Thursday, 31 de October de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

A floresta invisível na mídia

O projeto de mudanças no Código Florestal volta eventualmente ao noticiário, como na terça-feira (5/4), mas o tema segue sendo tratado de maneira fragmentada, o que dificulta a tarefa de leitores que querem se manter atualizados sobre o assunto.


Um apanhado do que tem saído na imprensa revela que o relator do projeto, deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), está trabalhando em algumas mudanças, na tentativa de tornar mais palatável a flexibilização da legislação sobre defesa ambiental.


Por outro lado, têm havido negociações entre o Executivo e representantes da bancada governista no sentido de encontrar um ponto de convergência entre a proposta que tramita no Congresso e as exigências do movimento ambientalista.


A rigor, não parece haver novidade mais significativa do que o alijamento do desastrado parlamentar do PCdoB, que não tem sido convidado a participar dos debates. Aparentemente, o que ele tinha a dizer está escrito no seu relatório, e trata-se de proposta inaceitável por parte das pessoas de bom senso.


Tentativa de desmanche


O deputado Rebelo ainda se manifesta eventualmente sobre o assunto, mas suas intervenções são publicadas à parte do noticiário sobre negociações entre o governo e o Congresso. Da mesma forma, a ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira tem sido poupada da controvérsia e ainda não explicou claramente o que pensa sobre a questão. A falta de informações consolidadas provoca, por outro lado, dificuldades para a mobilização da sociedade.


Apesar de ainda haver manifestações esparsas de cidadãos que consideram desnecessário proteger o patrimônio ambiental do avanço da pecuária, como se a devastação da Amazônia e do Cerrado fossem condições inevitáveis para a produção de alimentos, parece claro que a consciência ambiental vem crescendo no Brasil, principalmente entre os mais jovens.


Muitos estão certamente preocupados com o fato de que houve um avanço maior da soja sobre a Amazônia. No entanto, não se vê na imprensa um esforço para manter o tema entre aqueles de maior destaque, como se a floresta fosse invisível.


O debate sobre a tentativa de desmanche do Código Florestal deveria estar entre eles.


Maltratando a pauta


Entre os jornalistas e outros comunicadores mais interessados na questão ambiental está claro que a imprensa brasileira segue maltratando a pauta, com informes esparsos e fora de contextualização. Essa percepção ficou clara no seminário realizado em São Paulo na semana passada, por iniciativa do Instituto Ethos.


O noticiário sobre o Código Florestal segue no mesmo estilo: se alguém se manifesta, pinga uma notícia. Caso contrário, o assunto desaparece como se nada estivesse acontecendo. Enquanto isso, as negociações se desenrolam por baixo dos panos e, mais dia menos dia, aparece no plenário do Congresso uma proposta que pode ser desastrosa para o futuro do país.


Neste momento, por exemplo, discute-se a criação de mecanismos de compensação, que permitiriam a desmatadores compensar em outras áreas o patrimônio destruído em áreas de preservação legal. Se a moda pega, muito fazendeiro que incendeia a floresta amazônica para criar gado vai se livrar plantando eucaliptos na Marginal do Tietê.


***


Observatório da Imprensa na TV


Alberto Dines


A inflação voltou com força às primeiras páginas, à televisão e ao rádio. Mas a mídia por enquanto contenta-se em jogar com índices, taxas, estatísticas e tendências. Esqueceu que ela também pode se envolver diretamente no combate à inflação. Resta saber se jornais e jornalistas terão vontade ou coragem para defender posições e medidas que em última análise irão contrariar os interesses das empresas de comunicação.


Combater o consumo conspícuo seria imaginável? Reclamar estímulos à poupança seria aceito pelos anunciantes? Exigir aperto nos gastos não colocaria o público contra a mídia? A inflação o convida para assistir hoje à nova edição do Observatório da Imprensa. Às 22h pela TV Brasil em rede nacional. Em São Paulo pelo canal 4 da NET e 181 da TVA.1