Tuesday, 30 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Mauricio de Sousa projeta o futuro da turma

Mônica, Cebolinha, Cascão e o resto da Turma fizeram as malas e viajaram do fictício bairro paulistano do Limoeiro até Gyeonggi-do, na Coreia do Sul. Os famosos personagens dos quadrinhos estão representados em dezenas de pinturas, esculturas e animações que preenchem 1.500m² do Museu de Arte Moderna da cidade. Homenagem aos 80 anos de Mauricio de Sousa (em 27 de outubro), a exposição será inaugurada hoje, com a presença do desenhista, e se estenderá até agosto.

Nas paredes, além da história da Mauricio de Sousa Produções, estão releituras de quadros de mestres como Leonardo da Vinci, Michelangelo, Monet e Van Gogh, com os personagens dos gibis em cena. Três obras sul-coreanas também foram homenageadas com reproduções, feitas especialmente para a mostra.

A turnê asiática do quadrinista, no entanto, não se esgota na Coreia do Sul. De lá, Mauricio de Sousa segue para o Japão, onde vai lançar, pela primeira vez, produtos da Turma da Mônica no país. Ele também participará de reuniões para tentar viabilizar a publicação de histórias da dentuça na terra dos mangás. Paralelamente, a empresa de Mauricio vai leiloar na internet a obra “Mônica Mizulina”, da artista Erica Mizutani, em parceria com o Unicef. O valor arrecadado será doado às vítimas do terremoto que atingiu o Nepal no mês passado.

Enquanto celebra seu legado, o pai da Mônica projeta o futuro.

– As histórias são contadas quando viramos as páginas. Gosto de ver a vida assim. Se o livro for bom, você continua a virar a página. Com as novas tecnologias, nós podemos virar a página constantemente. Sem um ponto final – diz.

Desde que o cãozinho Bidu estreou na “Folha da Tarde”, em 1959, cerca de 400 personagens saíram da cabeça do desenhista e de seus colaboradores. O último deles nasceu em janeiro deste ano: Marcelinho, inspirado no caçula de Mauricio, Marcelo Sousa, hoje com 16 anos. Assim, todos os dez filhos do autor foram homenageados em sua obra. E o criador da Turma, que ainda vai diariamente aos estúdios para acompanhar os gibis publicados pela Panini, diz que não pensa em “pendurar as canetas”. Sua preocupação é outra:

– Perguntei ao meu médico até quando poderei ir com esse pique. Ele respondeu que não preciso me preocupar. Não penso em aposentadoria, penso no depois. Estou trabalhando para que tudo continue como agora quando eu partir. Que a empresa continue sendo a mesma, artística e filosoficamente. Estamos preparando bons artistas para que ela não padeça de falta de criatividade.

Entre as mudanças, no início deste mês a empresa resolveu atender a uma antiga reivindicação daqueles que acompanham o mundo dos quadrinhos. Todas as revistas da Mauricio de Sousa Produções tiveram suas numerações zeradas, e os autores de cada história passaram a receber créditos com destaque.

– Quero que, do nosso estúdio, surjam nomes que possam fazer voo solo. Nunca houve reclamação por parte da equipe, mas eu estava devendo isso a eles faz tempo. Geralmente, eram as pessoas de fora que criticavam, dizendo que havia usurpação do trabalho alheio. Mas eu entendia que todos estávamos trabalhando juntos – explica.

Os artigos lançados no Japão se somarão a cerca de 3 mil itens licenciados por mais de 150 empresas e vendidos em 90 países. São roupas, brinquedos, calçados e jogos, entre outros. Mauricio reconhece que os produtos superam em receita os quadrinhos (já lançados em mais de 30 países). E aproveita para criticar novamente as tentativas de proibição de publicidade infantil no país.

– Infelizmente, no Brasil, existem tentativas de proibir esse tipo de prática. Em outros países, a questão é vista com muito mais cuidado. Sem publicidade, não existe produto licenciado. A criança não pode ficar sem fantasia – queixa-se.

Com a marca de um bilhão de revistas publicadas (“Mônica” foi a primeira, em 1970), o empresário paulista domina, segundo estimativa própria, 86% do mercado brasileiro do gênero. Há seis anos, recebeu uma série de críticas ao lançar a Turma da Mônica Jovem. Hoje, elas são as campeãs de vendas do grupo, com edições que chegaram a ter mais de 600 mil cópias. E o sucesso foi consolidado há dois anos, com “Chico Bento Moço”.

Resistente ao formato digital, Mauricio conta que finalmente se convenceu da necessidade de abraçar esse mercado. Lançou o aplicativo Caixa de Gibis para Android e iOS. Nele, mediante pagamento, os leitores têm acesso a números antigos de quadrinhos. A ideia, agora, é se preparar para publicar digitalmente as revistas que chegam às bancas.

– Custei para entrar nisso. Gosto tanto do material impresso que tinha reservas. Mas acho que chegou o tempo de levarmos a sério a comunicação digital. Mesmo que, no mundo inteiro, esse formato não esteja se revelando lucrativo.

No segundo semestre, como parte das comemorações dos 80 anos do autor, o novo Parque da Mônica será inaugurado no Shopping SP Market, na Zona Sul de São Paulo. Com 12 mil m², ele vai substituir o anterior, fechado em 2010. E, como aconteceu nos 50 anos da Mônica, celebrados em 2013, Mauricio prepara lançamentos editoriais para comemorar a data.

Um livro, com 25 autores convidados, vai revisitar passagens da vida do autor. Uma coletânea dos gibis “Bidu” e “Zaz-traz”, com os primeiros traços do quadrinista, também está nos planos. Por fim, os três primeiros livros de Mauricio, fora de catálogo há anos, serão publicados pela Martins Fontes: “Astronauta no planeta dos homens sorvete”, “Piteco” e “A caixa da bondade”. Mais do que isso, ele não conta. Diz que ainda não foi informado.

– A divisão de festas insiste em manter essas coisas em segredo, mesmo sabendo que eu detesto surpresas. Sei que eles têm vasculhado o passado, conversado com velhos amigos meus, mas ainda não tenho detalhes do que vai acontecer. Vou deixá-los trabalhar e, na hora, fingir surpresa – brinca.

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Mateus Campos, do Globo