Tuesday, 30 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Revolta de investidores abala jornais americanos


Dois conglomerados de comunicação dos Estados Unidos acabam de ser vendidos sob pressão de investidores nas bolsas de valores que se mostram desconfiados até mesmo com a situação financeira de alguns ícones da impresa norte-americana.


Numa mesma semana o rede de emissoras de radio Clear Channel, a maior dos Estados Unidos, e a revista The Reader´s Digest, um grupo de mídia impresssa com mais de 70 anos de vida, foram vendidos no pregão para investidores cuja preocupação básica são os dividendos e não o papel politico ou ideológico dos veículos em questão.


Tanto a Clear como a Reader´s Digest tem uma clara posição conservadora dentro da imprensa norte-americana e não enfrentavam problemas financeiros graves.


No ano passado, o conglomerado jornalístico Knight Ridder, um dos cinco maiores dos EUA, foi vendido no auge de uma crise de confiança no futuro da empresa e de um agudo processo de desvalorização de suas ações.


Parecia uma exceção ou um exagero da corretora de valores Private Capital Management que recomendou a venda da Knight Ridder para evitar uma revolta de acionistas. Outras duas empresas de corretagem de ações na bolsa de Nova Iorque também participaram da operação.


Mas hoje o ativismo dos corretores e acionistas de empresas de comunicação atingiu inclusive o The New York Times, o mais tradicional e estável jornal norte-americano, onde os investidores exigem que a familia Sulzberger venda a maioria das ações e deixe o controle da publicação.


Nenhuma das empresas mencionadas está a beira da falência ou enfrenta grandes problems financeiros. O problema é que os acionistas estavam acostumados a dividendos de 20% ao ano, em média, e não se conformaram quando os jornais passaram a ter que conviver com lucros de 5% ou 6%, considerados saudáveis no caso da maioria das demais empresas norte-americanas.


Também os acionistas da rede de jornais Tribune, outra das cinco maiores dos Estados Unidos, pressionam o conglomerado para resolver logo a situação do jornal Los Angeles Times às voltas com problemas financeiros. Os executivos da Tribune demitiram a pouco toda a alta direção do Times depois que esta se recusou a enxugar a redação para cortar custos operacionais.


A rebelião dos acionistas de publicações norte-americanas mostra que a imprensa deixou de ser considerada um bom negócio, o que é bom por um lado e ruim pelo outro. Bom porque os jornais já não terão que fazer das tripas o coração para apresentar resultados financeiros capazes de alegrar o natal de seus mal acostumados acionistas.


Ruim, porque os temores dos investidores e corretoras são altamente contagiosos no super-volátil pregão das bolsas de valores. Seguramente vai diminuir muito o número de interessados em colocar dinheiro num negócio que perdeu boa parte do glamour e poder de outras épocas.