Monday, 06 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1286

Murdoch leva a Dow Jones

Após quase quatro meses de longas negociações, Rupert Murdoch finalmente conseguiu apoio suficiente da família Bancroft para comprar a Dow Jones & Company, publisher do Wall Street Journal e uma das mais respeitadas fontes de notícias financeiras do mundo. A Dow Jones afirmou, na manhã desta quarta-feira (1/8), que as duas companhias assinaram um acordo de fusão depois que seus conselhos diretores aprovaram a venda. Na edição de quarta-feira, o Journal – tão almejado por Murdoch – anuncia, na primeira página, a compra.


Para o magnata de 76 anos, nascido na Austrália e com cidadania americana, a aquisição do Journal representa o ápice de uma longa carreira de sucesso. Murdoch construiu e comanda de perto a News Corporation, império de mídia global que hoje vale US$ 70 bilhões. São mais de 100 jornais em diversos países, entre eles tablóides como o americano New York Post e o britânico Sun, além do respeitado diário londrino The Times, a rede de televisão Fox, o estúdio de cinema 20th Century Fox e a comunidade online MySpace, entre outros empreendimentos.


Canal financeiro


O empresário anunciou, recentemente, a criação de um novo canal de notícias financeiras, o Fox Business Channel, com lançamento marcado para outubro. A compra do Journal se encaixa perfeitamente aí: Murdoch planeja usar contribuições e a credibilidade do diário na emissora. Basicamente, a compra do Journal faz dele a figura de maior destaque no setor de notícias financeiras dos EUA, e uma das mais importantes do mundo.


Carro-chefe da Dow Jones, o Journal tem circulação de dois milhões de cópias seis dias por semana em território americano – é o segundo jornal mais vendido do país, perdendo apenas para o USA Today. O grupo conta também com serviços diversificados, como o semanário financeiro Barron´s, a agência Dow Jones Newswires, o sítio MarketWatch e o Factiva, banco de dados eletrônico de notícias e informações. Analistas prevêem que a News Corporation deverá vender os 23 pequenos jornais da Dow Jones, a maior parte deles concentrada em New England e Nova York.


Negociações e desentendimentos


Murdoch fez sua primeira oferta ao executivo-chefe da Dow Jones, Richard F. Zannino, em 29/3, e anunciou formalmente suas intenções em um documento ao conselho da companhia, em 17/4. A notícia só foi divulgada, entretanto, em 1/5. Desde então, criou-se uma verdadeira confusão na família Bancroft, que controla a Dow Jones desde 1902. De início, a família rejeitou a oferta de US$ 5 bilhões, ou US$ 60 por ação. Na ocasião, as ações da empresa valiam US$ 36 cada.


Mas a proposta era boa demais para ser simplesmente ignorada, o que criou uma verdadeira guerra entre os Bancroft. Os fundos da família equivalem a 24% das ações da Dow Jones, mas por meio de ações com direitos especiais, ela controla 64% dos votos. Nos últimos meses, brigaram pais e filhos, irmãos e irmãs, tios e primos. Para uma família sempre discreta, foi um período desconfortável. Além das discordâncias internas, os Bancroft tiveram que aguentar a imprensa tentando dissecar suas relações e rivalidades.


Independência editorial


Alguns membros da família alegavam que Murdoch poderia arruinar a credibilidade do Journal – que a Dow Jones sempre permitiu que operasse de maneira independente e é hoje um dos mais respeitados jornais dos EUA. Outros argumentavam que, em tempo de crise na indústria jornalística, a ótima oferta do magnata deveria ser, ao menos, considerada.


Murdoch é conhecido – e criticado – por interferir na linha editorial de seus negócios, priorizando o lucro sobre a qualidade e imparcialidade jornalísticas. Ele é acusado de bajular políticos e governos, em busca de apoio para seus veículos de comunicação. Funcionários do Journal chegaram a fazer greve em protesto à venda. Diante dos temores, o empresário prometeu que não iria interferir no diário e a Dow Jones negociou a criação de um conselho independente para garantir a independência editorial.


Apoio e demissão


No início da semana, começaram a pipocar notícias de que Murdoch teria conseguido o apoio necessário para a aquisição da empresa. Consultores da News Corporation haviam dito que ele precisava do apoio de pelo menos 30% dos acionistas da família, e jornais americanos divulgaram que ele teria conseguido 32% dos votos. Um porta-voz dos Bancroft chegou a dizer, na terça-feira (31/7), que sugestões de que o negócio estava concretizado eram ‘prematuras’. A Dow Jones anunciou nesta quarta, entretanto, que o empresário conseguiu 37% dos votos da família Bancroft, o que levou à aprovação da venda.


A família Ottaway, que possui 7% dos votos, foi contrária ao negócio. ‘É ruim para a Dow Jones e para o jornalismo americano que a família Bancroft não tenha conseguido resistir à oferta generosa de Rupert Murdoch’, afirmou James H. Ottaway Jr., acionista e ex-executivo da companhia. Os 29% restantes estão distribuídos nas mãos de diferentes acionistas, mas analistas previam que a decisão seria favorável ao magnata. Na terça, Leslie Hill, membro da família Bancroft festejada pela redação do Journal por sua dura oposição ao acordo, demitiu-se do conselho da Dow Jones. Informações de Richard Pérez-Peña e Andrew Ross Sorkin [The New York Times, 31/7 e 1/8/07].