Tuesday, 30 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Rodrigo Dionisio

ENTREVISTA – LUIZ THUNDERBIRD

"?A verdade tem de ser dita?", copyright Folha de S. Paulo, 17/03/02

"Sexo, drogas e televisão. Essa é a promessa da autobiografia de Luiz Fernando Duarte, 40, mais conhecido como Thunderbird . Afastado voluntariamente da MTV para contar em livro a sua história, ele volta à emissora em junho, para comandar o ?VJ Search?. Patrimônio do canal musical -empresta seu codinome a uma peça (?Éramos Todos Thunderbirds?, em cartaz no Espaço Cultura Inglesa, Vila Mariana, São Paulo), que fala da MTV-, Thunder deu entrevista ao TV Folha sobre sua vida e a incursão literária.

Qual é a idéia do livro?

É falar de televisão. Na verdade, vou começar nos meus seis anos de idade. Já tem o primeiro capítulo pronto, que vai até o começo da banda Devotos de Nossa Senhora Aparecida. É o introdutório, até 1986. Depois, o segundo, vai de 86 até 1990, quando entrei na MTV. Aí tem a fase MTV, de 90 a 93; a fase da Globo, de 94 a 95; mais MTV, em 96, 97; a TV Manchete; outro retorno à MTV; e chegamos aos dias de hoje.

Mas o enfoque são os bastidores das emissoras pelas quais você passou?

Claro. Tenho histórias para contar. Vou falar da minha carreira e, é óbvio, da MTV, porque eu estive presente em todos os momentos da emissora. São histórias que ninguém sabe, interessantes, bizarras. Tem histórias de corredores, de banheiros, de festas. Tem um monte de coisas nesse livro, frustrações, vitórias. É óbvio que eu vou ser o personagem central, mas há coadjuvantes sensacionais.

São as ?histórias proibidas da MTV??

Ah, devem rolar algumas histórias proibidas, lógico. Vou procurar preservar a integridade moral das pessoas, na medida do possível. Mas a verdade tem de ser dita. Doa a quem doer (risos).

No livro, você trata do seu envolvimento com drogas? Foi a parte mais ?negra? da sua carreira?

Na verdade, o final foi. Perdi realmente o controle. Percebi que estava em maus lençóis, pois usar drogas era a única prioridade, a única coisa que fazia. Não estava mais conseguindo trabalhar muito e foi aí que me internei em uma clínica. Consegui ficar lá e me entreguei ao processo de recuperação. Se não tivesse feito isso, acho que não estaria mais aqui. Na época, cheguei a me conformar com isso: ?Ah, eu vou morrer mesmo. Então foda-se?. Depois, foi a fase da Manchete de trabalhar em parceria com Jota Silvestre. Ele era sensacional, não é? Bom velhinho. Existem poucos bons velhinhos que eu conheço: Papai Noel, Karl Marx, Groucho Marx e, puxa, o Jota Silvestre. E eu tive o prazer inusitado de trabalhar com ele. Além disso, eu estava falido, absolutamente falido, e era uma oportunidade de trabalhar careta. Essa oportunidade veio uma semana depois que eu saí da clínica. Pude trabalhar careta e com pessoas que não usavam drogas. Tentar voltar ao trabalho, sabe? Tentar voltar de uma forma segura.

Já sua ida para Globo não foi tão boa…

O que aconteceu na Globo é que eu fui para lá na seguinte situação: não estava muito feliz na MTV, queria fazer uma coisa diferente. Também queria mudar de cidade. Ver se mudando dava uma parada com as drogas. Achei que essa fuga geográfica ia ser positiva, e não foi; imagina, lá tem droga também. Pensava: ?Lá não conheço nenhum traficante?. Mas, puxa, isso é muito fácil de descobrir. Enfim, o convite era ótimo. Era para fazer o Hollywood Rock, o Carnaval, o ?Fantástico?, o ?TVZona?, que era meu projeto. Era um programa de música ao vivo. Na MTV, não tinha como fazer isso. Na época, não existia essa possibilidade, e a Globo falou: ?Venha. Quanto você quer para fazer o programa? Quarenta mil dólares? Está aqui?. Lembro que o Zeca Camargo comentou comigo: ?Mas, Thunder, você vai aparecer no ?Fantástico?? Você vai fazer parte daquilo??, com um sorriso irônico. É… o mundo dá muitas voltas, se é que você me entende.

O seu programa foi ao ar, mas durou pouco tempo, certo?

Foi ao ar durante oito semanas. As oito semanas mais divertidas que passei em toda a minha vida. Ganhava muito bem, trabalhava com pessoas ótimas, usava muita droga e estava extremamente popular. Então, todo vazio que a droga me dava, as pessoas preenchiam na rua, nos corredores. Ao entrar em crise por usar drogas, tudo o que você precisa é de acalanto. É alguém te pegar no colo e falar que não é nada, que está tudo bem. Nesse sentido, foi ótimo. Quando eu soube que o programa tinha acabado, e essa é uma das histórias bem interessantes… a forma como eu soube. Isso vai estar no livro. É bombástico, até.

Você era visto como uma ?figura estranha? na emissora?

Sim. Lembro que poucas pessoas se aproximavam de mim. Tive a simpatia de alguns. De outros, a indiferença. Chegou até a ter uma certa animosidade por parte de uma estrela da Globo. Eu fui até a gravação do programa dela oferecer uma música, com um algodão-doce numa mão e um girassol em outra. A resposta que tive foi a força e o poder dos seguranças dela. Isso vai estar no livro com detalhes. Fiquei muito decepcionado com essa pessoa, por sinal.

Quem foi?

Não posso dizer. Só no livro. Se meu editor sabe que estou falando essas coisas para você, ele vai ficar puto (risos)."

 

HISTÓRIA / FSP

"Para historiador, Folha inovou na cobertura da cultura e da política", copyright Folha de S. Paulo, 13/03/02

"Em palestra sobre a história da Folha, realizada anteontem para estudantes na Fiam (Faculdades Integradas Alcântara Machado), Nicolau Sevcenko, professor da USP, disse que este jornal foi o primeiro a tirar as consequências da fragmentação de assuntos e enfoques que surgiu na política e na cultura após o movimento estudantil de Maio de 1968.

Com isso, a partir dos anos 70 a Folha frequentemente se afastou de um certo modelo de mídia apenas preocupado com a defesa do establishment, em momentos de forte confronto político.

Sevcenko foi um dos participantes de seminário da Cátedra Octavio Frias de Oliveira, publisher deste jornal, homenageado no último dia 25 pela Fiam com o título de professor honoris causa.

A cátedra, administrada pela faculdade, programou para este ano outros cinco seminários. Eles abordarão temas como jornalismo cultural e internet na mídia.

Também participante do encontro de anteontem, Maria Helena Capelato, historiadora da USP, disse que nos anos 60 o jornal, mesmo ?sem posição política muito bem demarcada?, põe em prática um projeto interno de modernização. A partir de 1978 se engaja em favor da abertura política e pelo fim do ciclo militar.

Boris Fausto, igualmente historiador da USP, disse que os jornais não correm riscos imediatos em razão das tecnologias surgidas com o mundo globalizado. O risco está ?na homogeneização da noticia e na padronização estereotipada da informação?, que poderiam levar os órgãos da mídia impressa a perderem suas personalidades editoriais."

 

FOLHATEEN

"Folhateen", copyright Folha de S. Paulo, 13/03/02

"Fiquei indignado com a história em quadrinhos publicada na última página do caderno Folhateen em 11/3. Um cara com orelhas de coelho vai de barco até uma ilha e, com um envelope na mão, se suicida. Eu pergunto: o que é isso? No mundo de hoje, com terrorismo em todo o planeta, PCC e crime em cada esquina, onde não podemos nem sequer passear com nossos filhos em praça pública por medo de sermos sequestrados, vocês divulgam uma historinha que é lida por milhares de crianças e de adolescentes -inclusive por meu filho, que a viu e pediu-me que eu lhe contasse a história…. Não tenho palavras para descrever o que sinto. Aonde vamos chegar? Como poderemos educar nossos filhos se vocês, que se dizem o maior jornal do Brasil, colocam uma ?coisa? dessas no jornal? Vocês estão dispostos a ajudar o mundo ou a confundir a cabeça das crianças e adolescentes sobre suicídio? Flávio Imamura (São José do Rio Preto, SP)"