Tuesday, 30 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Fotógrafo Mario Cravo Neto morre aos 62 em Salvador


Leia abaixo a seleção de segunda-feira para a seção Entre Aspas. 
 


************


Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 10 de agosto de 2009 


 


FOTOGRAFIA


Folha de S. Paulo


Fotógrafo Mario Cravo Neto morre aos 62 em Salvador


‘Dos mais premiados fotógrafos do Brasil, o baiano Mario Cravo Neto morreu às 16h53 de ontem, em decorrência de um melanoma, o tipo mais agressivo de câncer de pele. Ele tinha 62 anos.


Cravo Neto estava internado no hospital Aliança, em Salvador. O corpo será cremado hoje, às 11h, no cemitério Jardim da Saudade.


‘Meu pai passou por tratamento no Sírio-Libanês, em São Paulo, entre dezembro de 2007 e outubro de 2008. Então ele decidiu voltar a Salvador’, disse Christian Cravo, também fotógrafo.


Filho do escultor Mario Cravo Junior, Cravo Neto foi inspirado pelas imagens de Pierre Verger (1902-96), francês radicado na Bahia. A sua última mostra ocorreu no MAM da Bahia, entre março e abril deste ano.


‘Ele tem uma importância fundamental para a fotografia brasileira’, diz a curadora Solange Farkas. ‘Era um grande retratista do Brasil negro e multicultural.’


Para o fotógrafo Cristiano Mascaro, Cravo Neto ‘foi um dos pioneiros na introdução da fotografia dentro do mercado das artes’.’


 


 


TODA MÍDIA


Nelson de Sá


Desunião


‘Na manchete do site da ‘Economist’, o encontro da ‘nascente’ União de Nações Sul-Americanas, que será ‘inusualmente vigoroso, demonstrando sua desunião’


Norte vs. Sul


Agências abrem a semana com atenção às reuniões da Unasul em Quito, no Equador, onde ‘Colômbia é o foco, mesmo ausente’, e do Nafta em Guadalajara, no México, onde ‘Honduras está na agenda’.


Artigo no ‘Guardian’ prevê que a ‘Unasul será o show de Lula’, como ‘figura dominante’ e oposta a Álvaro Uribe, que não vai . E artigo no Huffington Post afirma que ‘a Amazônia brasileira é o novo Rio Grande’, referência à fronteira entre EUA e México.


Opina que ‘a última coisa que Lula e a democracia brasileira precisam é dos EUA na sua fronteira Norte, usando a guerra contra o tráfico para interferir na sua política interna, como fizeram antes no México’.


No sábado, o correspondente do ‘New York Times’ cobriu a ‘defesa do papel militar dos EUA’ por Uribe e citou fonte do Departamento de Estado, dizendo que o acordo visa a apoiar a Colômbia ‘no combate ao crime transnacional e ao narcotráfico dentro de suas fronteiras’.


Também o ‘Washington Post’ destacou, mas sublinhando a ‘ira na América Latina’.


NORTE & SUL


No site da Casa Branca, o assessor de Segurança Nacional, Jim Jones, descreveu sua própria viagem ao Brasil e a de Barack Obama ao México como sinais do ‘compromisso do presidente de maior envolvimento com o nosso hemisfério, de maior foco no nosso próprio hemisfério’, ao contrário do que acontecia antes. Prevê encontros assim ‘em bases frequentes’.


SUL & SUL


‘China Daily’ e ‘Diário do Povo’ deram ‘entrevista exclusiva’ com Márcio Pochman, presidente do Ipea, destacando que ‘as relações econômicas [com a China] são importantes e devem ser melhoradas com a integração maior na produção e a cooperação tecnológica’. Sublinhou a decisão do governo brasileiro de buscar novas parcerias, Sul-Sul, em 2003.


O SUOR DO ‘BIG OIL’


A ‘Forbes’, que escolheu a Exxon ‘a companhia verde do ano’, também destaca esta semana que o ‘Big Oil’ ou as grandes empresas de petróleo ‘estão suando enquanto o Brasil debate os novos controles’. Ouve as reações de Shell e Chevron.


Por outro lado, cita analista de Houston, no Texas, para quem o plano de Lula para o pré-sal, com ‘parcerias minoritárias’ para as estrangeiras, ‘permite manter os benefícios da concorrência’.


Já a Reuters ouve um ‘consultor’ do Rio, ex-diretor da agência de petróleo sob FHC, garantindo que, ‘com esta situação no Congresso, será difícil aprovar as mudanças antes do fim do mandato de Lula’.


OBAMA E OS INTERESSES


Colunista liberal do ‘NYT’, Frank Rich escreveu ontem ‘Obama está nos enganando?’. Diz que ele parece ceder ao que chamava, durante a campanha, ‘interesses dos lobistas e dos ricos que dirigem Washington há tempo demais’. E que tudo começou quando reuniu, na equipe econômica, os ‘velhos meninos’ de Bill Clinton e do Goldman Sachs


CLINTON E OS INTERESSES


Sexta-feira no ‘Guardian’, escrevendo sobre a missão no Haiti, o colunista Conor Foley fez extenso elogio à ‘Nova diplomacia do Brasil’, que está ‘na vanguarda de um novo modelo de intervenção mútua e multilateral que promete romper com as táticas do passado’..


Mas já ontem o ex-presidente Bill Clinton surgiu em Miami, na Flórida, anunciando via agências uma ‘missão de investidores’ ao Haiti, para negócios em energia etc. O agora enviado especial da ONU destacou ‘investidores brasileiros interessados em expandir a produção de etanol de cana para novas regiões’.’


 


 


TECNOLOGIA


Efe


Venezuela deve usar TV digital nipo-brasileira


‘O presidente venezuelano, Hugo Chávez, afirmou ontem que o governo está na fase final de negociações com Brasil e Japão para a aquisição do sistema de TV digital.


‘Estamos próximos de fechar o acordo com Japão e Brasil para instalar [na Venezuela] o sistema de TV digital mais moderno’, disse durante o programa ‘Alô Presidente’.


No fim de julho, o mandatário afirmou que o governo ainda estudava outros sistemas além do japonês, como o europeu e o chinês. Na ocasião, ele destacou que a transferência de tecnologia era condição indispensável para o acordo com fornecedor do sistema de TV digital.


O governo da Venezuela pretende que, em dez anos, todas as transmissões de televisão sejam feitas sob o formato digital.


Outros países da América do Sul como o Peru, o Equador, a Argentina e o Chile já disseram que vão adotar ou estudam utilizar o modelo nipo-brasileiro de televisão digital.’


 


 


TELEVISÃO


Daniel Castro


Globo muda cobertura de Carnaval e investe na Bahia


‘A cobertura de Carnaval da Globo mudará em 2010. Começará mais cedo, terminará mais tarde e se abrirá para as ‘manifestações regionais’, principalmente Salvador, Recife e Olinda -que até este ano só a Band cobriu exaustivamente.


Na semana passada, a cúpula da emissora decidiu que o diretor artístico das transmissões será Roberto Talma, responsável pelos especiais de Roberto Carlos e por ‘Toma Lá, Dá Cá’.


Talma terá como ‘consultores’ J.B. Oliveira, o Boninho, e Jayme Monjardim. O triunvirato substituirá Aloysio Legey, diretor artístico do Carnaval da Globo desde 2002. Neste ano, Legey também perdeu o comando do ‘Criança Esperança’ para Wolf Maya.


Ao substituir um diretor de eventos (Legey) por um diretor de shows e dramaturgia (Talma), um fotógrafo e diretor de novelas (Monjardim) e um diretor de games e realities (Boninho), a Globo quer dar uma ‘sacudida’ no Carnaval, buscar ‘novos olhares’ para a folia.


Segundo a emissora, a ideia de Manoel Martins, diretor-geral de entretenimento, é ampliar o ‘espectro do Carnaval’, com uma transmissão que comece na escolha do samba-enredo e só termine no desfile das campeãs, que não fique mais restrita aos desfiles do Rio e de São Paulo e à cobertura dos telejornais.


Ainda não estão detalhados os planos de cobertura dos carnavais regionais. O triunvirato se reunirá pela primeira vez nesta quarta-feira, no Rio.


Mas já está decidido, por exemplo, que os desfiles de São Paulo e Rio terão diretores regionais diferentes.


TESTE 1


A Record vai fazer um teste com o ‘Hoje em Dia’ no próximo dia 23, quando, à noite, ocorre a final de ‘A Fazenda’. Fará uma edição ao vivo com os eliminados do reality show.


TESTE 2


Se o programa for bem, permanecerá aos domingos. Para tanto, a rede já está reforçando seu elenco -na semana passada, foram contratadas Giane Albertoni e Amanda Françozo.


HISTÓRICO


Com o crescimento de ‘Caras & Bocas’, o ‘Jornal Nacional’ tem dado menos de audiência do que a novela das sete. Mas isso não é novidade. Em 2006, quando ‘Cobras & Lagartos’ bombava, o ‘JN’ só a superou em 43% dos dias.


BANQUINHO 1


O lado compositor do publicitário Nizan Guanaes será mostrado na próxima temporada de ‘Ó Paí, Ó’, que a Globo começa a filmar (em película) nesta semana em Salvador..


BANQUINHO 2


É de Guanaes a coautoria de ‘Dim Dom’ (referência a ‘Bim Bom’, de João Gilberto). Com ela, o protagonista Roque (Lázaro Ramos) ganhará um festival. A diretora Monique Gardenberg conta que conheceu a música em um CD de um artista baiano. Foram alterados o nome, o refrão e o ritmo (era axé, virou ‘quase bossa nova’).


SOFT NEWS


A Band estreia hoje, às 22h, a revista ‘VideoNews’. Terá apenas o noticiário leve do dia.’


 


 


Lúcia Valentim Rodrigues


Série apaga memórias e realiza fantasias


‘Agosto é o mês da entressafra. Quase nada estreia no Brasil, no aguardo do lançamento da temporada de outono nos Estados Unidos, que define as séries que vão vingar e ser exportadas aos outros países.


Nesse cenário sombrio, predominante de exibição de novos filmes, é um alento a chegada de ‘Dollhouse’, na próxima quinta, ao canal FX. A série foi criada por Joss Whedon, lançador da moda dos vampiros com ‘Buffy, a Caça-Vampiros’ e seu derivado ‘Angel’, quando nem se falava de ‘Crepúsculo’.


Na trama, o nova-iorquino desenvolve um futuro pessimista de dez anos à nossa frente, em que as pessoas têm as suas memórias apagadas para serem incluídos em seus cérebros conteúdos que agradem a clientes ricos, ansiosos por realizar fantasias (sexuais ou não) e algumas atividades ilegais.


No centro desse enredo está a bonita Echo (Eliza Dushku), que tem vislumbres de suas lembranças misturados ao que a empresa (a tal casa de bonecas do título) coloca dentro da sua cabeça. Sem saber o que é verdadeiramente seu, ela se especializa em matar, não importando a força do oponente.


Um agente federal tenta desmascarar essa companhia, embora seja o único a acreditar que ela realmente exista. Pouco a pouco, pequenos lampejos que permeiam o seriado mostram de onde vêm esses personagens e os erros do passado.


A série foi criticada nos EUA pelo início moroso, que refletiu numa audiência baixa até o sexto episódio. Whedon comentou em entrevistas que ‘foi difícil definir o conceito do programa e tivemos de mostrar isso’. Águas passadas. A Fox encomendou uma nova temporada confiando nos índices de down-loads e de comentários na web.


DOLLHOUSE


Quando: estreia na quinta-feira, às 22h, no canal FX


Classificação: não indicado a menores de 14 anos’


 


 


SEM GREVE


Folha de S. Paulo


Governo dá aumento a radialistas da TV Cultura


‘A Fundação Padre Anchieta divulgou comunicado em que diz que teve autorização do governo do Estado de SP para fazer reajuste salarial de 5,83% para os radialistas da TV Cultura desde maio. A decisão foi baseada em parecer de órgão da Secretaria da Fazenda. O pagamento deste mês já incorporará o reajuste. A fundação também se comprometeu a superar o déficit orçamentário.’


 


 


REDE


Ronaldo Lemos


É internet ou não é?


‘A briga é de cachorro grande. E vai ajudar a definir o que significa a ‘internet’. Tudo começou quando o Google tentou disponibilizar o serviço Google Voice na loja da Apple. E a Apple disse não.


Antes de explicar o porquê, vale lembrar que muita gente diz que a loja da Apple é o fator mais importante para garantir o sucesso do iPhone. Seu design é legal, sua funcionalidade é inovadora, mas, a longo prazo, o que realmente vai fazer a diferença é a lojinha.


Isso porque ela surgiu de um conceito ‘revolucionário’, ao menos para os telefones celulares: permitir que qualquer pessoa desenvolvesse aplicativos, fazendo ele funcionar de maneiras jamais imaginadas pelo fabricante ou pelas operadoras.


Por causa da loja da Apple, o iPhone tem hoje programas que transformam o telefone em videogame, geram mapas estelares ou simulam um sabre de luz de ‘Guerra nas Estrelas’. Coisas úteis e também inúteis. A grande maioria delas não foi desenvolvida pela Apple, e sim por pessoas e empresas espalhadas pelo mundo todo. Tudo inspirado pelo mesmo princípio da internet, em que a rede e os computadores são abertos para qualquer pessoa inventar a aplicação ou o site que quiser (foi graças a essa abertura que, em menos de cinco anos, surgiram sites como o Twitter, o Facebook e o YouTube).


O problema é que o Google inventou o Google Voice e ele compete diretamente com as operadoras de celular. Por meio dele, é possível criar um outro número de telefone (fornecido pelo Google), que passa a gerenciar todos os seus diferentes números de telefone. Basta ligar para o número do Google que ele redireciona a chamada para sua casa, escritório, celular ou caixa de mensagens.


Ao tentar vender o programa na loja da Apple, ela disse não. E, com isso, lembrou a todo mundo que as redes de celular estão longe de serem iguais à internet, em que ninguém precisa pedir licença para inventar coisas novas. Com isso, a Apple agora está sendo investigada pelo governo americano, que quer entender se a recusa foi legal. Dependendo do resultado, a convergência entre celular e internet pode levar mais ou menos tempo para acontecer. Mas que ela vai acontecer, isso vai.’


 


 


Stephanie Clifford, NYT


Publicidade on-line se personaliza mais


‘Apesar de toda a preocupação sobre a privacidade on-line, os marqueteiros e as companhias de dados sempre souberam muito mais sobre as vidas off-line dos consumidores, como renda, nível de crédito, propriedade de residência, até o carro que eles dirigem e se apreciam atividades ao ar livre.


Recentemente, algumas dessas companhias começaram a ligar essa montanha de informação aos navegadores dos consumidores. O resultado é uma grande mudança na maneira como os consumidores se encontram com a web. Não apenas as pessoas verão publicidades personalizadas, como versões dos sites diferentes das de outros consumidores, e ainda receberão ofertas diferentes de descontos enquanto compram -tudo com base na informação de seu histórico off-line.


A tecnologia que faz essa conexão não é nova -um pedaço de código chamado cookie (biscoito) que é gravado no disco rígido. Mas a informação que ele contém é. E tudo é feito de maneira invisível.


‘Você está navegando na internet com um cookie que indica que você é este tipo de consumidor: faixa etária X, nível de renda, urbano ou rural, presença de crianças na família’, diz Trey Barrett, líder de produto na Acxiom, uma das empresas que oferecem essa conexão para os marqueteiros.


Anunciantes e publicitários dizem que essa especificidade é útil, pois remove a adivinhação envolvida quando se fazem perfis on-line e mostra produtos para as pessoas com maior probabilidade de se interessar por eles. Varejistas como Gap e Victoria’s Secret estão usando essa tática.


Mas defensores do consumidor dizem que esse rastreamento invisível é perturbador. ‘A paixão da indústria pelos cookies persistentes tornou virtualmente impossível para um usuário entrar on-line sem ser rastreado e perfilado’, disse Marc Rotenberg, diretor do Electronic Privacy Information Center.


O Congresso americano realizou sessões sobre a privacidade on-line, mas estas se concentraram em alvos de comportamento on-line. A indústria afirmou que não há necessidade de intervenção do governo, um argumento que a Comissão Federal de Comércio até agora aceitou.


Os consumidores podem evitar o rastreamento baseado em cookies apagando-os de seus computadores ou ajustando seus navegadores para não aceitá-los. Mas poucos fazem isso, e defensores da privacidade dizem que é fácil para as empresas colocar cookies sem que os usuários percebam.


Durante décadas, companhias de dados como Experian e Acxiom compilaram montanhas de informação sobre cada americano: a Acxiom calcula que tem 1..500 dados sobre cada cidadão, com base na informação de cartões, certidões de casamento e nascimento, assinaturas de revistas e registros públicos, por exemplo.


Patrick Williams, editor da revista de finanças pessoais ‘Worth’, recentemente pediu à Acxiom nomes e endereços em 11 cidades de 10 mil americanos que tivessem casas de valor superior a US$ 1 milhão, vivessem a poucos quilômetros de outras pessoas ricas e assinassem publicações de economia.


‘Eles são a companhia de pesquisa de dados mais assustadora que existe -sabem demais’, disse Williams, que se declarou muito satisfeito com a quantidade de informação que lhe deram.


Empresas como a Acxiom e a concorrente Datran Media fazem a conexão entre dados on-line e off-line quando uma pessoa se registra em um site ou clica em uma mensagem eletrônica de marketing.


Os cookies da Datran incluem de 50 a 100 peças de informação. As duas empresas dizem que os dados dos cookies são anônimos e generalizados. A Datran e a Acxiom vendem publicidade em sites como NBC.com, Facebook e Yahoo para empresas que usam seus dados, como a editora Rodale.


A empresa de aparelhos auditivos Beltone New England pediu à Datran para encontrar on-line pessoas com mais de 65 anos no Estado da Nova Inglaterra que tivessem casa própria, fossem chefes de família e ganhassem mais de US$ 35 mil anuais, para que lhes mostrasse anúncios. A Datran também testou os mesmos anúncios com um grupo maior de pessoas.


‘O surpreendente é que descobrimos que a maioria dos que responderam eram mulheres de 35 a 40 anos que tinham pais idosos em casa’, disse Perry Ebel, diretor da Beltone. Ele disse que estava mudando seu marketing off-line para incluir esse grupo.


Usando dados on-line do mundo real, os marqueteiros podem personalizar ainda mais as mensagens -mostrar produtos diferentes para pessoas com diferentes hábitos de consumo, seja em anúncios, mensagens de e-mail ou em páginas da web semipersonalizadas.


‘As pessoas que compram com menor frequência e são mais conscientes do preço podem ter um melhor negócio do que alguém que compra mais frequentemente e que compraria de qualquer modo’, disse Christopher S. Marriott, diretor-gerente global da Acxiom Digital, uma divisão da Acxiom.


Paul M. Schwartz, especialista em privacidade na faculdade de direito da Universidade da Califórnia em Berkeley, disse que a participação inadvertida dos consumidores torna o marketing on-line diferente do off-line.


‘A mídia interativa realmente entra nessa coisa orwelliana terrível, em que há um registro de nossos pensamentos a caminho da tomada de decisão’, ele disse. ‘Hoje somos como funcionários públicos que anotam dados para a indústria.’’


 


 


Miguel Helft, NYT


Mozilla passa a temer navegador do Google


‘MOUNTAIN VIEW, Califórnia – Os cubículos e corredores dos escritórios da Mozilla estavam cheios de caixas em uma tarde recente, e seu executivo-chefe, John Lilly, parecia um pouco desorientado procurando um lugar para se sentar. A Mozilla, que faz o navegador da web Firefox, tinha acabado de se mudar de um extremo de Mountain View, na Califórnia, para o outro, principalmente para ganhar espaço para sua força de trabalho em expansão.


Mas era difícil não ver certo simbolismo nessa medida. Os antigos escritórios da Mozilla eram vizinhos do crescente quartel-general do Google. Durante vários anos, o Google foi o maior aliado e patrono da Mozilla. Mas, no ano passado, também se tornou seu concorrente, quando revelou o Chrome, seu próprio navegador de internet. Então, pareceu muito natural que a Mozilla saísse das sombras do Google.


‘Aprendemos a competir com a Microsoft e a Apple’, disse Lilly, 38. ‘A Google é uma gigante, é claro, e concorrer com ela significa que estamos concorrendo com outro gigante, o que é um pouco cansativo.’


Essas grandes companhias não pensavam muito em navegadores quando o Firefox foi lançado, em 2004, nem a maioria dos usuários comuns da web. O navegador, ou browser, era apenas uma janela para a web, e as pessoas usavam o que viesse instalado no computador. Geralmente isso queria dizer o Internet Explorer, da Microsoft.


Desde então, o Firefox capturou quase 25% do mercado de navegadores, ao se concentrar em velocidade, segurança e inovação. Seu sucesso é ainda mais notável porque ele foi construído e comercializado por uma comunidade de programadores, testadores e fãs -na maioria voluntários- coordenados por uma fundação sem fins lucrativos.


É um exemplo do potencial do software de fonte aberta, que qualquer um pode modificar e aperfeiçoar, e sua ascensão é uma das histórias de sucesso mais incomuns no vale do Silício.


A Mozilla mostrou ao mundo que os navegadores importam. Hoje, o desafio é seguir provando que a Mozilla importa.


A ascensão do Firefox desencadeou uma nova onda de inovação e concorrência entre os fabricantes de browsers. A Microsoft e a Apple, que faz o navegador Safari, reduziram a brecha com recentes atualizações. Isso torna menos provável que as pessoas se deem o trabalho de procurar e instalar o Firefox.


Além disso, a Microsoft e a Yahoo recentemente concordaram em colaborar em pesquisa e publicidade na internet, em uma aposta para desafiar o Google.


Ao mesmo tempo, a web tem migrado dos PCs para poderosos celulares como o iPhone. O Firefox só terá pronta sua versão para celular no final do ano.


E, então, há a Google. Depois de lançar o Chrome, browser rápido como um raio destinado a rodar aplicativos da web cada vez mais complexos, o Google aumentou a aposta. Recentemente, disse que colocará o Chrome no centro de um novo sistema operacional -o software que lida com as funções básicas de um PC.


‘Google, Apple e Microsoft podem aplicar um monte de recursos para melhorar seus navegadores. A Mozilla, nem tanto’, diz Rob Enderle, analista do Enderle Group. ‘Quando ela concorria só com a Microsoft, o problema não era tão grande. Hoje, que há outras alternativas, é mais difícil para ela manter a relevância.’


Apesar dos poderosos e cada vez mais competitivos rivais da Mozilla, a disseminação do Firefox continuou firme. Quase 300 milhões de pessoas em todo o mundo o utilizam, fazendo do browser não apenas o mais bem-sucedido produto de consumo de fonte aberta, mas também um dos softwares de maior sucesso em todos os tempos.


Em grande medida, esse sucesso se originou de uma comunidade esparsa que se reuniu em torno do Firefox e foi controlada por Mitchell Baker, a antecessora de Lilly. Baker, 52, que Lilly chama de a ‘consciência’ da Mozilla, continua sendo sua presidente e está ativamente envolvida na administração.


Lilly prontamente admite que a entrada da Google no mercado de navegadores abalou a Mozilla. ‘A vida era mais simples antes que eles fizessem isso’, diz.


Segundo Lilly, com a concorrência, o Firefox e seus admiradores terão de trabalhar mais duro para encontrar áreas de tecnologia de navegador onde queiram concentrar seus esforços e deixar que Google, Apple e Microsoft comandem a inovação em outras áreas.


Mas Lilly disse que a concorrência renovada é um testamento do sucesso do Firefox e da missão da Mozilla. ‘Este é o mundo que queríamos e o mundo que fizemos’, ele diz. ‘Queríamos um mundo onde as pessoas pudessem fazer opções significativas sobre a tecnologia de navegador que elas usam. É o que existe hoje.’’


 


 


 


 


************


O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 10 de agosto de 2009 


 


CASO SARNEY


Roberto Almeida


Censura ao ‘Estado’ é abuso de poder, alerta Repórteres Sem Fronteiras


‘‘A liberdade de imprensa enfrenta dias sombrios.’ Esta é a avaliação feita pela organização Repórteres Sem Fronteiras sobre a situação brasileira. A entidade, que defende o jornalismo e luta contra a censura em 120 países, condenou a decisão do desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, que censurou o Estado, classificando-a de ‘abuso de poder’.


De acordo com Repórteres Sem Fronteiras, o Grupo Estado foi ‘forçado ao silêncio após ter divulgado informações envolvendo autoridades públicas’. Em sua decisão, Vieira proibiu o Estado de divulgar informações referentes à Operação Boi Barrica, que envolve Fernando Sarney, filho do presidente do Senado José Sarney (PMDB-AP). Os áudios em que ambos falam sobre distribuição de cargos no Senado tiveram de ser retirados do portal estadao.com.br.


‘Quanto à decisão da Justiça que proíbe O Estado de S.Paulo de publicar notícias sobre Fernando Sarney, constitui um ato de censura que lesa a liberdade de expressão’, anota a entidade.


O advogado Manuel Alceu Affonso Ferreira, do Grupo Estado, pediu na última quarta-feira que Vieira se afaste do caso. Ex-consultor jurídico do Senado, o desembargador é do convívio social da família Sarney e do ex-diretor-geral Agaciel Maia. Ele foi fotografado ao lado de Sarney no casamento de Mayanna Maia, filha de Agaciel, da qual o presidente do Senado foi padrinho.


‘O fato de um familiar de um político eleito conseguir que seu nome não seja citado impede a imprensa de o mencionar como personalidade pública. Se trata de um abuso de poder, que esperamos que seja corrigido pela decisão em recurso’, afirma a Repórteres Sem Fronteiras.


Com a declaração, a entidade junta-se à Organização dos Estado Americanos (OEA), Sociedade Interamericana de Prensa (SIP), International Federation of Journalists (IFJ) e Artigo 19, que também condenaram o caso. Para todas as entidades, a decisão de Vieira vai na contramão dos pareceres emitidos pelo Supremo Tribunal Federal por se tratar de ‘censura prévia’.


A OEA, por meio de sua relatora especial para Liberdade de Expressão, Catalina Botero Marino, alertou o Brasil para uma possível ‘responsabilização internacional’ caso a decisão não seja revertida.’


 


 


GREVE


O Estado de S. Paulo


Radialistas da Cultura terão reajuste salarial


‘Após anúncio do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Radiodifusão e Televisão no Estado de São Paulo de que parte dos empregados da rádio e da TV Cultura entrariam em greve a partir de hoje, a Fundação Padre Anchieta informou que o governo paulista autorizou reajuste salarial de 5,83% aos radialistas a partir de maio. O reajuste já será incorporado ao pagamento referente a agosto. As diferenças referentes a maio, junho e julho serão pagas em quatro parcelas, a partir deste mês.’


 


 


INTERNET


Marili Ribeiro


Marketing tenta se adaptar à era das redes sociais


‘As redes sociais na internet estão mais do que na moda. Reúnem e conectam milhões de pessoas em todo o mundo, e lançaram uma nova forma de relacionamento pessoal. Agora, viraram também pauta nas reuniões de negócios.


O avanço das redes sociais possibilita o contato direto entre as empresas e seus potenciais consumidores, reduzindo a função da intermediação nesse processo. Com isso, mudam as relações nos moldes conhecidos, em que os profissionais de marketing determinavam as tendências de comportamento com base em estudos e pesquisas organizados por eles.


‘Está em curso uma desintegração da mídia de massa que vai mudar radical e dramaticamente o ambiente das ações de marketing como o conhecemos’, diz, em seu recém-lançado livro The Chaos Scenario, o jornalista e crítico da propaganda americano Bob Garfield. Para ele, a premissa básica é que as pessoas vão opinar e ser ouvidas como nunca antes.


‘Não vejo um cenário de caos’, diz Everton Caliman, gerente de produtos da fabricante de celulares Sony Ericsson, empresa que investe nas redes sociais. ‘Não diria que vamos passar por uma desconstrução da mídia de massas, mas sim por uma dispersão. As empresas vão diminuir a intensidade de sua presença em canais tradicionais e focar mais no consumidor que quer atingir. Serão tiros mais certeiros em suas ações de marketing, embora ainda tenham de aprender a conviver com um consumidor ativo e que vai interagir.’


A Sony Ericsson aposta em ações na mídia social porque, como explica Caliman, ‘elas não só permitem uma amostragem maior como não sofrem influências do ambiente de pesquisa, onde as respostas vem influenciadas’. ‘Há, nas redes, informações mais ricas e verdadeiras’, diz. A experiência recente da empresa se deu com o lançamento do aparelho C510, que a propaganda lá fora vendia incentivando os recursos da câmera fotográfica. ‘Aqui esse apelo não motivava. Percebemos isso na troca de informações na rede, assim como o que mais atiçava a cobiça era o fato de ele ter o aplicativo do Facebook disponível . Então, reformulamos toda a comunicação.’


O aproveitamento pelas empresas das redes sociais nos seus negócios está mais avançado nos EUA. Lá, 66% dos anunciantes usaram os canais de mídia social em 2008, contra 20% que fizeram isso no ano anterior, conforme pesquisa realizada em conjunto pela Association of National Advertisers, BtoB Magazine e a prestadora de serviços de marketing Mktg. Nesse levantamento há ainda dados referentes a investimentos, em que 55% dos entrevistados disseram ter transferido recursos da mídia tradicional para campanhas realizadas na mídia social.


No Brasil, ainda não há números similares sobre o uso desses canais de contato. ‘Mas não há escapatória’, diz Ana Marie Nubié, vice-presidente da agência de propaganda Click. ‘Queiram ou não queiram, os executivos das empresas já estão na redes sociais. Basta ver a recente lista publicada em Londres, que relaciona 100 marcas mencionadas espontaneamente no Twitter. As marcas conseguem dividir a atenção das pessoas nas redes sociais. Essa é uma influência que não existia anos atrás.’ Na Click há 40 profissionais dedicados exclusivamente a acompanhar os movimentos dos consumidores na internet.


Na agência de prestação de serviços de marketing TV1 não é diferente. Seu presidente, Sérgio Motta Mello, diz que seu negócio prosperou num ambiente sem barreiras entre as mídias online e offline. E isso, segundo ele, faz diferença no atual cenário. ‘As redes sociais apenas explodiram as pontes entre os consumidores e as marcas’, diz. ‘Antes as manifestações das pessoas ficavam estranguladas nos call centers. Isso mudou, porque esse filtro deixa de existir no mundo conectado.’


As agências de propaganda em geral vem se esmerando em criar áreas que cumpram as funções de monitorar o que se diz nas redes sociais e assim alimentar seus clientes com dados na tomada de decisões. Na TV1, por exemplo, está disponível uma ferramenta que faz varredura do que se diz nas mais populares redes sociais, e o cliente pode acompanhar o monitoramento online. ‘Quem quiser oferecer serviços nessa área tem de dispor de um time multidisciplinar’, diz Motta Mello. ‘Redes e blogs são a quarta atividade mais procurada na internet e o tempo dedicado a eles cresce três vezes mais do que em qualquer outra atividade. E o brasileiro é quem mais dedica tempo de navegação em redes sociais.’’


 


 


Brian Stelter, The New York Times


Em cartaz no YouTube, notícias da cidade


‘Com sua habilidade para coletar artigos e vender publicidade com eles, o Google já se tornou uma enorme força no ramo noticioso – e o flagelo de muitos jornais. Agora, sua subsidiária YouTube quer fazer a mesma coisa com a televisão local.


O YouTube, que já se vangloria de ser ‘a maior plataforma noticiosa do mundo’, criou o recurso News Near You, que identifica a localidade de um usuário e lhe oferece uma lista de vídeos relevantes. Com o tempo, ele poderia basicamente montar uma transmissão noticiosa local. Ele já está distribuindo vídeos de cidades natais de dezenas de fontes, e quer acrescentar outros milhares.


O YouTube diz que está ajudando as estações de TV e seus outros parceiros ao criar uma fonte de receita nova – mas, até agora, fiscalmente insignificante. Mas as companhias de mídia noticiosa podem ter razões para se inquietar. Poucas estações de TV conseguiram imaginar um meio de reproduzir lucros na internet. O YouTube pode agir facilmente como mais um competidor.


Até agora, a maioria dos vídeos Near You (perto de você) no YouTube vem de fontes não tradicionais: estações de rádio, jornais, universidades e, no caso de um grupo nascente de San Francisco chamado VidSF, três amigos que desprezam a dieta local de incêndios e homicídios da TV.


‘Isso realmente nivela o campo de jogo’, disse Kieran Farr, um fundador do VidSF que cobre a cultura da cidade e posta seus segmentos no YouTube.


O News Near You, iniciado no primeiro semestre, é apenas uma parte da investida do YouTube em vídeos noticiosos. Neste verão (junho a setembro, no Hemisfério Norte), a companhia convidou as mais de 25 mil fontes de notícias listadas no Google News para se tornar em fornecedoras de vídeos. O site também está promovendo vídeos da Associated Press e da Reuters, entre outras agências.


Neste ano, começou a exibir vídeos noticiosos originais – incluindo os enviados por cidadãos do Irã, onde os protestos estão sendo registrados por usuários de celulares. Por enquanto, os vídeos não são um substituto para uma dieta de notícias impressa ou na TV.


Num domingo, visitantes das proximidades de Baltimore viram uma reportagem sobre um programa de assistência a adolescentes; em Chicago, eles viram uma matéria da WGN-TV sobre artistas de rua; em Los Angeles, viram uma análise de uma motocicleta elétrica produzida pelo The Los Angeles Times. Os produtores com frequência contam as visitas em centenas, não em milhares.


Até agora, quase 200 agências noticiosas firmaram acordos com o YouTube para postar pacotes noticiosos e dividir a receita da publicidade que aparecer com eles. Ademais, as buscas no Google agora mostram vídeos do YouTube junto com artigos noticiosos, ajudando os vídeos a alcançar mais gente.


A pura amplitude do YouTube – ele é visitado por 100 milhões de americanos a cada mês – faz dele uma poderosa força de promoção, além de uma ameaça potencial a companhias de mídia consolidadas.


Essas companhias já têm mais com que se preocupar: boa parte do mercado de mídia local desmoronou nos últimos anos à medida que os anúncios classificados começaram a se transferir para a internet, as fabricantes de veículos reduziram seus gastos e proliferaram as novas opções de serviços noticiosos e entretenimento.


Enquanto isso, o YouTube ainda está tentando ser lucrativo quase três anos depois de ter sido adquirido pelo Google.


Como as questões de copyright o impedem de colocar anúncios em vídeos amadores, ele tem tentado fazer acordos com parceiros profissionais para semear o site com conteúdo favorável à publicidade. Os noticiários são uma opção óbvia.


‘O Google só pode ganhar dividindo a receita com pessoas que têm os pés na rua em mercados locais’, disse Terry Heaton, vice-presidente sênior da AR&D, uma companhia que dá consultoria a empresas de mídia com enfoque local. O Google disse em junho que estava contente com a trajetória do YouTube e indicou que espera que o site se torne lucrativo num futuro não muito distante, mas não especificou quando.


Embora o YouTube possa ganhar adicionando vídeos locais, resta ver se as agências noticiosas estabelecidas se beneficiarão. O recorte de manchetes impressas e links levou alguns a culpar a companhia pelas dificuldades financeiras dos jornais. O diretor executivo da Dow Jones recentemente chamou o Google de ‘vampiro digital’ que estava sugando o sangue’ de jornais ao utilizar seus artigos gratuitamente.


O que o YouTube está fazendo é um pouco diferente. Ele não está enviando aranhas digitais por toda a web para recolher vídeos automaticamente. Está pedindo a agências noticiosas que firmem acordos de parceria e prometendo um público mais amplo para seu material.


O esforço do YouTube para organizar vídeos noticiosos locais começou de verdade no primeiro semestre, quando o módulo News Near You foi introduzido. O módulo usa o endereço de internet de um computador visitante para determinar a localização do usuário e se há algum parceiro localizado num raio de 100 milhas (160 quilômetros). Se houver, sete dias de vídeos locais são exibidos..


Mas, em muitos lugares, sobretudo em mercados urbanos, 160 quilômetros não pode ser considerado realmente uma área local. Steve Grove, o chefe para assuntos noticiosos e políticos do YouTube, disse que a empresa ‘terá um raio menor à medida que trouxer mais parceiros’.’


 


 


MUSEU


Edison Veiga


A fina arte nos salões do poder


‘Os austeros prédios dos poderes guardam mais que burocracia. Em corredores imponentes e espaçosas salas com grande pé-direito, obras de arte assinadas por célebres pintores e escultores brasileiros embelezam o Palácio dos Bandeirantes, sede do governo do Estado de São Paulo, o Palácio Nove de Julho, onde fica a Assembleia Legislativa, o Edifício Matarazzo, endereço da Prefeitura, e o Palácio Anchieta, onde funciona a Câmara Municipal.


O mais vistoso desses acervos, sem dúvida, é o do governo estadual. ‘Trata-se de uma coleção de 4 mil peças, extremamente importante dos pontos de vista histórico e artístico’, explica a economista e historiadora da Arte Ana Cristina Carvalho, curadora do Acervo Artístico-Cultural dos Palácios do Governo do Estado de São Paulo. Os itens ficam distribuídos nas três residências oficiais do governo: o Palácio dos Bandeirantes, no Morumbi, em São Paulo; o Palácio do Horto, no Horto Florestal, também na capital; e o Palácio da Boa Vista, em Campos do Jordão. ‘Nossas obras priorizam o percurso do Modernismo brasileiro, constituindo um acervo cobiçado por muitos museus.’ Entre as peças, há nove pinturas de Tarsila do Amaral, como Retrato de Mário de Andrade, óleo sobre tela de 1922, e Operários, de 1933.


Embora nem todos saibam, é possível conhecer, in loco, parte dessa coleção. Diariamente, das 10 às 17 horas, 12 educadores ficam à disposição para mostrar algumas preciosidades aos visitantes do Palácio dos Bandeirantes. ‘Por meio das obras de arte, conseguimos contextualizar um pouco a história de São Paulo’, afirma Isaura Maria Bonavita, diretora técnica do Centro de Monitoria do Palácio.


No hall nobre, 14 peças permanentes formam oito painéis, assinados por Clóvis Graciano, Candido Portinari, Djanira Motta e Silva, Tomie Ohtake, Alfredo Volpi, Aldemir Martins e Antonio Henrique do Amaral. Este último é o autor de São Paulo, Brasil – Criação, Expansão e Desenvolvimento, um acrílico sobre tela de 16 metros de largura por 4,5 m de altura. ‘Em 1989 houve um concurso para escolher a obra que ficaria aqui’, conta Isaura. ‘Ele (Amaral) ganhou e levou nove meses para concluir o trabalho.’


Integrar o seleto acervo do Palácio dos Bandeirantes não é tarefa simples para os artistas. Todos os anos, a curadoria de lá recebe de 40 a 50 propostas de doações de obras. ‘Aceitamos, em média, dez’, conta Ana Cristina. Há uma explicação para tal cuidado. ‘Cada item adquirido representa um gasto de manutenção, afinal temos um compromisso patrimonial.’ As propostas de doações são submetidas ao crivo de um conselho, que analisa a obra e a biografia do artista. ‘Ao contrário de outros acervos do poder, bastante decorativos, aqui nos preocupamos com o caráter museológico e o valor artístico’, frisa a curadora. ‘Nossa coleção foi, ao longo dos anos, sendo formada com o aval de especialistas. Não incorporamos peças ao léu ou por apadrinhamento.’


OUTRAS COLEÇÕES


No Palácio Anchieta, no centro, sede da Câmara Municipal, estão outras preciosidades artísticas. Há 26 obras no catálogo, entre elas Retrato de Fábio da Silva Prado, de Cândido Portinari; Retrato de Manuel Deodoro da Fonseca, de Benedito Calixto; duas telas intituladas Fundação da Cidade, de Clovis Graciano; e cinco painéis conjugados de Aldemir Martins. Não existe um programa de visitação, como o que funciona no Palácio dos Bandeirantes.


Há três anos, cinco restauradores transformaram uma sala da Câmara em ateliê. Ali, ao longo de meses, dedicaram-se a deixar tinindo os quadros que se encontravam degradadas pelo tempo. ‘Hoje temos muito amor por essas obras’, afirma José Carlos Teixeira de Camargo Filho, coordenador do Centro de Comunicação da Câmara, área incumbida da manutenção do acervo.


A Assembleia Legislativa mantém, desde 2002, o Museu de Arte do Parlamento de São Paulo. ‘São cerca de 1,3 mil itens’, diz o curador, Emanuel von Lauenstein Massarani. ‘A proposta do acervo é humanizar a instituição, propiciando aos funcionários um ambiente melhor e, aos visitantes, uma atração cultural.’ A coleção está distribuída entre os vários ambientes do Palácio 9 de Julho, perto do Parque do Ibirapuera.


Um ano depois da criação do Museu de Arte, foi fundado o Museu da Escultura ao Ar Livre, nos jardins do palácio, hoje com 73 peças – de mármore, bronze, terracota, chapas de ferro, alumínio e cerâmica.


Já as obras expostas no Edifício Matarazzo, no centro, sede da Prefeitura, não compõem um acervo do próprio prédio. Fazem parte da Coleção de Artes da Cidade de São Paulo – atualmente com 2,8 mil peças -, mantida em reserva técnica do Centro Cultural São Paulo, no Paraíso, zona sul. Além de serem expostas esporadicamente, costumam ser cedidas para decorar órgãos públicos. Atualmente, nove obras estão no gabinete do prefeito Gilberto Kassab. De tempos em tempos, elas são trocadas.’


 


 


TELEVISÃO


Keila Jimenez


Reserva justificada


‘Quem disse que não pode reservar elenco na Globo? Quer dizer… Poder, poder, não pode, mas de exceção em exceção, a reserva de atores feita por autores e diretores de dramaturgia segue adiante. Claro, de maneira menos ostensiva e via ressalvas abertas pelo próprio diretor-geral de Entretenimento da Globo, Manoel Martins.


‘A reserva acabou, mas claro que abrimos exceções para autores que só conseguem criar um personagem com o dono certo’, fala Martins. ‘E é claro que o autor tem de me provar que aquele ator reservado é essencial para aquela função. E tem de ser um papel de destaque na trama.’


Gilberto Braga integra esse time de autores que só cria personagens com destino certo. Não confirma, mas já reservou Wagner Moura para sua próxima novela na Globo, no fim de 2010. ‘Regina Duarte na Raquel, e Glória Pires na Maria de Fátima (Vale Tudo), Malu na Lourdinha (Anos Dourados) e Antônio Fagundes no Dono do Mundo, foi tudo escrito sob medida’, conta o autor. ‘Sou totalmente a favor da reserva. Só é importante que os autores se respeitem, que se tratem como colegas e não rivais, como ocorre entre a maioria.’’


 


 


LITERATURA


Ubiratan Brasil


Ruy Castro entre mestres literários


‘Antes dos 5 anos de idade, Ruy Castro já sabia ler e escrever graças à paixão dos pais por jornais e revistas. A precoce convivência com as letras tornou-o em pouco tempo um apaixonado pela literatura, arte que inspirou diversos textos que escreveu quando já atuava como jornalista. Trabalhos que trazem sua marca: linguagem leve e um conteúdo profundo. É o que se observa em O Leitor Apaixonado (Companhia das Letras, 368 páginas, R$ 49,50), livro que será lançado por ele amanhã, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional.


Trata-se de uma coletânea de 45 artigos escritos originalmente para a imprensa (como o Estado) e selecionados por Heloisa Seixas, que já prepara outro, com os artigos mais polêmicos e se chamará Raios & Balas – O Livro das Provocações. Aqui, é oferecida uma convidativa viagem pela arte de autores tão distintos como Nelson Rodrigues (cujos artigos no jornal Última Hora eram lidos por sua mãe), Dorothy Parker, Nathanael West, Gertrude Stein, Millôr Fernandes, Oscar Wilde e Paulo Francis. Sobre o lançamento, Ruy respondeu ao Estado.


Até que ponto seus autores favoritos inspiraram sua escrita?


Todo mundo que começa a escrever muito cedo é influenciado pelos autores que admira e, pelo menos por algum tempo, torna-se um miniclone deles. Nesse sentido, tive fases em que produzia cópias quase legítimas de Nelson Rodrigues, Rubem Braga, Millôr Fernandes, Cony e outros, para não falar em americanos como Robert Benchley e ingleses como P. G. Woodhouse. Falo sobre isso num dos textos de O Leitor Apaixonado – de como Paulo Francis, na revista Diners, em 1968, resolveu um impasse em que me encontrava: eu assinava os artigos ‘sérios’ com meu nome e os de humor com pseudônimo. Francis achava que os artigos de humor é que mereciam a assinatura. Com o tempo, o humor e a pretensa seriedade se fundiram, e quero crer que, desde 1970 ou 1971, eu já tenha cristalizado uma certa forma pessoal de escrever.


Os escritores são hoje personagens importantes na mitologia desenhada pela cultura de massas?


Importantes, sim, embora não necessariamente populares. Quando se trata de uma efeméride – por exemplo, 50 anos disso ou 200 anos daquilo -, podem fazer festivais de cinema, música, teatro ou o que for sobre o assunto. Mas o que ficará dele e balizará todo o pensamento a respeito será um livro. Como diz o Millôr, ‘Uma imagem vale por mil palavras, não? Pois tente dizer isto sem as palavras’.


Até hoje, ainda nos fascinamos com escritores de imagem borrada, obscura, como Kafka. Por que isso acontece, na sua opinião?


Normalmente, tendemos a ver no escritor um reflexo ambulante de sua obra. Mas isso nem sempre corresponde à verdade. Lúcio Cardoso, cujos livros eram um ensimesmamento só, era um homem gregário, festeiro e imprevisível. F. Scott Fitzgerald, que fazia as coisas mais irresponsáveis na vida real, era seriíssimo quando escrevia. E quem garante que a imagem, como você disse, borrada e obscura do Kafka o refletisse na realidade? Pelo que sei dele, Kafka era um brincalhão, frequentava colônias nudistas e não tinha nada de tímido. Mas, de fato, os escritores parecem bichos estranhos para quem está de fora.


É um aliado da literatura, o mal?


Espero que sim. Para contrabalançar, nem que seja um pouco, tudo que a literatura faz pelo bem.


Serviço


O Leitor Apaixonado. De Ruy Castro. Cia. das Letras. 368 págs. R$ 49,50. Livraria Cultura. Av. Paulista, 2.073, Conjunto Nacional, 3170-4033.. 3.ª, 19 h’


 


 


 


 


************


Terra Magazine


Segunda-feira, 10 de agosto de 2009 


 


INTERNET


Fábio Kadow


Repórteres são proibidos de usar o twitter na cobertura esportiva, 10/8


‘O que seria um respiro para a chata e ultrapassada mídia esportiva pode estar chegando ao fim. Na contramão de todo o mundo, alguns veículos da mídia esportiva estão proibindo seus repórteres de passarem informações para seus leitores pelo twitter. Na ESPN dos EUA, a proibição é total, inclusive para todos os tipos de mídias digitais, a não ser que a ‘informação seja relevante para a ESPN’, segundo o comunicado que os funcionários receberam (leia a íntegra aqui).


Por aqui, pelo menos um grande jornal paulista já fez o mesmo, apesar de ainda não se pronunciar oficialmente para o seu público (informação confirmada pelo blog). Os veículos são os donos das opiniões e pensamentos dos seus funcionários? Você acha essa medida inteligente e eficaz?


Durante os protestos no Irã, quando o governo local censurou a cobertura dos fatos, o mundo elegeu o twitter como a nova ferramenta de comunicação do mundo moderno. Graças ao site, milhões de pessoas puderam ter acesso a informações postadas pelos ativistas e até os grandes veículos beberam dessa fonte, publicando os vídeos e fotos do confronto.


No mundo esportivo, não é diferente. No mundo todo os grandes atletas, como Lance Armstrong, Shaq O’Neal, Bob Burnquist, Kelly Slater, Serena Williams, entre tantos outros, estão presentes e atuantes no twitter (clique aqui e conheça os endereços de 810 famosos atletas).


No Brasil, o presidente do Palmeiras Belluzzo avisou sobre a contratação do técnico Muricy pelo site. Alexandre Kalil, do Atlético MG, é outro que informa seus torcedores sobre diversos assuntos do clube no twitter. O técnico Mano Menezes tem quase 700 mil seguidores. Luxemburgo também já aderiu. Os atletas e clubes ainda estão tímidos.


Mas, para a alegria dos torcedores em geral, diversos repórteres e comentaristas esportivos do mundo todo escolheram o twitter para contar um pouco dos bastidores que você não encontra nas matérias. Opiniões e detalhes que não cabem (ou não combinam) com os textos dos veículos em que trabalham. Muitos ‘tuitam’ durante as partidas, seja assistindo o jogo no estádio ou em casa, treinos, ou comentam sobre fatos e notícias que acabam de ocorrer.


Será que se o leitor não tiver mais essa informação no twitter significa que a audiência do veículo onde o repórter trabalha vai aumentar? Ou, ao contrário, o público vai procurar alternativas e assim, de maneira definitiva, abandonar o canal? Uma medida arcaica, que combina com o jornalismo esportivo ainda praticado no Brasil por grande parte da imprensa dita especializada.’


 


 


 


 


************


Primeira Página


Sábado, 8 de agosto de 2009 


HISTÓRIA


Deonísio da Silva


Getúlio não se matou!, 8/8


‘O dia estava comprido e eu ainda precisava gravar as minhas aulas de Língua Portuguesa para a televisão nos estúdios da Universidade Estácio de Sá. Faria isso na companhia de Sérgio Nogueira, àquela hora entalado em algum engarrafamento. Bateu uma fome danada. Eram 18h e eu voltaria às 19h. Cláudio Moreno, com quem almoçara, que gravara à tarde, já estava a caminho do Galeão, voltando a Porto Alegre.


Fui a um pequeno restaurante onde servem também lanches rápidos e uns goles do que você quiser no balcão. Ali se come uma deliciosa galinha d´angola, um peito de pato, peixe e mais alguns pratos de raro sabor. Estava lá o ator Antonio Grassi.


‘Você e o José Louzeiro não iam escrever um livro juntos?’. Pois é, íamos, eu vou explicando, sobre o Gregório Fortunato. Fui a São Borja, fiz algumas pesquisas, uma neta do Oswaldo Aranha tinha sido minha aluna e facilitou muitos contatos por lá. Entrevistei um advogado que jurou que Getúlio Vargas não se suicidou, morreu assassinado. Há alguns anos Jô Soares entrevistou o padre que foi levar extrema-unção a Getúlio Vargas. Foram ao ar revelações curiosas.


Grassi emenda: ‘Carlos Heitor Cony escreveu um livro cheio de reticências sobre o assunto’. E me diz também que, quando ele dirigia a Funarte, Virgínia Lane gravou um depoimento dizendo que uns encapuzados mataram o presidente naquela fatídica madrugada de 24 de agosto de 1954. E ela estava no quarto com Getúlio!


Vou receber uma cópia do depoimento, mas tenho pressa e antecipo trecho do depoimento, que encontrei na internet: ‘Eu estava embaixo de um lençol quando quatro encapuzados invadiram a alcova de Getúlio Vargas e fuzilaram o presidente’.


Segue dizendo que conheceu Gegê numa festa. Era ainda adolescente e foi de saia curta e de botas. Getúlio apaixonou-se por ela, mas o romance só começaria dali a quatro anos. Diz que o caso durou quinze anos! E afirma sem meias palavras: ‘Getúlio não se matou. É tudo mentira da história. Eu morro com uma arma apontada para minha cabeça, mas eu morro dizendo a verdade.’


Virgínia Lane era 37 anos mais jovem do que Getúlio. Quando ele morreu, aos 71 anos, ela estava com 34.


No teatro de revista, a vedete de lindas pernas rebolava e cantava Sassaricando, seu maior sucesso, . ‘Sassaricando, todo mundo leva a vida no arame./ Sassaricando, a viúva, o brotinho e a madame./O velho na porta da Colombo/ é um assombro, é um assombro, sassaricando./Quem não tem seu sassarico/ Sassarica mesmo só/ Porque sem sassaricar/ Esta vida é um nó’.


Sassaricar veio do português arcaico sassar, peneirar. Como as mulheres balançavam o corpo enquanto sacudiam a peneira, o verbo ganhou o sentido de rebolar. A confeitaria Colombo ainda existe. Os dicionários dão arame como gíria para dinheiro, mas provavelmente significava também levar a vida ao modo dos equilibristas nos circos. Sassaricar virou sinônimo de namorar. Peneirar está também na famosa música: ‘Eu tava na peneira, eu tava peneirando,/ Eu tava no namoro,/ Eu tava namorando’. Estes versos estão em Farinhada, de José Dantas, já gravados também por Ivon Curi, Luiz Gonzaga e Elba Ramalho.


No dia seguinte, para almoçar com Antonio José Duffles Amarante, neto do marechal Henrique Batista Duffles Teixeira Lott, passei na rua Tonelero, onde, atirando em Carlos Lacerda, acertaram o major Rubens Vaz, assassinato que serviu de estopim para aquela crise.


Haja história do Brasil no Rio!’


 


 


 


************