Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Nomes para esquecer e para lembrar

Na sua fase vicarial, Michel Temer fez uma opção judiciosa: falar pouco e não criar problemas. Em outras palavras: não dizer coisa alguma em seus raros pronunciamentos.

Jean Tirole, o economista francês na segunda-feira (13/10) informado da escolha do seu nome para o prêmio Nobel de Economia, falou pouquíssimo sobre o seu trabalho. Mas o que disse é o suficiente para mudar algumas percepções sobre o capitalismo contemporâneo.

Ambos manifestaram-se direta e indiretamente sobre a mídia. O vice Temer sempre defendeu a liberdade de expressão, mas quando é perguntado sobre jornalismo investigativo, treme nas bases – condena o sensacionalismo, o denuncismo, a exploração política etc., etc. Em suma, quer uma imprensa livre. E omissa.

Na segunda-feira (13/10), o vice-presidente da República avaliou que “não é útil para o processo eleitoral divulgar trechos do depoimento do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa”. E foi em frente, afirmando que “a Justiça Federal não deve permitir o vazamento de depoimentos no rastro das investigações da Operação Lava-Jato”.

Meio-presidente do PMDB, emérito constitucionalista, sabe que para agir em determinada direção a Justiça precisa ser acionada por meio de um ato formal. O juiz federal do Paraná Sérgio Moro, que examina o caso devidamente assessorado pelo Ministério Público, já declarou que o processo não está protegido pelo sigilo (ao contrário do outro, produzido no curso da delação premiada).

Base teórica

Temer sabe que ao acionar a Justiça para embargar a divulgação de trechos de depoimento de Paulo Roberto Costa estará magnificando irremediavelmente o seu conteúdo. Por isso, preferiu avaliar que a divulgação não é positiva para uma disputa eleitoral tão acirrada. Sumamente útil ao processo eleitoral seria manter Temer como a esfinge aposentada que não quer ser decifrada, muito menos devorada. A figura maior do maior partido do país deveria ser aconselhado a evitar intervenções ambíguas, aquosas, em defesa dos interesses pessoais dos companheiros de partido ou dele próprio.

Jean Tirole examina há mais de 20 anos o comportamento dos grandes grupos empresariais em segmentos altamente concentrados. Não se sabe se entre os objetos de seus estudos está a indústria da comunicação, mas a súmula divulgada pela Academia Sueca sobre a concessão do prêmio é abrangente e inequívoca: “Muitos segmentos [industriais] são dominados por um pequeno número de grandes empresas ou mesmo um monopólio. Deixados sem regulação estes mercados frequentemente produzem resultados sociais indesejáveis”.

Temer não quer uma imprensa proativa e, certamente, não gosta de um Judiciário independente. Tirole preocupa-se apenas com os setores altamente concentrados e, sem o pretender, oferece uma valiosa base teórica para processos de desconcentração em todos os segmentos da economia.