Tuesday, 30 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Nelson Ascher escreve
sobre a “nova direita”


Leia abaixo os textos desta segunda-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 20 de fevereiro de 2006


NOVA DIREITA
Nelson Ascher


O jeans da intelectualidade


‘Categorias como ‘esquerda’ e ‘direita’ seriam usadas num mundo ideal somente enquanto ajudassem a identificar e distinguir maneiras concretas de pensar e agir. Em nosso universo imperfeito, porém, elas desempenham outras funções, como a terapêutica ou tranqüilizante (há pessoas que se sentiriam órfãs sem a garantia de que estão do lado ‘certo’) e a de lançar anátemas (elas precisam caracterizar facilmente quem se encontra do lado ‘errado’).


Vale dizer: ambos os termos têm menos a ver com sua acepção tradicional do que com a necessidade de simplificar um quadro complexo, tornando-o digerível para gente que tem mais o que fazer do que raciocinar por conta própria. Se, antes, lançar mão deles sinalizava o começo do debate, evocá-los corresponde agora a seu encerramento. Tendo em vista que a maioria dos ‘direitistas’ foi assim rotulada pelos que se consideram esquerdistas (pois a direita passou a ser toda a não-esquerda), a compreensão do binômio pressupõe entender como estes se definem.


Surge aqui um labirinto de espelhos no qual não é difícil se perder porque, cada vez mais, a esquerda se atribui, em qualquer situação, um papel de oposição perpétua e se define menos por aquilo a que aspira do que pelo que declara combater. Caso se pergunte a um partidário dela quais são suas causas, ele arrolará expressões prefixadas pelo ‘anti’: antiamericanismo, antiimperialismo, anti-sionismo, anti-racismo, anticapitalismo etc. Em resumo, malgrado a esquerda atual prescindir de uma teologia e mesmo de uma teleologia, seu âmago se compõe de uma demonologia. E o vínculo mais importante que mantém com a antecessora clássica consiste na divisão da espécie inteira em dois campos: o do bem e o do mal, o dos mocinhos e o dos bandidos. Militantes raivosos, aliás, a converteram numa autêntica máquina de fabricar inimigos.


A esquerda clássica ainda ambicionava um mínimo de coerência, algo de que seus herdeiros não podem ser acusados, e muitas opiniões destes (a respeito de ciência e tecnologia, progresso material, paz e guerra, questões étnicas e religiosas) seriam classificadas como reacionárias duas ou três gerações atrás. Ser de esquerda se reduz hoje em dia a participar de uma massa amorfa que recorre a um amálgama mutável de opiniões desconexas para erguer um Muro de Berlim metafórico que se interponha entre ‘nós’ e ‘eles’.


Trata-se, portanto, não de adotar um programa político, enunciar metas desejáveis ou aplicar um método cognitivo à realidade, mas, sim, de ingressar numa ‘tribo’, seguir uma moda, sentir-se bem, não ficar sozinho. Seus membros ou simpatizantes, desejando participar de um grupo que lhes parece interessante, adotam as opiniões correntes de seus integrantes. O que distingue a esquerda de agremiações semelhantes (um partido político normal, uma torcida organizada, uma escola de samba, os punks, os GLS) é a crença arraigada de que ela e o resto (em última instância homogêneo) do planeta estão envolvidos num conflito nebuloso, mas nem por isso menos cósmico e apocalíptico. Incidentalmente, quanto havia de futurista, de ficção científica, na utopia da esquerda deu lugar, desde a contracultura dos anos 60, à nostalgia confusa e romântica de uma Idade de Ouro perdida.


Ao fim e ao cabo, contudo, se, para minorias empenhadas e organizadas, o esquerdismo serve de atalho rumo ao poder não democrático, ele, para o grosso dos seguidores e ‘companheiros de viagem’, desempenha sobretudo a função daquilo que Elias Canetti batizou de ‘cristais de massa’, permitindo a coalescência de agrupamentos que se autodefinem por tais ou quais afinidades, estilos de vida, comportamentos, preconceitos. Acatar-lhe os rótulos denota uma vontade de pertencer a seu círculo mágico de eleitos ou, se nada, equivale a levá-los demasiado a sério.


Em determinadas rodas sociais, faixas etárias e profissões, pertencer à esquerda (o que se traduz em papagaiar, sem discordância, as opiniões grupais) é obrigatório. Quase todos os professores universitários e seus alunos, jornalistas, atores de cinema e TV, diretores hollywoodianos, roqueiros que cantem em qualquer língua, astros pop em geral, nove entre dez poetas, dramaturgos, romancistas, roteiristas e assim por diante chegaram (ou aderiram) a consensos indiscutíveis sobre temas variados como a Guerra do Iraque, o aquecimento global, a educação das crianças, a justiça penal e a social, sobre quem é vilão e quem é herói no país e no mundo, sobre o consumo, a economia de mercado, a indústria farmacêutica…


Tal consenso é, no seio da intelectualidade ocidental, tão amplo geral e irrestrito que pode decorrer apenas de uma entre duas causas: ou Deus interveio pessoalmente e iluminou esse pessoal com sua verdade, ou estamos perante uma moda que, de tão enraizada e difundida, tornou-se uma segunda natureza, um reflexo incondicional. Não se sabe quão profundamente esta ‘pegou’ ou ‘pegará’ no restante (99%) não-intelectual da humanidade. Entre os membros das categorias acima, todavia, esse conjunto bastante improvável de opiniões recebidas é hegemônico.


Quando não estamos dispostos a escolher roupas nem queremos ter de tomar decisões similares, o que é que pegamos no armário? Qual traje liberta melhor seu usuário das dúvidas e dilemas, exime-o da obrigação de optar e, ao mesmo tempo, lhe dá a sensação de naturalidade informal, descontraída? A resposta é: uma calça velha, azul e desbotada. Se a religião foi outrora apelidada de ‘o ópio do povo’, o esquerdismo se transformou hoje em dia no jeans da intelectualidade.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Pop pop pop


‘Nestes dias em que até a blogosfera brasiliense, de Josias de Souza a Ricardo Noblat, se volta para os megashows de música pop, em ‘live blogging’ e tudo mais, ‘Lula fala sobre biodiesel com Bono’.


Era o curioso enunciado da Folha Online, em submanchete. Na manchete de Globo Online e outros sites, ‘Bono e Lula discutem desigualdade’.


Em campanha aberta, o petista não poderia pedir mais. São bandeiras suas, energia e Fome Zero. Mas ele ganhou mais de Bono, que parou na entrada da Granja do Torto e saiu dizendo, segundo a Folha Online:


– É um sonho estar aqui, porque Lula luta não só contra a pobreza [no Brasil], mas também contra a pobreza no mundo.


Globo, ainda que sem maior destaque no ‘Fantástico’, e canais de notícias também acompanharam a ‘photo-op’. A Globo News registrou:


– Segundo a Presidência da República, foi o líder da banda U2 quem pediu o encontro.


Em sites do ‘New York Times’ ao argentino ‘La Nación’, os despachos noticiavam, com destaque variado, o encontro do ‘cantor e ativista social Bono’ com o presidente e Gilberto Gil, ‘famoso como popstar antes de entrar para o governo’.


A britânica Reuters sublinhou que um dos fãs que esperavam o irlandês Bono Vox, na Granja do Torto, carregava um cartaz que dizia ‘Bono para presidente das Nações Unidas’.


Primeiro os fundadores do Google, agora Bono. Sem falar de George W. Bush no discurso sobre ‘o estado da união’ e tudo o que viu em seguida.


Com o biocombustível dado como panacéia, o ministro Luiz Furlan aproveitou e, num dossiê da BBC Brasil, anunciou que o ‘Brasil quer entrar no mercado americano de etanol’.


Disse que o secretário de Comércio dos EUA, no Fórum de Davos em que Bono foi estrela, ‘perguntou se o Brasil teria condição de abastecer eventual aumento de demanda dos EUA’. Ele prometeu que ‘sim’.


E tome ‘amor’ pela energia do Brasil, agora a Petrobras. Do ‘Financial Times’, ontem:


– Wall Street ama a Petrobras -a estatal de petróleo que registrou lucros recordes na sexta. Em dólar, os lucros da Petrobras foram não só 40% maiores que em 2004, mas os mais altos já registrados por uma corporação latino-americana.


Não vai faltar dinheiro para o gasoduto sul-americano, avalia o jornal financeiro.


A MELHOR FESTA DO MUNDO


Até Larry Rohter, do ‘New York Times’, foi à ‘melhor festa do mundo’, como descreveu Mick Jagger em português, falando ao público no Rio. Foi ‘a melhor’, não necessariamente a maior, na controvérsia que correu mundo. Para Cid Moreira, no ‘Fantástico’, foi ‘o maior concerto da história’. Para Glória Maria, ‘o maior público já registrado num show de rock’.


Mas o britânico ‘Sunday Telegraph’ se perguntou, no título, ‘O maior bang?’. Os números foram variados, de ‘mais de 1 milhão’ na Globo a 1,5 milhão no ‘NYT’ e até 2 milhões no ‘Observer’, de Londres. Como sublinhou Rohter, ‘o show foi anunciado como o maior show pop da história’, mas ‘o Guinness dá o posto para outro aqui, com Rod Stewart, que teria atraído 3,5 milhões’. E talvez nem exista espaço para tanta gente.


O ‘Sunday Times’ contornou o problema falando em ‘maior festa de praia do mundo’. Jagger foi mais simples, ‘a melhor festa do mundo’.


A blogosfera andou pelo Rio -e não apenas no camarote com a revoada de políticos e jornalistas de Brasília. Sites como StonesLand, blogs como Philipinas e muitas imagens de câmeras de trânsito deram o tom. Sem falar das fotos no Flickr e da transmissão na AOL.


Tiago Dória, no iG, e outros blogueiros se revoltaram com a transmissão atrasada da Globo.


Lá e cá


De um lado, a Anistia Internacional trazia, em seus sites, texto intitulado ‘A decisão do Carandiru: choque para a comunidade de direitos humanos’.


De outro, o britânico ‘Independent on Sunday’, em sua manchete, anunciava as ‘acusações contra a polícia no tiroteio do metrô’, vale dizer, na morte do brasileiro Jean Charles. Serão só por ‘obstrução de justiça’. Nada do assassinato.


Risco Brasil


Enquanto tucanos se debatem e Lula se reúne com Bono, surge uma sombra -ao menos para os investidores estrangeiros, em debate nos EUA.


No título da Associated Press, ‘Investidores deviam focar mais as eleições brasileiras’. Não por Lula, mas pelo ‘esquerdista’ Anthony Garotinho, que talvez nem tenha chance de se eleger, mas ‘pode mudar o equilíbrio no nível parlamentar’.’


GUERRA DAS CHARGES
Folha de S. Paulo


Ira contra charges desafia veto no Paquistão


‘O governo paquistanês proibiu a realização de um protesto marcado para ontem na capital, Islamabad, mas mesmo assim houve confronto entre manifestantes e policiais. A reunião havia sido marcada para protestar contra as charges com representações do profeta Muhammad publicadas originalmente pelo jornal dinamarquês ‘Jyllands-Posten’ e republicadas por todo o mundo.


A manifestação foi convocada pela coalizão de partidos linha-dura Mutahida Majlis-e-Amal. Na maior cidade do país, Karachi, cerca de 15 mil pessoas atenderam à convocação e marcharam pacificamente.


Temendo que se repetisse a violência que na semana passada matou pelo menos 45 pessoas no mundo, as autoridades paquistanesas realizaram prisões em Islamabad anteontem para desmantelar a organização do protesto.


Segundo Aftab Khan Sherpao, ministro do Interior, entre 100 e 150 pessoas foram presas. Cerca de 300 pessoas, incluindo parlamentares envolvidos com os protestos, tiveram suas casas visitadas pelos policiais -algumas ficaram confinadas sob vigilância.


As forças de segurança fizeram rondas em carros blindados e fecharam ruas. Mesmo com a proibição, cerca de mil pessoas conseguiram se reunir na cidade.


O parlamentar oposicionista Maulana Fazlur Rahman discursou denunciando a proibição como inconstitucional e gritando palavras de ordem contra os EUA.


As cercanias do bairro onde se concentram as embaixadas de Islamabad tiveram o conflito mais intenso. Manifestantes atiraram pedras e a polícia respondeu a tiros -o que o governo nega- e gás lacrimogêneo.


Na cidade sulista de Sukkur, uma igreja cristã foi queimada por centenas de pessoas -no caso, alega-se que o motivo não foram as charges, mas o fato de um cristão local haver supostamente queimado páginas do Alcorão, o que representa a escalada da tensão religiosa na região.


Em outros países também houve protestos, como na Turquia, onde milhares de pessoas reuniram-se em Istambul. Na Indonésia, cerca de 400 pessoas tentaram atacar a Embaixada dos EUA em Jacarta, mas foram dispersadas.


Desculpas dinamarquesas


O ‘Jyllands-Posten’ fez publicar anúncios de página inteira em jornais sauditas pedindo desculpas pela publicação das charges. A mensagem, assinada pelo editor do diário, declara ‘condenação de qualquer atitude que ataque especificamente religiões, grupos étnicos ou povos’.


Algumas das publicações circulam também fora da Arábia Saudita, país onde é proibida a prática de religiões que não o islamismo.


Anteontem, o rei saudita pediu respeito mútuo entre as religiões durante um discurso na capital. Segundo a imprensa oficial local, Abdullah pediu ‘que o próximo estágio nas relações entre os países seja de diálogo real em que cada lado respeita o outro, suas santidades, credos e identidade’.


Com agências internacionais’


BORIS vs. RECORD
Daniel Castro


Boris Casoy vai à Justiça contra a Record


‘Azedaram as negociações entre o jornalista Boris Casoy e a Record por um acordo sobre o valor da multa da rescisão contratual realizada pela emissora.


Depois de quase um mês de conversas, ambas as partes não chegaram a um consenso sobre o valor da multa. Na semana passada, Casoy encerrou as negociações e agora vai entrar na Justiça com ação contra a Record.


Renovado em 2002, o contrato de Casoy com a Record iria até 30 de novembro deste ano. No dia 30 de dezembro, a Record rompeu o contrato, afastando Casoy do ‘Jornal da Record’, que passou, em janeiro, a ser quase uma cópia do ‘Jornal Nacional’, da Globo.


O impasse foi criado porque a Record quer pagar apenas cerca de 60% dos salários dos 11 meses que restavam a cumprir de contrato (de janeiro a novembro).


Casoy, no entanto, quer receber o que está estipulado em seu contrato. O documento determina que, em caso de não cumprimento, a parte infratora tem que pagar multa integral, que é a totalidade do contrato. Ou seja, do ponto de vista do jornalista, a Record terá que lhe pagar 48 meses de salários. É isso o que o advogado de Casoy deve pedir na Justiça.


A Record afirma que não houve rescisão unilateral de contrato, mas uma rescisão amigável. A emissora diz ainda que estranha a iniciativa de Casoy de ir à Justiça porque, até agora, só ocorreram duas reuniões com seu advogado.


OUTRO CANAL


Reviravolta 1 Nos próximos capítulos de ‘Belíssima’, Júlia (Glória Pires) irá descobrir que se enganou ao dizer à Polícia Civil que passou a noite em um motel com André (Marcello Antony) no dia em que Valdete (Leona Cavalli) foi morta. Essa mentira tirou André da cadeia no início da novela.


Reviravolta 2 Júlia faz a descoberta ao rever sua agenda. Compreende então que foi enganada por André e conclui que ele pode ser o assassino de Valdete e também de Bia Falcão (Fernanda Montenegro). E vai à polícia refazer seu depoimento.


Dúvida O autor Manoel Carlos convidou o ator e diretor Marcos Paulo para assumir um papel em sua próxima novela, ‘Páginas da Vida’, substituta de ‘Belíssima’. O problema é que Marcos Paulo está escalado para dirigir a novela das sete que entrará no ar no final do ano. A cúpula da Globo terá que decidir o que ele fará.


Geografia 1 A produção de arte de ‘JK’ tomou o cuidado de eliminar Tocantins do mapa do Brasil que traz o plano de metas de Juscelino Kubtschek, no gabinete do presidente. Mas deixou escapar Mato Grosso do Sul, Estado que só seria criado 20 anos depois.


Geografia 2 O erro já foi corrigido, mas o novo mapa só deve aparecer nos próximos capítulos da minissérie. Na última sexta-feira, chamadas de ‘JK’ escancaravam a falha histórica.’


TELEVISÃO
Felicia R. Lee


‘Reality show’ encara diferenças raciais


‘DO ‘NEW YORK TIMES’ – Brian Sparks, um negro pintado de branco, pela primeira vez em sua vida viu um vendedor realmente calçar um sapato em seu pé. Bruno Marcotulli, um branco disfarçado de negro, declarou que o Bruno branco e o Bruno negro foram tratados de maneira geralmente igual.


Se a raça é o terceiro elemento da cultura, como acredita John Landgraf, presidente do canal a cabo FX, então o novo seriado de sua rede, ‘Black. White.’, é TV-realidade de alta voltagem.


Documentário em seis partes que estréia em 8/3 nos EUA (no Brasil não há previsão), ‘Black. White.’ acompanha a aventura de duas famílias que trocam de raça. A família branca Wurgel-Marcotulli, de Santa Monica, Califórnia, e a família negra dos Sparks, de Atlanta, se submeteram a uma transformação racial realizada com tintura em spray, perucas, lentes de contato e outros truques de maquiagem. Os brancos aparecem como negros, e os negros, como brancos.


Os produtores dizem que ‘Black. White.’ marca o início de uma mudança dramática na televisão. Sem se identificar, Brian Sparks trabalha como barman e Rose Bloomfield (filha de Carmen Wurgel) entra para um grupo de poesia negra. Na maior parte do tempo as duas famílias tentam sentir como é a vida quando se tem cor de pele diferente, enquanto fazem compras, freqüentam a igreja ou procuram ajuda mecânica para um carro quebrado. Durante seis semanas elas dividiram uma mesma casa, discutindo o significado da experiência.


Distorções


O primeiro episódio termina com Brian Sparks e Bruno Marcotulli sentados numa van, cada um se recusando a olhar o outro nos olhos. Falando do racismo, que Sparks diz que, após uma vida inteira como negro, é capaz de discernir com facilidade, Marcotulli afirma: ‘A julgar por sua reação hoje, você fica procurando provas dele. Você enxerga o que quer enxergar’.


Sparks, que tem 41 anos e é especialista em informática, responde sem pestanejar: ‘E você não enxerga o que não quer enxergar’.


‘Alguém vai se ofender, com certeza’, respondeu John Landgraf quando indagado sobre as reações que prevê a ‘Black. White.’. ‘É isso o que o público espera de nossa rede: que assuma riscos’, disse ele. ‘Hoje em dia há bem menos preconceito declarado nos EUA’, disse Landgraf, explicando que, por isso, quis encontrar uma maneira de avaliar o lado mais sutil do conflito racial. ‘O que se constata é que ainda existem idéias equivocadas sobre as diferentes histórias e experiências de vida de negros e brancos.’


Os três produtores executivos do programa -o documentarista R.J. Cutler, o ator e rapper Ice Cube e Matt Alvarez, sócio de Cube na empresa CubeVision Productions- disseram que apenas procuraram captar a realidade. As famílias afirmaram não receber quaisquer instruções. Nos ambientes públicos, as câmeras ou ficavam escondidas ou estavam presentes sob o pretexto de que estaria sendo feito um documentário sobre uma família. Cutler disse que a raça ‘é a questão definidora central na sociedade americana, na história americana, no rumo que estamos seguindo hoje e no lugar que ocupamos hoje. E é algo que não costuma ser comentado’.


Ice Cube disse que o programa dará às pessoas razões para falarem de raça no dia seguinte, em seus trabalhos. ‘E nossa esperança é que, ao discutirem o programa, elas aprendam mais umas sobre as outras e, quem sabe, aprendam a encarar alguns dos problemas envolvidos’, disse o rapper.


Aprendizado incompleto


Todos os participantes disseram que enxergaram ‘Black. White.’ como maneira de mostrar como as ofensas emocionais provocadas pelas interações raciais cotidianas podem agravar questões maiores, tais como a discriminação no âmbito do trabalho ou da habitação. Os adultos, em especial, disseram ter saído do programa sentindo-se incompreendidos pelo outro casal e frustrados por sua incapacidade de ‘vestir a pele’ do outro.


Em entrevista telefônica recente, Bruno Marcotulli comentou: ‘Eles realmente queriam que eu saísse do programa dizendo ‘Uau, agora eu entendo’, ou ‘Meu coração se abriu’. Ele disse que tem compaixão e que sabe que o racismo existe. ‘Mas, sabe de uma coisa? A vida é dura para milhões e milhões de pessoas. E não posso dizer simplesmente ‘sim, a vida é super dura para os afro-americanos. Eles merecem reparação. Devemos fazer tudo o que podemos’. Não posso.’


Enquanto isso, Renee e Brian Sparks disseram achar que Marcotulli desprezou o racismo sutil que encontrou da parte de brancos e ficou esperando para ouvir um verdadeiro xingamento racista, algo que os Sparks lhe disseram várias vezes que dificilmente iria acontecer. Os negros, disseram os Sparks, estão acostumados a ser minoria e a fazer pequenas concessões para passarem despercebidos entre os brancos, como, por exemplo, mudar seu modo de falar.


Os dois adolescentes não se enfrentaram verbalmente da mesma maneira que os adultos. Rose Bloomfield contestou a idéia de que a raça seja uma questão menos complicada para sua geração, mas Nick Sparks não concorda com a idéia de que existam brechas culturais muito grandes entre as raças. ‘Nossa geração não vê raça’, disse.


‘Este programa acabou sendo uma crítica do conceito de ser cego às diferenças de cor, tanto quanto qualquer outra coisa’, segundo avaliação de Cutler. ‘Isso ainda é cegueira. E a cegueira é perigosa.’


Tradução Clara Allain’


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O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 20 de fevereiro de 2006


GUERRA DAS CHARGES
Henry I. Sobel


Respeito pelos muçulmanos


‘Com crescente preocupação estamos testemunhando a escalada de tensão provocada pela publicação, em alguns jornais europeus, de charges do profeta Maomé consideradas profundamente ofensivas pelos muçulmanos.


Qualquer pessoa minimamente culta sabe que a lei islâmica proíbe retratar Maomé. É claro que, em não sendo muçulmanos, os dirigentes dos jornais europeus em questão não têm a obrigação de seguir as normas do Islã. Mas por que desrespeitar gratuitamente os adeptos de outro credo? Qual a mensagem que quiseram transmitir os responsáveis pelo jornal dinamarquês que publicou aquelas caricaturas de extremo mau gosto e os outros órgãos de imprensa que as reproduziram? Que todos os seguidores de Maomé são terroristas? Que o próprio Maomé era terrorista? Qual era a finalidade de tal ato? Se era para divertir os leitores, o objetivo deve ter sido alcançado. Convenhamos, porém, que se projetou uma péssima imagem do nível de leitores dos respectivos jornais.


A liberdade de expressão, princípio fundamental do sistema democrático e um direito incontestável do ser humano, tem de ser sempre resguardada. Qualquer forma de censura deve ser categoricamente condenada. Creio, porém, que a liberdade tem de ser acompanhada de responsabilidade. Quando desacompanhada de respeito ao próximo, a liberdade de expressão pode ser destrutiva. Sabemos que era perfeitamente legal a publicação daquelas charges. O que se questiona não é a legalidade; é o bom senso, o discernimento, a sensibilidade, o compromisso cívico de quem as publicou. Existem obrigatoriamente limites à liberdade de expressão. Quem nutre ódio contra determinado grupo racial, étnico ou religioso não tem o direito de divulgar livremente suas idéias preconceituosas e discriminatórias, pois tal liberdade irrestrita causa sérios danos a outras pessoas. A liberdade tem limites, sim. Ela acaba onde começam a liberdade e a dignidade do outro.


Além de politicamente incorreto, contar piada de português na presença de portugueses ou caçoar dos gays na presença de um homossexual é de uma estupidez que não tem tamanho. Foi isso que fizeram os ‘corajosos’ e ‘irredutíveis’ defensores da liberdade de expressão.


Há circunstâncias em que duas leis, dois preceitos, dois direitos entram em conflito um com o outro e somos obrigados a escolher qual dos dois prevalecerá. Neste caso, no confronto entre liberdade de expressão e respeito pela tradição alheia, a decisão deveria ter se baseado em considerações morais e políticas, ‘políticas’ no sentido de visarem ao bem-estar comum. Num mundo globalizado, no qual se multiplicam os relacionamentos entre diferentes civilizações e no qual um incidente local é capaz de repercutir internacionalmente, torna-se ainda mais vital cultivarmos a tolerância e a coexistência pacífica.


A meu ver, a decisão de publicar as charges foi mais do que inoportuna. Não é retratando Maomé com um turbante-bomba que promoveremos a harmonia entre os povos de diferentes religiões e culturas. Muito ao contrário! Os muçulmanos radicais, aqueles que apóiam abertamente o terrorismo, vestiram a carapuça e a usaram para espalhar ainda mais ódio. Os muçulmanos moderados, sentindo-se ofendidos ao serem vistos no Ocidente como terroristas, engrossaram as fileiras dos furiosos manifestantes. Da noite para o dia, os amantes da paz – em todos os campos – perderam aliados e ganharam um número incalculável de adversários.


Nada é mais feio e triste do que os frutos dos preconceitos: dominação, injustiça, discriminação, desprezo e violência. Preconceitos são venenos do espírito, fatais para a democracia, entendida como o regime baseado na liberdade e na igualdade e, portanto, no pleno cumprimento dos direitos humanos. Em razão de preconceitos, pessoas são excluídas, humilhadas e prejudicadas.


É importante ressaltar que, apesar de nossa solidariedade para com a comunidade islâmica neste infeliz episódio, não podemos deixar de condenar categoricamente o excesso de violência da reação muçulmana, inflamada por fundamentalistas que se aproveitaram da crise para fomentar seus interesses próprios. Lamentamos também o fato de que tão poucos muçulmanos protestam quando homens-bomba assassinam pessoas inocentes, ou quando a Liga Árabe-Européia coloca em seu site uma imagem de Hitler na cama com Anne Frank, ou quando o presidente do Irã declara que o Holocausto nunca existiu, declaração esta que a nós, judeus, dói mais do que qualquer charge.


No mundo de hoje, raramente a população de um país pertence toda à mesma confissão religiosa ou a uma só etnia e cultura. As migrações em massa e as movimentações da população estão criando uma sociedade culturalmente e religiosamente plurifacetada. Neste contexto, a consideração pela consciência do outro assume nova urgência e apresenta novos desafios à sociedade. O que se faz necessário é um espírito de reverência, reverência pela diversidade, reverência pelas crenças alheias. É somente esta reverência, este profundo respeito mútuo, que pode nos conduzir à paz. Se queremos deixar para nossos filhos um mundo um pouquinho melhor do que este em que vivemos, precisamos pelo menos tentar compreender o ponto de vista dos nossos semelhantes e respeitar aquilo que é sagrado para os outros.


Henry I. Sobel é presidente do Rabinato da Congregação Israelita Paulista e coordenador da Comissão Nacional de Diálogo Religioso Católico-Judaico, órgão da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)’


O Estado de S. Paulo


Charges sobre Holocausto receberão US$ 25 mil Paquistão reprime protesto


‘ISLAMABAD – A polícia paquistanesa lançou bombas de gás lacrimogêneo e disparou balas de borracha para dispersar um grande protesto em Islamabad contra as caricaturas do profeta Maomé e a Dinamarca anunciou que estava retirando temporariamente seu embaixador do Paquistão por razões de segurança.


O governo paquistanês proibiu as manifestações depois que elas se tornaram violentas e cinco pessoas morreram na semana passada. Mas a Muttahida Majlis-i-Amal (MMA), uma aliança de seis grupos islâmicos, desafiou a proibição e cerca de mil de seus seguidores se reuniram no mercado central, gritando slogans contra o governo. Quando a polícia chegou, foi atacada pelos manifestantes com paus e pedras.


Na tentativa de impedir os protestos, a polícia paquistanesa tinha invadido as casas de dezenas de líderes radicais islâmicos, colocando vários deles sob prisão domiciliar e detendo centenas de seus seguidores. Mian Maqsud, porta-voz da aliança islâmica, disse que centenas de seus líderes foram presos, apesar de o ministro do Interior, Aftab Khan Sherpao, assegurar que apenas 20 deles tinham sido detidos. Funcionários do serviço de inteligência disseram que militantes de grupos proscritos têm incitado a violência.


As 12 charges de Maomé foram originalmente publicadas em setembro no jornal dinamarquês Jillands-Posten, mas depois foram reproduzidas no mês passado por vários jornais europeus em nome da liberdade de imprensa. A lei islâmica proíbe a divulgação de imagens do profeta Maomé.


O Exército da Nigéria patrulhava ontem várias cidades do país para impedir novos protestos, como os que deixaram 16 mortos no sábado. A Nigéria, um país de 140 milhões de habitantes, é praticamente dividida entre cristãos no norte e muçulmanos no sul. REUTERS E AP’


ELEIÇÕES 2006
Wilson Tosta


Garotinho usa rede evangélica


‘Uma estrutura de comunicação fortemente enraizada no evangelismo pentecostal garante ao pré-candidato à Presidência da República pelo PMDB Anthony Garotinho uma plataforma de decolagem para as eleições de 2006 baseada num discurso conservador para os costumes, que contrasta com o programa de esquerda que defende para a economia.


Enquanto percorre o País em busca dos votos, Garotinho defende, no rádio e na TV, a união das famílias e a fidelidade no casamento e se apresenta como autor de canções religiosas. A combinação é alvo de atenção de assessores, que querem trabalhar a idéia de que Garotinho é um político evangélico, não um político dos evangélicos, rótulo que poderia isolá-lo da maioria dos eleitores.


Na televisão, Garotinho fala por pouco mais de três minutos no Falando em Família, exibido de segunda a sexta-feira às 13h na Band, no Rio, e reproduzido também na CNT e na Rede TV!, sendo assistido em vários Estados. No ar há pelo menos um ano, o programa é bancado pelo pastor Silas Malafaia, que, na Band, patrocina o horário, e nas outras emissoras o inclui em seu próprio programa, Vitória em Cristo, transmitido diariamente pela CNT, às 16h, e pela Rede TV!, aos sábados, das 9h às 10h. Garotinho não fala em campanha. Seu tom não é de político, mas de conselheiro familiar, sentimental e religioso.


‘Falando em Família é um programa para a família, não tem política’, explica o marqueteiro Carlos Rayel, que fez a campanha de Garotinho em 2002 e continua a assessorar o político. É ele que, por meio da empresa Mídia Brasil, produz o quadro. ‘Garotinho fala de matrícula na escola, filho que não estuda, casal que não está se entendendo. As pessoas mandam cartas, ele entra e fala.’


A inspiração veio das aulas que Garotinho dá na escola dominical da Igreja Presbiteriana Luz do Mundo, onde fala de assuntos como crise do casamento e até de sexo – defendendo relações somente após o casamento. ‘A sensualidade excessiva exposta nas praias, nas revistas, na televisão e nos cinemas; a pornografia disponível na internet; as relações sexuais pré-conjugais e extra-conjugais são como granadas nos alicerces do casamento’, afirma o palestrante, segundo transcrição das aulas no site www.orepelobrasil.com.br.


‘Garotinho não é candidato dos evangélicos, ele é um político que é evangélico’, insiste Rayel, que quer evitar que o peemedebista seja definido como ligado apenas ao evangelismo, o que poderia lhe dificultar o acesso aos eleitores de outras crenças. ‘Esse conceito tem que ser trabalhado. Não tem um candidato dos católicos, dos espíritas, dos umbandistas. No caso dele, todo mundo sabe: ele é um candidato que é evangélico. Os adversários tentam carimbar com isso, para isolar.’ Garotinho converteu-se em 1994, após um acidente de carro durante a campanha eleitoral para o governo estadual, no qual ficou gravemente ferido. Detalhes do episódio estão no mesmo site.


Aos sábados, o ex-governador do Rio também participa do Encontro Marcado, na Band, que Rayel garante não ser em horário comprado. ‘A Band comercializa, vende anúncios.’ Segundo ele, o programa, com cerca de dois anos de existência, é de ‘valorização do Rio’ e discute basicamente problemas administrativos. ‘No fim, ele dá uma entrevista, não em todas as edições’, afirma Rayel.


RÁDIO


Mas é nas ondas do rádio que Garotinho começa o seu dia, às 7h, geralmente no Palácio Laranjeiras, residência oficial do governo estadual, onde mora com a mulher, a governadora Rosinha Garotinho (PMDB), e a família. Ali, de um estúdio, fala ao vivo diretamente para centenas de emissoras – as estimativas variam de 180 a 400. Quando viaja, deixa o programa gravado. Palavra da Paz vai ao ar às 8h, de segunda a sexta-feira, e aos sábados das 9h às 10h.


Rádios evangélicas, como a Melodia, do pastor e ex-deputado Francisco Silva, retransmitem o sinal aberto, mandado via satélite para todo o País. Silva garante, porém, que faz bom negócio. ‘O ex-governador, radialista de profissão, é líder de audiência no horário’, diz o ex-parlamentar do PP, que vende anúncios veiculados durante o programa, o que garante o faturamento. ‘Não alugo o horário, cedo graciosamente’, afirma Silva, explicando que o programa já tem cerca de oito anos. ‘E, se precisasse pagar, pagaria. A Rádio Globo colocou o padre Marcelo e virou um fenômeno. Quem não tem padre Marcelo tem que ficar com Garotinho…’’


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No rádio e na TV, discursos sobre a família


‘Com programas diários no rádio e na TV, Anthony Garotinho ajuda seu nome a circular no País, principalmente nos círculos ligados ao pentecostalismo. Sempre em tom de aconselhamento ameno, como se fosse um guia espiritual, ele aborda diferentes temas ligados à família – aids, crianças com necessidades especiais, solidão, drogas. Não se fala nas propostas econômicas do candidato, como ampliação do Comitê de Política Monetária (Copom), baixa da taxa de juros, fim do superávit primário.


Alguns dos programas são ainda reproduzidos no site www.orepelobrasil.com.br, que, curiosamente, mescla notícias sobre o governo do Rio (comandado por sua mulher), mensagens religiosas e links diversos. Um deles é ‘Construindo o casamento’, no qual reproduz as aulas dominicais que dá com Rosinha para aconselhar casais. W.T.’


PUBLICIDADE
Carlos Franco


Novas agências estimulam disputa no mercado publicitário


‘O mercado publicitário está agitado com a abertura de novas agências, uma intensa dança de cadeiras e os desafios impostos pelos novos meios de comunicação. Nesse cenário, profissionais mudam de lugar, uns abrem o seu próprio negócio e outros reacendem disputas. São anúncios e mais anúncios nas últimas semanas, da conquista de contas a contratações, que ajudam a alimentar a fogueira de vaidades e o tititi desse mercado.


Em comum, ninguém avisa que perdeu a conta ou esse ou aquele profissional, contemporizando perdas com novos anúncios de contratações para repor as estrelas que se foram. Até a conquista de contas de responsabilidade social vale para convocar entrevistas. Essas contas de organizações não governamentais, no entanto, não representam dinheiro no caixa, pois ninguém cobra nada, nem veículos de comunicação, nem agências.


Atila Francucci, que criou o bordão ‘Experimenta’ para a cerveja Nova Schin, quando estava na agência Fischer America, acaba de abrir as portas da Famiglia, agência que criou em sociedade com Francisco Petros e Fernando Nobre. Levou a conta de Nova Schin e NS+2, que estavam no antigo endereço onde atuou como funcionário, a Fischer, de onde saiu para assumir a vice-presidência de criação da JWT.


Da JWT, Francucci deve levar uma fatia das ações da Reckitt, que ficou feliz com a estratégia que este desenhou para o seu depilador feminino Veet, apesar do alinhamento internacional da marca com a JWT. ‘Apresentamos nosso projeto para clientes que atendemos no passado, e alguns, como a Schincariol, o aprovaram no ato’, diz Francucci, feliz com as conquistas, que incluem ainda a Polenghi.


Francucci abriu a sua própria agência, a Cápsula, em 2000, e seis meses depois vendeu uma fatia para a TBWA. Em agosto de 2002, com o fim do negócio e da parceria, ingressou na Fischer, e em maio de 2004 assumiu a vice-presidência da JWT, de onde saiu no final do ano passado. Ele está feliz, enquanto a JWT busca dar destaque à chegada de Ricardo ‘Chester’ Amaral, que passa a ocupar a vaga de Francucci. Chester, outro diretor premiado da propaganda, trocou a DM9 pela JWT, enquanto Júlio Andery deixou a Almap/BBDO para a DM9DDB.


Também este ano, o ex-diretor do grupo Fischer Luiz Fernando Vazão anunciou que assumiu o comando da G-7, agência criada por Gustavo Paulus, filho do controlador da CVC, Guilherme Paulus, voltada para viagens, turismo e entretenimento. Vazão levou da Fischer para a G-7 o diretor de criação Carlos Capeletti, que dividia a criação com Jader Rossetto, que ocupa a vice-presidência de Criação da Fischer. Ambos, respeitados conquistadores de leões em Cannes, deixaram a DM9DDB para ingressar na Fischer.


O publicitário Silvio Matos é outro que anunciou este ano a criação da MatosGrey, em sociedade com o grupo WPP. Da Y&R, seu antigo endereço, levou a conta do Bradesco Cartões. Entre as campanhas que criou para o Bradesco destaca-se a estrelada por Mariana Ximenez para ofertar os cartões de crédito. Há quem aposte que a TAM, ainda em poder da Y&R e de Roberto Justus, venha a aterrissar no novo endereço de Matos. Justus disfarça a preocupação e exibe a poderosa conta das Casas Bahia, maior anunciante do País. Só que o mercado espera para breve o anúncio de Matos de uma conta de varejo, possivelmente de concorrente das Casas Bahia, para quem desenvolveu a estratégia de comunicação.


Na sexta-feira, foi a vez de um grupo de empresários anunciar que a agência Pepper, especializada em marketing de ponto-de-venda e eventos, vai atender a Electrolux. A agência criada por Luiz Lara (da Lew,Lara), Augusto Cruz Neto e Carlos Perrone, que presidiu antes a One Stop, de Eduardo Fischer, já tem a conta do Grupo Schincariol, e vai preparar as suas ações para este carnaval. Augusto Cruz Neto, de 27 anos, filho do ex-presidente do Grupo Pão de Açúcar, diz que a vantagem da Pepper é ter uma leitura integrada da propaganda tradicional com a do ponto-de-venda e os eventos.


O presidente da agência Lew, Lara, Luiz Lara, afirma que o mercado está agitado até demais: ‘A disputa está aumentando, com novas agências, novas propostas de negócios e novos comandos. Isso é bom porque mostra que o negócio está crescendo, mudando de tamanho e obrigando todos a ter mais criatividade.’


O publicitário Washington Olivetto foi um dos primeiros a protagonizar esse tipo de movimentação que voltou a ocorrer no no mercado. Em 1986, ele deixou a DPZ, depois de conquistar 21 leões do Festival Internacional de Publicidade de Cannes e angariar a simpatia de clientes. Seus antigos patrões – Roberto Duailibi, Francesc Petit e José Zaragoza – foram avisados de que ele estava criando a própria agência, a W/Brasil, mas até hoje Duailibi demonstra não ter se conformado com o episódio. Isso porque Olivetto levou junto a conta da Bombril e da Grendene.


Junto com as contas, Olivetto também levou Nizan Guanaes, que em 1990 o deixou para recriar a DM9. O publicitário baiano, que estagiou na agência de Duda Mendonça, comprou o título deste em sociedade com o banqueiro, também baiano, Daniel Dantas. Hoje, Dantas e Guanaes mal se falam e sua sócia financeira é Kathy Almeida Braga, do Icatu, a ex-patroa de Dantas, antes que este criasse o Opportunity.


Tanta ebulição faz ressurgir nos patrões o temor que funcionários que se tornem estrelas levem contas e abram seus próprios negócios. E este temor, garante o dono de um dos maiores grupos nacionais, hoje faz todo o sentido.’


EDITORA BLOCH
Alberto Komatsu


Parque gráfico da Bloch Editores vai a leilão no Rio


‘Imóveis da massa falida da Bloch Editores serão leiloados a partir da próxima quarta-feira, dia 22, quando serão colocadas à venda salas comerciais em São Paulo e Curitiba. No entanto, a maior expectativa dos ex-trabalhadores da empresa recai sobre o leilão do parque gráfico de Parada de Lucas, instalado na zona norte do Rio, que será realizado no dia 16 de março. Esse complexo já foi o maior da América Latina e está avaliado em R$ 12,5 milhões.


Os leilões serão realizados na 5ª Vara Empresarial do Tribunal de Justiça do Rio, que cuida desse processo desde agosto de 2000, quando a Bloch Editores teve a sua falência decretada por causa de uma dívida acumulada de R$ 400 milhões. O presidente da comissão de ex-funcionários da editora, José Carlos Jesus, diz que no dia 16 de março será leiloado apenas o terreno do parque gráfico, com cerca de 40 mil metros quadrados, já que o maquinário foi vendido como sucata.


‘Após a falência, durante cinco anos ninguém fez nada pela Bloch’, afirma Jesus. Segundo ele, são 3 mil trabalhadores da empresa, dos quais em torno de 1,2 mil têm chances de receber parte do dinheiro arrecadado com os leilões. Isso porque são ex-funcionários que têm processos homologados pela Justiça.


O advogado do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro, Walter Monteiro, afirma que os trabalhadores da Bloch têm prioridade para receber pagamentos após a arrecadação de recursos com os leilões. Eles teriam direito de receber o dinheiro apenas no final do processo de falência, mas a Justiça poderá permitir uma antecipação disso, conforme já ocorreu antes, no final do ano passado.


Em meados de novembro, a Justiça do Rio permitiu o pagamento de R$ 15 milhões que foram levantados por meio de leilões de outros bens da Bloch Editores. Também entrou na soma a arrecadação com o aluguel de imóveis pertencentes à empresa.


Jesus conta ter explicado à juíza Maria da Penha Victorino e para o promotor público Luiz Roldão, que cuidam do caso, que muitos ex-funcionários estão enfrentando dificuldades financeiras e possuem problemas de saúde.


Na época, cada trabalhador recebeu o equivalente a R$ 5 mil. ‘Pode parecer pouco, mas muita gente fez a festa com esse dinheiro’, afirma Jesus. Como só os 1,2 mil trabalhadores que têm processo já julgado é que receberam o dinheiro, o restante foi depositado numa conta do Banco do Brasil para que os demais ex-funcionários possam receber após o fim do processo de falência.’


TELEVISÃO
Ubiratan Brasil e Cristina Padiglione


Waldvogel acerta com a GloboNews


‘A figura de João Francisco dos Santos, o Madame Satã, inspirou uma das melhores interpretações da carreira de Milton Gonçalves: em A Rainha Diaba, que Antônio Carlos Fontoura dirigiu em 1974, ele interpreta o travesti, um temível bandido que, do quarto dos fundos de um antro de prostituição, controla a distribuição de drogas no Rio do início do século passado. A vida anterior, ou seja, os acontecimentos que o levaram a se transformar nessa figura é o tema de Madame Satã, filme de Karim Ainouz que o Canal Brasil (Net, Sky) exibe hoje, às 22 horas.


E, da mesma forma que Milton Gonçalves brilha na primeira versão, agora é a vez de Lázaro Ramos apresentar uma inspirada interpretação.Mônica Waldvogel volta a dar expediente em bancada de telejornal, mas, que sorte, sem a pressão que tem feito bombar, no mau sentido, a cabeça de âncoras da TV aberta. Longe de ser submetida aos indicadores do Ibope, ela dará expediente na GloboNews. De segunda a sexta, conduzirá, dentro do Jornal das Dez de André Tigueiro, o noticiário de São Paulo.


Nas noites de quarta-feira, portanto, vale o show da versatilidade. Quem quiser vê-la mais informal, do figurino ao conteúdo, pode sintonizar no canal vizinho, o GNT, e dar de cara com as trivialidades do Saia Justa, que começa às 22h30.


Como os dois canais são da grife GloboSat, a negociação para manter um pé em cada sintonia foi tranqüila.


A estréia no Jornal das Dez está prevista para a terceira semana de março. Até porque o Saia Justa é gravado na véspera de sua exibição – e só isso permitirá o milagre de vê-la em dois canais ao mesmo tempo -, mas merecerá edição ao vivo no dia 8. Não há de se desprezar a boa coincidência de a data, Dia Internacional da Mulher, cair bem numa quarta-feira. A edição do dia valerá programa com platéia seleta e convidados extras.’


INTERNET
Pedro Doria


Segredos e o sigilo da busca


‘Robert James Petrick tinha 51 anos em finais do ano passado, quando digitou no Google uma penca de termos de busca. Decomposição do corpo, escreveu entre aspas. Rigor mortis, pescoço, quebra. Petrick buscou também informações sobre o grande lago em Durham, Carolina do Norte, próximo a sua casa. Foi lá no fundo, dias depois de comunicado seu desaparecimento, que a polícia encontrou o corpo da mulher de Petrick.


Ele sempre foi suspeito, mas quando os investigadores se sentaram na frente de seu computador, mandado de busca em mãos, o caso mostrou-se repentinamente trivial.


No histórico de buscas que o browser do assassino armazenou estava todo o mapa do crime. Não é, nem de longe, um caso único. Agora em fevereiro, a polícia britânica pretendeu Neil Entwistle e o deportou para os EUA. Seu computador em Boston havia revelado uma longa lista de buscas.


Em janeiro, Entwistle deu ordens ao site que listasse as páginas que incluíssem ‘matando gente com faca’. É um exemplo ainda mais triste do que o de Petrick. O inglês migrado fazia pouco tempo para os EUA buscava também por suicídio, eutanásia e prostitutas. Outros dados no computador revelavam que, desde que se mudara com mulher e filha de nove meses para Boston, estava se afundando em dívidas.


A polícia pinta um cenário no qual um homem doente e em depressão escondia da família sua real situação financeira. Após matar mulher e filha, pretendia talvez o suicídio. Mudou de idéia, voltou para sua terra natal. O histórico do Google, friamente armazenado em seu computador pessoal, mostrou ao longo dos dias cada passo poço abaixo que ele deu.


Costurava por certo um filme daqueles deprimidos, tristes, incrivelmente reveladores do pior da natureza humana , talvez um Luchino Visconti, quem sabe um Bergman. Mas é só o cotidiano das investigações policiais correntes. Fuçar o que está no computador já é hábito de boa parte das polícias do mundo quando investiga – e, quando investiga, o que é raro, também a polícia brasileira o faz.


E nisto está um problema: há um limite? A Electronic Frontier Foundation, ONG seminal que defende as liberdades no espaço não espaço incrivelmente real que é o mundo online, chama a atenção para um ponto fascinante: dificilmente algo revela mais sobre um indivíduo do que suas buscas.


A idéia pode parecer a princípio fora de propósito – mas basta prestar atenção em nossos próprios costumes que logo se vê. Há coisas que não dizemos para ninguém, não escrevemos em e-mail, que nem sequer escrevemos para nós mesmos. Coisas ali trancadas em nossas mentes. Segredos íntimos, aflições, medos. Às vezes, coisas que escondemos de nós mesmos.


O velho doutor Freud entendia disso: daquilo que sabemos sobre nós mas não sabemos, ocultamos, que se revela num ato falho, num sonho, no que fazemos distraidamente. Não há quem resista ao pensar: e se tudo que busquei no Google fosse repentinamente público?


Ao citar o exemplo de dois assassinos de saída, parece mais que razoável dar à polícia o direito de vasculhar-lhes o computador. Até mesmo os fatídicos históricos de busca. No entanto, eles são mais reveladores sobre as profundezas da alma de qualquer um do que uma listagem de telefones com os quais se interagiu, do que o histórico bancário.


Ainda assim, a Justiça de hoje tem mais facilidade de permitir à polícia acesso aos sites pelos quais andou um indivíduo do que seus sigilos bancário e telefônico. É natural: faz parte das incongruências de uma nova tecnologia. Juízes que não levam seus cotidianos online são incapazes de perceber certas sutilezas.


Não há, no Brasil, uma cultura de luta pelo direito à privacidade. Por direitos no ciberespaço, muito menos. É aquele mesmo pequeno grupo de advogados militantes espalhados pelo País que se preocupa com isso e não muito mais. Em sua grande parte, os deputados não estão muito interessados em atualizar leis ou promover novas – quando o fazem, a regra geral é simplificarem os problemas reais.


E, no entanto, cá aparecem estas questões peculiares. Mais importante que o sigilo do e-mail, provavelmente, é o sigilo de busca. Não quer dizer que seja inquebrável – mas deveria ser muito difícil quebrá-lo.’


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