Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

A devastação no Pantanal

A revista Época traz nesta semana uma reportagem sobre o tema meio ambiente, inserida na seção de ciência e tecnologia. Ali estão assinalados os nomes de três empresas do setor de mineração, que têm excelentes relações com a imprensa: Vale, Votorantim e Rio Tinto. Elas são citadas com cautela, mas não se pode escapar do que afirma a reportagem: as empresas do setor são as principais estimuladoras da produção irregular de carvão vegetal que vem destruindo o Pantanal Matogrossense.


Numa semana em que a chamada bancada ruralista, fortalecida pela banda podre do Congresso e estimulada pela omissão da imprensa (ver aqui), tenta fazer passar uma lei que pode enfraquecer ainda mais a luta pela preservação do patrimônio ambiental brasileiro, a reportagem de Época merece muita reflexão. Ela reproduz um estudo até então inédito revelando que o Pantanal já perdeu 40% de sua cobertura vegetal.


Retrato desolador


A devastação se concentra nas terras altas, mas afeta diretamente os alagados porque as cabeceiras dos rios que formam a região pantaneira estão nos planaltos. As empresas mineradoras são parte do problema.


A reportagem foi ouvir seus argumentos, e colheu apenas da Vale a promessa de que vai participar das discussões sobre como conter a destruição. A Rio Tinto alegou que vendeu sua mina para a Vale e a Votorantim não atendeu a reportagem até o prazo final de fechamento da edição. Ficam faltando os vilões de sempre, aqueles que se organizam para reduzir o rigor da legislação de proteção ambiental. 


Segundo o estudo citado pela revista, a ampliação das pastagens é outra das principais causas do desmatamento no Pantanal, assim como acontece na Amazônia. Mas ocorre ali uma cadeia econômica destrutiva. O crescimento do cultivo da cana nas terras baixas, no período da seca, reduz o espaço para o gado, que já havia se integrado ao ambiente pantaneiro. Os pecuaristas migram para as terras altas e desmatam para ampliar suas pastagens. Os produtores de carvão vegetal completam o serviço.


O retrato é desolador e ameaça um dos mais apreciados patrimônios naturais do mundo. Até terça-feira (2/6), os chamados grandes jornais, sempre atentos para repercutir intrigas políticas das revistas semanais, ainda não haviam dado a menor atenção à denúncia publicada pela Época.


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Carne ilegal


Para que não se diga que a questão ambiental passa sem registro, o Globo e a Folha de S.Paulo noticiam que o Ministério Público Federal entrou com ações contra 21 grandes pecuaristas e frigoríficos que comercializam carne de gado criado ilegalmente na Amazônia.


A Folha diz que 69 empresas comerciais, entre elas as redes Carrefour, Wal-Mart e Pão de Açúcar, foram alertadas pelo Ministério Público.


É pouco.


Para se mostrarem realmente comprometidos com a causa ambiental, os jornais deveriam agora estar informando o leitor sobre a necessidade de exigir de seu supermercado o fornecimento de um certificado de origem da carne que vende.


Só através do consumo consciente a Amazônia tem uma chance de ser salva. E essa tarefa necessita do engajamento da imprensa.


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A TV pública


Alberto Dines


Qual a diferença entre a inglesa BBC e as americanas APT e PBS? Entre a TV Brasil, a Rede Cultura e a TVE espanhola? Todas são empresas publicas de radiodifusão, mas cada uma tem características próprias, cada país tem um formato diferenciado.


As duas redes brasileiras são mais estatais, as anglo-saxônicas são mais públicas, a TVE espanhola é estatal, mas está procurando uma sinergia com o setor privado, seguindo, aliás, a experiência francesa. O que as aproxima é o interesse público.


Na semana passada realizou-se em Brasília, o 2º Fórum de Televisão Pública onde desfilaram os diferentes modelos. Nossa mídia comercial evidentemente não deu atenção ao evento. Mas o Observatório da Imprensa estava lá. Veja o resultado hoje à noite às 22h40, ao vivo pela TV Brasil. Pela Net, canais 4 (SP), 16 (DF), 18 (RJ e MA); pela Sky-Direct TV, canal 116; pela TVA digital, canal 181.