MOSAICO
VALE-TUDO
Jairo Faria Mendes (*)
A ética jornalística é influenciada pelas idéias dominantes em nossa sociedade. Por isso, ela será muito influenciada pelo pensamento neoliberal, que se subordinará aos princípios capitalistas, idolatrando o mercado, valorizando o egoísmo e o individualismo.
Em conseqüência, cada vez ganha mais força a idéia de "que é bom aquilo de que o público gosta". À medida que os produtos da mídia são vistos como mercadorias, o que importa é que sejam consumidos. É a guerra em busca de leitores/ouvintes/telespectadores, na qual vale tudo: sensacionalismo, notícias mal apuradas, boatos.
E, o que é pior, quando se transforma o jornalismo em mercadoria também são colocados nessa mesma situação seus "ingredientes". Nos produtos jornalísticos estão presentes a dignidade e a honra de pessoas e instituições, comercializadas com as notícias. É algo muito sério. Entra em jogo a vida de pessoas, que nunca será igual depois de uma acusação da mídia.
Erros, pequenos e grandes
Podemos lembrar do triste caso da Escola Base, de Brasília, acusada de molestar sexualmente seus alunos. Era tudo mentira. Mas a vida dos diretores da escola foi totalmente destruída. A retratação serviu apenas para que saíssem da prisão. Recentemente, o New York Times criou problemas diplomáticos entre Estados Unidos e China ao divulgar notícia mal apurada sobre roubo de segredos militares americanos [ver remissão abaixo para "Lambança do NYT"]. Também vemos sensacionalismo em cenas como a da criança de 3 anos sendo torturada, apresentada no Programa do Ratinho.
Para os meios de comunicação basta um indício, uma denúncia qualquer para que sejam feitas grandes manchetes acusatórias. Como se o denunciado fosse atropelado por um trem. É o linchamento público, as pauladas vêm de todos os lados: jornais, revistas, rádio, TV, internet. Há pouco vimos Wanderley Luxemburgo, ex-técnico da Seleção Brasileira de Futebol, massacrado pela mídia – "coincidindo" com seus insucessos em campo e baixa popularidade. Nem se sabe se ele é culpado ou inocente, mas a mancha do episódio talvez não se apague nunca.
Não quero dizer que a mídia não deva ser combativa, investigativa, denunciando injustiças. Este é um seu papel importantíssimo. Mas que deve ser exercido com responsabilidade, tendo em vista as conseqüências que pequenos ou grandes erros podem causar.
(*) Jornalista