Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Ditadura será pano de fundo de novela do SBT

Legendários faz ‘jornalismo justiceiro’

Realities em busca da nova Gisele

 

Folha de S. Paulo, 20/2

Vitor Moreno

SBT mistura amor e ditadura em novela

O período da ditadura militar será, pela primeira vez, o pano de fundo de uma novela no Brasil. ‘Amor e Revolução’ estreia no dia 4 de abril no SBT com a responsabilidade de tentar conquistar o público sem desagradar quem viveu a época.

Escrita por Tiago Santiago, 47, a trama conta uma história ‘à la Romeu e Julieta’, só que nos anos de chumbo. A mocinha, estudante e engajada, vai se apaixonar por um militar, filho de um general.

Para dar veracidade à trama, pessoas que viveram ‘histórias fortes’ no período, incluindo a presidente Dilma Rousseff, foram convidadas a falar de suas experiências em depoimentos que irão ao ar no final de cada capítulo.

Consultada, a assessoria de imprensa da Presidência afirmou que a participação ‘não está nos planos dela’.

Veja os principais trechos da entrevista com o autor.

Folha – Uma das pessoas que você gostaria que participasse da novela é a presidente Dilma Rousseff. Já recebeu algum retorno?

Tiago Santiago – Nós convidamos. A notícia que eu tive é que ela vê com simpatia o convite. Eu tenho a impressão de que ela tem uma responsabilidade muito grande como presidente e quer ver o produto antes de se comprometer definitivamente.

Agora, o José Dirceu vai dar o depoimento dele e várias companheiras da Dilma que ficaram presas com ela. Espero que ela grave um depoimento até o fim da trama.

Comenta-se que há uma personagem que é inspirada na Dilma…

Isso não é verdade. Não existe nenhum personagem inspirado especificamente em uma pessoa real. Tem gente que diz que a Maria [personagem de Graziella Schmitt] é a Dilma. Não é. A Dilma não se apaixonou por um militar. Então, a Dilma é a Jandira [personagem de Lúcia Veríssimo], que gostava de um outro guerrilheiro? Sim, tem mais semelhanças com a Jandira.

Agora, assim como a Dilma, várias outras mulheres seguiram esse caminho. Qualquer pessoa que tenha ido para a luta armada vai se identificar com um trecho ou com outro. Nem estudei a vida da Dilma a esse ponto. Qualquer semelhança será mera coincidência.

Muitas das pessoas que viveram no período, tanto repressores quanto reprimidos, ainda estão vivas. Você sofreu pressão de algum dos lados?

Eu tenho conhecido muitas pessoas que na época foram para a luta armada. Sinto que existe uma vontade muito grande de quem lutou de ver a coisa bem retratada. Essas pessoas não têm medo de falar. Às vezes, é difícil, quando é uma lembrança muito sofrida. Por exemplo, relembrar uma tortura.

Já do outro lado, eu encontro silêncio. Existe a vontade de entrevistar essas pessoas também, mas ainda não conseguimos. De qualquer forma, o discurso dos torturadores, de quem achava que estava salvando o Brasil de uma ditadura do proletariado, também vai estar presente, como estava na época.

Você ou alguém da sua família chegou a militar contra a ditadura?

Eu sou de uma família de classe média que não gostava de viver numa ditadura. Nasci um ano antes do golpe, então eu vivi a minha infância na época dos generais. Ninguém da minha família chegou a ir para a guerrilha. Eu tenho um tio que é militar, mas que eu acredito que não teve nenhum envolvimento com a repressão.

Meu irmão Gerardo, muito novo ainda, chegou a ir para a Libelu [Liberdade e Luta], que foi criada depois da queda de várias organizações que pregavam a luta armada. Eu lembro que, com 13 ou 14 anos, ele me levou para uma ou duas reuniões.

Por que você resolveu falar sobre esse período?

É um período em que houve muitas injustiças e muitas perseguições. Esse é um material de muita riqueza para a teledramaturgia. Ao mesmo tempo, a televisão tinha feito pouca coisa com o tema.

Essa história já vem de quando eu era colaborador na Globo. Eu tinha apresentado o tema, não exatamente com a mesma sinopse [a Globo confirmou ter recebido a história].

Na época eu não conseguia emplacar novela. Eu sempre competia com gente que tinha feito 30 novelas, e eu não tinha feito nenhuma.

 

Folha de S. Paulo, 20/2

Mauricio Stycer

‘Legendários’ faz ‘jornalismo justiceiro’

A ideia de que o jornalismo praticado na televisão pode fugir do formato convencional para se transformar em uma arma de provocação e confronto tem vários pais, mas creio que ninguém fez isso de forma tão consistente e estruturada quanto Michael Moore.

Inicialmente no documentário ‘Roger and Me’ (1989), depois nos programas ‘TV Nation’ (1994-95) e ‘The Awful Truth’ (1999-2000), e em todos os seus filmes seguintes, Moore estabeleceu alguns padrões até hoje seguidos na cobertura crítica e abusada de governos, políticos e corporações.

O presidente de uma grande empresa não quer falar? Moore vai até a sede da companhia e o chama com um megafone. A venda de armas é descontrolada nos EUA?

Moore vai às compras.

Os taxistas de Nova York são racistas? Moore coloca um homem branco mal vestido ao lado de um negro de terno, ambos acenando para os taxistas na rua, e observa a reação dos motoristas.

Ernesto Varela, criado por Marcelo Tas em meados da década de 80, é anterior a essas experiências de Moore.

Sua abordagem a Paulo Maluf é clássica e tornou-se uma referência para jornalistas brasileiros: ‘Muitas pessoas não gostam do senhor, dizem que o senhor é corrupto. É verdade isso, deputado?’.

DEGENERAÇÃO

Algumas experiências recentes na televisão brasileira mostram uma grave deformação das tentativas de Moore e Tas.

Em primeiro lugar, acho espantoso ver repórteres como Danilo Gentili, do ‘CQC’, da Band, considerarem que os entrevistados têm obrigação de falar com a mídia no exato momento em que eles desejam.

Nessas situações, prevalece um comportamento demagógico, de cunho ‘udenista’. Destemido, com o microfone na mão, ele tenta convencer o espectador de que o político tem coisas a esconder e está com medo do herói, digo, do repórter.

O trabalho se completa na ilha de edição, com a inclusão de cenas que invariavelmente revelam seguranças violentos e maus.

Outra degeneração ainda mais grave é o que eu chamaria de ‘jornalismo justiceiro’. Não satisfeitos em denunciar a corrupção ou inépcia dos poderes públicos e privados, como Moore sempre fez, jornalistas estão tomando para si a tarefa de resolver com as próprias mãos os problemas que apontam.

O repórter Elcio Coronato, do ‘Legendários’, da Record, está se especializando nesse tipo perigoso de jornalismo que é chamado pelo criador do programa, Marcos Mion, de ‘do bem’.

No primeiro programa de 2011, ele quis mostrar, em um shopping de São Paulo, que motoristas desrespeitam a reserva de vagas para idosos.

Para isso, impediu, com seu próprio carro, que veículos burlando a lei deixassem o local. Dessa forma, obrigou os motoristas a ouvirem seu sermão sobre aquilo que haviam feito.

COLETOR DE CONES

No segundo programa, exibido no sábado, dia 12, Coronato pretendeu mostrar a falta de fiscalização de estacionamentos irregulares em São Paulo. Sinal disso são os cones, colocados por guardadores particulares, em espaços públicos.

Dentro de uma van, o repórter passou por uma rua recolhendo cones e, por fim, foi à porta da CET e os despejou na calçada.

O ‘jornalismo justiceiro’ é primo de outras formas de ‘fazer justiça com as próprias mãos’. Mais que autoritário, revela o desconhecimento das regras sociais numa sociedade democrática.

O desrespeito à lei não pode justificar outros desrespeitos. Jornalista não é polícia ou juiz.

MAURICIO STYCER é repórter e crítico do UOL

 

Folha de S. Paulo, 20/2

Keila Jimenez

A televisão ainda não descobriu a sua Gisele

As próximas top models ainda não são tops. E estão longe disso. Vencedoras de realities como ‘Menina Fantástica’ (Globo) e ‘Brazil’s Next Top Model’ (Sony) ainda correm atrás, e muito, para tentar chegar lá.

‘Teste tem todo dia’, conta Regina Krilow, vencedora da edição de 2008 do quadro do ‘Fantástico’ (Globo).

Tayna Carvalho, que venceu o mesmo reality no fim de 2010, ainda está em ritmo pós-programa. Mesmo tendo recebido parte do prêmio de R$ 500 mil do concurso, divide o quarto com outras três amigas em uma casa mantida por uma agência, onde moram 16 meninas.

Camila Trindade, vencedora do programa da Sony em 2009, diz que fez grandes campanhas de lojas de varejo, mas ainda não virou top.

Capas de revistas são poucas. As vencedoras do reality da Sony fizeram uma, prevista no contrato do programa. O mais comum é fotografar para editoriais. Regina, que se define como modelo comercial, ‘diferente das meninas esqueléticas da passarela’, fez quatro em janeiro.

Desfiles em grandes semanas de moda como a SPFW (São Paulo Fashion Week) também são raros.

Entre todas, a maior média é de Maíra Vieira, vencedora do reality da Sony em 2008: duas temporadas da SPFW.

No exterior então, todas ainda engatinham.

Maíra chegou a fazer um casting para um desfile da Armani em Milão. ‘Mas não rolou’, conta ela.

Menos fácil do que imaginavam, a batalha após o concurso faz algumas desistirem pelo caminho. É o caso de Mariana Velho, primeira vencedora do reality do canal pago Sony, em 2007. Segundo a agência, ela desistiu da carreira de modelo.

Já Tayna conseguiu fazer um editorial para a revista ‘GQ’ na Itália e embarca em março para uma temporada de três meses em Nova York.

A visibilidade e a mudança no estilo de vida propiciada pelos concursos, no entanto, são sentidas por todas.

‘A primeira vez que entrei num avião foi para a entrevista do programa em São Paulo’, conta Camila.