Tuesday, 30 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

A vitória da ignorância

Mesmo após transcorridas três semanas da grandiosa final do reality show da Rede Record A Fazenda, ainda não consigo engolir a vitória do ator e cantor Dado Dolabella.

A surpreendente preferência de 83% dos votantes para dar o gordo prêmio de R$ 1 milhão para o ex-global deixou-me estupefata. Mesmo ciente do passado recente do galã repleto de escândalos, a esmagadora parcela dos telespectadores concedeu seu aval para que o ator e cantor se tornasse o mais novo milionário instantâneo do polivalente universo artístico.

Acredito que os episódios da possível agressão de Dado Dolabella contra sua ex-namorada, a atriz Luana Piovani, permanecem imersos no esquecimento. Como se não bastasse ter, possivelmente, cometido tal abominável ato de violência contra uma mulher, o ator e cantor, antes de estar diante das câmeras do reality show, gabava-se por manter um perfil semelhante a Dom Juan. Sua admirável beleza física, somada à fama de galanteador, renderam a Dado Dolabella belas namoradas do meio artístico, exibidas pelo ator aos paparazzi como troféus durante badaladas festas.

Mesmo diante de ações que a maioria das mulheres abomina, elas presentearam o filho de Pepita Rodrigues e Carlos Eduardo Dolabella com a elevada cifra que irá proporcionar-lhe estabilidade financeira por um considerável período de tempo.

O pobre galã arrependido

Mas bastou o ator representar em A Fazenda um papel cuja personalidade se alicerçava em doces e puros sentimentos para conquistar os carentes corações do público feminino. O bad boy, que há menos de um ano badalava pelas noites do eixo Rio-São Paulo, cedeu lugar ao típico bem comportado garoto que reside no interior, representação facilitada pelo cenário de um acolhedor ambiente rural que compunha a sede do programa de televisão.

Ao invés de vestir roupas transadas, mascar chicletes, falar palavrões e beber cerveja no gargalo da garrafa, Dado Dolabella optou por trajar um figurino discreto, sempre composto por peças básicas, não malhar, para que seus músculos não despertassem a libido feminina, atraindo, assim, a atenção das mulheres para suas dóceis atitudes e ainda fingir não ingerir bebidas alcoólicas que foram colocadas em canecas usadas para tomar café, como declarou o humorista Carlinhos, ex-mendigo do programa Pânico.

As artimanhas arquitetadas pelo ator sufocaram seu colega de confinamento que, na reta final do jogo, travou consecutivas brigas com Dado Dolabella classificando o galã como ‘falso’. Sem papas na língua, Carlinhos, um dos candidatos mais cotados para ganhar o sonhado prêmio de R$ 1 milhão, foi jogado para escanteio pelos telespectadores que se indignavam diante das incisivas colocações feitas pelo humorista contra o pobre galã arrependido de suas atitudes errôneas cometidas em um passado recente.

Uma cantora talentosa e autêntica

Para completar a série de artimanhas para vencer o reality show, o ex-global não reagiu de forma ferrenha às provocações dos demais participantes, suportando, passivamente, a gama de críticas apontadas por seus colegas de confinamento rural.

A intrigante fórmula elaborada por Dado Dolabella alcançou êxito entre milhares de populares que, infelizmente, ainda buscam na televisão a fuga de seus inebriantes problemas cotidianos através de um mundo fantasioso exibido naquela mágica telinha.

Pensei que, pela primeira vez desde o final da década de 1990, quando a Rede Globo inaugurou a era dos reality shows no Brasil, iria presenciar a verdadeira vitória feminina. A talentosa e autêntica cantora Danni Carlos, longe de aproximar-se do ideal de beleza imposto pela sociedade e propagado pela mídia, vinha com tudo para engordar sua conta bancária com o milionário prêmio, mas, infelizmente, foi vencida pela ignorância.

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Jornalista e blogueira, Pedro Leopoldo, MG