Thursday, 31 de October de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

Paulo Rogério

‘‘Seja o primeiro, mas primeiro seja correto’ Uma foto de meia página foi utilizada para ilustrar a matéria ‘Aderaldo: o cego cantador’ publicada quarta-feira (8) na capa do caderno Vida & Arte. O objetivo era anunciar o lançamento do livro de Cláudio Portella sobre a vida de um dos maiores repentistas da cultura cearense. Uma pauta fácil, sem maiores obstáculos, não fosse um desastroso equívoco. A imagem publicada não era do Cego Aderaldo, mas do Cego Oliveira, outro cearense famoso por tocar rabeca e compor canções.

Não parou aí. A legenda ampliou o erro: ‘Na foto ao lado do cineasta Rosemberg Cariry, Cego Aderaldo é um dos mais celebrados ícones da cultura cearense.’ Saber um pouco de história teria ajudado a evitar o erro. Cariry nasceu em 1956. Cego Aderaldo morreu em 1967. Portanto o primeiro tinha somente 11 anos quando o repentista faleceu. Nem pensava em ser cineasta e ter o grande bigode que a foto reproduz. ‘É impossível esse encontro do jeito que está. Tem algo errado’ alertou o leitor Ireleno Benevides.

No rodapé da matéria, a reprodução da capa do livro mostra a imagem do biografado e é fácil constatar as diferenças. No Erramos, a editoria admitiu o engano alegando que houve falha na indexação das fotos enviadas pelo Banco de Dados, setor do jornal que fornece material de pesquisa para a Redação. Na verdade houve falha geral. Da indexação das fotos, escolha da imagem, composição da legenda até a revisão. O jornalista precisa estar atento a isto tudo, a todos os detalhes na hora da edição. Tudo é informação. Para o leitor não importa quem é o culpado. É o jornal que errou e pronto. Seja na Capa, na Economia ou nos Populares. Tudo tem um só nome: O POVO.

Crime contra história

Falhas com dados históricos são preocupantes e revelam uma questão ainda maior no profissional de jornalismo – e de outras classes: a má formação escolar. São erros injustificáveis diante das facilidades que a Internet disponibiliza para seus usuários através de enciclopédias e gramáticas on line.

Depois de chamar Tiradentes, em abril, de José da Silva Xavier, desprezando o Joaquim do primeiro nome, e colocando-o como ‘O homem do feriado’, O POVO simplesmente achou por bem mudar a história do Brasil Colônia. Ao noticiar como seriam as comemorações do Dia da Independência, comemorado no último dia 7, a editoria Fortaleza afirma, na edição de terça-feira, que a cidade de São Paulo nasceu às margens do riacho Ipiranga, mesmo local onde Dom Pedro deu o ‘Grito do Ipiranga’. Errado. O município de São Paulo foi fundado em 1554 e cresceu em torno de um colégio jesuíta, construído no alto de uma colina entre os rios Anhangabaú e Tamanduateí, hoje área central da capital paulista, bem longe do riacho do Ipiranga, zona Sul da cidade.

Pior é que no mesmo dia, algumas páginas adiante, na editoria de Economia (página 24), O POVO muda totalmente o tradicional Dia de Nossa Senhora Aparecida de doze de outubro para dois de outubro. Uma antecipação de 10 dias. Tem explicação?

Ódio x paixão

Que o Ceará está em má fase no Campeonato Brasileiro ninguém pode negar, os resultados provam isso. Mas O POVO exagerou ao publicar, na primeira página da edição de sábado (4) a chamada ‘Duelo do amado contra o odiado’ ao se referir ao jogo entre Ceará x Vasco, no confronto dos técnicos PC Gusmão, ex-Alvinegro, e Mário Sérgio, que havia assumido a direção do time cearense cinco partidas antes. É muito pouco tempo – 20 dias – para alguém ser odiado por milhares de torcedores.

Criticado, pressionado até que é compreensível, mas o termo odiado foi demais e provocou o protesto de alguns leitores/torcedores. ‘Tenho notado que a qualidade dos textos sobre nosso futebol vem dando lugar ao bairrismo e parcialidade, próprias de discussão de boteco de terceira, lá do Alto do Bode’ afirmou o leitor Marcos Eleutério. Já Luiz Barbosa viu o fato como mania de perseguição. ‘Nem uma coisa nem outra. Querem porque querem derrubar o técnico do Ceará’ protestou ele. Há de se levar em conta a paixão dos torcedores em cada crítica. Há certos arroubos da torcida, mas esse ‘odiado x amado’ não foi a opção mais correta, mesmo com Mário Sérgio sendo demitido uma semana depois.

Jornalismo declaratório

A campanha política entra nas últimas semanas e o noticiário tem registrado o desespero de quem está atrás nas pesquisas para causar um fato novo que atraia a atenção dos leitores indecisos. É o momento do tudo ou nada. Tem sido este o quadro nacional, com as denúncias de quebra de sigilo fiscal. No panorama local, a cena é a mesma. Na quinta-feira, O POVO reproduziu denúncias do candidato Lúcio Alcântara de que o governador Cid Gomes, líder nas pesquisas, cometeu crime eleitoral ao usar irregularmente aeronaves durante a campanha. A imprensa abre espaço para as denúncias e vai colocando manchetes, atrás de manchetes. Tudo baseado só em declarações. É ataque e contra-ataque, em um clima que, agora, o jornal qualifica como ‘agressivo’.

É preciso que a imprensa cearense avance neste sentido, vá atrás de fatos, verifique as denúncias e abandone a cômoda posição de ouvir um lado, depois o outro e só. Nenhuma imagem, nada de investigação. Chega do jornalismo declaratório. Esquecido pela mídia: Descartada a instalação do estaleiro, o que aconteceu com a Praia do Titanzinho.’