Tuesday, 30 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Sobre violências contra a imprensa

Está disponível no site da Federação Nacional dos Jornalistas o texto Violência e Liberdade de Imprensa no Brasil – Relatório Fenaj 2006‘. Organizada pela Comissão Nacional de Direitos Humanos da Fenaj, sob a coordenação da jornalista Carmen Silva, a pesquisa registra 68 agressões a profissionais e à imprensa e seis casos sobre coberturas de risco, arquivamento de processo e julgamentos relativos ao ano passado. Clique aqui para obter a íntegra do relatório [arquivo PDF, 613 KB]

***

Liberdade para quem?

[Apresentação do Relatório Fenaj 2006]

A conclusão do texto final deste relatório coincidiu com dois fatos bastante ilustrativos. Em São Paulo, um jornalista foi demitido sumariamente por ter cometido o crime de lembrar, em um texto obituário, a estreita colaboração dos senhores da mídia com o regime militar. Assunto indigesto e excluído da memória seletiva dos nossos patrões. Alguns dias depois, em Goiânia, 28 jornalistas foram ‘pro olho da rua’ porque ousaram usar roupa preta em protesto contra o atraso no pagamento dos salários.

Este documento com o relato e a sistematização da violência contra a nossa profissão no Brasil, em 2006, materializa o compromisso da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) de denunciar o uso da força, o abuso de poder, as ameaças veladas ou não, o assédio moral para impedir o acesso e difusão da informação.

A Federação e os nossos 31 Sindicatos filiados têm absoluta consciência de seu papel de protagonistas nessa luta, de referência da categoria e da sociedade civil. Chama atenção, mais uma vez, o acúmulo de casos durante o período eleitoral. Situação que deve ser alvo de preocupação das instituições democráticas. Lutar contra a violência descrita neste documento é nossa obrigação. Mas é preciso ir além.

Os dois acontecimentos citados acima, infelizmente, não são isolados. Pertencem a uma longa tradição de desrespeito do direito dos jornalistas de se expressarem livremente através do seu trabalho ou mesmo de reivindicar melhores salários e condições de trabalho. Traduzem a concepção liberal e arraigada dos donos da mídia: Liberdade de imprensa é, exclusivamente, a liberdade deles. Não é por acaso que resistem a qualquer norma ou regra que pretenda regular de modo democrático a ação pública dos meios de comunicação. Trata-se de defender o princípio da liberdade de empresa e só isso. Enfrentar essa ideologia autoritária e excludente também é tarefa nossa. Dos jornalistas e de todo cidadão que defenda a democracia e a justiça social no Brasil. [Brasília, maio de 2007]

******

Presidente da Fenaj