Tuesday, 30 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Mercado de jornais em alta atrai interesse estrangeiro

Um dos IPOs – primeira oferta de ações de uma empresa, ou seja, quando ela abre seu capital e passa a vender ações na bolsa de valores – mais altos na Índia este ano foi de uma empresa do mercado editorial. Ações da HT Media – que publica Hindustan, o maior jornal em língua hindi, o Hindustan Times, em língua inglesa, e duas revistas – atingiram US$ 990 milhões na bolsa de valores de Mumbai no dia 1/9. O valor marca o clímax de um ano extraordinário para a indústria de jornais indiana, como informa a Time [26/9/05].

O novo negócio da Índia permanece ainda fechado a estrangeiros. Em junho, o governo retirou uma das barreiras quando permitiu que jornais de outros países, como o International Herald Tribune, fossem publicados pela primeira vez no país. A concessão veio com uma armadilha: as empresas estrangeiras só podem vender edições internacionais, sem conteúdo ou publicidade locais, pois isto poderia ameaçar as publicações nacionais. As mídias estrangeiras também não podem ser donas de empresas nacionais: há um limite de 26% de propriedade de jornais e canais de TV.

Recentemente, houve mudanças neste quadro, mas elas não são suficientes para permitir uma maior participação da mídia estrangeira. No ano passado, por exemplo, o Wall Street Journal anunciou com estardalhaço que iria lançar uma edição indiana com um parceiro local. A publicação ainda não foi para as bancas. ‘Nós certamente queremos publicar na Índia, mas só se nosso produto puder atrair leitores indianos e for economicamente viável’, disse Suman Dubey, representante na Índia da Dow Jones & Co., que publica o Journal.

As vendas e a publicidade de grande parte dos jornais indianos estão crescendo. Há mais de 50 mil jornais no país de mais de um bilhão de habitantes. As informações sobre tiragens são geralmente controversas e difíceis de ser verificadas, mas uma pesquisa realizada recentemente sugere que o número de indianos que lêem um jornal diariamente cresceu 14% nos últimos três anos, chegando a 176 milhões.

Não é difícil ver as razões para este boom: o índice de alfabetização está ainda em expansão na Índia e subiu 21% nos últimos três anos. ‘A Índia tem menos regulamentações que a China e é mais fácil fazer dinheiro lá’, afirma Vivek Couto, diretor-executivo do Media Partners Asia, uma empresa de consultoria sediada em Hong Kong. Isto é um pouco difícil de acreditar, considerando que os jornais são vendidos nas bancas de Nova Déli por menos de US$0,06. Mas o lucro com publicidade mais do que compensa. Os jornais ficaram com 46% dos US$ 2.6 bilhões gastos com publicidade em toda a mídia indiana no ano passado.

Novidades e competição

Devido à combinação de tiragem e publicidade crescentes, os barões dos jornais da Índia iniciaram recentemente a maior guerra de jornais da história do país. Até pouco tempo atrás, a maioria das cidades eram dominadas por um grande jornal de língua inglesa – Mumbai, por exemplo, é território do Times of India. Diversas famílias controlam os maiores jornais do país e um acordo de cavalheiros deixava cada um no seu território. Agora isto não acontece mais em Mumbai, desde que um novo jornal em inglês chamado DNA (Daily News and Analysis) foi lançado na cidade e se prepara para superar as vendas do Times of India. Ao mesmo tempo, o Times lançou um novo tablóide, o Mumbai Mirror. O Hindustan Times, líder em Nova Déli, também entrou na batalha da cidade. Em Madras, o clima de batalha não é diferente. O Deccan Chronicle está concorrendo agressivamente com o The Hindu, o mais respeitado jornal em inglês indiano.

Os novos lançamentos deveriam oferecer uma chance a investidores estrangeiros para entrar no mercado, pois os jornais do país precisam de capital para pagar pelas caras campanhas de marketing ao penetrarem em novas cidades. Até agora, apenas alguns acordos foram planejados. O britânico Financial Times comprou ações do Business Standard, jornal indiano de negócios, que publica diariamente uma página sobre negócios internacionais do jornal britânico. A empresa britânica Henderson Global Investments investiu na HT Media.

Tarig Ansari, diretor do Mid Day Multimedia, que publica o jornal mais popular de Mumbai, Mid Day, acredita que não há mais parcerias porque a maioria dos investidores estrangeiros quer que o limite para compra de ações de empresas indianas seja elevado para 49%. Muitos acreditam que o limite de 26% seja devido às pressões dos barões da mídia indianos que querem evitar competição no mercado de jornais.