Thursday, 31 de October de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

Kirchner quer donos de jornais presos

O governo da presidente argentina Cristina Kirchner apresentará denúncia nos tribunais de La Plata (capital da província de Buenos Aires) contra os jornais Clarín e La Nación, acusados pela Casa Rosada de cumplicidade no sequestro e em torturas sofridas por membros da família Graiver que, em novembro de 1976, venderam a empresa Papel Prensa aos diários.

Segundo o jornal Perfil, a denúncia inclui o pedido de ‘imediata detenção’ de Hernestina Herrera de Noble, dona do grupo Clarín; Héctor Magnetto, principal acionista do grupo; e Bartolomé Mitre, diretor do La Nación.

O objetivo do ex-presidente Néstor Kirchner é que os donos dos jornais sejam condenados pela suposta compra irregular da Papel Prensa, empresa que atualmente abastece 75% do mercado de papel.

O governo Kirchner sustenta que os proprietários dos diários foram cúmplices da perseguição à família Graiver, uma versão que é respaldada por Lidia Papaleo de Graiver, viúva de David Graiver, herdeiro da Papel Prensa, que faleceu num misterioso acidente de avião em 1976.

Segundo o Perfil, os donos do Clarín e do La Nación também serão denunciados por participação no sequestro e assassinato de Jorge Rubinstein, advogado de Graiver.

Neste caso, informou o jornal, o governo acusará os empresários de homicídio.

Meses depois de vender a Papel Prensa, após a morte de seu marido, Lídia e outros membros da família Graiver foram sequestrados e levados para centros clandestinos de tortura da última ditadura militar (1976-1983). A viúva de Graiver (que, segundo versões extra-oficiais, teria negociado um milionário acordo com a Casa Rosada) disse ter sofrido ameaças por parte dos jornais que adquiriram a Papel Prensa, para obrigá-la a vender a empresa. Já Isidoro Graiver, irmão de David e encarregado de selar a operação com o Clarín e o La Nación, afirmou ter vendido a companhia em condições ‘normais e favoráveis’ para a família.

O governo faz questão de ignorar o vínculo entre a família Graiver E os Montoneros (braço armado da esquerda peronista). Segundo confirmaram ex-colaboradores da família, David Graiver, que era dono de várias empresas e bancos no país, administrou milhões de dólares que os Montoneros obtiveram sequestrando empresários argentinos durante a ditadura militar. Para os jornais acusados pelo governo, o relacionamento entre Graiver e os Motoneros explica, em grande medida, a perseguição à família por parte dos militares.

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Correspondente de O Globo em Buenos Aires