Tuesday, 30 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

O Estado de S. Paulo

CONCESSÕES EM DEBATE
Fausto Macedo

Ministro apóia debate sobre concessão de TV

‘O ministro Franklin Martins (Comunicação Social) declarou ontem apoio à proposta de uma conferência nacional de comunicações. ‘É evidente que o Brasil não tem um marco regulatório para a área’, disse. ‘A última legislação é dos anos 60, ela é incapaz de alcançar tudo isso que está acontecendo e aí fica uma legislação assim, lei do cabo, lei disso, lei daquilo, tudo trombando entre si. Precisa de fato criar um arcabouço novo. De lá para cá tudo mudou.’

Franklin afirmou que se o PT pedir uma audiência para tratar do tema estará de portas abertas. A Executiva Nacional do partido cobra ‘critérios mais transparentes e menos políticos’ no modelo de concessões de rádio e TV. Os dirigentes petistas anunciaram, no início da semana, que querem promover um debate sobre as concessões e a TV pública e marcar a conferência. ‘Recebo qualquer parlamentar, de qualquer partido.’

O ministro não vê motivos para as emissoras de TV se preocuparem – no próximo dia 5 vencem licenças de cinco afiliadas da Globo, Bandeirantes, Gazeta e Cultura. ‘Não vejo por que as emissoras se sentiriam pressionadas diante de um debate público, diante da necessidade de ter regras. Isso é normal, no mundo todo isso existe. Não tem problema nenhum. Não vejo motivo para ninguém se assustar com discussão. Não vi nenhum grande jornal, nenhuma grande emissora de TV ou empresa de telecomunicações assustada com isso.’

Franklin enfatizou que ‘é necessário repensar, discutir’. Segundo ele, o Congresso também está estudando uma conferência. Ele se referiu a uma reunião promovida pela Comissão de Comunicação, Ciência e Tecnologia da Câmara que concluiu pela convocação de uma conferência com participação da sociedade. ‘Acho que todo mundo deve participar. O Brasil é madurinho para uma discussão política’, disse. ‘O que não vale, o que não é normal é não ter regra nenhuma, o vale tudo. Não, tem que ter regras.’

O ministro destacou que é o Congresso quem aprova, ou não, as concessões. ‘É um processo no Ministério das Comunicações, a concessionária apresenta um pedido, há um estudo, vê se as normas estão sendo cumpridas e manda para o Congresso, que é a última instância. Isso tem que ser criado basicamente pelo Congresso, com uma discussão de fundo na sociedade, todos os setores interessados. É um assunto importante demais para ser decidido entre quatro paredes.’

Para Franklin, o País vive ‘um processo de convergência de mídia, um monte de coisas acontecendo’. ‘Tem que debater. Alguém chega e diz a regra é essa, a regra é aquela. Não vai colar.’’

INTERNET
Andrei Netto

Criador da web critica a própria invenção

‘A História ainda deve reservar ao belga Robert Cailliau e a seu companheiro de pesquisas, o inglês Tim Berners-Lee, um espaço no rol dos grandes inventores da humanidade. Há 17 anos, ambos desenvolveram uma ferramenta de comunicação, de início destinada só à pesquisa, cuja sigla fala por si: World Wide Web (www), a rede mundial de computadores. Mas, ao contrário do que se pode imaginar, Cailliau, engenheiro, 60 anos, não é um homem rico, não preside uma grande multinacional da informática, nem é um entusiasta da tecnologia.

Caillau é quase um cético, alguém que revela decepções sobre sua cria. Avesso à fama, o engenheiro hoje está radicado no norte da França, em uma região rural. Não tem nome na lista telefônica, não tem telefone celular e, ironia, nem mesmo atualiza seu site. Nesta entrevista, o pesquisador revela amargor ao falar sobre o uso excessivamente comercial da rede mundial. Seus elogios são guardados para os blogs e para a Wikipedia, construções coletivas de informação. Entre os alvos de suas críticas também estão a Microsoft, o MySpace e o Second Life, empresas ou produtos que chama de ‘opacos’ e que lhe provocam temor, seja por concentrarem em excesso informações da vida privada de seus usuários, seja por desviarem o foco da realidade. A seguir, os principais trechos da entrevista.

O senhor declarou recentemente estar decepcionado quanto à evolução da web. Por quê?

Há muitos aspectos sobre os quais eu estou contente: a Wikipedia, os blogs, os círculos de pessoas que têm coisas raras a compartilhar. Na verdade não há muito além de alguns aspectos sobre os quais eu estou decepcionado: a velocidade da compreensão de que a rede mundial é uma construção coletiva. Empresários, políticos e freqüentemente jornalistas não compreendem isso. Nós poderíamos avançar mais rápido se tivéssemos colaborado mais em vez de promover a competição em um tema no qual a competição é muitas vezes nefasta.

Olhando retrospectivamente, como o senhor avalia sua invenção?

A web é resultado de anos de trabalho e da coragem de muitas pessoas, todos egressos de universidades e institutos de pesquisa. Os empresários freqüentemente a entenderam mal, tomaram decisões erradas. Tomemos como exemplo a bolha das empresas ‘.com’. A lição que tiro é que há fosso entre o comportamento racional e humanista e o comportamento inspirado pelo desejo de fazer muito dinheiro sem trabalhar muito. Mas, por outro lado, a web é uma ferramenta que não se deixa manipular demais: a democracia parece estar imbricada na rede mundial. É isto que, aliás, irrita os espertos que querem se apropriar dela e também os ditadores e os chefes de regimes opressivos.

O senhor tinha a consciência, quando da invenção, da revolução aberta pela rede mundial?

Para a comunidade acadêmica, sim. Para a comunidade em geral, não. Eu me surpreendo a cada dia com as utilidades engenhosas de toda ordem que as pessoas fazem da web.

Na sua opinião, a rede mundial causou uma revolução social?

Muitos sociólogos e economistas acreditam que ela concretiza a global village anunciada por Marshall McLuhan. Há uma forte evolução, mas não conseguimos realizar sempre todas as idéias que temos no início de nossos projetos. No que concerne à global village, seria preciso perguntar ao próprio McLuhan o que ele pensaria hoje. Mas ele já está morto. De toda forma, é verdade que graças à rede mundial as organizações mundiais formadas por poucas pessoas puderam se constituir, se agrupar como se estivessem na mesma cidade.

O senhor já declarou ter subestimado o impacto comercial da web. Por quê?

Não era uma de nossas prioridades. Nós queríamos fornecer uma ferramenta útil e de qualidade aos pesquisadores. Foi a web que arrebatou a atenção do comércio e das empresas de telecomunicação sobre a internet, que naquela época, em 1993, já tinha 25 anos. Foi surpreendente ver como elas quiseram se apossar quando houve a menor suspeita de que talvez fosse possível fazer dinheiro fácil.

O senhor vislumbrou a nova economia em 1990?

Eu não sei nem mesmo o que ‘nova economia’ quer dizer. Quando eu penso que os agricultores ao redor da minha cidade mal conseguem ganhar suas vidas e que nós, consumidores de alimentos, insistimos em pagar preços ridículos, acredito que haja outras coisas a discutir que a autoproclamada ‘nova economia’. Não há nada de verdadeiro nessa ‘nova economia’. O que é verdade são as alterações no clima, a superpopulação do planeta, o extremismo ideológico-religioso. Há uma enormidade de megabytes que voam para todo lado, mas que não são comunicação. Tudo não passa de uma fuga da comunicação real. É perigoso. Por essa razão eu não tenho telefone celular e eu não freqüento sites de comunidades virtuais.

Então o senhor não considera durável esse modelo de desenvolvimento, com empresas de alto valor nas bolsas e com poucos funcionários.

Na era digital, não há lugar para uma só empresa em cada setor. Está nas equações diferenciais, e há muito tempo isso está provado por economistas e matemáticos. Para mim, esse tipo de negócio, que mexe com informação, deveria ser muito transparente. Quem produz softwares deveria mantê-los abertos e publicamente verificáveis.

A rede mundial fomentou a pirataria na internet. O que o senhor pensa disso? A web é, afinal, uma boa ou uma má criação para a economia?

A idéia da propriedade intelectual sempre me incomodou um pouco. De um lado, é certo que alguém que trabalha duro para criar um produto artístico como um romance, um filme ou uma música deve, claro, poder se alimentar e viver. Logo, ele precisa de rendimentos provenientes dessa criação. Mas essa é a razão pela qual eu luto em favor da possibilidade dos micropagamentos, que permitiriam uma remuneração direta do artista pelo consumidor. Só que isso eliminaria os intermediários, que não gostam dessa ferramenta. O problema é que, quanto mais o preço de um produto é alto, mais temos um efeito duplamente perverso: pouca gente compra e muita gente pirateia. O capitalismo, como o comunismo e outros ismos, são da era anterior à digital. Nós deveríamos entrar em um período de colaboração. É preciso aplicar todos os conhecimentos que a ciência já nos deu. Ele já está aí, é preciso dominá-lo antes que seja tarde demais. E isso não se fará com propostas dogmáticas de esquerda nem de direita. A web pode ser uma ferramenta formidável nesse objetivo de preservar a vida sobre o planeta.

Em lugar disso, o senhor não acha que recebe excesso de propaganda, propostas de crimes virtuais e pornografia na sua caixa postal?

Pois é… Mas nada disso é importante diante do que devemos fazer.

Como conter esses problemas? O senhor defende algum tipo de regulamentação para a rede mundial?

Sim, mas por parte da comunidade mundial. É preciso que façamos uma convenção mundial sobre o tema. Existem divergências demais entre grandes blocos econômicos, políticos, religiosos, doutrinas ultrapassadas, logo estamos diante de um mau começo. De toda forma, eu não tenho medo dos Estados, que podem ajudar criando normas e preservando a privacidade das pessoas e a transparência das empresas. Eu tenho medo é das multinacionais opacas e avarentas. Observe o que tem feito o MySpace com os milhares de usuários que aparecem em seus registros (Caillau se refere à concentração de informação individual e à invasão de privacidade). Com que direito? Leia os ‘Termos de serviço’ dessas empresas. Leia o -que diz o contrato do Hotmail. O Estado, antes de mais nada, somos nós. É nessas empresas que não há democracia.

Jovens fazem fortuna ao criarem sites como Google, YouTube, Facebook e outros derivados da invenção da rede mundial. O que o senhor pensa disso?

Bom para eles. E eles têm trabalhado duro para vencer. É um outro trabalho, feito com outros talentos. Eu lhes desejo boa sorte. Desde que suas ações sejam transparentes.

Qual é, no seu ponto de vista, o futuro da web e da internet?

É impossível prever. Pessoalmente, eu acredito que o futuro pertence mais a uma inteligência artificial do que à humana. Nesse meio tempo, nós faremos tudo e nada ao mesmo tempo. Mas não esqueçamos que, até outra ordem, será preciso comer enquanto estamos diante de nossas telas. Logo, precisamos de alguma maneira preservar o planeta.

Quem é: Robert Cailliau

Cursou engenharia na Universidade de Ghent, na Bélgica, e fez mestrado em engenharia na Universidade de Michigan, nos Estados Unidos

Começou a trabalhar em 1974 no Cern, laboratório europeu de física de partículas

Com Tim Berners-Lee, propôs em 1990 o sistema de hipertexto que deu origem à World Wide Web

Cronologia

1964

Rede de pacotes

Paul Baran publica um estudo em que propõe a criação de uma rede de comunicação descentralizada e resistente a ataques nucleares

1969

Conexão militar

O Departamento de Defesa dos EUA cria a Arpanet, primeira rede de pacotes do mundo

1977

Protocolo de internet

Vinton Cerf e Bob Kahn demonstram o TCP/IP, que permite a troca de informações entre redes diferentes

1990

Nasce a web

Tim Berners-Lee (foto) coloca no ar o primeiro site do mundo, no endereço http://info.cern.ch/

1994

Navegador

A Netscape lança o Navigator, software responsável pela popularização da internet’

CASO MADDIE
O Estado de S. Paulo

Kate McCann pode ter matado filha, diz jornal

‘A polícia portuguesa trabalha com a hipótese de que Madeleine McCann, a menina britânica desaparecida desde o dia 3 de maio, tenha sido morta antes do horário em que os pais estariam jantando com amigos. Segundo o jornal português Diário de Notícias, Madeleine pode ter morrido no período em que sua mãe, Kate McCann, cuidava sozinha dos três filhos. De acordo com o jornal, o pai da menina, Gerry McCann, foi visto jogando tênis, entre 19 horas e 20h30, enquanto Kate ficou com a filha mais velha e os gêmeos, Sean e Amelie, de 2 anos, já que a babá havia sido dispensada após as 17h30. Nesse período, nenhuma das duas foi vista nas dependências do hotel.’

JORNALISMO ECONÔMICO
O Estado de S. Paulo

Livro sobre jornalismo vai receber prêmio

‘O pesquisador do Instituto de Economia Agrícola (IEA), da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo, José Venâncio de Resende, vai receber, no dia 10 de outubro, o prêmio Clio de 2007, da Academia Paulistana de História, pelo livro Construtores do Jornalismo Econômico – da cotação do boi ao congelamento de preços, publicado pela Ícone Editora. Baseada no depoimento de profissionais, a obra resgata a trajetória do jornalismo econômico, da década de 30 ao Plano Cruzado, lançado em 1986. O nome do prêmio se refere à deusa Clio, musa da história.’

CRÔNICA
Marcelo Rubens Paiva

Cansei (de novo)

‘Cansei de pronunciamento em cadeia nacional. Antigamente, só havia pronunciamentos em cadeia nacional para anunciarem pacote econômico e o início da vacinação contra a paralisia infantil. Agora, qualquer ministro faz um pronunciamento em rede antes do Jornal Nacional. Para falar das realizações da sua pasta. Aliás, cansei de chamarem ministério de pasta. Outro dia, o da Secretaria Especial de Pesca apareceu para contar que peixe é rico em proteínas e sais minerais. Posso pedir um horário para fazer um pronunciamento em rede nacional para pedir que acabem com os pronunciamentos em cadeia nacional? E para falar que mamão papaia e ameixa preta fazem bem para o intestino?

Cansei do Renan. Bem, desse, todos se cansaram. Só o Aloizio Mercadante que não. Ele e mais uns 40. E estou louco para comprar a Playboy da Mônica Veloso. Não me cansei da Playboy. São ótimas as entrevistas e matérias. Sim, cansei da piada aí, que compro a Playboy por causa das entrevistas e matérias. Meu pai fazia a mesma piada desde quando eu tinha 6 anos. Meu pai tinha uma pilha de revistas Playboy escondida debaixo da cama. Escondida? Eram edições americanas. Meu pai praticava o seu inglês lendo a Playboy. Lendo e vendo.

Comprei a Playboy da Bárbara Paz só para ler o que o Juca de Oliveira escreveu sobre ela. Nem reparei nas fotos. Texto curto, de um parágrafo apenas. Mas com um vigor literário…

Cansei de cartucho de impressora acabar tão rápido. E de ser tão caro. Cansei da letra pequena de bula de remédio, de restaurante escuro, em que não se enxerga o cardápio, de velas que pingam nas mãos, de derrubar o leite ao abrir a embalagem, do soro que cai na roupa, quando se compra queijo de Minas.

Cansei de melar as mãos com sorvete de casquinha. Não faz sentido inventarem um sorvete que não derrete. Mas não poderiam inventar uma casquinha com calha e drenagem?

Lembra-se de como era difícil tomar milk-shake com canudinho? Só depois de um século da invenção dele, inventaram um canudinho grosso, com 2 cm de diâmetro. Hoje, toma-se milk-shake com canudinho, sem risco de obter uma embolia pulmonar. Será que demorarão um século para inventar um sachê de ketchup, mostarda ou maionese que abra fácil? O de camisinha ainda continua dando trabalho.

Cansei do curso de filosofia do Fantástico. Não entendo o que eles dizem, nem as alusões e comparações que aplicam. Não entendo Matheus Nachtergaele amarrado em cordas, com olhar sério para a câmera. Entender quem somos e de onde viemos é sadomasoquismo? Ele está me dando alguma bronca. O que eu fiz de errado desta vez? O que é aquela bola com o que ele contracena, o tempo, a existência, a consciência? Eu? Não cansei do poema que vem depois, declamado por Paulo José. Mas não é de chorar, logo depois dos gols e lances do fim de semana esportivo, a trilha de encerramento ‘olhe bem, preste a atenção’, que dá nos nervos e deprime até o mais bipolar dos alcoólatras, de Hemingway, Eugene O’Neill a Sylvia Plath, e um corintiano maloqueiro, sofredor, graças a Deus?

Cansei de checar no Google como se escreve Matheus Nachtergaele. E Nietzsche, então?

Cansei do Palocci. Cansei daquele risinho de lado do Palocci. Ele ri da gente ou da situação criada pela Justiça brasileira? Deve ser gente boa, papo bom, freqüentador do Pingüim (excelente chope; ninguém se cansa). Mas cometeu o maior crime do Sistema Financeiro, a quebra de um sigilo bancário, foi flagrado e demitido, descansou em Ribeirão Preto, elegeu-se deputado, porque eleitor brasileiro é estranho, perdoa fácil ou esquece logo, ou é lesado mesmo, e voltou à cena. Rindo de lado. Na relatoria da CPMF, impostozinho chato, cansativo e nada provisório.

Cansei do eleitor brasileiro que vota em Collor, Maluf, Genoino. Se bem que, antes do escândalo do mensalão, votei no Zé Dirceu para deputado federal. Sem perdão. Sim, a culpa é minha. Irei para o inferno, sem protestos.

Cansei de gente que começa a resposta com ‘com certeza’. Você pergunta algo, e a pessoa ‘com certeza’. E só depois, ela justifica a sua resposta. E de gente que pontua a frase com ‘tipo assim’? Cansei de, tipo assim, gente que utiliza o ‘tipo assim’ como aposto e o ‘mesmo’ como advérbio. Precisa sempre de, tipo assim, confirmar com precisão as suas afirmações, mesmo? E de gente que pergunta ‘sério?’, quando você conta algo? Sério? Está falando sério? Jura? Não, estou, tipo assim, mentindo, com certeza, mesmo!

Cansei do Lula elogiar a economia do governo militar. Não sabe que o País quebrou por causa da economia mal planejada por eles? Cansei do Lula falar que o Bush é o companheiro Bush. Fala logo ‘bródi’.

Cansei da cola de envelope brasileiro não colar. Cansei da insistência de alguns pedintes. ‘Dá um trocado, moço?’ ‘Não tenho.’ ‘Só uma moedinha?’ ‘Não tenho.’ ‘Estou com fome.’ ‘Mas eu não tenho.’ Será que alguém, na terceira vez, se lembra: ‘Ah, sim, tenho trocado aqui, havia me esquecido dele…’

Cansei de, no aeroporto, tipo assim, além de mostrar o cartão de embarque, ter de mostrar a identidade, do preço do táxi de Guarulhos, do medinho que dá despachar a mala e dar adeuzinho a ela, ciente de que podem perdê-la, daquela bala quebra-canino-e-molar da TAM, de gente que fecha a janela na decolagem, e você não sabe se o avião está se aproximando na aterrissagem, de mesinha que não fecha direito, de passageiro no corredor que esbarra com a mochila dele na sua cabeça, do piloto falar ‘portas no automático’, o que significa isso, meu Deus, é bom ou ruim as portas estarem no automático, o avião voa mesmo assim, podemos piná-las?

Cansei de tanta gente me chamar de senhor. ‘O senhor vai despachar a bagagem?’ ‘O senhor tem preferência pelo corredor ou janela, o senhor está acompanhado, o senhor aceita uma barrinha?’ Mas vou estressar mesmo quando alguém perguntar: ‘O senhor trouxe pára-quedas?’

Se Salvatore Cacciola tivesse sido preso em Assunção, e não em Mônaco, o ministro Tarso Genro teria ido pessoalmente? Também tem cassinos por lá.’

TELEVISÃO
Cristina Padiglione e Andrezza Capanema

‘Paraíso’ bate nos 56 pontos no último capítulo

‘O último capítulo de Paraíso Tropical rendeu média de 56 pontos de audiência, segundo prévia instantânea aferida pelo Ibope na Grande São Paulo, onde cada ponto equivale a 54,4 mil domicílios com TV. Foi o recorde da novela de Gilberto Braga e Ricardo Linhares e bateu o desfecho do folhetim anterior do horário, Páginas da Vida, que encerrou com média de 53 pontos em São Paulo. Não chega a ser, no entanto, um espanto para o histórico dos finais de novelas das 9. Belíssima, por exemplo, que antecedeu Páginas da Vida, teve 60 pontos de média no último capítulo.

O share (participação da Globo entre o total de aparelhos ligados do desfecho de Paraíso) foi de 80%. Significa que a cada cem televisores ligados no horário, 80 acompanharam a solução do mistério de quem matou Taís (Alessandra Negrini). Os autores apostaram no óbvio: o vilão Olavo (Wagner Moura).

Olavo tornou pública a história enquanto Daniel (Fábio Assunção) apontava uma arma para ele. Ivan (Bruno Gagliasso) não perdoou o fato de o vilão ter escondido o nome de seu verdadeiro pai, Jader (Chico Diaz), e tampouco matar Taís. Então, arrancou a pistola das mãos do mocinho e ameaçou matá-lo. Atirou. Depois, também foi vítima de um tiro. Os dois irmãos morreram.

A surpresa do desfecho sobre o assassino de Taís, porém, foi sendo enfraquecida ao longo do dia no site oficial da novela. Gilberto Braga e Ricardo Linhares inovaram ao usar a internet para eliminar um a um os suspeitos do crime. O Jornal Hoje da emissora divulgou a novidade no início da tarde: os dez suspeitos de matar Taís, que gravaram as cenas finais durante a madrugada, foram divulgados no site oficial da novela e eliminados um a um até as 21 horas, quando restaram apenas três.

Os autores reeditaram, em Paraíso Tropical, o antigo recurso de usar gêmeos em novelas. Tentaram ainda repetir o sucesso de Vale Tudo, de 1988, que parou o Brasil diante da TV com o mistério sobre quem matou Odete Roitman (Beatriz Segall). Funcionou, embora o suspense que mais instigasse o telespectador fosse o destino de Olavo e Bebel (Camila Pitanga). A prostituta foi presa. Ao ser libertada, teve um caso com um político e, após um escândalo, precisou depor no Congresso.

A equipe da novela assistiu ao último capítulo no restaurante Porcão, na zona sul do Rio. Alguns atores chegaram a ver alguns blocos no espaço para imprensa e convidados, mas o assédio fez com que tivessem de ficar numa área fechada. Alessandra Negrini, Camila Pitanga, Glória Pires e Bruno Gagliasso choraram durante a exibição. Já Gilberto Braga passou o tempo todo observando a reação das pessoas.’

Jotabê Medeiros

Garotos de franja & topete são vencedores

‘Rei morto, rei posto. Enquanto o VMB 2007 consagrava ontem o emocore de NXZero (artista do ano), Fresno (revelação do ano) e Strike (aposta MTV, sintomático prêmio), nos bastidores flanavam os astros do passado. O cantor Nasi, ex-Ira!, agora mergulhado em problemas com o irmão ex-empresário, passeava pela platéia; Os Titãs conversavam no hall do Credicard Hall; o Capital Inicial espalhava-se pela platéia; o Skank, que já papou todas no passado, estava na fila da cerveja. O Pato Fu nem apareceu.

O VMB autofágico que gera ídolos e os descarta (às vezes, utilizando-os no futuro como paródias de si mesmos) é uma máquina ainda em pleno funcionamento, e isso ficou claro anteontem. Os emos venceram este ano? Aparentemente, já que até no VMA, o prêmio americano, a matriz desse VMB, o vencedor foi um legítimo representante da categoria dos meninos de franja & topete, o Fall Out Boy.

Oportunamente, coube a um hitmaker de várias épocas, Lulu Santos, entregar o prêmio aos garotos do NX Zero – que só têm um hit, por enquanto, mas certamente almejam mais. A cantora baiana Pitty e a banda gaúcha Cachorro Grande caíram para os holofotes intermediários, talvez ensaio de uma saída progressiva de cena: concorriam em três categorias cada um, ganharam em uma (Cachorro Grande como melhor show e Pitty como clipe do ano).

O emo venceu, mas o hip-hop continua à margem. O gênero compareceu em apenas um momento, e de forma meio esquizofrênica, barroca. Foi quando o ator André Ramiro, que interpreta o policial Mathias no polêmico filme Tropa de Elite, entrou fazendo um improviso de MC. ‘Antes de ser ator eu já era MC’, informou Ramiro, e ato contínuo apresentou o MC Sandrão e o DJ Cia, que mostrou uma espécie de rap do japonês doido, cheio de efeitos, mas pobre de rima.

A festa foi longa, muitas vezes chata e pôs a platéia, cada vez mais muvucada, à prova. O motivo que segura o início da premiação é a novela da Globo, que briga com o ibope que a MTV corteja. Antes do último bloco, no intervalo, o diretor fez um apelo à claque, que desanimara e se dispersara. ‘Eu peço para vocês ficarem bem animados. Falta um bloco’, pediu.

Mas foi também, do ponto de vista técnico, uma das melhores edições do VMB. A participação de Juliette Lewis foi um achado. A atriz de Assassinos por Natureza não só cantou como animou os bastidores, apresentou o show de Pitty com placas em português e até aprendeu a cantar o hino que ganhou o prêmio Web Hit, de Chris Nicolotti.

Algumas participações mereciam texto melhor. Caso do dueto de Bárbara Paz e Paulo César Pereio. Este último encarou até o clichê da sarjeta que não lhe faz jus: ‘Eu tô latindo para economizar cachorro’, disse. Bárbara ainda participou de inédita confissão pública de uma coelhinha da Playboy (ela é capa da revista deste mês): ao ser questionada por João Gordo, admitiu que gostaria que muitos garotos ‘tocassem uma bronha’ lendo a revista que ela recheia.

Mesmo forçando a mão na ‘irreverência’ de botequim, francamente misógina e homofóbica, a direção do show conseguiu bons resultados com a participação da Turma do Pânico (Sabrina Sato, Vesgo e Silvio), mas foi Hermes & Renato, sua própria escola de humor, com maior nonsense e escracho, que triunfou. Na apresentação do impagável Gil Brother e do falso Marilyn Manson, sobrou delírio e esculacho.

Um honorável sambista, Paulinho da Viola, foi tirado do aconchego do seu lar para apresentar um velho ídolo do rock, Lobão, que fazia ali merchandising de seu próprio produto, já que seu disco mais recente é um Acústico MTV. Ele atacou de Blá Blá Blá Eu te Amo (Rádio Blá), dele e de Arnaldo Brandão, hit dos longínquos anos 80.

Alguns prêmios foram reciclados, mas eleição popular muitas vezes apenas reitera certas convicções. Por exemplo: a chamada banda dos sonhos foi quase inteiramente repetida da do ano passado. Até a Cicarelli, cuja maior qualidade não parece ser a reflexão, notou. ‘O bagulho é a maior roubada. Vamos tentar improvisar alguma coisa para vocês’, disse o baixista Champignon, reeleito. Eles tocaram Ainda É Cedo, da Legião Urbana.’

Keila Jimenez

Gafes, falhas e o bispo

‘Falhas técnicas, gafes, presenças mais do que ilustres e uma passagem relâmpago do bispo e empresário Edir Macedo marcaram a inauguração do Record News, novo canal de notícias da Record. O lançamento foi marcado com festa oficial na sede da emissora na noite de quinta-feira.

Entre os presentes, o cast em peso da Record, políticos e autoridades como o presidente Lula, o governador José Serra e o prefeito Gilberto Kassab.

Mas o que chamava mais a atenção era a presença do proprietário da Record, Edir Macedo, cercado por um esquema de segurança tão grande – em número e tamanho de profissionais – quanto o do presidente da República.

Edir atacou a Globo em seu discurso, deixando em situação delicada uma equipe da Globo News presente no local para entrevistar Lula. Quando desceu do palco, o proprietária da Record foi cercado por convidados e cumprimentou a todos. Em rápida conversa com o Estado, disse que sua biografia deve ser lançada em outubro e voltou a atacar a Globo.

‘É uma biografia autorizada, é claro. Lá vai ter tudo’, disse Macedo, que, indagado sobre como derrubaria a Globo, citou Davi e Golias: ‘Chega das injustiças causadas por esse monopólio. Sei que parecemos perto deles só uma pedrinha, mas será uma luta de Davi e Golias.’

CHICLETE

Em seu primeiro dia no ar, a Record News teve problemas de delay (atraso no áudio em relação à imagem transmitida), principalmente durante a entrevista do presidente Lula. O repórter Celso Teixeira entrou no ar mascando chiclete e o âncora do Record News Brasil, Eduardo Ribeiro, mexia sem parar nas folhas sobre a mesa, como tique nervoso. Coisas de estréia.

Os jogadores

A Record adiou para 23 de outubro – a princípio – a estréia de O Jogador, formato comprado da Fremantle. Britto Junior e Ana Hickmann comandam a atração de perguntas e respostas com prêmios em dinheiro.

Entre-linhas

A correria nas gravações de Paraíso Tropical rendeu um erro de continuidade no capítulo de quinta-feira. Olavo liga para Bebel pedindo para que ela vá encontrá-lo na suíte 807. Mas, quando ele abre a porta, o número que se lê é 1.208.

Aliás, no penúltimo capítulo de Paraíso Tropical, a audiência rendeu 53 pontos.

Estrategicamente posicionado, Milton Neves foi o único artista da Record a conseguir cumprimentar Edir Macedo, na festa da Record News. Cercou o bispo nos bastidores com um abraço caloroso.’

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Folha de S. Paulo – 1

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O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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