Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

O buraco é mais embaixo

O Estado de S.Paulo e o Globo publicam em suas edições de terça-feira (26/5), quase como curiosidade, a história de um grupo de jovens que foi detido quando tentava enviar telefones celulares para dentro de uma penitenciária a bordo de um helicóptero de brinquedo. A Folha de S.Paulo ignorou o acontecimento, embora tenha sido fartamente noticiado nos telejornais da noite anterior.


Nos dois jornais que publicaram a notícia, não há como escapar da impressão de quase leviandade com que ela é apresentada, como se se tratasse de mais um episódio folclórico relacionado ao problema penitenciário.


O plano de introduzir os aparelhos numa penitenciária de Presidente Venceslau, no extremo oeste do Estado de São Paulo, foi organizado durante três meses, segundo relatam os dois jornais. Um dos envolvidos, um adolescente de 17 anos, teria recebido 10 mil reais para montar o aeromodelo e adaptá-lo para transportar os telefones. Receberia mais 10 mil após a entrega.


Atenção devida


Na penitenciária estão recolhidos os principais líderes do grupo criminoso conhecido como PCC, Primeiro Comando da Capital, que aterrorizou a capital e outras cidades paulistas durante o governo de Geraldo Alckmin.


Bastavam esses elementos para levar a imprensa a tratar com mais atenção o episódio. Principalmente se se somar a ele o fato de que algumas fontes da Secretaria de Administração Penitenciária têm vazado para jornalistas a informação de que o chamado PCC estaria planejando uma repetição dos atentados de maio de 2006.


Naquela ocasião, criminosos organizaram rebeliões em 80 penitenciárias, centros de detenção provisória e cadeias públicas. Além disso, promoveram ataques a bancos, assassinaram policiais e provocaram atos de vandalismo que deixaram mais de 80 ônibus incendiados ou depredados.


A região metropolitana de São Paulo e algumas cidades do interior foram paralisadas durante três dias, durante os quais houve oficialmente 293 ataques, principalmente contra agentes de segurança pública. Os números oficiais registram 170 mortes, mas ainda hoje correm sem ser noticiados inquéritos sobre assassinatos que teriam sido cometidos por policiais contra suspeitos ou meros desafetos.


O episódio do aeromodelo preparado para levar telefones celulares para líderes do crime organizado deveria merecer mais atenção da imprensa.


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A formação dos jornalistas


A qualidade do ensino de jornalismo no Brasil costuma ser vinculada à obrigatoriedade do diploma específico para o exercício da profissão. Isso transforma o currículo das faculdades de comunicação em assunto de interesse público, assim como são de interesse da sociedade as condições para a formação de advogados, médicos e engenheiros.


A proliferação de cursos e sua baixa qualificação também tem sido relacionada a certa depreciação do trabalho da imprensa. Além disso, há quem observe que as faculdades formam profissionais inadequados para um mercado que se transformou radicalmente com o advento das novas tecnologias de informação e comunicação.




Alberto Dines:


O cidadão precisa conhecer os detalhes da formação dos jornalistas, o currículo acadêmico nas escolas de jornalismo é assunto de interesse público?


Nenhuma dúvida: se o diploma é obrigatório para o exercício do jornalismo, a sociedade precisa saber exatamente o que o futuro jornalista está estudando para melhor servi-lo e melhor cumprir com as suas responsabilidades.


Em boa hora, o ministro da Educação resolveu atender à antiga reivindicação de reformar o currículo das escolas de jornalismo. E esta discussão deve ser acompanhada por todos. Assista à edição desta terça-feira (26/5) do Observatório da Imprensa na TV para não ficar alheio à qualidade do jornal que você vai ler amanhã. Às 22h40 pela TV Brasil, ao vivo em rede nacional. Pela Net, canais 4 (SP), 16 (DF), 18 (RJ e MA); pela Sky-Direct TV, canal 116; pela TVA digital, canal 181.