Tuesday, 30 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

José Paulo Lanyi

BEATRIZ SEGALL vs. allTV

“Beatriz Segall: entrevista polêmica na allTV”, copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 13/12/02

“Em entrevista nesta quinta-feira (12/12), à jornalista Anna Lee, no programa Prime Time Artes & Espetáculos da allTV (TV da Internet) e da TV Millenium (Canal 17, da TVA/SP), a atriz Beatriz Segall irritou-se ao ser questionada se ainda está com medo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.

Em meados de outubro, a atriz afirmou no programa de José Serra no horário eleitoral ter medo da patrulha do PT, em apoio à também atriz Reguina Duarte que havia declarado ter medo de Lula. Na ocasião, Beatriz Segall disse: ?Eu tenho medo. Também estou com medo de não poder dizer que estou com medo, de ser ameaçada de processo por discordar?.

A atriz contestou a jornalista Anna Lee afirmando que, apesar de ter participado da campanha eleitoral de Serra e ter dito estar medo, jamais citou o nome de Lula. No decorrer do programa, Beatriz Segall alterava-se toda vez que a apresentadora ou internautas a questionavam sobre política e política cultural.

As entrevistas do Prime Time Artes & Espetáculos são feitas com o auxílio de perguntas de internautas por meio de um chat.

A atriz também ficou bastante irritada quando a apresentadora quis saber sobre o fato de ela ser contra descontos de 50% no valor de ingressos para teatro. Exaltada, Beatriz disse que vender ingressos pela metade do preço e não ser reembolsada pelo governo é a mesma coisa que a partir dos 65 anos as pessoas terem o direito de ir aos melhores médicos e pagar apenas 50% do valor da consulta.

Para assistir a entrevista na íntegra acesse www.alltv.com.br e clique no ?on demand?.”

 

JORNALISMO / FORMAÇÃO

“Jornalistas exemplares (ou acautelai-vos!)”, copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 11/12/02

“Nos artigos sobre formação do jornalista, meia-dúzia de conselhos sobressaem: escove os dentes para evitar as cáries, olhe para os dois lados ao atravessar a rua…

Não, não é isso, mas é como se fosse. Tentemos de novo: cultive o hábito da leitura, escreva sempre, aguce o senso crítico… É mais do que o lugar-comum do beabá: é a própria chatice faladeira, ainda que sapiente.

Fala-se muito em ética… Falar em ética é bonito. Não, é mais do que isso: é um alimento contemporâneo, é alentador, é um pedigree…

O interessante disso é, no correr dos anos, a gente deparar com ?o jornalista completo?. Sim, ?o? jornalista: técnica e moralmente habilitado pelos manuais. Uma voz! A voz! A voz dos jornalistas, a voz do patrão mui satisfeito, a voz do jornalismo… A voz de toda uma sociedade… A voz da própria civilização!

Técnica e moralmente habilitado… O leitor o venera, o ouvinte o venera, o telespectador… Os colegas que só o conhecem de longe…. Ah! Rendamo-nos a Vênus! Fulano é ?o? jornalista, Sicrana é ?a? jornalista, Beltrana…

Tudo direitinho, para embalar e levar pra casa.

O problema é que recebemos as visitas na sala… Bem longe daquela ?zona? que é a cozinha e seus pratos sujos. Assim é por aí adentro. Sim, porque afora tudo são flores.

?Você viu o Abebibobu? Que jornalista! Sabe tudo! Belo artigo, aquele! Uma sumidade! Um idealista!?.

Parece simples, não? É preciso, pois, passar uns tempos na redação para saber um pouco mais sobre o ?técnica e moralmente habilitado?. Inatacável? Passou no teste? Muito bem! Muito bem!

O quê? Indefensável?! Como assim? Sonso? Puxador de tapete? Capachão pra cima e triturador pra baixo? Só quer traçar as menininhas? Mas… E aquele ar ?blasé?, de estadista destemido? E aquelas entrevistas sobre os ideais do jornalista? E aquelas palestras, o cara todo cheio de razão…? ?Porque é isso, é aquilo, e blá-blá-blá, ti-ti-ti… Faça isso, não faça aquilo…?? E aquele manual de ética que ele escreveu?

Pois é. Certas respostas, só com a convivência…

O curioso é como as coisas colam. É o tal do ?marketing pessoal? à prova de verdade. Aqueles preceitos que o Maquiavel já ensinava…

Há, contudo, um porém: muitos dos que assim rastejam pela vida- ao incenso dos precipitados- acreditam mesmo no que acham que são: ?técnica e moralmente habilitados?. Sim, acreditam mesmo, dá pra perceber..

Não se trata de esquizofrenia, não… Trata-se de vaidade.

Porque eles lêem muito – como pregam os manuais. Podem discorrer, invulgares, sobre hermenêutica e geometria, maiêutica e Alexandria…

Quando falam de ética, então… Dá vontade de chamá-los de mestres.

Onde está a falha, então? Onde se abriu essa fenda? Eles lêem, trabalham, destacam-se, encantam… Onde foi que o manual errou?

O manual não errou, não deve ser lido como bíblia, como a única palavra que nos conduz à salvação. O ?manual dos conselhos? é e sempre será um átomo diante da natureza enciclopédica, verdadeiramente surpreendente do ser humano.

O manual não consegue resumir o imponderável dos homens e mulheres, num dia-a-dia por vezes insano. Não está lá, por exemplo: os ?mestres? que acham – e fazem crer- que são ?deuses? e agem como ?frívolos? podem estar doentes, simplesmente. Doentes de soberba.

Daí, volta e meia, nos defrontarmos com essas criaturas patéticas: os jornalistas ?técnica e moralmente qualificados? – para eles mesmos, para o grande público e para muitos de nós, enquanto deles estivermos distantes; e, a um só tempo, faladores de palavras sábias e envolventes- conquanto vazias e diluídas pelo mau hálito que cheira a hipocrisia.

Acautelai-vos, pois.”