Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

Feitos e desfeitas


IMPRENSA REGIONAL

 

 

 

A

grande revolução brasileira vai ocorrer a partir do interior do país. A imprensa do eixo Rio-S.Paulo está encastelada demais na sua onipotência para fazer recuos significativos nos seus procedimentos. Portanto, incapacitada para acompanhar o processo de transformação ora em curso. A esperança está na imprensa regional.

Esta tem sido a bandeira deste Observatório e dos programas de reciclagem e treinamento empreendidos pelo Labjor desde a sua fundação em 1994.

Estamos inaugurando uma nova atração: uma vitrina para exibir os feitos ou defeitos da imprensa regional.

Mandem as reproduções digitalizadas de páginas inteiras (primeiras ou internas) com o cabeçalho e data visíveis, ao nosso endereço eletrônico, acompanhadas de um texto de até 20 linhas minuciando o fato. Sem adjetivos, contra ou a favor. Indispensável o nome completo do remetente.

 



Clique na imagem para ver a capa inteira

 


TT Catalão, do Correio Braziliense

Exatamente no primeiro dia do Novo Código saímos com esta capa onde a manipulação dos signos culturais foi apropriada para criar referências. A capa teve imensa resposta e fez com que o governador Cristóvam, elegante e inteligente, assumisse o erro no dia seguinte, ao enviar dois cheques para o pagamento da infração.

No interior do jornal apresentamos outras autoridades também flagradas. Silêncio culposo de alguns e resposta atrevida de outros, como o sagaz ACM, que sacou rápido: “quem pode afirmar se o carro estava em movimento ou não?” (ao ser publicado sem cinto). Em que pese o Correio Braziliense estar comprometido desde o ano passado com campanhas de trânsito e Brasília ter algum “orgulho de exportação” por ter sido pioneira em civilidade urbana, o jornal também fez matérias críticas contra o abuso de autoridade e a invasão de privacidade (como no caso do bafômetro e da caça indiscriminada aos carros velhos).

O que se percebeu pela reação dos leitores, nesta capa e nas edições onde autoridades foram expostas como mortais que também pecam, foi a sensação rara de uma imprensa que não discrimina na hora de publicar. Sabemos dos “recursos” gráficos e editoriais que potencializam ou mascaram algum assunto quando algum interesse maior (leia-se desde as chefias até os núcleos de poder) está em jogo. Mas também há um sentimento crescente de massa crítica em formação. Não mais pelos “comandos livres de redação” pautados pela doutrina Fla X Flu do nós/esquerdas contra eles/direita. A sofisticação do discurso impõe novas linguagens e a abordagem, hoje, é menos crua e idolátrica. O país não esperava que em um dado urbano de comportamento, como o trânsito, estivesse contida ampla discussão política, cultural, econômica e o meio ambiente urbano entrasse definitivamente no campo da qualidade de vida cidadã.

Se as bandeiras ideológicas andam um tanto quantos rotas por falta de rotas, abrem-se novas mobilizações menos cafetinizadoras da liberdade. Abrem-se perspectivas, digamos, ainda panfletárias da comunicação, porém, mais autônomas do velho vício arrogante do “eu sei mais que você por isso o doutrino em nome de uma causa”. E como todos acham a sua causa justa, haja conflito. Embora bem-vindo seja todo confronto em nome da consciência que se amplia e se renova sob todos os signos. O cultural (sempre tratado como material de segunda no jornalismo “sério”) deve permear a linguagem na imprensa por ser a base estrutural da atitude. Raiz da política. Que deveria ser polissêmica e polisética ( polis + ética ). E por que não: poética!