As revelações da última leva de documentos divulgada pelo site WikiLeaks não param de render assunto. O vazamento de mensagens de embaixadas e consulados dos EUA provocou saias justas com a publicação de opiniões nada elogiosas sobre diversos líderes mundiais – além de apontar indícios da paranóia do governo americano, que não poupou nem as Nações Unidas de suas investigações.
Uma das revelações feitas pelos documentos – são mais de 250 mil deles – é a de que o Catar usaria a rede de TV al-Jazira em negociações com outros países, oferecendo adaptações em sua cobertura jornalística e interrupções de transmissões críticas para agradar a líderes estrangeiros.
Uma mensagem escrita em novembro de 2009 diz que a emissora poderia, nos próximos três anos, ser usada como ‘ferramenta de barganha para reparar relações com outros países, especialmente aqueles prejudicados pelas transmissões da al-Jazira, incluindo os EUA’. A mensagem contradiz as alegações da rede de TV de que é editorialmente independente, apesar de ser em grande parte subsidiada pelo governo do Catar.
A al-Jazira, com sede em Doha, foi lançada em 1996 e desde então se tornou o canal por satélite mais assistido no Oriente Médio. Por diversas vezes, ela foi acusada de parcialidade e de ser porta-voz de terroristas como Osama bin Laden, que tinha lá seus vídeos com mensagens para os EUA divulgados. Com o tempo, a rede foi ganhando notoriedade e, em 2006, lançou seu canal em língua inglesa, o al-Jazira English.
Opinião pública
Para os diplomatas americanos, entretanto, o controle do governo do Catar sobre a al-Jazira é óbvio. Em fevereiro deste ano, a embaixada americana reportou a Washington como as relações entre o Catar e a Arábia Saudita estavam melhorando ‘depois que o Catar baixou o tom crítico sobre a família real saudita na al-Jazira’. Em outro relatório, o embaixador Joseph LeBaron diz que ‘a habilidade da al-Jazira de influenciar a opinião pública em toda a região’ é uma ‘significativa fonte de poder para o Catar’. LeBaron reconhece que a cobertura sobre o Oriente Médio é ‘relativamente livre e aberta’, mas ressalta que, apesar de dizer o contrário, a al-Jazira ‘continua a ser uma das ferramentas políticas e diplomáticas mais importantes do Catar’.
A al-Jazira refutou as acusações de parcialidade. Segundo um porta-voz da rede, trata-se de ‘uma avaliação da embaixada dos EUA, e está muito longe da verdade’. Ele afirmou ainda que, apesar da pressão sofrida por governos regionais e internacionais, a al-Jazira ‘nunca mudou suas políticas editoriais, que continuam a ser guiadas pelos princípios de uma imprensa livre’. Informações de Robert Booth [The Guardian, 6/12/10].