Saturday, 27 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Em ato de apoio, padre Júlio Lancellotti abençoa jornalistas

Leia abaixo a seleção de sexta-feira para a seção Entre Aspas.


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O Estado de S. Paulo


Sexta-feira, 2 de novembro de 2007


JÚLIO LANCELLOTTI
Rodrigo Pereira


Padre abençoa jornalistas


‘O padre Júlio Lancellotti abençoou ontem jornalistas e, nominalmente, a Rede Record, em ato de apoio realizado por amigos e entidades civis ligadas à defesa dos direitos humanos na frente da casa de sua mãe. Com a barba por fazer e semblante fechado, foi a única manifestação do padre, em tom de desabafo.


‘É natural, foi a Record que mais colocou progamas no ar sobre o padre. Ele está muito deprimido. Agora temos de esperar que se faça justiça, que ele pare de ser réu onde ele é vítima’, disse a presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe), Rose Nogueira. Procurada, a Rede Record não quis comentar a declaração do padre.


O Condepe e 23 entidades lançaram ontem manifesto em apoio ao padre Júlio, na frente da unidade 2 da Casa Vida, abrigo para crianças e adolescentes no Tatuapé, zona leste da capital. De lá os líderes do movimento foram à casa do padre entregar o documento, declarar o apoio e conversar com ele. Na porta da casa, o religioso esboçou sorrisos ao reconhecer algum colega ou criança atendida por ele, sempre seguido de um abraço, beijo e uma bênção. Ele ainda rezou o pai-nosso rodeado por 11 crianças atendidas por associações ligadas à ONG Nossa Senhora do Bom Parto.


Judith Lupo, presidente da Bom Parto, reclamou das doações que foram canceladas após as denúncias do casal Anderson Marcos Batista e Conceição Eletério contra Lancellotti. ‘Já comprometeu muito, o mal se espalha muito rápido, é uma característica da informação na sociedade de massa’, disse. Judith contou que muita gente ligou para ela, avisando que não doaria mais para a ONG. ‘Perdemos três convênios que estavam em processo de serem firmados, que juntos renderiam R$ 16 mil por mês em dois anos. Para nós isso fará muita falta.’


Judith acredita que o padre deu dinheiro ao casal por pânico, ‘que mexe com as pessoas’, e disse que, mesmo que ao final das investigações se comprove a inocência dele, sua imagem não será mais recobrada.


O coordenador do Movimento Nacional de Direitos Humanos, Ariel de Castro Alves, disse temer pelo futuro de Batista. ‘O que ele cometeu é muito grave, atentou contra a vida, extorquiu e quebrou a confiança de uma pessoa que o defendia. Isso é mal visto dentro do sistema prisional, tem que ficar no seguro, protegido dos demais presos. É o que eles consideram pilantra.’’


 


VENEZUELA
O Estado de S. Paulo


Marcha anti-Chávez acaba em violência


‘Terminou em violência uma passeata que reuniu dezenas de milhares de estudantes venezuelanos para protestar contra a reforma constitucional proposta pelo presidente Hugo Chávez. Os manifestantes, entre os quais também havia professores e membros de partidos de oposição, entraram em choque com a polícia na frente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), em Caracas. Eles foram dispersados com gás lacrimogêneo e disparos de balas de borracha. ‘Não há justiça na Venezuela’, disse Henry Vivas, aluno da Universidade Central que perdeu dois dentes ao ser golpeado por policiais.


O protesto tinha como objetivo pedir o adiamento por pelo menos dois meses do referendo sobre a reforma, previsto para 2 de dezembro. Além disso, os estudantes querem que a reforma seja votada por temas. ‘Não nos tirarão o direito de protestar’, gritavam.A proposta de reforma constitucional apresentada pelo presidente em agosto tem como objetivo consolidar o ‘socialismo do século 21’ no país. Ela inclui medidas polêmicas como o fim da autonomia do Banco Central e a reeleição ilimitada – que permitirá a Chávez perpetuar-se no poder. Também estabelece a redução da jornada de trabalho de 8 para 6 horas – mudança popular segundo as pesquisas.


Originalmente, a proposta incluía alterações em 33 dos 350 artigos da Carta de 1999, mas a Assembléia Nacional venezuelana, que está tramitando a reforma, acrescentou mudanças em outros 36 artigos. Entre elas estão a supressão do direito à informação em caso de que seja declarado estado de exceção e medidas que reduzem a autonomia universitária.


Chávez lançará hoje sua campanha pelo ‘sim’ no referendo em um comício em Barinas, onde nasceu. De acordo com o jornal El Nacional, o presidente venezuelano também deve se reunir hoje com Rodrigo Granda, o chanceler das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Chávez está mediando um acordo entre a guerrilha e o governo colombiano.’


 


INTERNET
O Estado de S. Paulo


Visita a GodTube bate 3 milhões em um mês


‘Um portal de vídeos cristão, o GodTube, lançado em agosto, já atingiu a marca de 3 milhões de visitantes por mês. Cópia do YouTube, o site não tem conteúdo profano, sexual ou violento. Um dos arquivos mais visitados mostra uma menina de cinco anos que recita o Salmo 23. Quatro milhões de pessoas já viram esse vídeo. Em agosto, o GodTube foi o site americano que mais cresceu.’


 


LITERATURA
Ubiratan Brasil


Desabafos de Ferreira Gullar garantem prêmio


‘O desabafo de Ferreira Gullar contra o curso do mundo atual lhe rendeu mais popularidade e, na noite de anteontem, um prêmio de R$ 30 mil. Seu livro Resmungos (Imprensa Oficial), reunião de crônicas publicadas na Folha de S.Paulo, foi escolhido como o Livro do Ano de Ficção durante a entrega do 49º Prêmio Jabuti, na Sala São Paulo. O escolhido como o melhor de Não Ficção foi Latinoamericana – Enciclopédia Contemporânea da América Latina e do Caribe (Boitempo), portentosa obra com 980 verbetes com dados gerais atualizados sobre cada país da região. Os organizadores também receberam R$ 30 mil.


‘Para alguma coisa ainda serve um cara que dura tanto tempo’, ironizou Gullar, de 77 anos, ao receber seu prêmio. Ele confessou surpresa com a escolha, que a dividiu com ilustrador Antonio Henrique Amaral, autor das aquarelas, xilografias, óleos, colagens e intervenções computadorizadas que ornamentam as páginas. ‘Antonio é verdadeiro inspirador do livro, fruto da qualidade de seu trabalho.’


Notável por seu trabalho na poesia (Poema Sujo é uma obra considerada por muitos como uma das principais realizações poéticas do século passado), Gullar divertiu-se ao ser premiado justamente por um trabalho em prosa. ‘Na verdade, sempre fui um cronista – quando vivi exilado na Argentina, escrevi uma série de crônicas para o Pasquim e outras publicações’, conta. ‘Acho que é um trabalho reflexivo muito interessante e, como sou participante da confusão, da bagunça que acontece em nosso país, posso também aproveitar para desabafar ou, como diz bem o título do livro, resmungar bastante.’


Embora complementares, os trabalhos são realizados de forma bem distinta. Gullar conta que a crônica é uma encomenda – tem prazo e tamanho definidos, muitas vezes até o tema. ‘Já a poesia, eu não governo: vem quando ela quer. É impossível alguém se programar para escrever poesia.’


A presença de Ferreira Gullar à festa realizada em uma lotada Sala São Paulo era um indício de que seu livro seria escolhido como a melhor ficção do ano – a ausência do vencedor do Jabuti de melhor romance, Carlos Nascimento Silva, por Desengano (Agir), indicava que o caminho estava aberto para Gullar. Seu mais forte concorrente, portanto, parecia ser Lampião & Lancelote (Cosac Naify), de Fernando Vilela, que, fato inédito, venceu o Jabuti na categoria de melhor infantil e ilustração, além da segunda colocação entre as melhores capas.


Também a vitória de Latinoamericana foi muito comemorada. ‘Trata-se de um reconhecimento da importância da América Latina e do Caribe’, comentou o sociólogo Emir Sader, um dos organizadores. ‘Essa é uma região ainda muito esquecida e que precisa urgentemente ser resgatada.’ Segundo ele, o projeto nasceu depois que políticas e concepções neoliberais rebaixaram os países a meros campos de investimento e de especulação. ‘A bibliografia sobre a América Latina e o Caribe foi vítima da mesma degradação que sofreram nossas nações.’


Antes de terminada a cerimônia, José Luiz Goldfarb, curador do Jabuti, anunciou que a festa do próximo ano, que vai marcar o cinqüentenário do prêmio, vai estar em sintonia com a comemoração dos 200 anos da vinda da família real portuguesa ao Brasil, fato que iniciou a produção editorial e jornalística no País. Goldfarb alertou, porém, que o prêmio não pretende se expandir, como aconteceu com o Portugal Telecom. ‘O Jabuti existe para ajudar a produção da escrita brasileira, portanto, não vamos abrir para autores de língua portuguesa de outros países’, comentou.’


 


TELEVISÃO
Alline Dauroiz


Prazo prorrogado


‘Net prorrogou por 15 dias o prazo para continuar a exibir o canal Record News, enquanto decide se vai firmar ou não novo contrato com a emissora. O prazo anterior, que expirou no domingo, havia sido de 30 dias.


A Record News entrou no ar na TV paga ocupando a vaga da Rede Mulher no line up das operadoras. A Net, que tem contrato firmado com a Rede Mulher, ameaçou tirar a emissora do ar. Depois, ficou acertado que exibiria o canal enquanto durassem as negociações.


Apesar de o diretor de Programação da Net, Fernando Magalhães, dizer que ‘vai bem’ a negociação para que a Record News continue na grade, a Net não hesitou em substituir o sinal da emissora pela TV Justiça em cidades da Baixada Santista, do ABCD e em Mauá, para cumprir a lei que obriga a transmissão de alguns canais a 100% dos assinantes.


‘Para fazer o ajuste de line up levamos em conta a relevância da TV e os contratos com os canais. Diante dessa situação (com a Record News), o que você escolheria?’, pergunta Magalhães.


Do jeito que a coisa anda, os assinantes da Net correm o risco de ficar sem a Record News na programação.’


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Folha de S. Paulo


Sexta-feira, 2 de novembro de 2007


DESVIOS
Nelson Motta


Criatividade e organicidade


‘RIO DE JANEIRO – O que o mensalão federal, o mineiro e agora o sul-mato-grossense têm em comum, além da ladroagem, é a evidência de que os fundos que os bancavam eram desviados de verbas de publicidade do governo federal, de estatais, Estados e prefeituras, que são virtualmente incontroláveis.


Como as comissões sobre as verbas de mídia são fixas e pagas pelos veículos às agências, as concorrências publicitárias acabam decididas por critérios subjetivos, como criatividade, modernidade, organicidade, que facilitam e disfarçam gatunagens e politicagens.


É óbvio que as campanhas de efetiva utilidade pública, saúde, educação, segurança, transporte, serviços à população, são mais do que necessárias, obrigatórias, deveriam até merecer descontos dos veículos.


Cínica e deslavadamente, todos sempre dizem que estão ‘prestando contas da administração’. Então que o façam com seu próprio dinheiro ou do partido que os elegeu, não com o do contribuinte. Quem quer mesmo prestar contas exibe todas as despesas, receitas e concorrências de sua administração na internet, em tempo real, para que todos possam acessar. Não custa nada, só vontade.


Mas ninguém ganharia nada com isso, agências, veículos, funcionários, administradores, partidos, governantes … só os cidadãos que pagam a conta: todos nós.


É inútil tentar regulamentar e fiscalizar as concorrências, o que precisa acabar é a gastança de dinheiro público na promoção de governos e governantes. Que o façam no horário eleitoral ‘gratuito’ ou com os generosos fundos partidários que já lhes pagamos. Ou nas TVs públicas.


A publicidade no Brasil é competente, rica e respeitada, a economia está bombando, e as boas agências certamente terão muitas outras fontes de receita mais limpa.’


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


A polícia perdeu uma


‘Foi a manchete ao longo do dia na maioria dos sites de jornais de prestígio, tablóides e TVs da Grã-Bretanha. ‘Polícia culpada por fuzilamento de Menezes’, no ‘Guardian’, com a cobertura de longe mais simpática ao brasileiro assassinado em Londres. ‘Tiras culpados por Menezes’, bradou o popularesco ‘Sun’.


Outros foram mais contidos ou se concentraram, como o ‘Telegraph’, na pressão sobre o chefe de polícia, Sir Ian Blair, que ‘se recusa a pedir demissão por Menezes’. A BBC, como de praxe, foi institucional ou governista. O ‘Times’ de Rupert Murdoch, na mesma linha, evitou destacar a notícia -e voltou a sublinhar que Jean Charles de Menezes teria usado cocaína.


Aqui e ali, no ‘Guardian’ e outros, atenção à família do brasileiro, que atacou a polícia por ‘descer ao esgoto’ com ataques a todo custo, durante o julgamento.


E POR AQUI


Foi raro o site ou portal que levou ou manteve nas manchetes a condenação da ação policial inglesa, antes mesmo de entrar no ar a notícia sobre a queda dos helicópteros em São Paulo. O mesmo se acompanhou ao longo do dia nos canais abertos -e depois, nos telejornais. O da Band nem deu na escalada, preferindo ‘Romeu e Julieta: dois pandas páram zoológico do Japão com cenas de amor’.


DO GÁS AO PETRÓLEO


Com dois dias de manchetes sobre o gás no ‘Valor’, que até achou por bem sublinhar que ‘não existe motivo para pânico’, e agora sob fogo cerrado do ‘Jornal Nacional’, a Petrobras recebeu más notícias de outra parte, ontem.


Na Veja On-line, ‘a produção em queda de petróleo’. E em longa ‘análise’ da Reuters, depois, ‘o crescimento da produção de petróleo no Brasil é desanimador, por enquanto’. No Ocidente, diz a agência, o país e o Canadá ‘são as únicas áreas em crescimento’, sobretudo depois do aumento ‘estelar’ de 2005, daí a preocupação externa.


DAQUI A UM MÊS


Na home da Agência Brasil, ‘TV Brasil estréia em 2 de dezembro em três Estados e Distrito Federal’. Abrindo o texto, ‘quem mora em São Paulo’, maior praça em publicidade, ‘já poderá conferir’.


Na blogosfera, desde a notícia de que Globo, Record e SBT se uniram para restringir a publicidade na TV estatal, espalham-se reações às redes.


WEB, NÃO TV


No site do ‘El País’, o enunciado de que as ‘crianças preferem a internet à TV’ na ‘Ibero-América’. Ouvindo 20 mil jovens entre 6 e 18 anos, é pesquisa da Universidade de Navarra para a Telefônica -que investiu nos portais Terra espalhados pela região.


Abrindo a reportagem do jornal espanhol, ‘O reinado da TV tem os dias contados’.


ABRE TUDO


O confronto pelo mercado em explosão das redes sociais avançou ontem com a notícia dos blogs TechCrunch e Bits, este do ‘New York Times’, de que o Google/Orkut convenceu o MySpace a entrar no projeto OpenSocial, contra o Facebook.


Este último cresceu nos EUA, ameaçadoramente, após abrir o ‘formato proprietário’ para os usuários criarem aplicativos. Agora, os gigantes Google e MySpace correm atrás para se abrirem também. E a dúvida é se o Facebook agora vai ceder e se unir à frente OpenSocial do Google.’


 


NEGÓCIOS
Folha de S. Paulo


Oi tem lucro 136% maior e investe em banda larga


‘O Grupo Oi anunciou anteontem lucro líquido de R$ 637 milhões no terceiro trimestre de 2007, alta de 135,9% sobre o mesmo período de 2006.


A empresa de telecomunicações afirmou que a cobertura de seu serviço de banda larga deve praticamente dobrar no próximo ano. O diretor de Finanças e de Relações com Investidores, José Luís Salazar, prevê que a companhia levará a banda larga a 400 cidades até o fim de 2008, contra 220 hoje.


Salazar disse que a operadora está se preparando para um acirramento da competição nesse mercado. Um dos motivos, explicou, é a entrada da tecnologia 3G (de terceira geração de celulares, com internet móvel de alta velocidade). Ele destacou que a Oi está direcionando um grande volume de investimentos para a banda larga.


A empresa vai concentrar boa parte dos investimentos no último trimestre deste ano. De janeiro a setembro, a Oi investiu R$ 1,3 bilhão. Ao longo de 2007, a expectativa é que o total de recursos chegue a R$ 2,1 bilhão. Previsão anterior era de R$ 2,4 bilhões.’


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


Novela da Record estaciona e alivia Globo


‘As atuais novelas da Record, ‘Luz do Sol’ e ‘Caminhos do Coração’, estacionaram no Ibope da Grande SP. Ao contrário do que a Record esperava e a Globo temia, elas não são grandes sucessos de audiência.


‘Luz do Sol’ tem até agora média de nove pontos. É bem menos do que ‘Prova de Amor’, o maior sucesso da faixa, dava com o mesmo número de capítulos _16 pontos.


A produção, na reta final da história, divide com ‘Essas Mulheres’ a lanterna do ranking do primeiro horário de novelas.


Já ‘Caminhos do Coração’, que prometia 20 pontos, está com 12, menos do que ‘Cidadão Brasileiro’ (13 no mesmo número de capítulos) e só um a mais do que ‘Vidas Opostas’.


O resultado de ‘Caminhos’ não é ruim para a Record, porque mantém a audiência do horário, mas frustrou setores da rede. Numa tentativa de melhorar seu ibope, a trama terá a morte de personagens, um maior envolvimento do casal protagonista e a entrada de novos mutantes, do mal, que vivem em uma ilha à la ‘Lost’.


A Record quebrou a cara mesmo foi com sua versão de ‘Vale a Pena Ver de Novo’. A reprise de ‘Essas Mulheres’ não passa dos três pontos.


Executivos da Globo, pelo menos por enquanto, respiram aliviados. Perder o futebol para a Record e ver uma novela da concorrente dar mais de 20 pontos são os maiores pesadelos da cúpula da emissora.


BOA NOTÍCIA 1 A TV Gazeta avisou à Igreja Universal que não tem interesse em renovar contrato com a instituição, a vencer em 31 de dezembro. A Universal ocupa quatro horas diárias da Gazeta, das 6h às 8h e das 20h às 22h.


BOA NOTÍCIA 2 A Gazeta ainda não definiu o que entrará no lugar das ‘sessões descarrego’ no horário nobre. Pode ser um programa de televendas ou o de Ronnie Von. Mas programa de outra igreja não será.


AGOURO O departamento de programação da Globo se esforçou, mas não conseguiu produzir chamadas que explicassem ‘O Sistema’, série que estréia hoje. Para muita gente na emissora, isso é indicador de que o programa poderá ser um fracasso.


RECUO Depois de uma melhora no Ibope na semana passada, as novelas da Globo voltaram a cair. ‘Malhação’ chegou a dar 19 pontos anteontem. ‘Duas Caras’, que nos três primeiros dias da semana passada atingiu 43, retornou aos 37.


AZEDOU Setores da Globo avaliam que o texto de ‘Duas Caras’ contém uma acidez não compreensível para o grande público e que o elenco é muito velho.


TV CELULITE Apesar de não passar dos três pontos, o ‘novo’ ‘Fantasia’, do SBT, já mexe com a programação caça-níquel da madrugada, aquela que faz dinheiro com telefonemas. O trash ‘Hyper QI’, na Rede TV!, cujo apresentador estapeia regras gramaticais básicas, agora apela a strip-teases.’


 


Ana Laura Nahas


GNT confronta famosas e anônimas


‘A atriz Ingrid Guimarães (‘Sob Nova Direção’) caminha na contramão dos programas em que desconhecidos fazem qualquer negócio para serem famosos, em ‘Mulheres Possíveis’, que o GNT exibe desde a semana passada, em 13 episódios. Sua tese é uma só: a de que todas, celebridades ou não, têm no fundo as mesmas questões, dúvidas e desejos semelhantes, medos e convicções parecidos.


A série começou com a cantora Maria Rita e a fotógrafa Masi Torres (reprise hoje, às 23h30) e segue com a atriz Irene Ravache e a gari Isabel Vieira Peregrino (amanhã, às 21h30). A cada episódio, reunirá uma artista e uma anônima em torno de um tema: privacidade foi o primeiro; vaidade, o segundo (o próximo, em 10 de novembro, será amizade).


No programa de amanhã, Ingrid Guimarães confronta a falta de preocupação da atriz com o visual à dedicação da gari -uma compra camisetas básicas iguais para não ter o trabalho de escolher, não freqüenta academia e não usa protetor solar; a outra escova os cabelos na noite anterior e acorda às 3h40 da madrugada para se maquiar.


Para terminar, as três encenam um esquete. ‘O grande barato é ver como as duas se comportam. E as desconhecidas têm a oportunidade de perceber os problemas pelos quais as atrizes, cantoras e outras famosas passam’, diz a agora apresentadora.


MULHERES POSSÍVEIS


Quando: amanhã, às 21h30; reprises sábado às 3h30; domingo, às 14h; quinta, às 11h; e sexta às 23h30


Onde: GNT’


 


DOCUMENTÁRIO
Silvana Arantes


Todas as mulheres do mundo


‘Em sua carreira, o cineasta Eduardo Coutinho, 74, ressuscitou duas vezes. ‘A primeira’, cita ele, com ‘Cabra Marcado para Morrer’ (1984), que superou a interdição da censura, tornou-se um clássico e abre hoje em São Paulo retrospectiva em homenagem ao diretor e em comemoração ao segundo aniversário do projeto ‘Folha Documenta’.


A segunda vez em que Coutinho ressuscitou foi no fim dos anos 90, quando ‘Santo Forte’ pôs fim a um hiato de 15 anos sem que ele lançasse filmes.


Neste 2007, Coutinho acaba de se reinventar, com ‘Jogo de Cena’, um filme ‘em primeiro lugar sobre as mulheres e, em segundo, sobre a representação’, conforme ele define.


O novo longa encerra a retrospectiva na próxima quinta (8/11), às 19h, em sessão especial seguida de debate com o diretor. A estréia oficial nas salas ocorre no dia seguinte.


Gravado no cenário fixo de um teatro, ‘Jogo de Cena’ mostra personagens que vão ao encontro de seu autor, e não o contrário, como era típico na obra de Coutinho.


O diretor deu às atrizes profissionais que participam do longa a chance do ‘take dois’, incorporando o artifício da repetição, vetado em seus documentários anteriores.


Apesar dessas diferenças, Coutinho argumenta que ‘Jogo de Cena’ não tem essência distinta de seus demais filmes, apenas a radicaliza, ‘por uma razão simples’, diz: ‘As pessoas que filmo são atores naturais’. Ou seja, todos representam.


Em ‘Jogo de Cena’, atrizes naturais têm suas narrativas biográficas reinterpretadas por atrizes profissionais. Apenas três das mulheres que representam vivências alheias são amplamente conhecidas pelo público -Marilia Pêra, Andréa Beltrão e Fernanda Torres.


Nos demais casos, o diretor embaralha os depoimentos (as cartas do jogo) de forma a não deixar evidente quem atua e quem interpreta a si mesma.


Coutinho acredita que, ao misturar atrizes naturais e profissionais, ‘Jogo de Cena’ ressalta que ‘a questão da verdade está superada’ num documentário, ‘se a pessoa performa bem sua vida e sua memória’.


Em outras palavras, dada a inevitabilidade do teatro social, é vã a busca pela verdade, mesmo num documentário. ‘O que é absolutamente verdadeiro é que houve uma filmagem. O resto não importa’, afirma.


É o interesse de Coutinho pela ‘performance’ que o faz defender até mesmo discursos antagônicos ao seu pensamento, como o da personagem de ‘Edifício Master’ que classifica o brasileiro como um povo preguiçoso. ‘Embora exprima um pensamento claramente reacionário, ela fala aquilo com uma veemência e uma visceralidade extraordinárias’, diz o diretor, para acrescentar: ‘Do lugar em que ela fala, posso compreendê-la. [A mulher é] Espanhola, 50 anos, [criada no] puritanismo católico, vem para o Brasil, trabalha desde os 15’.


Talvez venha da disposição de Coutinho em compreender suas personagens o fato de que quase todas as mulheres de ‘Jogo de Cena’ relatem ao diretor experiências duríssimas. Coutinho identifica nesses relatos íntimos um desejo de ‘cicatrizar a ferida’. Ele diz que, ‘geralmente, as pessoas que contam coisas fortes sobre a vida, depois da filmagem, se sentem muito bem’.


Complicação


Para o diretor, o desafio que se impõe após a conclusão das filmagens é o de respeitar os relatos na hora de editá-los, de forma a não acentuar as feridas.


Em ‘Jogo de Cena’, diz ele, ‘foi muito complicado’ escolher os trechos dos depoimentos e decidir se ‘determinados fatos poderiam ou não ser contados por uma atriz’.


Em pelo menos um depoimento, Coutinho ‘não quis brincar com nada’ do que havia sido narrado e excluiu da montagem a interpretação da atriz.


No caso da mulher cujo filho é morto ao reagir a um assalto, o diretor optou por exibir na íntegra o relato da personagem real e o da atriz. Poucos dos espectadores que já assistiram ao filme em festivais foram capazes de identificar qual era qual.


‘Comecei a ver como é relativo o julgamento sobre o bom ator’, diz o cineasta, que torce pela ascensão profissional da ‘extraordinária atriz’ que interpreta a mãe. ‘Ela é terceira figurante na Globo. Quem sabe passe a figurante com fala.’


Além de tentar desvendar o jogo de cena, o público, em geral, deixa o filme com a dúvida de por que Coutinho filmou só mulheres. Ele responde: ‘Escolho o outro de mim. Se sou supostamente homem, vou falar com supostamente mulheres, pelo menos anatomicamente’.


Colaborou LEONARDO CRUZ, editor-assistente da Ilustrada.’


 


YOUTUBE
Mônica Bergamo


‘O Serra é um menino mimado’


‘Uma fala atribuída ao maestro John Neschling, da Osesp, em que ele chama o governador José Serra de ‘menino mimado’ e ‘autoritário’ foi parar no YouTube há três dias e está incendiando o mundo da música clássica em SP -e também o Palácio dos Bandeirantes, onde Serra despacha. As falas creditadas ao maestro teriam sido gravadas sem que ele soubesse, em ensaios realizados em abril e julho deste ano. Na época, Serra não escondia a intenção de tirar o maestro da orquestra.


Ele acabou ficando no cargo porque tem o apoio dos conselheiros da Fundação Osesp, que recebe verbas do governo, mas tem independência.


Por meio da assessoria, a Fundação Osesp afirma que Neschling está em turnê na Argentina. Não nega o conteúdo das falas, mas diz que o maestro não comentará o fato de ter sido gravado. A assessoria afirma também que ‘o assunto é antigo e as duas partes envolvidas [governo Serra e Osesp] superaram a questão e se resolveram’. A assessoria de Serra diz que ele ‘está em Zurique’ e não tomou conhecimento do vídeo.


Abaixo, os principais trechos que estão no YouTube, com o título ‘Neschlíngua’:


‘Eu tenho tomado porrada de todos os lados todos os dias. É coisa de louco. Mas a Mônica Bergamo hoje me sacaneia. É uma sacana. Essa mulher ‘tá’ me sacaneando sistematicamente. Tentando criar um fato que não existe. Em realidade…ele até existe [Neschling se refere a notícias publicadas na coluna de que Serra pretendia tirá-lo da Osesp].’


‘Existe um mal-estar do governo em relação a mim, pessoalmente, por uma questão meramente de querer mandar.’ ‘Acontece que tem um conselho. A Fundação [Osesp] tem um conselho e o conselho não abre mão de mim (…) E o conselho manda. E o governador pode ter desejos, mas não manda no conselho.’


‘Disse que não ia [se apresentar com a orquestra na Virada Cultural]. Caiu o mundo pro Serra. O Serra é um menino mimado, na verdade, um autoritário, um excelente administrador, mas uma pessoa muito complicada de se lidar. E não esqueceu. Em três anos, ele não esqueceu, e colocou a culpa toda em mim.’


‘Aqui ninguém mexe. Aqui quem manda somos nós (…) Eu não tive nenhum problema em mandar embora sete músicos anos atrás e não terei nenhum problema em mandar embora outros sete (…) Eu sinto muito, mas não há discussão. Se houver discussão é fora. É rua na hora, na hora! Não quero nem saber!’


‘Minha vontade é ir embora agora e dizer ‘foda-se tudo’ (…). Segurem-se e fodam-se.’’


 


CINEMA
Cássio Starling Carlos


Trunfo de biografia é se concentrar no final da vida de compositor popular


‘Muitos apontam uma crise de ficção por trás da avalanche de filmes baseados em fatos reais e na freqüente presença de ‘biopics’ nas telas, além da expansão da oferta de documentários com boa receptividade de público. ‘Noel – Poeta da Vila’ participa dessa tendência.


A vantagem do filme, estréia de Ricardo van Steen, é que ele não se contenta em reconstruir passo a passo a trajetória de um mito de nossa música popular.


‘Noel’ se concentra no período final da vida do compositor, desde o momento em que decide largar a escola de medicina para se dedicar ao samba até a morte por tuberculose, aos 26 anos. Ou seja, opta por um recorte cronológico demarcado pela fase em que Noel se transforma em Noel, em vez de reconstituir toda a sua vida.


Desse modo, não há aqui aquele tipo de fascinação presente em filmes como ‘Ray’ e ‘Piaf’, que busca criar empatia exclusivamente por meio da fixação nas atribulações do personagem e que, de fato, apenas restauram o culto da idéia romântica de gênio.


Apesar de focalizar o artista, Van Steen não perde de vista aquilo que o cerca e que condicionou a emergência de uma obra tão peculiar em termos musicais e poéticos: o grupo social, a cultura do período e o culto à malandragem.


Esse entorno ganha peso no filme graças a um excelente trabalho de direção de arte, que reconstitui os espaços públicos (ruas, botequins, clubes) por onde Noel transitou acompanhado de seus pares e amantes.


O mesmo ponto forte, porém, torna-se uma das fragilidades do filme, que muitas vezes contenta-se com o registro desse acabamento de qualidade em imagens bonitas, mas sem suficiente força dramática.


E há que se ressaltar entre seus méritos a presença de Rafael Raposo, ator estreante que incorpora Noel no sentido mediúnico do termo. Assim, encontra um ator capaz de ressuscitá-lo diante dos nossos olhos.


NOEL – POETA DA VILA


Direção: Ricardo van Steen


Produção: Brasil, 2006


Com: Rafael Raposo, Camila Pitanga


Onde: estréia amanhã no HSBC Belas Artes, Reserva Cultural e em circuito


Avaliação: regular’


 


LITERATURA
Eduardo Simões


Gullar atribui Jabuti às belas ilustrações do livro


‘O poeta e colunista da Folha Ferreira Gullar se diz surpreso e contente com o Prêmio Jabuti de Livro do Ano (ficção), que recebeu anteontem à noite em São Paulo, por ‘Resmungos’, uma compilação das colunas que o autor publicou no jornal em 2005. ‘Acho que [o prêmio] se deve ao fato de o livro ser muito bonito, levou em conta a qualidade dos textos, mas foi também feito em função das ilustrações do Antonio Henrique Amaral, as mesmas que saem na coluna. É um livro de arte de alto nível’, diz Gullar, que em 2000 já havia recebido o Jabuti pelo livro de poesia ‘Muitas Vozes’ (José Olympio). O poeta e cronista vai receber R$ 30 mil.


A coluna de Gullar sai aos domingos na Ilustrada. Na última, ‘Um Operário Chega ao Paraíso’, do dia 28/10, o poeta escreveu que oscila ‘entre os resmungos e a reflexão’. E que suas colunas ocorrem ‘aleatoriamente, ao sabor dos acontecimentos e de súbitas sacações, nem sempre originais’.


Gullar revela, no entanto, que nem sempre se prende ao noticiário. O poeta, que já havia tido experiência com crônicas semanais entre 1958 e 1971, no ‘Jornal do Brasil’, diz que sua maior preocupação é a de não ‘atormentar o leitor com comentários pesados’.


‘Acho que o noticiário já é pesado. Então, às vezes, prefiro fazer algo poético, engraçado, para não sobrecarregar. Outras, faço questão de opinar, então fico resmungando e ponho tudo para fora.’


O escritor se diz ainda um obcecado no cumprimento de suas obrigações jornalísticas, que chega a ‘atormentar’ o pessoal do jornal para que os textos saiam sem erros. ‘Ao mesmo tempo vivo temeroso de que algo aconteça e me impeça de escrever. Por isso, tenho crônicas escritas que podem ser publicadas a qualquer momento. Na medida em que aparece um assunto interessante, dou preferência. Quando não, eu publico as atemporais.’


Gullar lançou no mês passado o livro ‘Experiência Neoconcreta: Momento-Limite da Arte’ (Cosac Naify), grande ensaio em que revisa sua participação no movimento Neoconcreto e seu rompimento estético com os poetas concretos.


Não-ficção


O outro prêmio de Livro do Ano (não-ficção) foi para ‘Latinoamericana – Enciclopédia Contemporânea da América Latina e do Caribe’, trabalho coletivo de Emir Sader, Ivana Jinkings, Carlos Eduardo Martins e Rodrigo Nobile.


Em sua 49ª edição, organizado pela Câmara Brasileira do Livro, o Jabuti é o mais tradicional prêmio literário do Brasil. Anualmente, editoras de todo o país inscrevem seus livros em 20 categorias. Os vencedores são escolhidos por um corpo de jurados. Os nomes dos três primeiros colocados em cada uma das seções haviam sido anunciados no dia 21 de agosto. A lista completa dos vencedores está no site www.premiojabuti.org.br.’


 


Folha de S. Paulo


Novo livro da autora de ‘Harry Potter’ terá sete cópias


‘Uma coleção de cinco histórias escritas e ilustradas à mão com apenas sete cópias é a nova empreitada de J.K. Rowling, autora da bem-sucedida série ‘Harry Potter’, encerrada em julho deste ano com o lançamento de ‘Relíquias da Morte’, que chega ao Brasil no próximo dia 10.


No lugar das histórias do bruxinho, cujos livros já venderam quase 400 milhões de exemplares, ‘The Tales of Beedle the Bard’ (os contos de Beedle, o bardo) reúne contos de fadas.


Para a decepção dos fãs, a escritora escocesa decidiu que a nova obra não terá lançamento comercial.


Um exemplar será leiloado pela casa Sotheby’s no dia 13 de dezembro a um valor inicial de US$ 62 mil (cerca de R$ 108 mil). O dinheiro será doado a uma organização que ajuda crianças na Europa. Os demais livros, de acordo com Rowling, serão dados de presente.


‘The Tales of Beedle the Bard’ é citado no último livro da série ‘Harry Potter’ como um presente deixado por Dumbledore, o diretor da escola Hogwarts, para Hermione Granger, a amiga de Harry Potter.


‘Escrever este livro foi a melhor maneira de dizer adeus a um mundo que amei por 17 anos’, disse Rowling.’


 


Carlos Heitor Cony


Balzac e os jornalistas


‘‘O jornal é o jornal e o político é o seu profeta’, diz o autor de ‘A Comédia Humana’


DOIS TEXTOS de Balzac que poderiam ser considerados marginais, ‘Monografia da Imprensa Parisiense’ e ‘Os Salões Literários’, seriam obras circunstanciais e menores de qualquer outro autor, não fosse esse autor o responsável pelo maior monumento literário da humanidade.


Produzidos nos meados do século 19, no tumulto da maior realização romanesca da literatura universal, os dois trabalhos bem que poderiam figurar como apêndice de ‘A Comédia Humana’. Diferem da colossal galeria de tipos e situações que criaram o primeiro e articulado estudo da sociedade humana. Mas revelam o mesmo sopro avassalador que fez de Balzac o autor único de um único gênero: o painel que pretendia ser apenas literário, mas foi considerado por Marx como obra além da literatura, criadora do embrião que geraria a moderna sociologia.


Temos aqui o Balzac puro, autêntico, anedótico quase. Não o artista de tantas obras-primas que marcaram a ficção do seu século, mas o homem sangüíneo e rude, esbanjando inteligência e cólera, personificando o panfletário que ele mesmo define; ‘O verdadeiro panfleto é obra do mais alto talento, se todavia não for o grito do gênio’.


O tema escolhido é a imprensa -da qual ele pinçou personagens e situações que persistem na mídia do início do século 21. Tal como em ‘A Comédia Humana’, que permanece como o estudo mais completo da sociedade de seu tempo, seu mergulho na imprensa parisiense do século 19 pode parecer obra de um genial mistificador contemporâneo que retrata a imprensa de hoje com o disfarce -permitido na literatura- de outro cenário a ser atribuído a outro autor.


‘Nos jornais da situação, alguns redatores têm um futuro: tornam-se cônsules-gerais nas paragens mais distantes, são nomeados secretários de ministros, ou cumprem outras missões oficiais; enquanto que aqueles da oposição só têm como asilo as academias de ciências morais e políticas.’


‘As coisas mais interessantes, os grandes e pequenos artigos, tudo se torna uma questão de paginação entre meia-noite e uma hora da manhã, a hora fatal dos jornais, hora na qual as notícias aparecidas no início da noite exigem destaque.’


‘Com os anúncios tomando um quarto da edição, com as amenidades ocupando um quarto do que resta, os jornais não têm espaço.’ ‘Se há um concorrente para o mesmo posto e alguém quer ser nomeado para ele, pode impedir a nomeação do rival fazendo badalar a sua por todos os jornais.’


‘O jornal é o jornal e o político é o seu profeta. Ora, os profetas são profetas muito mais por aquilo que eles dizem do que por aquilo que eles disseram. Não há nada mais infalível do que um profeta mudo.’


‘Todo crítico é um autor impotente. (…) A crítica se tornou uma espécie de alfândega para as idéias.’ ‘O redator de amenidades vive nas folhas como um verme na seda. Se queixa como os sultões de ter prazer demais.’ ‘Para o jornalista, tudo o que é provável é verdadeiro.’


Seria o caso de perguntar se algum ressentimento pessoal guiou a mão famosa que emergia daquele burel que ainda se pode ver no museu Balzac, em Paris.


É possível que, tal como Marcel Proust no início do século seguinte, Balzac tivesse suas queixas. Contudo, o próprio Proust, cuja genialidade deve ser comparada à sua, enquadra-se em alguns dos tipos esboçados meio século antes.


Se houve ressentimento, independentemente de seu grau e oportunidade, não vem ao caso. Para quem traçou com pinceladas igualmente vigorosas o imenso mural da sociedade, captando a unidade na variedade da condição humana, não importam as motivações que o levaram a ser tão cáustico.


Ele via o homem de um posto de observação privilegiado. Distribuía carapuças como o dono do galinheiro distribui milho às galinhas: enchendo a mão de grãos e jogando aqui e ali, que cada qual bicasse de acordo com a sua fome.


Sua meta não era moral. Transcendia ao interesse ético, religioso, político ou social. Era observador da comédia da qual também era personagem, testemunha e cúmplice. Daí um de seus axiomas: ‘Se a imprensa não existisse, seria preciso não inventá-la’. (Prefácio para a edição de ‘Os Jornalistas’, de Honoré de Balzac, Ediouro.)’


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