Thursday, 31 de October de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

Os erros do poder público e da mídia

Sim, com o turismo o Rio voltará a ser a “Cidade Maravilhosa” em curto prazo.

Alguém notou que o Rio finalmente recebeu um grande show internacional, o que não vinha acontecendo há anos, porque a situação socioeconômica não dava o retorno pretendido pelos empresários? O que aconteceu? O Rio mudou ou a prefeitura acordou para este fato e passou a estimular essas vindas através de incentivos? No show de Paul MacCartney, por exemplo, que da última vez que veio ao Brasil no ano passado não passou pelo Rio, ela, a prefeitura, investiu agora dois milhões de reais.

Os hotéis lotaram, a cidade deu um show de organização com o metrô funcionando a contento, foram deslocados dez vagões refrigerados, funcionários trilingues orientando a chegada ao estádio, policiamento exemplar no entorno do Engenhão; o Pão de Açúcar recebeu 11 552 visitantes no final de semana, 8,5% acima da média de visitação e não houve registros negativos. Aliás, esse histórico de registros negativos em grandes eventos é impressionante, sendo um fator muito interessante e típico do Rio. O Réveillon, por exemplo, reúne cerca de dois milhões de pessoas que ficam espremidas pela falta de espaço físico na Avenida Atlântica, e, em 2010, um consultor da Disney, convidado a assistir para planejar a festa de 2011 (que foi um sucesso), ficou estupefato de não ter havido problemas e até comentou que se fosse nos EUA, com certeza seria diferente, poderiam até acontecer mortes violentas. Ou seja, a vocação natural da cidade é receber bem de braços abertos como seu símbolo mor: O Cristo Redentor. Por que este fator não é explorado em todo o seu potencial? Alguém consegue imaginar Nova York ou Paris sem a atividade turística?

Futuro com qualidade de vida

O patrocínio municipal não teve divulgação na imprensa, por quê? Claro que fizeram um levantamento no Diário Oficial Municipal, que mostrou que a Riotur destinou R$ 18.799.192 para apresentações de artistas em diversos palcos pela cidade, em menos de cinco meses, de 1º dezembro de 2010 até 19 de maio. Desse total, R$ 9.253.730 patrocinaram shows ou eventos em que para entrar o público deveria comprar ingressos ou ser convidado. Como a próxima edição do Fashion Rio, que terá R$ 5 milhões da prefeitura. O show de Roberto Carlos, que aconteceu na noite de Natal na praia de Copacabana, mereceu R$ 6.422.607,58. Aliás, como explicar que para comemorar o fim de ano municipal, teve apresentação do cantor Luan Santana num espetáculo apenas para seus funcionários ao custo de R$ 1,3 milhão? Afinal, quanto custa um show desses artistas? Esses valores foram maiores do que os destinados aos desfiles de blocos ou para o carnaval de rua deste ano. Bailes na Cinelândia e desfile de agremiações, como o Bola Preta, ou o carnaval no subúrbio, receberam dos cofres públicos pouco mais de R$ 3 milhões. O Terreirão do Samba, que durante o período de carnaval estava reservado para shows populares, recebeu R$ 500 mil da Riotur. Todos esses dados foram divulgados na Folha de S.Paulo. Isto não nos lembra os “supostos” escândalos recentes do Ministério do Turismo?

O outro lado das reportagens mostra situações onde não há investimentos municipais: mulheres que pariram seus filhos, sem leitos, acomodadas em cadeiras ou até mesmo deitadas em colchões no chão dos corredores dos hospitais, epidemia de dengue, pedras que sabidamente estavam para cair, caindo e matando pessoas, bueiros que continuam a explodir e outras mazelas sem fim. Uma parte da mídia parece que acordou e mostrou o dia a dia das pessoas que tem que fazer o mesmo percurso que os turistas/plateia do show do Paul McCartney e divulgaram uma realidade deprimente. Até o Ancelmo Góis expôs. Porque no Rio as autoridades ainda não descobriram que o turismo tem que fundamentalmente tornar a cidade boa tanto para o visitante quanto para o morador, para que com esta simbiose todos ganhem, e muito. E tome de escândalos como o da ciclovia superfaturada, da ocupação das casas populares pelas milícias. Vivas à mídia, porque o preço da nossa liberdade é a eterna vigilância e o Rio só tem a ganhar com isso.

Mas, pergunto, qual é o critério desses shows? Quem ganhou realmente com isso? E, por que não fazer a coisa certa? O secretário de desenvolvimento econômico municipal que queria dar um “jeitinho” em meio século de graves problemas saiu. A mídia não tocou nesse assunto. Por quê? Será que não está na hora de finalmente encarar o problema de frente e propor um plano diretor sério, com âncora na vocação natural, metas de curto, médio e longo prazo, mostrando transparência à população, através de uma política pública de resultados em cima de um planejamento urbanístico, apresentado de forma clara as transformações para que todos entendam o aumento da renda per capita, a diminuição do abismo social, a geração de empregos, o aumento da arrecadação que irá proporcionar um futuro com qualidade de vida para que a sociedade se una e leve o Rio à vanguarda mundial em curto espaço de tempo?

Chega de “jeitinhos”

Dizem que há um planejamento de longo prazo. Alguém o conhece? Por que a secretaria de desenvolvimento econômico não o apresenta como foi feito com o plano diretor de Barcelona? O Rio realizou nos dias 30 e 31 de maio um evento chamado Investiment Day. Não saiu uma palavra na mídia. Com ele, procura-se atrair negócios para o Rio, no Porto Maravilha, a base de incentivos fiscais. Tudo que é feito desta forma pode acabar como a usina siderúrgica que já aumentou a poluição em todo o Rio em absurdos 50%, sem ter atingido ainda sua capacidade de produção, e não paga impostos, não criou um polo industrial, não acrescentou nada. Normalmente uma indústria poluidora assim pagaria muito para se instalar ali, até porque são inúmeras as vantagens existentes, como o minério e o carvão siderúrgico importado chegando à porta, a locação dentro de um porto privativo, onde o produto final pode ser exportado imediatamente. Alguém ganhou com isso e claro que não foi o Rio. Pelo enredo, vamos ver este filme de novo?

Onde se encontra o “instinto animal” do empresariado carioca? Por que o projeto do Porto Maravilha não pode ser um master plan que leve desenvolvimento socioeconômico, cultural e ambiental a todo o Rio, principalmente subúrbios e periferia, ancorado na vocação natural da cidade para levar o Rio à vanguarda mundial em curto prazo? Como aconteceu em qualquer lugar do mundo onde o turismo foi utilizado como instrumento de transformação. Sendo que o Rio, além de ter o maior potencial entre todas as cidades do mundo, fará de uma só vez os maiores eventos mundiais capazes de desenvolver a atividade? Este projeto existe, não apresenta custos, é uma política pública que consagra seus introdutores, beneficiando toda a sociedade simultânea e comprovadamente e movimentará imediatamente bilhões de dólares.

O secretário de Desenvolvimento, que tinha nas mãos uma possibilidade única de reinventar o Rio, além de não escutar as propostas de outras pessoas, afirmava que o Rio tem um plano pós-2016. Ele se refere a um “objetivo” com dez artigos, sem nenhum estudo embasando. Não vou nem me dar ao trabalho de comentar porque são hipóteses e é impossível trabalhar com suposições, ainda mais em um ambiente como o do Rio, que vem de mais de meio século de degradação. Chega de “jeitinhos”.

Turismo é coisa séria

Barcelona tinha um plano, que ao ser apresentado de forma clara à sociedade, desencadeou algo maior: uma adesão geral, que proporcionou a melhor transformação, a que foi executada mais rapidamente e a que trouxe maior retorno socioeconômico, cultural e ambiental em zonas portuárias de todo o mundo. Com o detalhe que a âncora utilizada foi o turismo, que lá não apresenta muitas opções e que obviamente não chega aos pés do potencial carioca.

E por que aqui não se faz o mesmo? Vamos traçar algumas considerações.

Será que os turistas atraídos pelo show de Paul McCartney tiveram suas curiosidades sobre o Rio satisfeitas? Para se entender melhor o processo, até na minha casa teve gente (de Recife) atraída pelo evento. Na plateia havia um painel composto por diversos turistas sul-americanos. Eles aproveitaram o que na cidade? Sim, porque qual é a graça de contar para os amigos que esteve no Pão de Açúcar, coisa que todo o mundo fez? É natural as pessoas quererem fazer algo diferente para adicionar ao seu “marketing pessoal”. Descobriram que a cidade oferece milhares de opções de lazer? Ou ficaram frustrados com a falta de alternativas numa cidade que tem um potencial único e que deveria oferecer as mais variadas alternativas de lazer, aproveitando para enriquecer culturalmente o visitante? Sim, porque em Viena existe até passeio nos esgotos e gente interessada nisso. Até cemitério atrai turista, desde que tenha uma programação interessante. E o Rio, que tem os produtos mais interessantes do mundo, não tem divulgação à altura.

Qual foi a permanência e o gasto médio desse turista? Alguém fez uma pesquisa mostrando os ganhos para endossar o gasto da prefeitura? Isto tem que ser feito, porque houve investimento municipal. Não pode ser como no carnaval, quando a Riotur apresentou estimativas incoerentes. O turismo é uma coisa muito séria e com estatísticas confiáveis convence-se qualquer empresário a investir porque o retorno universal é no curtíssimo prazo. Ou este show foi patrocinado para vender uma imagem de que o Rio de uma hora para outra “virou” uma maravilha?

Emprego digno dá dignidade

São Paulo faz pesquisas e está comemorando o fato de o Rio sediar o International Broadcast Center (IBC) no Riocentro, porque prevê que deixarão de ser gastos R$ 40 milhões com investimentos de infraestrutura no Anhembi, local onde seria o IBC em SP. Fora que, por ter que disponibilizar o Anhembi à Fifa, a cidade não poderia abrigar feiras no complexo de dezembro de 2013 e agosto de 2014, para facilitar a montagem e desmontagem de equipamentos. Ou seja, a indústria turística deixaria de ganhar aproximadamente R$ 60 milhões neste período. Problema que parece não incomodar o Riocentro, mas a grande dificuldade será conseguir o número de quartos 4 estrelas exigido pela Fifa, que por mais incrível que possa parecer a cidade não dispõem. Se tivesse um plano diretor definido não haveria este tipo de problema…

Por sua vez, será que os cariocas e as suas lideranças desconfiam de que o turismo possa oferecer a oportunidade de milhares de novos negócios, aumento da arrecadação em bilhões de dólares, milhões de empregos para que não aconteça como foi mostrado na mídia: o caso do adolescente que desistiu de estudar porque o primo se formou e não conseguiu trabalho? Que no turismo se pode trabalhar e ganhar muito com um simples curso de três meses? Por exemplo, o centro do Rio tem bastante história para contar e muita gente quer descobri-las. Há uma fila de espera com mil e cem pessoas só para fazer uma visita guiada com os historiadores Raul e Priscila Melo pela Avenida Marechal Floriano, você sabia? Qual será o potencial da cidade neste segmento? Imagine o tamanho dos desdobramentos se houver uma política pública de incentivo ao setor e de aumento da demanda turística ligada ao enriquecimento cultural, expandindo a permanência média no Rio e principalmente proporcionando ao visitante ou morador o real entendimento da cidade em todos os aspectos.

“O desafio de ‘reinventar’ o Rio é longo e vai muito além dos mandatos dos governantes.” Esta frase de André Urani define bem a necessidade de união da sociedade a um projeto que demonstre de maneira clara um caminho para que a cidade se reinvente com qualidade de vida. Barcelona fez um master plan para desenvolver a economia e o partido político que o realizou ficou 30 anos no poder.

Vi outro dia no Jornal da Band uma realidade que dá o que pensar: durante uma operação policial na Mangueira, policiais fortemente armados eram bombardeados com tijolos e várias pessoas apareciam tentando virar um “caveirão”. Essas imagens eram muito fortes e pareciam com uma revolta popular. Será que se fosse apresentado um plano que mostrasse uma transformação radical da realidade local essa reação não seria diferente? Pacificar é bom, mas o ótimo não seria uma mudança clara que permitisse a diminuição do abismo social através de um plano com metas claras de geração de emprego? Sim, porque com emprego digno a pessoa pode ter plano de saúde, dinheiro para o colégio do filho, para um cineminha e outras modalidades de lazer que essa população não tem acesso. Emprego digno é uma meta que pacifica e dá dignidade.

Planejamento de longo prazo

A prefeitura tira a população da rua e em poucas horas esses despossuídos retornam, porque entre ficar entulhado num abrigo e viver nas ruas, não há dúvida, mesmo tendo que dormir ao relento entre ratos e baratas, comendo comida retirada do lixo dos restaurantes. Estas pessoas perderam o seu amor próprio e, para recuperá-lo, só um emprego de qualidade.

O secretário de segurança pública, José Mariano Beltrame, tornou a dar entrevista, preocupado com a situação socioeconômica. E desta vez foi além, disse com todas as letras: “Nada sobrevive só com segurança, não será um policial com um fuzil na entrada de uma favela que vai segurar, se lá dentro das comunidades as coisas não funcionarem. É hora de investimentos sociais.” Olha que até agora só se ocupou cerca de 0,5% das 1060 favelas, mas, segundo Beltrame, já existem mais de trezentas mil pessoas na expectativa, ávidas por dignidade. O detalhe é que a estimativa de retomada de todas essas áreas implicará aumento anual permanente de 20% nas despesas da segurança pública. Só que o Orçamento precisa ser otimizado também para melhorias em educação, saúde e transportes. Falando assim dá para o leitor entender o tamanho do buraco orçamentário e a real necessidade da revitalização da economia do Rio. Sendo que, para piorar, os comandantes da PM na baixada e no interior estão preocupados com a migração de traficantes com fuzis. Explode criminalidade nesses locais. Afinal qual é mesmo a política pública do Rio para a revitalização de uma economia depauperada por mais de meio século de incúria administrativa?

O governador ousou e implantou as UPPs e está colhendo alguns frutos como a diminuição do preço do seguro dos automóveis, dos custos nos hospitais com o arrefecimento de vítimas das guerras do tráfico de drogas. Por outro lado, precisa, junto com a prefeitura, aplicar uma política pública de revitalização da economia para atender a necessidade das pessoas que estamos incorporando à formalidade. Quando falamos em dignidade numa cidade que sofre há mais de meio século de sérios problemas que afetaram seriamente tanto o setor público como o privado, se entende empregos de qualidade, aumento de arrecadação e planejamento de longo prazo que necessariamente tem que apresentar uma âncora clara e que movimente o maior número possível de engrenagens econômicas e aí entra a necessidade de um master plan que una toda a sociedade acenando com um futuro onde todos enxerguem uma realidade palpável, com qualidade de vida e onde o cidadão se sinta inserido.

Participação da sociedade

A economia ensina que “não há nenhuma contradição entre o papel do estado constitucionalmente limitado e o do “mercado”, mesmo porque o “mercado” não pode funcionar sem as condições criadas e protegidas pelo estado”.

Assistimos em todo o mundo revoltas populares contra um processo econômico de pauperização social e concentração de riquezas, muito parecido com o que acontece no Rio. A mídia está mostrando algumas ações nas comunidades, mas elas não darão jamais o que seus moradores excluídos da sociedade de consumo anseiam, que foi definido com muita propriedade pelo secretário Beltrame e que se chama dignidade. Vamos esperar que estes movimentos cheguem aqui ou vamos implementar uma política pública de resultados em curto prazo?

O turismo é perfeito para isso. Tomemos como exemplo o turismo ecológico, que cresce de 30 a 40% ao ano em todo o mundo. Aqui no Rio o aproveitamento é zero! Se esta situação for revertida quantos empregos serão gerados? Qual cidade do mundo tem dentro do perímetro urbano três florestas? Quem não iria querer fazer um passeio guiado por milhares de opções que podem ser disponibilizadas? Desde observação de pássaros, borboletas, fauna, flora (tudo típico de mata atlântica), espeologia, rapel, escaladas, passeios curtos, médios e longos, a pé, a cavalo, de bicicleta, cachoeiras, histórias e lendas, aprender a observar, arvorismo e centenas de outras opções as quais ainda permitem a visualização de toda a beleza natural do Rio dos mais diversos ângulos e que envolveriam cariocas de todos os tipos, credos e origens sociais. Repare que desde que bem administrada a atividade preservaria para sempre nossa exuberante natureza, envolveria toda a população seja trabalhando ou desfrutando deste lazer que hoje nos é negado, bem como desencadearia uma série de ações que se traduziriam em qualidade de vida. Estamos falando em planejamento, modernização de todas as infraestruturas, conforto, sociabilidade, violência zero e principalmente participação ativa da sociedade definindo seu futuro em todos os aspectos: saúde, saneamento, educação, transporte, lazer, empregabilidade, segurança pública, planejamento urbano, habitacional e familiar, ou seja, tudo.

Oportunidade de reinvenção

Saiu no jornal O Globo que após 20 anos de indefinição e inoperância a prefeitura encontrou uma solução que representa uma nova concepção na gestão de resíduos do município priorizando a sustentabilidade. Em Seropédica foi inaugurada uma central de resíduos, local com tecnologia de ponta. É uma coisa a ser comemorada, mas que fica comprometida pelo entusiasmo do articulista que multiplicou por três a quantidade de energia gerada, não explicou que inicialmente das 9 milhões de toneladas apenas um milhão irá para o local, que aliás não tem capacidade para todo o lixo diário, multiplicou por mil os empregos diretos criados, além de omitir a controvérsia criada em Seropédica ao receber tal “empreendimento”. Com estes predicados fica temeroso comemorar o fato, porque é de difícil acompanhamento, quem é que vai fiscalizar e principalmente o retrospecto é triste, vide a despoluição da Baía de Guanabara, as estações de tratamento de esgoto que ficam prontas e apresentam problemas estruturais imediatamente, deixando de funcionar e o principal: alguém tem notícia de que um caminhão carregado com o produto final destas estações que foi retirado ou aproveitado de alguma forma?

A realidade da cidade é o interceptor oceânico que é um erro crasso, que se cometia há 40 anos, o que hoje não se justifica e que segundo estudos emporcalhará em breve as praias da Zona Sul. Em todo o mundo onde o lixo é reaproveitado isso aconteceu com o auxílio da população, que foi educada e age ativamente. Na Dinamarca, um lixeiro ganha em média R$ 8.000,00 por mês e todo o lixo é reaproveitado de todas as formas, gerando o caixa para o pagamento do salário dos funcionários. Barcelona desde as olimpíadas caminha para não haver recolhimento, caminhão de lixo e que tais por que está sendo implantada uma rede subterrânea que permite este automatismo, que custa caro, mas é bancado pelo retorno do aproveitamento total dos resíduos. O rio Tâmisa se encontra despoluído, com salmões vindos do mar para desovar nas nascentes e Londres querem projetar uma imagem de sofisticação ambiental, aproveitando que no próximo ano receberá a Olimpíada. A cidade lançou com sucesso o pedágio urbano e ônibus verdes para diminuir a emissão de CO² e estimula seus moradores a plantar hortas em todos os lugares possíveis, especialmente sobre prédios e casas. A ideia é fazer que a cidade produza o que consome ao mesmo tempo em que espalha áreas verdes por todos os lados, sem falar dos famosos jardins ingleses já existentes.

E o Rio, que vai começar sediando a Eco 92 + 20 e que tem uma natureza privilegiadíssima? O que irá apresentar? Esta é uma chance única de virar a vanguarda mundial apresentando uma mudança voltada para dotar o Rio de uma qualidade de vida impar com o detalhe de incorporar todos os avanços tecnológicos disponíveis e unir a população. E então vamos nos unir para aproveitar esta oportunidade de reinvenção excepcional, ou vamos dar um “jeitinho”?

Soluções claras e factíveis

Alguém sabe por que aquela pedra no início da praia de Ipanema atende pelo sugestivo nome de Pedra do Arpoador? Não é à toa que o Rio apresenta vários sítios pré-históricos denominados na língua tupi de Sambaquis, que nos provam a existência de comunidades de caçadores e coletores, os quais consumiam os moluscos, para depois amontoar suas cascas para morar sobre elas, já que constituíam um lugar alto e seco. São os vestígios da civilização que ocupava a orla carioca, que sempre foi um paraíso gastronômico. Pois bem, existe uma história que dessa pedra o colonizador arpoava baleias que perambulavam pela baía na maior malemolência, sendo que, até hoje, no verão, lá existem cardumes de peixes mínimos, que se alimentam da mesma forma que as baleias, que migram nesta temporada para confirmar a suposição.

Imagine tudo isto na mão dos operadores e agentes de viagens, todos vendendo milhares de opções, o envolvimento que geraria dentro da sociedade porque podemos explorar o Rio por terra, mar e ar, com atrações de manhã, à tarde, à noite e de madrugada, atendendo os mais diversos perfis. A geração de empregos e renda será absurda, explodindo a permanência e o gasto médio, atraindo um turista definido como de qualidade e que tem gasto médio mundial de US$ 300,00/dia. Ou seja, aumento de arrecadação na casa de bilhões de dólares e necessidade total de um plano diretor que comporte o crescimento do setor que se dará em todas as direções. Aliado a um turismo de negócios forte, o Rio se tornará a vanguarda mundial em menos de cinco anos, se eternizando com qualidade de vida.

O Brasil vinha apresentando seu ritmo de crescimento normal quando foi atropelado pelo boom do pré-sal e das obras públicas para a Copa e as Olimpíadas. Fala-se em investimentos de mais de 800 bilhões de reais nos próximos cinco anos. Como estes acontecimentos produzem efeitos em curto espaço de tempo (a Copa dura um mês e uma Olimpíada duas semanas), todos nós devemos abrir os olhos para o que irá acontecer nos pós-eventos, quando as obras minguarem e as contas chegarem. Os cenários foram trágicos onde o turismo não foi aproveitado como instrumento de transformação. E aqui, o que acontecerá?

Para se ter uma ideia clara, hoje 2.916 milhões de trabalhadores estão empregados no país na construção civil, com alta de 9,7% em 12 meses, segundo o SindusCon-SP, com carteira assinada, fora a informalidade. Este número irá crescer ainda mais em função de 2014, mas e depois, quando estas obras acabarem?

Criticar é fácil, o importante é apresentar soluções claras e que sejam factíveis, que mostrem um futuro digno onde a sociedade se encaixe e em função disso participe ativamente dotando o Rio de uma qualidade de vida, que, bem administrada pela participação de toda a sociedade, se eternizará.