Quase um ano e meio depois de ter desaparecido no norte do Paraguai, um repórter de rádio paraguaio reapareceu com vida na cidade brasileira de São Paulo. O Comitê para a Proteção dos Jornalistas saudou a notícia do ressurgimento, com vida, de Enrique Galeano e exortou as autoridades paraguaias e brasileiras a investigarem o caso em profundidade.
Dois jornalistas paraguaios descobriram o paradeiro de Galeano durante sua própria investigação do caso, segundo as informações da imprensa e entrevistas realizadas pelo CPJ. Galeano contou aos repórteres que havia sido seqüestrado de sua residência por dois homens que o forçaram a entrar em um carro. Na manhã seguinte, o levaram ao Brasil e ameaçaram matá-lo e à sua família caso voltasse ao Paraguai. O CPJ não pôde contatar Galeano, que se encontra no Uruguai, para pedir seu comentário. Intermediários disseram que as informações para contatá-lo não são disponíveis no momento.
‘Estamos muito aliviados de saber que Galeano está são e salvo’, declarou Joel Simon, diretor-executivo do CPJ. ‘Instamos as autoridades a investigarem o relato do jornalista a fundo e a proporcionarem a segurança necessária para ele e sua família. As fronteiras nacionais não devem ser um obstáculo para esta investigação.’
Falavam português
Andrés Colmán Gutiérrez, repórter investigativo do jornal Ultima Hora, de Assunção, contou ao CPJ que ele e o veterano jornalista Oscar Cáceres se encontraram com Galeano em São Paulo, na semana passada. Cáceres, assessor de rádios comunitárias, havia trabalhado com Galeano antes de seu desaparecimento. Gutiérrez e Cáceres se reuniram com Galeano nos escritórios da Organização Regional Interamericana de Trabalhadores, em São Paulo.
Gutiérrez explicou que contatou Galeano pela primeira vez na terça-feira, durante um chat via internet sobre atividades criminosas no norte do Paraguai. Galeano comprovou sua identidade através de fotos digitais e detalhes sobre sua vida pessoal.
Galeano relatou aos jornalistas que dois homens não identificados, que falavam português, o seqüestraram na tarde de 4 de fevereiro de 2006 quando se dirigia para casa, no povoado de Yby Yaú, e o obrigaram a entrar em um automóvel. Na manhã seguinte, os seqüestradores atravessaram a fronteira com o repórter e ameaçaram matá-lo – ou a um membro de sua família – caso ele regressasse ao Paraguai, disse Gutiérrez ao CPJ.
Asilo no Uruguai
Os seqüestradores não especificaram o motivo, mas Galeano ressaltou a Gutiérrez que havia recebido ameaças de morte em várias ocasiões, depois de informar sobre laços entre o governo local e traficantes de drogas.
Galeano explicou que se escondeu em São Paulo por medo do que poderia acontecer com sua família. Declarou a Gutiérrez e Cáceres que havia decidido divulgar seu caso porque considerava que havia passado tempo suficiente para que a ameaça cedesse.
O repórter se transferiu para o Uruguai neste fim de semana e pediu asilo, informou ao CPJ Vicente Páez, secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas Paraguaios. Como medida de precaução, sua esposa e seus quatro filhos também foram transportados para uma casa-abrigo administrada pela Igreja Católica em Assunção, disse Páez. Ligações telefônicas feitas pelo CPJ para a promotora de Yby Yaú, Camila Rojas, permaneceram sem retorno até hoje.
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O CPJ é uma organização independente, sem fins lucrativos, sediada em Nova York, que se dedica a defender a liberdade de imprensa em todo o mundo