Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Considerações rápidas e rasteiras

“As acusações que pesam contra o empreiteiro poderiam ser atenuadas…” (Do noticiário dos jornais, a respeito do empreiteiro preso que diz uma coisa para a Justiça e que estaria ameaçando pela imprensa sair dizendo outra coisa acerca da maracutaia em que se envolveu)

O lucro da Vale e a Bolsa

Carradas de razão tinha Tom Jobim ao dizer que o Brasil não é para principiantes. Do noticiário do Diário do Comércio, edição de 27 de fevereiro passado, extraio duas informações, de caráter aparentemente contraditório, que corroboram em cheio a fala do genial compositor. Ei-las: 1) “Lucro da Vale cresceu 729% no ano passado – mesmo diante dos baixos preços do minério de ferro no mercado internacional e do prejuízo de R$ 4,7 bilhões registrados no quarto trimestre, o lucro líquido da Vale aumentou 729% no ano passado e somou R$ 954 milhões, ante R$ 115 milhões contabilizados em 2013”; 2) A queda da Bolsa hoje (26 de fevereiro de 2015) foi conduzida pelo recuo das ações da Vale, devido ao balanço considerado fraco, e também pelo mau humor dos investidores com indicadores econômicos ruins. Os papéis da Vale terminaram com queda de 4,02% e 3,87% (PN), depois que a empresa reportou um prejuízo líquido de US$ 1,849 bilhão no quarto trimestre deste ano (2014).

O prejuízo ficou acima da média das projeções de analistas, que esperavam perdas de US$ 740 milhões para o período.”

Perguntar não ofende. É isso mesmo? Os especuladores da Bolsa, então, não ficaram nada satisfeitos com os lucros de “apenas” 729% da Vale? Não, não precisa explicar. Eu só queria mesmo entender.

As tais “agências de risco”

À parte os irretorquíveis motivos que a Petrobras vem oferecendo para que sua credibilidade decline perante a opinião pública, não merece passar sem fortes ressalvas o anúncio do rebaixamento do índice da empresa para recebimento de financiamentos dado pela Moody’s. É sabido até do mundo mineral, como diria o jornalista Mino Carta, que essas tais “agências de risco” não passam de manjadíssimos instrumentos manipulados a bel prazer pelos megaespeculadores. De outra parte, apesar de sua total proximidade, dir-se-á mesmo intimidade, com as grandes corporações financeiras situadas no epicentro do inigualável escândalo da “bolha imobiliária” de 2008, elas – as agências de risco, Moody’s incluída – não se deram ao trabalho de emitir, hora alguma, qualquer sinal de alerta ao público, tanto nos Estados Unidos quanto noutros países, sobre a formidanda crise que estava a se abater sobre a economia mundial. Seus festejados analistas, que se confessam atentos a tudo que ocorre de relevante no mundo dos negócios nos países emergentes, engoliram chusma de mosca no “monitoramento” do catastrófico evento produzido em Wall Street.

As “versões” do coordenador do cartel

A mídia, com destaque para a Veja, publicação semanal de grande tiragem, publica graves revelações atribuídas a um empreiteiro emaranhado nas teias da Operação Lava Jato. O elemento em questão é apontado nas investigações como articulador do cartel de empresas acusado de montar, com o eficiente concurso de agentes públicos e políticos inidôneos, a descomunal maracutaia.

As informações estampadas na imprensa como sendo de sua autoria são totalmente diferentes do teor dos depoimentos que lhe foram tomados, com todas as cautelas de estilo, na presença de seus advogados, no inquérito instaurado pela Justiça.

A versão dos autos não seria, por conseguinte, pra valer. O cara, com forte propensão para comendador de novela, teria coisas mais pra contar diante dos microfones e câmeras. Esperar o próximo capítulo dessa trama de suspense.

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Cesar Vanucci é jornalista