Tuesday, 30 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Laura Mattos

TV PAGA / PIRATARIA

“Pirataria de TV paga é vendida por e-mail”, copyright Folha de S. Paulo, 26/02/03

“Da periferia aos bairros mais nobres, não são raras as ?gambiarras? para receber TV por assinatura de graça ou conectar mais de um televisor aos canais fechados sem pagar taxa adicional.

Agora, além dos chamados ?gatos?, as empresas brasileiras de TV paga terão de lidar com um problema que desconheciam: a venda por e-mail de esquemas para montagem de aparelhos capazes de piratear seus sinais.

A divulgação dos métodos de fabricação do decodificador ilegal, batizado de ?caixinha mágica?, está crescendo no Brasil por meio de spam (publicidade enviada a listas de e-mails).

A Folha teve acesso a um deles, que oferece as informações exigindo depósito de R$ 10. Com o campo de assunto do e-mail preenchido com ?!!!TV A CABO GRÁTIS????, a mensagem coloca à venda um ?arquivo que desbloqueia todos os canais disponíveis?, incluindo ?pay-per-view? e canais eróticos (pagos à parte pelos assinantes).

Segundo a publicidade, ?qualquer assistência técnica das mais simples? poderia montar a caixa por menos de R$ 30.

Depósito

Para receber o site com as informações e a senha de acesso é preciso depositar o dinheiro em uma conta bancária. Após responder a mensagem solicitando os dados, a reportagem recebeu um e-mail, de destinatário identificado por Sandro da Silva, com as instruções para o pagamento.

O valor deveria ser depositado em uma conta de poupança da Caixa Econômica Federal, numa agência de Imperatriz, no Maranhão.

O arquivo, obtido após a confirmação do depósito, traz um manual de 20 páginas, em inglês, com o título: ?Plano para decodificador a cabo agora!?.

Logo no início do texto, o autor demonstra tentar um álibi: ?O conteúdo deste documento é apenas para propósitos educacionais?. E ?adverte? que ?o uso ilegal das informações é estritamente proibido por lei?.

Além de explicações teóricas, há figuras com o passo a passo da montagem do aparelho. A ?caixa mágica?, ligada ao televisor, é mais eficaz para piratear TV a cabo (como Net e TVA) do que para as de satélite (Sky e DirecTV, por exemplo), segundo engenheiros especializados em televisão consultados pela Folha.

Mais problemas

Para a Associação Brasileira de Televisão por Assinatura (ABTA), a divulgação de pirataria por meio de spam é uma novidade.

?Não conhecíamos essa forma de disseminação. Sabíamos da existência de sites que ensinam a burlar as operadoras, mas não dessa venda por e-mail?, disse Adir Mattos, 46, coordenador da comissão antipirataria da ABTA, após receber da Folha uma cópia do spam e do manual.

Mattos afirmou que a associação não tem estatísticas da pirataria, mas admitiu ter indícios de que está aumentando no Brasil.

Uma das razões seria o alto custo das assinaturas. Fora o preço de adesão ao sistema, há pacotes de até R$ 100 por mês, metade do valor do salário mínimo no país.

O crescimento da ilegalidade só agrava a situação das empresas, num momento em que enfrentam dificuldades financeiras e baixa penetração no mercado (hoje, no Brasil, são cerca de 3,5 milhões, menos da metade do que o setor projetava quando a TV paga foi lançada no país, há 11 anos).

EUA

Nos Estados Unidos, onde cerca de 90% dos televisores têm TV por assinatura, 17 pessoas foram condenadas na semana passada por piratear sinais de duas operadoras de canais por satélite, DirecTV e Dish Network.

Um dos acusados, morador de Los Angeles com 48 anos, teria causado prejuízo de US$ 14,8 milhões às empresas, segundo a agência Associated Press.

A investigação constatou que o trabalho dos hackers é tentar desvendar os códigos de proteção instalados pelas operadoras.

Para trocar informações, os acusados, que podem ser punidos com até cinco anos de detenção, costumavam conversar em salas secretas de bate-papo pela internet e usar apelidos como ?freeTV? (TV grátis).”

***

“Vender e instalar aparelho é crime”, copyright Folha de S. Paulo, 26/02/03

“O responsável pela venda do manual do decodificador e os seus usuários podem ser multados e até presos.Segundo Adir Mattos, coordenador da comissão antipirataria da ABTA, quem faz a publicidade e vende pode ser condenado por estelionato, com pena de um a cinco anos. ?Induz à compra de algo ilegal e promete uma instalação fácil. O manual não é tão simples.? Exigiria, diz, técnico especializado, que cobraria mais.

Instalar a caixa pode ser considerado crime de receptação, diz Mattos, com pena que varia de multa à prisão de um a quatro anos.

Procurado, vendedor deixou de responder

Sandro da Silva, que vendeu as informações à Folha, parou de responder aos e-mails assim que a reportagem se identificou para ouvir sua versão, há uma semana.”

 

TV / GUERRA POR FILMES

“Disputa pelos melhores filmes”, copyright O Estado de S. Paulo, 2/02/03

“Quer assistir ao filme Gangues de Nova York, que está em cartaz nos cinemas, em uma emissora de TV aberta? Bom, então é melhor você sentar e esperar… pelo menos por três anos. Antes de um título chegar à TV aberta, ele passa pela locadora de VHS e DVD, depois pelos canais em pay-per-view e, em seguida, pelas emissoras por assinatura. Só depois de todo esse processo, ele estará disponível para a transmissão nos canais abertos. Mas a disputa por bons títulos começa bem antes deste prazo. As emissoras têm de correr atrás das distribuidoras de filmes para negociar e barganhar. Funciona como um leilão em que o vencedor garante a aquisição de sucessos de bilheteria como O Senhor dos Anéis, Gladiador, Uma Mente Brilhante, X-Men, Harry Potter, Homem-Aranha, entre outros. E todos os filmes têm prazo de validade e restrição quanto ao número de reprises. Mas também são garantia de boa audiência e ótimos anunciantes.

Neste ano, quem levou a melhor na aquisição de pacotes de títulos para a TV aberta foi o SBT, que fechou contrato com a Paramount, a Disney e a Warner/New Line – a campeã de bilheteria nos cinemas em 2001 e 2002. Esse contrato, que tem duração de 5 anos, garante a exclusividade de ?blockbusters? como O Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel, Harry Potter e a Pedra Filosofal, Onze Homens e Um Segredo, Dia de Treinamento e Vanilla Sky para o SBT em 2004. Para este ano, a rede mostra Mar em Fúria, O Exorcista (nova versão), Corrente do Bem, Magnólia, entre outros. No pacote da Paramount figuram sucessos como Tomb Raider: Lara Croft. O canal também comprou um pacotão de títulos da MGM, que inclui todos os filmes da série James Bond, além de sucessos como Stigmata, Legalmente Loira e Códigos de Guerra.

Para fechar esses contratos e negociar pacotes, o SBT conta com uma pessoa que freqüenta duas feiras anuais de novidades e negocia com as grandes distribuidoras. O critério de escolha de títulos é diretamente ligado ao sucesso nas bilheterias dos cinemas. Além disso é levado em conta o perfil do SBT: filmes de ação e aventura são os preferidos. Há alguns anos, a emissora do Homem do Baú não conseguiria oferecer ao telespectador uma safra tão valiosa de filmes. Isso porque as distribuidoras, há cerca de 20 anos, costumavam bater primeiro à porta da rede dos Marinhos. ?A Globo definia o preço dos pacotes, já que não havia outro comprador constante?, fala um diretor do SBT, que prefere não se identificar.

Agora, com outras emissoras na disputa, a Globo também tem de correr atrás de distribuidoras e participar dos ?leilões?. Segundo a Central Globo de Comunicação (CGCom), as negociações são feitas em quatro feiras internacionais e em conversas com as distribuidoras. Geralmente, as compras são realizadas um ano antes da temporada – em 2003 são adquiridos os filmes para 2004. Na grade de programação da Globo, já estão garantidos Gladiador, As Panteras, X-Men, O Tigre e o Dragão, Beleza Americana e Missão Impossível 2.

Reprises – Curtindo a Vida Adoidado, Namorada de Aluguel, Querida, Encolhi as Crianças, O Resgate de Jéssica, Lassie… Você com certeza não agüenta mais assistir aos anúncios desses filmes, que são verdadeiros clássicos das tardes na TV. Segundo o diretor do SBT, o motivo das intermináveis reprises é a restrição de censura. ?Só podem ser transmitidos os filmes de censura livre neste horário?, explica. ?E são poucos os títulos com essa classificação. Nem mesmo Harry Potter tem censura livre.? As emissoras têm a opção de fazer cortes nos filmes e enviá-los ao Ministério da Justiça para que a classificação etária seja revista. ?Mas é um processo muito demorado?, fala o diretor da rede de Silvio Santos. A Globo diz que os filmes que possui em seu acervo costumam ser apresentados apenas uma vez ao ano.

O contrato de aquisição de pacotes define o prazo de validade e o número de exibições de uma obra. ?Geralmente são contratos que vencem em 5 anos ou em 5 exibições?, conta o diretor do SBT. Ou seja, se um filme for ao ar 5 vezes em 3 anos, o direito de exibição chega ao fim. Caso ele seja apresentado 3 vezes em 5 anos, o contrato também acaba. As emissoras não divulgam o preço de cada pacote ou contrato com distribuidoras. Mas a direção do SBT diz que a audiência e a venda de patrocínio compensam o investimento.

Exclusividade – Um filme que vai ao ar pelo SBT não entra ao mesmo tempo na Globo ou em qualquer outro canal. Assim como uma obra que está em cartaz no Telecine não é transmitida pela HBO. A exclusividade é garantida no ato da compra. A coordenadora do Departamento de Programação da Rede Telecine, Cláudia Freitas, explica o processo de aquisição de títulos e acertos de contrato. ?São duas frentes de compra: os estúdios-sócios e os produtores independentes.? É preciso saber quais títulos estão disponíveis em cada distribuidora, pois nem sempre quem produz um determinado filme tem os direitos de distribuição.

Os concorrentes Telecine e HBO têm estúdios-sócios distintos por causa da tal exclusividade. Por isso, as obras apresentadas por cada emissora são diferentes. No caso de um título de interesse estar nas mãos de produtores independentes, vence quem chegar primeiro e negociar melhor. A coordenadora de Programação do Telecine conta que é preciso ter visão e um pouco de sorte para garantir a compra de bons filmes. ?Negociamos Assassinato em Gosford Park antes de o filme receber indicações para o Oscar?, fala. ?É necessário estar atento para negociar um filme antes que ele se torne um sucesso.?As regras para a TV por assinatura são diferentes e as reprises são mais constantes do que na TV aberta. Um filme pode ser transmitido de 12 a 18 vezes em apenas 1 ano.

Entre os títulos programados para irem ao ar este ano no Telecine estão A. I. – Inteligência Artificial (que vai ao ar no final do mês), A Era do Gelo, O Diário de Bridget Jones, Velozes e Furiosos, Legalmente Loira, Vanilla Sky, Uma Mente Brilhante, Escorpião Rei, O Amor é Cego e Minority Report – A Nova Lei.

A concorrente HBO estampará na telinha os blockbusters Homem-Aranha, O Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel e Harry Potter e a Pedra Filosofal. Além disso, Os Outros, Falcão Negro em Perigo, Dia de Treinamento, Onze Homens e Um Segredo e O Quarto do Pânico estão na programação.

Cláudia Freitas fala que uma obra demora três anos para chegar à TV aberta por causa das chamadas janelas. ?Existem janelas para cinema, vídeo, pay-per-view, canal por assinatura e emissora aberta?, afirma. O caminho de uma obra dos cinemas para as telinhas é um processo complicado. Primeiro, o filme fica disponível em cinema de 4 a 6 meses. Depois disso, ele leva cerca de 6 meses para chegar em VHS e DVD, e permanece nesses estágios por até 1 ano. Quando vencer o prazo de exibição exclusiva em vídeo, o pay-per-view ganha direito de transmissão da obra por 4 meses. Depois desse período, o filme desaparece por cerca de 2 meses para alcançar as telinhas em canais por assinatura, que têm o direito de exibição durante 1 ano.

Finalmente, passado esse ano, o título fica disponível para as TVs abertas pelo prazo de 5 anos. Com o ciclo fechado, o filme fica no mercado para aquisição de qualquer veículo com contrato diferente. Por isso, um filme como Curtindo a Vida Adoidado é um clássico da Sessão da Tarde, da Globo, há muitos anos. A emissora deve adquirir sempre o pacote que garante o título.

Os filmes que não vão para o cinema e são feitos diretamente para a TV chegam mais rápido às telinhas. Eles ficam disponíveis primeiro em vídeo e, se o pay-per-view não mostrar interesse, o título entra rapidamente na grade das TVs por assinatura. ?Hoje não existe mais aquela má fama dos filmes feitos para a TV?, fala Cláudia Freitas. ?São boas produções com bons atores.? Alguns desses filmes estão na programação do Telecine. Já a HBO tem produções originais com artistas de peso como Emma Thompson, Kenneth Branagh e Toni Colette.

Pay-per-view – A DirecTV não possui estúdios-sócios para garantir títulos para os assinantes em pay-per-view. A negociação com distribuidoras é feita no exterior, até mesmo para filmes nacionais. ?Costumamos comprar pacotes para realizar especiais, como Festival Brasileiro e Festival Espanhol?, explica a diretora de Marketing da DirecTV, Fanny Friedman. Para a compra de filmes, a operadora leva em conta a bilheteria do filme no Brasil. Em março, a DirecTV disponibiliza em pay-per-view os filmes Vanilla Sky, Infidelidade, Beijando Jessica Stein, Uma Mente Brilhante, American Pie 2 e Esqueceram de Mim 4. Cada filme em pay-per-view da DirecTV custa de R$ 6 (se a compra for feita por controle remoto) a R$ 8 (se o pedido for feito por telefone).

A comodidade de assistir a um filme em casa pode render uma longa espera, mas, nessa disputa por títulos, quem sai ganhando é o telespectador, que tem a garantia da transmissão de bons filmes durante o ano em TVs abertas ou por assinatura. Então, prepare a pipoca e o refrigerante, agarre o controle remoto, acomode-se no sofá e bom divertimento!”