Thursday, 31 de October de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

Tiago Dória

POLÍTICA
Tiago Dória

Braziu no ar e a volta do pessoal do A Nova Corja

‘O A Nova Corja foi um blog de política que fez história no Brasil. Encerrou as suas atividades em 2009, deixando registrada uma marcante cobertura do cenário político nacional e internacional.

Várias vezes eu recomendei a sua leitura. Era leitor assíduo. Acabei virando colega de quem o fazia. Era um trabalho bacana.

Reflexo desse esforço foi a escolha do blog para cobrir a cúpula do G20, em Londres, ainda em 2009. Cerca de 50 blogs do mundo inteiro foram convidados. Do Brasil, o A Nova Corja foi o único selecionado pelo projeto G20Voice.

Ao contrário do que virou história oficial em cursos de jornalismo no Brasil, o A Nova Corja não acabou por causa dos processos judiciais (processo por processo, o blog sempre teve), mas simplesmente por que, em 2009, Rodrigo Alvares, criador do blog e que o tocava em frente, conseguiu um emprego fulltime. Como consequência, não teria mais tempo de manter o site com a mesma dinâmica, fato que o motivou a fechar o blog.

Atitude que, diga-se de passagem, na época, achei correta. Até comentei com o Rodrigo quando a gente participou como palestrante da Feira do Guia do Estudante. É melhor encerrar um blog do que deixá-lo aos trancos e barrancos (mais ainda o A Nova Corja, que era bem lido).

O encerramento do A Nova Corja deixou diversos leitores órfãos, que transformaram a caixa de comentários do último post do blog em um fórum de discussões.

Porém, recentemente ficou evidente que esse fim, na realidade, foi uma pausa. Parte do A Nova Corja está de volta no blog de política Braziu (dos 5 integrantes, dois são ex-A Nova Corja – Walter Valdevino e Leandro Demori).

O projeto é diferente, mais focado em vídeo, a equipe é internacional e nem sei se eles gostam de ser lembrados como ligados ao A Nova Corja, mas várias coisas bacanas do antigo blog de política estão presentes no Braziu. As legendas das fotos e enquetes irônicas, os banners no topo do blog e a postura de criticar políticos de diversas orientações e linhas de pensamento.

Para mim, o Braziu já é um dos poucos blogs brasileiros que fala de política de modo informal e sem aquele estilo pomposo (do tipo ‘defensor dos fracos e oprimidos’).

Na semana passada, o jornalista Leandro Demori, da equipe do Braziu, me mandou uma mensagem falando das novidades do blog. Batemos um papo por email. Leandro, que está na Itália, falou um pouco sobre o projeto e como será a cobertura das eleições neste ano.

Nem preciso dizer que também virei leitor assíduo do Braziu.

1) Como surgiu a ideia de criar o Braziu?

A ideia existe desde antes do fim da Corja. Queríamos fazer um projeto de abrangência mais nacional, mas o A Nova Corja estava fatalmente ligado ao Rio Grande do Sul, não teria como expulsar os gaúchos de lá. Infelizmente (hehehe). Eu registrei o domínio ainda em 2008, mas nesse meio tempo me mudei pra Itália e a coisa toda acabou sendo jogada pra frente. Agora, com 2010 e essas eleições em vista, resolvemos atacar.

2) Vocês mantiveram o contato com antigos leitores do A Nova Corja? Nesse meio tempo, houve algum pedido pela volta do A Nova Corja?

Muita gente pediu, ficaram meio órfãos quando tudo acabou. O último post do blog tem comentários diários até hoje (o blog fechou em agosto de 2009) e virou uma espécie de fórum aberto de viúvas da Corja. Acabei de ver lá, tem 1175 comentários.

Na semana passada, estive em Napoli dando um workshop sobre blogs e política no Brasil e comentei com o pessoal justamente sobre isso. Acho que por que existem muitos blogs de política no Brasil, mas a característica mais forte é que são de esquerda ou de direita, desse ou daquele lado. Não vejo ninguém fazendo o que a Nova Corja fazia, passar a metralhadora geral.

3) Como vocês pretendem se destacar na cobertura eleitoral? Pergunto isso, pois existirão portais, jornais, twitters e outros blogs também cobrindo as eleições.

Somos quatro brasileiros vivendo fora do país, dois na Europa (eu na Itália e o Mário Camera na França) um nos EUA (Fabrício Pontin) e um na China (Érica Manssour) — além do Walter Valdevino que mora no Brasil. Podemos analisar um Brasil com a visão de quem mora nas duas maiores potências do mundo, no Velho Continente e no próprio Brasil. É um modo diferente de ver as coisas.

Para as eleições vamos apontar sobretudo em vídeo, gravado e ao vivo. O site recém começou, estamos em um blog-piloto, digamos. Testando formatos, vendo o que funciona e o que não. O carro-chefe deve ser mesmo a Braziu TV e o programa de debates que faremos semanalmente, um chat ao vivo em vídeo no estilo mesa de debate, mas com quadros, reportagens. Ainda estamos arredondando o formato.~

 

VIDEOCAST
Tiago Dória

A intenção é boa, mas o TimesCast é chato

‘Em meio a uma grande expectativa, o NYTimes inaugurou nesta semana o seu videocast diário. Todo dia na hora do almoço, o TimesCast é publicado. A expectativa era grande, pois o lançamento do videocast simboliza a entrada do NYTimes na produção diária de vídeos.

O videocast é bem produzido, a ideia é boa (a intenção é aproximar os leitores do processo de produção do jornal), mas o problema é que o TimesCast é chato.

Em grande parte, o videocast nada mais é do que a reunião de pauta do jornal gravada, com os jornalistas decidindo qual vai ser a agenda do dia. Tirando a curiosidade inicial, não sei se vale perder 6 minutos do seu dia para ver 5 a 10 jornalistas em análise sobre o que é importante e merece ser destaque em um jornal impresso. Sem contar que, dependendo do horário em que você assiste ao videocast, o conteúdo já soa datado.

Parece coisa feita de jornalista para jornalista.

Já que a intenção é aproximar o público do jornal, seria interessante fazer algo bem mais dinâmico. Em vez de gravada, depois editada e publicada, a reunião de pauta inteira ou, pelo menos, parte dela seria transmitida ao vivo via streaming. E as pessoas poderiam participar via Twitter ou chat. Seria uma espécie de videochat diário ao vivo direto da redação.

De qualquer maneira, o lançamento do TimesCast é reflexo da recente filosofia do NYTimes, de não se ver mais como um jornal, mas uma empresa de informação. O ramo deles não é produzir jornal de papel, mas informação sincronizada em diversas plataformas ao mesmo tempo.

Esse post faz parte de uma série sobre as mudanças tecnológicas e de filosofia no NYTimes e que tenho abordado desde o começo de 2008.’

 

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