série de besteira’, diz. ‘Saí de lá envergonhado.’ Maiorana Júnior diz que os relatos da imprensa local sobre o espancamento se devem à disputa entre sua família e o grupo do deputado Jader Barbalho, a quem pertence o jornal ‘Diário do Pará’.


O empresário afirma que ele e a família vêm sendo difamados por Flávio Pinto e que, agora, vai entrar na Justiça contra o jornalista por danos morais. ‘Ele faz uma imprensa marrom.’


Maiorana Júnior também afirma que o motorista e o segurança, negros, foram vítimas de racismo no restaurante e vão registrar queixa na polícia.


Nota da Redação


Sobre as acusações feitas ao DIÁRIO DO PARÁ pelo diretor-editor-corporativo das ORM e integrante da comissão de Liberdade de Imprensa da OAB, Ronaldo Maiorana, este jornal informa que limitou-se a uma cobertura profissional dos fatos, tendo inclusive a preocupação de contactar, na última sexta-feira, a secretária e a assessora de imprensa do empresário, colocando os telefones da redação à disposição para que ele desse a sua versão dos fatos. Como os jornais e telejornais das Organizações Romulo Maiorana não publicaram nada sobre o lamentável episódio, o DIÁRIO tem feito o seu papel de informar a opinião pública sobre um fato sem precedentes na história política do país.


Jornalista contesta a versão de Ronaldo


Em texto enviado ontem ao repórter IG, Rodrigo Miotto, o jornalista Lúcio Flávio diz que as declarações de Ronaldo Maiorana lhe devem ter sido ditadas por um advogado criminalista, para construir um álibi que o livre da condenação por lesão corporal, ameaça de morte e dano moral. A seguir os principais trechos do texto.


Lúcio diz que Ronaldo chegou ao restaurante Pomme d’Or acompanhado do amigo Alex do Carmo. ‘Ele já sabia que ia me encontrar ali e procurou um lugar estratégico para me atacar pelas costas, como faria. O Liberal, jornal de Maiorana, justamente na edição desse dia, 21, publicou, na coluna social assinada por Bernardino Santos, que o ‘senadinho’, do qual faço parte, iria se reunir para o almoço de todas as sextas-feiras, naquele restaurante, sob a presidência do cartorário Reginaldo Cunha’. Lúcio diz ainda que, durante 20 minutos, o companheiro de mesa de Maiorana tentou dissuadi-lo da agressão. ‘Essa arenga contra mim continuou quando dois diretores da empresa de Maiorana, Pojucam de Moraes, diretor industrial, e Sá Pereira, de relações públicas, se juntaram a ele. Mas cessaram quando o arquiteto Paulo Cal, o meu amigo, ao qual o diretor de O Liberal se refere, sem coragem (de novo) para dizer-lhe o nome, deixando a nossa mesa, se juntou ao grupo de Maiorana. O próprio Cal me deu essa declaração, logo em seguida à agressão, e acaba de reafirmá-la, novamente consultado por mim. Ele diz que nada ouviu de Maiorana a meu respeito e, evidentemente, não o provocou’.


O jornalista diz que Ronaldo não o ‘cutucou’ nem lhe ofereceu a alternativa de brigar de pé ou sentado. Gritou: ‘Te prepara para apanhar’. ‘Mal falou e deu-me um murro, não um tapa. Eu estava almoçando ainda e, mesmo surpreendido, ao virar-me para a voz que me agredia com seus decibéis selvagens, ainda pude virar o rosto’, diz ele, citando a perícia do IML. Em seguida, relata Lúcio, Ronaldo aplicou-lhe a gravata, puxou-lhe, arrancando todos os botões da camisa, e o empurrou violentamente contra a mesa e cadeiras. Quanto a André Carrapatoso Coelho, Lúcio relata que ele recebeu um soco de um dos seguranças que davam cobertura ao empresário. ‘Por coincidência, era negro o sargento da PM, na ativa da corporação, recebendo dinheiro público para fazer as vezes de segurança particular, numa frontal violação às normas da Polícia. Ninguém jamais se referiu a esse fato. André e eu apenas sabemos que sua mão é pesada e suas bicudas são duras. E sua moral, o gato algum dia comeu’.


Lúcio relata que ao seu lado, ficou o segurança conhecido como Sadam (Santana) e enquanto Ronaldo Maiorana gritava que ia matá-lo, que se não o matasse ali o mataria depois, que nunca mais ele escreveria sobre sua família, o segurança ao lado indicava que se tentasse alguma coisa, seria atacado. ‘A arma do PM, é claro, não estava visível nem foi exibida. Mas podia ser percebida sem muito esforço. Só quando a agressão de surpresa e rápida se exauriu e o diretor do grupo Liberal já era só gritos de ameaça, é que os seguranças o seguraram e o levaram, evitando o flagrante’


O jornalista também cita relatos de testemunhas do episódio, de que houve sincronia entre a entrada dos seguranças no restaurante e o início da agressão. ‘Do lado de fora, isolados do interior do restaurante por grossos vidros fumês, bem refrigerados, como os seguranças perceberiam o incidente, que durou menos de dois minutos, depois de mais de 40 minutos da presença do patrão no local? Santana e Carvalho, se tal é vero, podem reivindicar um novo título: a dupla dos olhos de lince.


Ele também cita uma fonte próxima à mesa, de que Maiorana teria dito a Pojucam de Moraes: ‘Paga a conta’. ‘É muito controle das emoções para quem estava movido por justa indignação, mas apenas 40 minutos depois de ter entrado no restaurante, e não no exato momento de me ver no local’.


O jornalista também diz que não sabe se Maiorana machucou a mão. Credito o fato, se real, mais a não ter sido um bom aluno das aulas de boxe que tem tido do que a uma queda, que também não vi (embora, devo admitir, no chão e chutado por ele, já não tivesse condições de jurar que vi)’.


Quanto à acusação de ofensa à família Maiorana, Lúcio indaga. Por que não contestou a matéria do Jornal Pessoal em seu próprio jornal? Por que não me mandou uma carta, no exercício do direito de resposta? Por que, enfim, não estabeleceu uma controvérsia capaz de mostrar ao público quem tem razão? E por que, afinal, não propôs logo a ação, ao invés de agredir um cidadão indefeso, surpreendido por seu ataque covarde?


Para Lúcio, o advogado que ‘lhe teleguiou (a Ronaldo) o álibi vai precisar trabalhar mais para tentar enganar a opinião pública, o delegado que comanda o inquérito policial e o futuro julgador do caso’. O jornalista recomenda que Ronaldo Maiorana, ‘que todo domingo freqüenta a igreja de Lourdes’, que o empresário urgentemente passe ‘pelo confessionário. E sair dele com o arrependimento real (ou eficaz, como preceitua a linguagem jurídica), não com esse pastiche vergonhoso e ridículo que entregou ao Ig. Nele, há uma nova vítima das besteiras, que admite ter cometido: a inteligência."




Ismael Machado


"Empresário agride jornalista no Pará", copyright O Globo, 25/01/05


"O jornalista Lúcio Flávio Pinto, de 54 anos, foi agredido pelo empresário Ronaldo Maiorana, presidente do Partido Liberal no Pará e diretor-editor corporativo das Organizações Rômulo Maiorana, maior grupo de comunicação da Região Norte. A agressão ocorreu na sexta-feira no restaurante Restô do Parque, um dos mais caros de Belém.


O motivo da agressão, segundo o jornalista, teria sido um artigo publicado por ele no ‘Jornal Pessoal’, que desde 1987 é editado por ele. No artigo, intitulado ‘O rei da quitanda’, Lúcio Flávio afirma que o poder dos Maiorana é hoje maior do que o do governo do estado e que os principais veículos de comunicação das organizações funcionam apenas como um balcão de negócios.


Jornalista denunciou uso de PMs em segurança privada


A presidente do Sindicato dos Jornalistas do Pará, Carmem Silva, que é delegada da Federação dos Jornalistas, disse que a agressão é lamentável e ‘mais uma forma de cerceamento da liberdade de expressão da imprensa paraense’. Segundo ela, a agressão a Lúcio Flávio não é um fato isolado, mas reflete o pensamento retrógrado dos donos dos meios de comunicação do estado.


No artigo, Lúcio Flávio ainda denunciou o fato de que cerca de 500 policiais militares prestam serviço de segurança privada a empresários, entre eles diretores das ORM. O jornalista estava reunido com amigos quando Ronaldo Maiorana chegou acompanhado de dois policiais militares, que agiam como seguranças particulares do empresário. Os socos e pontapés desferidos por Maiorana e seus dois seguranças provocaram escoriações, edemas e hematomas. Procurado pelo GLOBO, Maiorana não quis se pronunciar. Lúcio Flávio disse que vai entrar com uma ação na Justiça por conta da ameaça de morte e que pedirá indenização:


– Pretendo responsabilizar a família Maiorana por qualquer coisa que venha a me acontecer daqui em diante. Vou pedir uma audiência à OAB e ao ministro da Justiça, pois não há garantia para o trabalho da imprensa no Pará."




André Mutran


"Em Brasília, o clima é de indignação", copyright Diário do Pará, 25/01/05


"‘Indignação’! Este foi o sentimento definido pelo líder da bancada paraense no Congresso Nacional, o deputado federal Paulo Rocha (PT), em relação ao espancamento do jornalista Lúcio Flávio Pinto, de que é acusado o diretor-editor-corporativo das Organizações Romulo Maiorana, Ronaldo Maiorana, e seguranças ligados à PM que o acompanhavam em restaurante que fica na área da antiga residência oficial do governo, na última sexta-feira.


Rocha disse também que ‘acha que a democracia em que vivemos hoje, que conquistamos e construímos, não dá o direito a ninguém de usar métodos covardes e autoritários para resolver conflitos, sejam eles de qualquer natureza, principalmente em relação a um jornalista como o Lúcio Flávio Pinto, comprometido não só com a geração do seu tempo e a sua história, mas com a ética e o profissionalismo que lhe é próprio.’


O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, informou ontem que vai aguardar uma posição sobre o andamento do processo para se manifestar sobre o caso. Segundo a assessoria de Comunicação do ministro, o caso é grave e é objeto de preocupação pela forma como ocorreu.


REPÚDIO – A diretoria do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal (SJP-DF ) repudiou a agressão ao jornalista Lúcio Flávio Pinto, ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas do Pará e exigiu que o governador Simão Jatene, responsável pela segurança pública, determine rigorosa apuração do fato e punição dos responsáveis pelo espancamento. ‘Somos contra qualquer tipo de truculência, que macula o princípio da liberdade de expressão e a democracia em nosso País’, escreveu a diretoria.


Deputados do PT repudiam violência


A deputada estadual Araceli Lemos (PT) lamentou a violência na sociedade paraense, retratado na agressão e ameaça de morte do diretor-corporativo das ORM, Ronaldo Maiorana. ‘Acho que devemos refletir sobre este caso e práticas semelhantes de atentado à integridade da pessoa e à liberdade de expressão. Eu repudio fatos como este’, afirmou.


Segundo a parlamentar, pessoas se sentem à vontade para cometer atos violentos porque ficam impunes. Para ela, é importante a manifestação das autoridades paraenses contra a predominância do poder econômico.


O deputado estadual Mário Cardoso (PT) salientou que a disputa e o mal-entendido entre Lúcio Flávio e os diretores das ORM não é recente, e já resultaram em processos na Justiça, ‘fórum para este tipo de debate’. Ele lembra que existe lei para corrigir ofensas da imprensa e qualquer cidadão pode acioná-la para reparar os danos morais. ‘O desequilíbrio que o Ronaldo demonstrou não faz parte do mundo moderno’."



Diário do Pará


"Cara a cara entre Ronaldo Maiorana e Lúcio Flávio Pinto", copyright Diário do Pará, 25/01/05


"O diretor-editor-corporativo das Organizações Romulo Maiorana (ORM), Ronaldo Maiorana, e seus dois seguranças particulares, o subtenente Edson Nazareno Carvalho e o sargento Manoel Santana, foram convocados para depor na Seccional Urbana de São Brás, na próxima quinta-feira, às 15h. Eles terão a oportunidade de dar suas versões sobre o espancamento e a ameaça de morte de que são acusados pelo jornalista Lúcio Flávio Pinto, editor do Jornal Pessoal. A intimação foi entregue aos acusados ontem. Haverá um cara a cara entre Lúcio Flávio Pinto, Ronaldo Maiorana e os dois seguranças. O diretor da seccional, delegado Guilherme Tavares, tentará uma conciliação entre as partes.


Lúcio Flávio Pinto acusa Ronaldo Maiorana e seus seguranças de tê-lo espancado, a socos e pontapés, na última sexta-feira, no Restô do Parque, restaurante que funciona no Parque da Residência. De acordo com a versão de Lúcio, registrado no termo de declaração na seccional de São Brás, Ronaldo aplicou-lhe uma ‘gravata’, derrubou-o ao chão e ordenou aos seguranças que o acompanhavam a continuar as agressões. Durante as agressões, gritou que iria matá-lo. O jornalista disse ontem que tem sentido as dores de novos hematomas na região dos rins e fígado. ‘Esses hematomas demonstram o profissionalismo com que fui agredido’, diz ele.


CONCILIAÇÃO – O delegado informou que tentará a conciliação entre as partes, após o depoimento dos acusados, mas Lúcio Flávio adianta que não irá aceitá-la. Ele diz que confia no inquérito policial e nos procedimentos legais posteriores para que seus agressores sejam punidos pelo crime. O inquérito policial deve ser concluído em 45 dias, podendo ser prorrogado por igual período. ‘Quero ser tratado como uma vítima qualquer. Fui registrar o boletim de ocorrência como uma pessoa comum, e quero que ele (Ronaldo) também seja tratado sem regalias. Não quero que as pessoas sejam estimuladas ao crime e fiquem impunes’, afirmou.


O jornalista disse também que não irá aguardar a conclusão do inquérito para apresentar queixa-crime na Justiça. Ele disse ter subsídios suficientes e lembra que em 1992 também foi agredido pelo cunhado de Ronaldo Maiorana, o advogado Calilo Kzan Neto – casado com Rosângela Maiorana Kzan, diretora administrativa das ORM -, com caracterização deste crime e da ameaça de morte. No inquérito policial, ele confirmou a acusação de agressão, mas ‘mesmo assim o Ministério Público nada fez, afirmando que não havia indícios do crime. Agora acredito que o Ministério Público oferecerá a denúncia’.


PREMEDITAÇÃO – Lúcio Flávio insiste em que a agressão de Ronaldo foi premeditada. ‘Não foi feita por emoção forte ou justa indignação, como pode alegar o advogado do Ronaldo. Ele sentou à minha costa, três mesas atrás, em posição que eu não conseguiria vê-lo e nem tentei, me desliguei da sua presença’, disse. Ele deduz que os seguranças foram chamados por telefone, enquanto o executivo das ORM almoçava com os diretores João Pojucan de Moraes (diretor industrial de O Liberal), Luiz Sá Pereira e Alex do Carmo, coordenador do programa Caminhando pelo Pará, das ORM. ‘Quando ele está em local de presença indiscriminada, um segurança entra e outro fica do lado de fora, mas como o restaurante é sofisticado manteve-se fiel à prática’, reforçou.


Candotti leva caso ao ministro da Justiça


Lúcio Flávio Pinto diz que deixará que a ação corra nos canais competentes, para apuração e julgamento da agressão e ameaça de morte. Ele adverte, porém, que se houver empecilhos à tramitação, provocará as autoridades para que o crime chegue ao conhecimento do presidente da República. O jornalista é conselheiro da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e tem recebido a solidariedade da diretoria da entidade e de organizações não-governamentais.


O presidente da SBPC, Ênio Candotti, estará em Brasília, hoje, e se reunirá com o secretário nacional de Direitos Humanos da Presidência da República, Nilmário Miranda. Candotti se comprometeu a levar o caso do jornalista ao Ministério da Justiça. ‘Eu pretendo que saibam que na Amazônia a situação de violência continua a mesma, diferente do estado democrático’, frisa Lúcio Flávio.


Luiz Egypto, editor-chefe do Observatório da Imprensa – ONG independente que monitora a imprensa nacional – enviou nota ao DIÁRIO, classificando como criminosa a agressão contra Lúcio Flávio Pinto. Para ele, a atitude de Ronaldo Maiorana é um lamentável exemplo de como resolver um choque de opiniões à base do tacape. ‘Malgrado ser um dos principais executivos do maior grupo de comunicação do Pará, o agressor parece ter uma visão muito peculiar da democracia e do debate republicano, valores pelos quais ele e seus veículos teriam a obrigação social de zelar’. Ressalta que, ao contrário, o diretor-corporativo das ORM preferiu o argumento da força bruta e o concurso de capangas. ‘Covardia pura’, classificou.


SPDDH quer Maiorana fora da OAB


A Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SPDDH) divulgou, ontem, nota em repúdio ao espancamento de Lúcio Flávio. Com base na declaração sobre os princípios da liberdade de expressão, a entidade afirma que ‘quando se impede o livre debate de idéias e opiniões, se limita a liberdade de expressão e o efetivo desenvolvimento do processo democrático’.


A presidente da SPDDH, Vera Tavares, estava viajando no último final de semana e recebeu com perplexidade a informação sobre a agressão física e verbal ao jornalista, ‘atacado pelas costas por um dos donos do maior grupo de comunicação do Norte, senhor Ronaldo Maiorana, advogado, empresário, presidente do Partido Liberal (PL) e, pasmem!!!, membro da Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa da Ordem dos Advogados, Seção Pará’, ressalta.


Na nota, a SPDDH manifesta seu repúdio e indignação e demonstra preocupação com a forma ‘truculenta e antidemocrática’ com que o empresário tratou as desavenças. Para Vera Tavares, a violência contra o jornalista não tem nome, nem qualificação, mas chama para a reflexão sobre a impunidade. Ela avalia que a certeza de que os crimes cometidos pelos donos do dinheiro ficarão impunes ‘conduz a uma escalada cada vez maior de delitos que acabam sendo beneficiados pela morosidade da Justiça e pela flexibilização das penas aplicadas’.


CONSEP – A presidente da SPDDH ressalta ainda que o episódio mostra a necessidade de consolidação da liberdade de expressão, porque, segundo ela, não se trata de um ataque ao cidadão Lúcio Flávio, mas um ataque à liberdade de imprensa e à democracia. A entidade cobrará uma manifestação do Conselho Estadual de Segurança Pública (Consep), sobre a participação de policiais militares na agressão, bem como a punição dos mesmos e o afastamento de Ronaldo Maiorana da Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa da OAB/PA.


OPHIR – O presidente da seccional paraense da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PA), Ophir Cavalcante Jr., informou ontem, em relação à agressão, atribuída ao empresário e advogado Ronaldo Maiorana, ao jornalista Lúcio Flávio Pinto, que a OAB ainda está avaliando o caso. ‘Há uma questão pessoal histórica que foge do âmbito de atuação da OAB’, avaliou Ophir. Ao ser questionado se Ronaldo Maiorana faz parte do conselho da Ordem, Ophir Cavalcante disse: ‘Ele (Ronaldo Maiorana) não é conselheiro da OAB, mas apenas integrante da Comissão de Defesa ao Direito de Liberdade da Imprensa’.


Lei de Imprensa e agressões são a tônica


Lúcio Flávio Pinto relata que a primeira agressão e ameaça de morte contra ele, protagonizada por integrantes da família Maiorana, aconteceu em 1992. O jornalista acusa o cunhado de Ronaldo Maiorana, Calilo Kzan Neto, marido de Rosângela Maiorana Kzan. Naquela época – diz Lúcio -, a reação violenta ocorreu por causa de matéria do Jornal Pessoal na qual ele relatava os conflitos comerciais entre Rosângela, diretora administrativa da empresa, e o irmão mais velho, Romulo Maiorana Lúnior, então vice-presidente do grupo. Romulo é também personagem da matéria ‘O rei da quitanda’, que Lúcio avalia teria motivado o ataque da última sexta-feira.


Além da violência cometida por Calilo Kzan, Rosângela Maiorana entrou com ação na Justiça, na 16ª Vara Criminal, pedindo a condenação do jornalista por crimes de calúnia, injúria e difamação, com base na Lei de Imprensa, de 1967, resquício do período autoritário.


Lúcio Flávio argumenta que, no Jornal Pessoal, se limitou a expor que os negócios particulares dos irmãos Maiorana interferem na capacidade de informar dos seus veículos de comunicação, em prejuízo da sociedade. Essa mesma linha de análise, diz Lúcio, foi reproduzida na edição da primeira quinzena de 2005, que, para ele, motivou a recente agressão.


CENSURA – Rosângela Maiorana, desde então, já ingressou com quatro ações penais contra o jornalista, todas com base na Lei de Imprensa, além de uma ação cível, com o objetivo de impedir que seu nome fosse publicado no Jornal Pessoal. ‘Verdadeira censura prévia’, argumenta o jornalista.


Promotor exige que corregedoria investigue


A Corregedoria da Polícia Militar recebeu, ontem, ofício do promotor de Justiça Militar Armando Brasil Teixeira, exigindo a apuração do envolvimento de policiais militares no espancamento do jornalista Lúcio Flávio Pinto, na última sexta-feira, 21. O jornalista acusa o diretor-editor-corporativo das Organizações Romulo Maiorana (ORM), Ronaldo Maiorana, de tê-lo espancado com a ajuda de dois seguranças, o sargento Manoel Santana e o subtenente Edson Nazareno de Carvalho, ambos pertencentes aos quadros da PM, mas que prestam serviço de segurança particular ao empresário, uma ilegalidade.


A Corregedoria é o órgão da PM que investiga e pune as irregularidades funcionais cometidas por soldados e oficiais. Concluído o Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD) e o Inquérito Policial Militar (IPM), o promotor Teixeira pode oferecer denúncia ao Tribunal da Justiça Militar, caso fique comprovado que os militares, funcionários públicos do Estado, estavam prestando serviço de segurança privada e ajudaram nas agressões ao jornalista e ao empresário André Carrapatoso. As apurações devem ser concluídas em um mês.


TRANSGRESSÃO – As investigações vão apurar se Carvalho e Leão estavam de serviço e atuavam na proteção ao empresário quando houve o espancamento de Lúcio. ‘A ordem pública sempre deve prevalecer diante da proteção particular’, disse o promotor. O processo administrativo vai verificar se houve transgressão das normas da PM.


Uma comissão de oficiais investigará as circunstâncias em que os policiais estavam no restaurante do Parque da Residência. Já no IPM, a Corregedoria investigará se os sargentos Carvalho e Leão agrediram o jornalista e Carrapatoso, a mando de Ronaldo Maiorana. ‘Se isso for verdade, os policiais serão expulsos e vão responder conforme o que está determinado no Código Penal Militar’, prometeu o promotor.


Malheiros: grave problema de segurança


O juiz togado do Tribunal Regional do Trabalho, Vicente José Malheiros da Fonseca, diz que a conduta dos policiais que prestam serviços para particulares é ilícita e imoral. Ex-presidente do TRT, Malheiros fundamenta sua avaliação na quantidade de ações que o Tribunal recebe envolvendo policiais que fazem ‘bicos’ e no final da relação de trabalho com empresa ou empresário reivindicam direitos trabalhistas. Ele defende que nesses casos policiais e empresários sejam penalizados, os primeiros por suas respectivas corregedorias e os segundos pela Delegacia Regional do Trabalho, com multa.


Malheiros entende que não há relação de emprego entre contratante e soldados e a conduta dos policiais abre um precedente para a desordem pública. Muitos se aproveitam do treinamento da corporação e até de uniformes e armamentos para complementar os salários. ‘Ao invés de fazerem uma luta justa por melhor remuneração, procuram essa válvula de escape para conseguir um complemento salarial através da segurança particular’, constata.


ESCÂNDALO – O juiz afirma que este não é um problema sem importância. Trata-se de um problema de segurança pública muito grave, porque policiais, pagos pela sociedade, abandonam seus postos para proteger pessoas ou empresas individualmente em detrimento do interesse coletivo. ‘Já soube de caso inclusive de bombeiros que saíram do cumprimento do dever público para atender a particulares. Infelizmente é preciso que aconteçam situações da gravidade da ocorrida na última sexta-feira para que as providências sejam tomadas. A prestação de serviços por policiais a empresários e empresas é escandalosa e ocorre com muito mais freqüência do que se imagina’, denuncia."




O Estado de S. Paulo


"Jornalista acusa empresário de agressão no Pará", copyright O Estado de S. Paulo, 25/01/05


"O jornalista Lúcio Flávio Pinto, editor do Jornal Pessoal, de Belém, registrou B.O., acusando o diretor do jornal O Liberal, Ronaldo Maiorana Jr., de agressão e ameaça de morte. Pinto é autor de artigo em que questiona o compromisso do Liberal com a verdade. Segundo ele e testemunhas, o empresário e dois seguranças (ambos da PM) o atacaram na sexta-feira com socos e pontapés no Restô do Parque, restaurante administrado pelo governo do Pará."




Folha de S. Paulo


"Jornalista é agredido após publicar artigo", copyright Folha de S. Paulo, 25/01/05


"Uma briga entre o jornalista Lúcio Flávio Pinto, 54, e o diretor das Organizações Romulo Maiorana, Ronaldo Maiorana, 39, na sexta-feira, terminou na delegacia de São Braz, em Belém (PA). As Organizações Romulo Maiorana editam o jornal paraense ‘O Liberal’ e mantêm a ‘TV Liberal’, retransmissora da Rede Globo.


Maiorana agrediu o jornalista num restaurante de Belém em retaliação a um artigo veiculado no ‘Jornal Pessoal’, uma publicação quinzenal independente de autoria de Lúcio Flávio Pinto.


O artigo, intitulado ‘O Rei da Quitanda’, critica a família Maiorana, especialmente o irmão de Ronaldo, Romulo Junior.


Após a agressão, Flávio Pinto registrou queixa na polícia. Ontem, ele afirmou que se queixará à OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e ao governo federal por cerceamento à liberdade de expressão. Maiorana é coordenador da comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa da OAB no Estado do Pará.


Maiorana confirmou ter dado um soco em Flávio Pinto -que, segundo afirma, ‘esculhamba’ sua família ‘há 17 anos’. Disse ter ‘perdido a cabeça’ e prometeu também processar Flávio Pinto pelas acusações publicadas.


Maiorana disse que não sabia que Flávio Pinto estaria no restaurante. ‘Cutuquei o Lúcio e disse: ‘Você vai querer brigar em pé ou sentado?’. Ele se levantou e fomos para as vias de fato’, disse."



CASO IVANDEL
O Globo

‘IML: ossos achados em SP não são de Ivandel’, copyright O Globo, 19/1/05

‘Laudo do Instituto Médico-Legal (IML) concluiu que os fragmentos de ossos encontrados em um campinho de futebol no Capão Redondo, Zona Sul de São Paulo, não são do jornalista Ivandel Godinho, como acreditava a polícia, mas de animais. Ivandel foi seqüestrado em outubro de 2003. O laudo provoca uma reviravolta no caso, pois contraria depoimentos de três presos que, no último dia 4, segundo a polícia, confessaram ter matado o jornalista no cativeiro e queimado o corpo.

A perícia recolheu fragmentos de ossos encontrados no campinho e enviou para análise. Peritos do IML concluíram que os ossos são de animais, como carneiro, porco, cachorro e gato. Segundo os peritos, vários fatores levaram a esta conclusão, como o fato de ossos de animais serem mais porosos. A perícia levou 13 dias para encerrar a análise. Foi um processo demorado porque os ossos, além de queimados, tinham cal. O laudo será entregue hoje aos policiais da Divisão Anti-Seqüestro, responsável pelas investigações.

Os suspeitos — Fabiano Pavan do Prado, Wilson de Moraes Silva e um adolescente — disseram, segundo a polícia, que mataram o jornalista porque ele tentou fugir do cativeiro. Os três olharam uma foto de Ivandel, apresentada pela polícia, e confirmaram que era ele o homem que tinham levado para o cativeiro e assassinado. Também afirmaram que o corpo foi arrastado até o campinho de futebol e queimado. A cabeça teria sido cortada e jogada num matagal.

Polícia terá que ouvir suspeitos novamente

Agora, com o laudo do IML, a polícia terá de ouvir novamente o depoimento dos três suspeitos. Moradores do Capão Redondo contaram que no local onde os três disseram ter queimado o corpo do jornalista é freqüente a queima de corpos de animais.

Para o delegado Wagner Giudicce, titular da Divisão Anti-Seqüestro, o fato de animais terem sido queimados no campinho pode ter prejudicado a perícia. Ele diz que não vai mudar a linha de investigação:

— Ouvimos os suspeitos três vezes e em todas eles narraram a mesma história, sem ter tido contato um com o outro.

À época da prisão dos suspeitos, parentes de Ivandel questionaram a versão da morte do jornalista e disseram acreditar que ele poderia estar vivo.’

***

‘Presos negam participação em seqüestro de jornalista’, copyright O Globo, 20/1/05

‘O laudo do IML (Instituto Médico-Legal) atestando que são de animais e não humanos os ossos encontrados num campo de futebol na Zona Sul de São Paulo provocou uma reviravolta no caso do jornalista Ivandel Godinho, seqüestrado em 2003. Ontem, dois dos três suspeitos presos mudaram sua versão, negaram participação no caso e disseram ter sido torturados pela polícia para confessar o seqüestro e o assassinato de Ivandel. A família do jornalista divulgou nota qualificando de leviana a atuação da polícia.

A Divisão Anti-Seqüestro (DAS), que investiga o caso, mantém sua versão e diz ter identificado o quinto suspeito do seqüestro do jornalista. A polícia também procura outro suspeito já identificado: Sidney Correia, o Sidinelson, que seria o mandante do crime. A participação deles teria sido apontada pelos três suspeitos presos: o menor G., Fabiano Pavan do Prado e Wilson de Moraes Silva.

A advogada Patrícia Penna Saraiva Marques, defensora de Prado e de Silva, disse que eles afirmaram ter sido forçados a assinar um termo de confissão. Segundo ela, os dois relataram agressões físicas e psicológicas. Contaram que receberam, já pronto para ser assinado, um termo de declaração confessando o seqüestro. Os suspeitos disseram serem da DAS os policiais que os teriam pressionado para confessar o crime.

Advogada de suspeitosquer novos depoimentos

Ainda segundo a advogada, os suspeitos foram obrigados a identificar, por fotografias, Sidinelson (que seria mandante do crime) e o irmão de Ivandel. Pelo relato deles, a polícia os pressionou para dizer que as pessoas das fotos haviam seqüestrado Ivandel e levado-o para o cativeiro, onde os dois teriam tomado conta dele. Ela quer que eles refaçam o depoimento.

A polícia negou a acusação e disse que os suspeitos foram ouvidos na presença de seus parentes e que os depoimentos são válidos.

A Justiça prorrogou por mais dez dias a prisão temporária dos três suspeitos, presos no 77 Distrito Policial. O laudo do IML foi entregue ontem à DAS, informando que os fragmentos de ossos encontrados em Capão Redondo são de animais. O delegado Wagner Giudicce disse que não vai mudar a linha de investigação porque ele e sua equipe estão convencidos da participação dos três no seqüestro e morte de Godinho.

Ontem a DAS iniciou novas buscas no local onde foram encontrados os ossos. A polícia também voltou ao cativeiro à procura de novas pistas, mas nada foi encontrado.’



Folha de S. Paulo

‘Em nota, família de jornalista critica ‘precipitação’’, copyright Folha de S. Paulo, 20/1/05

‘Em nota divulgada ontem à imprensa e também publicada no site www.ivandelgodinho.com.br, a família do jornalista seqüestrado classifica de ‘precipitada e leviana’ a divulgação da ‘suposta morte’ de Ivandel Machado Godinho Júnior e reclama da postura das ‘autoridades’ responsáveis pela investigação do caso.

‘A família Godinho classificou como precipitada e leviana a divulgação por parte de autoridades policiais de informações sobre o caso do seqüestro do jornalista sem que houvesse provas conclusivas sobre a suposta morte de Ivandel’ diz o texto.

Na nota, a família do jornalista afirma que continua a busca por uma resposta para o caso do jornalista, seqüestrado em São Paulo em outubro de 2003. ‘Para nós, Ivandel Júnior continua vivo, até que se prove o contrário. O status do caso é o mesmo: estamos em busca de Ivandel.’

Em outro trecho da nota, a família de Ivandel diz esperar que sejam divulgados apenas fatos comprovados.

‘O que restou foi a constatação da ação inadequada das autoridades diante de uma mera confissão de três suspeitos. Estão há semanas em poder da polícia e não se provou nada. Se esses suspeitos têm algo mais a dizer, esperamos que haja discernimento de levar ao conhecimento público apenas fatos comprovados’, acrescenta a nota divulgada pela família.’