Wednesday, 09 de October de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1308

Governo nega autenticidade
de entrevista com Marcola


Leia abaixo os textos de sexta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Sexta–feira, 19 de maio de 2006


SP SOB ATAQUE
Editorial


Isolado, Lembo desabafa


‘A excepcionalidade da crise na segurança pública de São Paulo é tamanha que gerou um desabafo -pelo tom, pelas palavras e pelos alvos escolhidos- raríssimo em política. Em entrevista a Mônica Bergamo, publicada ontem nesta Folha, o governador Cláudio Lembo (PFL) ataca aliados, elogia adversários e identifica no comportamento ‘cínico’ da ‘minoria branca brasileira’ a causa estrutural do problema.


Um leitor que não conhecesse as origens políticas e a filiação ideológica de Lembo, deparando com a entrevista na certa classificaria de ‘esquerdista’ a sua retórica. ‘Nossa burguesia devia é ficar quietinha e pensar muito no que ela fez para este país’ e ‘a bolsa da burguesia vai ter de ser aberta para poder sustentar a miséria brasileira’ são duas de suas frases que seriam ovacionadas caso ditas no Fórum Social Mundial.


Por mais que se possam discutir as premissas do lamento sociológico de Lembo, o fato é que o discurso passa ao largo das responsabilidades imediatas que lhe cabem como chefe das forças de segurança do Estado, logo após terem sofrido ataque sem precedentes do banditismo. Já na segunda parte da entrevista, o alvo da crítica do governador transita do genérico ao específico: os tucanos, sem excluir o ex-governador e pré-candidato ao Planalto Geraldo Alckmin.


Nos dias de crise, figuras ilustres do PSDB promoveram um sutil ‘desembarque’ da gestão Lembo. Alckmin e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso criticaram ações do governador: FHC, por ter negociado com o PCC o fim de rebeliões, o que Lembo nega; Alckmin, por ter rejeitado ajuda de tropas federais -o Datafolha mostrou que essa recusa do governador pefelista foi considerada um erro pela maioria dos paulistanos. O leitor fica sabendo na entrevista que nem FHC nem o ex-prefeito José Serra, pré-candidato à sucessão estadual, telefonaram a Lembo na fase aguda da ação criminosa.


A entrevista pode ser lida como o desabafo de alguém que, em plena crise, se viu isolado por companheiros que lhe prestavam solidariedade até a véspera dos acontecimentos. Se Lembo está errado ao demonstrar grande fragilidade como homem público no momento em que os paulistas mais precisam de um governo forte e coeso, está certo ao chamar os tucanos à sua responsabilidade. Afinal, a selvageria em São Paulo é o atestado de que sucessivas gestões do PSDB no Estado, incluindo a de Alckmin, fracassaram na tarefa de debelar o PCC.’


Daniel Castro e Fabio Schivartche


Governo diz que entrevista é falsa


‘O governo de São Paulo reagiu contundentemente ontem contra a cobertura dos ataques do PCC feita pelas TVs, que qualificou de sensacionalista. Em nota oficial, acusou a Record e Band de agirem de ‘forma criminosa e irresponsável’ por terem exibido supostas ‘falsas gravações com líderes de facção criminosa’.


O governador Claudio Lembo deu declaração insinuando que suposta entrevista com Marcola, principal líder do PCC, exibida no início da madrugada de ontem pela Band, seria falsa. ‘O Estado irá tomar atitudes no Poder Judiciário. A Justiça vai esclarecer.’


Também ontem, a Polícia Civil abriu inquérito para ‘apurar responsabilidades do jornalista Roberto Cabrini e eventual apologia ao crime ou criminoso’ na veiculação da suposta entrevista.


Apresentador do ‘Jornal da Noite’, o jornalista aparece o tempo todo falando em um estúdio de TV com um interlocutor ao telefone, que seria Marcola.


Curiosamente, o nome Marcola não é mencionado nas manchetes do telejornal nem na entrevista. Cabrini afirma apenas que entrevistou o ‘principal líder do PCC’. Até que, depois da primeira parte, apresenta um perfil do criminoso, que conclui com o seguinte texto: ‘Cinco dias depois dos ataques, o principal líder do PCC concede sua primeira entrevista. Ele está em um presídio de segurança máxima e conversou comigo por meio de um telefone celular’.


Assim como o SBT e Gugu Liberato agiram em 2003, quando foi ao ar uma entrevista encenada com falsos membros do PCC, a Band não se pronunciou. Cabrini não respondeu as recados.


A polícia requisitou as fitas da entrevista para fazer uma perícia e averiguar se é realmente Marcola. Reservadamente, membros da polícia afirmam ter 99% de convicção de que a entrevista é falsa porque Marcola está em um presídio com bloqueador de celular.


Nos bastidores da Band, circulava ontem versão de que uma mulher teria procurado a emissora oferecendo a entrevista, que foi feita, mas a direção não teria se convencido totalmente de que era Marcola quem falava. Por precaução, não alardeou a reportagem.


Já a nota oficial com acusações contra a Band e a Record foi distribuída pela Secretaria da Administração Penitenciária. ‘A veiculação de conversas com integrantes de facções criminosas serve tão-somente para inflamar o ânimo sensacionalista, assustando a sociedade e prejudicando as investigações realizadas pelas autoridades competentes’, diz.


A entrevista da Record foi com Macarrão, outro líder do PCC, e exibida na terça pelo ‘Jornal da Record’ -na verdade, foi produzida pela rádio Record. Ontem, no ‘Jornal da Record’, a TV declarou que ‘o jornalismo da Record não tem dúvida da veracidade da entrevista e só decidiu colocá-la no ar porque ajudava a desvendar um possível acordo entre autoridades do governo estadual e presos, acordo esse que seria condenado pela sociedade’.’


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Para ombudsman, TVs ajudaram a criar pânico


‘A cobertura dos ataques do PCC feita por todas as redes comerciais de TV foi sensacionalista e assustou o telespectador, contribuindo para o ‘estado de pânico’ que tomou conta de boa parte de São Paulo.


A avaliação é de Osvaldo Martins, da Cultura, único ombudsman de TV no país. ‘O final de semana violento pegou as emissoras de surpresa. Elas se armaram para reagir na segunda-feira usando imagens da sexta à noite, do sábado e do domingo, e contribuíram para instalar o pânico’, escreveu Martins no site da TV Cultura.


O ombudsman, que recentemente pregou o fim dos telejornais da Cultura, elogiou a cobertura feita pela emissora, que classificou como ‘a mais equilibrada’ e aprofundada, sem ‘chapabranquismo’ (a Cultura é financiada pelo Estado).


Já as emissoras comerciais, na opinião de Osvaldo Martins, ‘não resistiram aos apelos do sensacionalismo’ e criaram ‘um pacote-pânico que assustou a população’.


O sociólogo Laurindo Lalo Leal Filho, professor de jornalismo na USP (Universidade de São Paulo), concorda com o ombudsman da Cultura. O professor não poupa a TV Globo. Em sua avaliação, a edição do último domingo do ‘Fantástico’ foi sensacionalista e se utilizou de truques dramatúrgicos, como fundo musical. Leal diz que a edição de anteontem do ‘Rede TV News’, apresentado por Marcelo Rezende na Rede TV!, foi ainda mais sensacionalista.


O telejornal noticiou uma nova onda de ataques na quarta-feira e levou ao ar rumores que acabaram se revelando mentirosos. Com a boa audiência, o jornal foi esticado em uma hora (o dobro do normal).


Rezende contesta a acusação de sensacionalismo. Ele afirma que todas as notícias de seu telejornal estavam nos jornais impressos de ontem. Já a Globo desqualificou a avaliação de Laurindo Lalo Leal Filho de que o ‘Fantástico’ foi sensacionalista. ‘Quem precisar de uma manifestação contra a TV Globo não precisa perder tempo: basta procurar sempre esse professor [Leal Filho], que, sabe-se lá com que investidura, resolveu assumir o papel de crítico de plantão da emissora’, reagiu o apresentador.’


VIOLÊNCIA & MÍDIA
Nelson Motta


Deu no ‘New York Times’


‘O Departamento de Polícia informa que, em 2005, o numero de assassinatos na cidade regrediu ao nível de 1962: 540. E que 70% dos casos foram elucidados, e os culpados, presos, julgados e condenados. Em Nova York.


Turbinado pelo alto poder aquisitivo, o tráfico de drogas é maior do que em São Paulo e no Rio juntos, mas ninguém morreu em guerras de quadrilhas. Nem por balas perdidas. Ninguém foi morto em ‘confronto com a polícia’. Nenhum policial morreu em serviço. Mais de 90% dos autores dos assassinatos já tinham passagem pela policia. Metade dos assassinados também. É da condição humana, numa cidade de sete milhões de habitantes, onde o crime não nasce da miséria, mas da maldade, da ganância e das paixões.


Nos anos 70, eles eram chamados de ‘pigs’, mas hoje os policiais de Nova York merecem a confiança e a gratidão da população, que lhes paga bons salários. Estão ganhando a guerra contra o crime em uma cidade que, por sua riqueza e poder, atrai também os piores bandidos, trambiqueiros e terroristas, a nata do lixo.


Os casos de abusos e crimes de policiais foram perseguidos e agora são raros, as corregedorias são implacáveis, os delitos de autoridades têm as penas agravadas, a impunidade é zero. A Justiça é rápida e intolerante com advogados chicaneiros; advogados desonestos têm o registro profissional cassado.


O que também faz grande diferença é que a força policial é da cidade, formada por sua gente e comandada pelo responsável pela segurança pública, eleito para administrar os problemas da cidade: o prefeito.


Não é sonho ou milagre, são 20 anos de trabalho, de administrações democratas e republicanas, em que cada um fez a sua parte. Ainda há esperança de um futuro possível para os nossos netos?’


ELEIÇÕES 2006
Thiago Reis


Juiz pune jornal por ‘propaganda eleitoral antecipada negativa’


‘O juiz auxiliar do TRE (Tribunal Regional Eleitoral) do Amapá Anselmo Gonçalves da Silva determinou ontem a suspensão da edição eletrônica do jornal ‘Folha do Amapá’, por considerar que a reportagem de capa do periódico fez ‘propaganda eleitoral antecipada negativa’.


Na decisão, o juiz estipula como pena multa diária de R$ 5.000 em caso de descumprimento. No site do jornal, a edição já foi retirada do ar. No lugar, a íntegra da decisão e um quadro negro com a inscrição: ‘Edição retirada do ar por decisão judicial eleitoral a pedido do PDT-AP, o partido do governador Waldez Góes’.


A manchete da reportagem que motivou a liminar do PDT diz: ‘Sólida demite, dá calote e some’. ‘Anunciada com toda pompa por Waldez Góes como símbolo da geração de emprego e do crescimento do Amapá, a Sólida Mineração acaba de demitir todos os funcionários. (…) O governador e a empresa anunciavam a geração de 500 empregos diretos e investimentos da ordem de US$ 5 milhões. No entanto, tudo não passava de propaganda enganosa.’


No entendimento do juiz, ‘as notícias veiculadas relacionadas ao governador Waldez Góes, potencial candidato à reeleição, não se limitam à divulgação de fatos ou à formulação de críticas à sua gestão’. ‘Há nítida intenção de denegrir a sua imagem perante o eleitorado em geral. Seu nome é citado em diversas passagens, de forma sarcástica e demeritória.’


O PDT-AP pediu ainda que fossem recolhidos todos os exemplares do jornal impresso, mas o juiz descartou a possibilidade, ‘uma vez que já houve a circulação nos três dias que antecederam a propositura da representação’.


O governador é citado ainda em reportagem sobre gastos abusivos com propaganda e outras seções.


A ‘Folha do Amapá’, alinhada ao grupo político do ex-governador João Capiberibe (PSB), já recorreu. Para a editora-chefe do jornal, Maracimoni Oliveira, ‘foi uma decisão monocrática’.


‘Vemos isso como censura e já estamos tentando recolocar o conteúdo no ar. Isso ocorre porque somos o único meio de oposição no Estado’, afirmou.


O diretor-executivo da ANJ (Associação Nacional de Jornais), Fernando Martins, disse que o caso já foi encaminhando ao departamento jurídico da entidade, que irá se manifestar posteriormente.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


‘Sabe Deus’


‘A obsessão de secretários, delegado-geral e comandante-geral com a cobertura da crise de segurança em São Paulo foi ao limite, ontem.


Ao vivo no ‘SPTV’, o secretário de Segurança se enrolou para responder se a situação está ‘sob controle’; depois qualificou a crise como ‘fato isolado’; questionou o ‘tom’ do âncora; discutiu no ar e protestou que deu entrevista antes, sim, sobre o assunto:


– Até agora a Globo não colocou no ar. Deve estar em algum arquivo de vocês.


Saulo de Castro Abreu Filho encerrou falando diretamente para a câmera, sem passar pelo entrevistador.


De modo semelhante ao que marcou as críticas ao canal Al Jazira pós-11 de setembro, são as os supostos líderes que mais causam reação.


Foi manchete na Folha Online, ‘Polícia apura reportagens com supostos líderes do PCC’, no Globo Online, ‘Entrevista exibida por TV abre polêmica sobre presídio de segurança máxima’, e nos portais.


O UOL exibiu o vídeo com a entrevista do suposto ‘Marcola’ à Band. Já o Globo Online tirou a íntegra que havia divulgado no site e justificou:


– A Secretaria de Administração Penitenciária afirma que a entrevista é falsa. Diante disso, o Globo Online decidiu retirar o conteúdo enquanto aguarda manifestação da Band.


Antes da nota da secretaria, porém, o governador declarou à Folha Online:


– Segundo o secretário [de Administração Penitenciária], a entrevista é irreal.


Pior fez o diretor do Deic, falando à rádio CBN:


– Nós ficamos surpresos, mas, sabe Deus, tudo vem acontecendo…


Além do suposto ‘Marcola’ na Band, também a entrevista da Record com o suposto ‘Macarrão’, um dia antes, foi dada como ‘falsa’.


Nos dois casos, segundo a Folha Online, a polícia vê ‘apologia ao crime’.


Falsa ou não, a entrevista com ‘Macarrão’ foi parar no ‘Financial Times’, como indício de que o poder público está em dissolução em São Paulo:


– Houve duas coisas notáveis na entrevista. Primeiro, Macarrão estava falando por celular de dentro da prisão. Segundo, parecia confirmar o que muitos temiam: os ataques acabaram porque o PCC mandou, depois de chegar a acordo com as autoridades estaduais.


Sem lei


‘A máfia enfrenta o Estado’ é o título da reportagem da ‘Economist’ sobre a crise em São Paulo, entre as várias sobre a América Latina.


Avalia que os líderes do PCC ‘lançam uma súbita dúvida sobre São Paulo, o motor da economia brasileira, se é regido pela lei ou pela máfia’.


Nem rei


Em mais um dia de extensa cobertura do assunto no exterior, o ‘Financial Times’, sob o título ‘De dentro da prisão, líderes de gangue tomam o Estado como prisioneiro’, passou a falar em ‘crise de governabilidade’.


JOGANDO FORA


A capa da ‘Economist’ foi para um tema aparentemente de dias, semanas atrás.


Com a manchete ‘A Batalha pela alma da América Latina’, título de seu principal editorial, ela começa dizendo que ‘um espectro se ergueu -o de um nacionalismo esquerdista antiamericano’ por toda a região:


– Mas retratar o que está acontecendo nas Américas como uma batalha entre os EUA e seus vizinhos latinos é um erro. A batalha está sendo travada dentro da América Latina, sobre o seu futuro.


É aquela divisão, com ‘um campo formado por social-democratas moderados, como Chile, Uruguai e Brasil’, enquanto ‘no outro campo estão populistas autoritários, liderados por Hugo Chávez’.


Para a ‘Economist’, ‘a restauração da democracia na América Latina custou muito sangue para a realização ser negligentemente jogada fora’. Entre ‘vários sinais’ de que ‘nem tudo vai bem’ nas instituições regionais, no entender do editorial:


– As máfias do crime, criadas pela demanda externa, continuam agindo livremente. Mais de cem pessoas morreram na luta entre uma dessas máfias e o Estado em São Paulo, a mais moderna metrópole da região.


Para a revista, o que está em questão é ‘o esforço da América Latina para fazer a democracia funcionar’, no sentido de ‘tornar sociedades desiguais mais justas e mais prósperas’, com ‘implicações por todo o mundo em desenvolvimento’.


A ‘Economist’ diz que Chile, Brasil e outros começam a registrar ‘reduções sustentadas da pobreza -e até da desigualdade- em parte pelos programas sociais mais efetivos’. Mas no Brasil ela destaca, com reportagem à parte, o empecilho dos juros cobrados pelos bancos dos usuários. Chega a se perguntar:


– Os bancos estão em conluio?’


INTERNET
Folha de S. Paulo


Google e China Mobile estudam lançar serviços de internet para uso no celular


‘A China Mobile, maior operadora mundial de telefonia celular por número de usuários, disse estar com conversações com o Google para oferecer serviços de internet a seus clientes.


A China Mobile está examinando formas de se associar com o Google para expandir suas fontes de receita, disse Wang Jianzhou, presidente do conselho administrativo da operadora, após a assembléia geral dos acionistas, ontem, em Hong Kong. Wang, que também é principal executivo da operadora, quer elevar a receita da China Mobile oferecendo serviços como download de arquivos de vídeo em celulares.


Ele também está promovendo a ampliação da cobertura da telefonia celular nas áreas rurais da China para compensar a queda no gasto dos assinantes. No primeiro trimestre deste ano, a receita média mensal por cliente caiu para 86 yuan, a partir dos 89 yuan do mesmo período de 2005. ‘A China Mobile vem tentando desenvolver novos serviços, e o trabalho com o Google é um bom passo nessa direção’, disse Kelvin Ho, analista de telecomunicações da Nomura International, de Hong Kong, que tem recomendação comprar para papéis da empresa.


A China é o maior mercado mundial de telefonia celular, com 409,7 milhões de usuários até o fim de março. Mais 48 milhões de clientes de telefonia celular devem ser incorporados neste ano, estimou Lou Qinjian, vice-ministro do Ministério do Setor da Informação.


O número de chineses que usam a internet cresceu 18% no ano passado, para 111 milhões de usuários, o que classifica o país como o segundo maior mercado do mundo depois dos EUA. (DA BLOOMBERG)’


TELEVISÃO
Daniel Castro


ESPN tira a Copa dos Campeões da Band


‘Melhor torneio interclubes do mundo, a Copa dos Campeões, em que atua praticamente toda a seleção brasileira de futebol, vai minguar na TV aberta. A Band, que exibiu a jornada 2005/06, encerrada anteontem com vitória do Barcelona de Ronaldinho, está fora das transmissões.


O motivo é um acordo da Uefa (a confederação de futebol da Europa) com a ESPN que amplia os direitos do canal pago da Disney sobre o torneio. A ESPN, que promete transmitir até 90 jogos por temporada, bloqueou partidas às terças-feiras na TV aberta, reduzindo de 28 para 13 as transmissões possíveis às grandes redes.


Além disso, a Uefa encareceu os direitos e impôs restrições comerciais (não permite publicidade durante os jogos). Isso levou a Top Sports, agência parceira da Band, a desistir do torneio.


Mas a Copa dos Campeões não deverá ser privilégio da minoria que paga para ver TV. A Record está disposta a aceitar as imposições da Uefa e deve finalizar negociações nos próximos dias. Se fechar, será a terceira rede a transmitir o torneio em três anos (a primeira foi a Rede TV!, que perdeu na Justiça a disputa dos direitos com a Top Sports).


A Record também deve concluir nos próximos dias negociações com a Globo em que renova por mais um ano, até o final de 2007, o acordo para exibir os campeonatos Brasileiro e Paulista, além da Copa do Brasil.


OUTRO CANAL


Digital 1 Meio em cima da hora, a Globo fechou acordo com vários parceiros e irá transmitir em alta definição, apenas para locais fechados, quase todos os jogos da Copa do Mundo. A emissora ainda negocia com shoppings centers (não só de São Paulo e Rio) espaços para as exibições, às quais o acesso será gratuito.


Digital 2 A promoção será um aperitivo do que vem por aí com a TV digital _que permitirá uma imagem melhor do que a de DVDs. Como ainda não está definido o padrão a ser adotado do Brasil e nem tem outorga de canal digital, a Globo transmitirá via satélite.


Água fria A Globo acabou com o sonho da Record de ter em sua programação os filmes distribuídos pela Fox. A Record esperava uma ruptura da Globo com a Fox, mas as duas empresas renovaram nesta semana, em Los Angeles, parceria por mais três anos.


Já era Desgastado com a produção da novela, com o autor e com a cúpula da Record, Flávio Colatrello deixou na última segunda-feira a direção-geral de ‘Cidadão Brasileiro’. Oficialmente, ele saiu de férias. Mas não volta. A novela já está sendo comandada pelos diretores antes subordinados a Colatrello.


Requinte Apesar da melhora na iluminação, a cúpula da Record ainda não está satisfeita com a qualidade de ‘Cidadão Brasileiro’. Os bispos da Universal querem mais agilidade na narrativa.’


MEMÓRIA / ADOLPHO BLOCH
Carlos Heitor Cony


Lembranças de uma tarde no Russel


‘Nunca levei a sério os tipos folclóricos que surgem em toda a parte, nos bairros, bares, repartições, sobretudo em Redações. Não os levo a sério, mas gosto deles, achando que são um momento da condição humana, com seus exageros, é claro, mas com uma transparência que todos percebem. Por isso mesmo são geralmente desprezados, mas queridos. A distinção entre não levar a sério e gostar pode ser um paradoxo, mas às vezes tem coerência.


Adolpho Bloch foi um personagem folclórico, provocava cóleras naqueles que não gostavam dele -e eram muitos, alguns por despeito, ressentimento, outros por motivos ideológicos, raciais, econômicos e trabalhistas, afinal, durante 50 anos, foi dono de um dos maiores mercados de trabalho na área da comunicação.


Dele tenho recordações variadas, algumas dramáticas, outras afetuosas, mas a maior parte delas é de admiração pela sua personalidade fora-de-série, capaz de ir em poucos segundos do sublime à banalidade mais crua e, muitas vezes, à mais indecente.


Eu o conheci tardiamente, já havia sido editor num jornal, publicara alguns livros, ganhara prêmios, estava sem emprego, nenhum jornal me aceitava desde que fora processado pelo ministro da guerra que logo tornou-se presidente da República. Adolpho não deu bola para o regime, aceitou-me em sua empresa, deu-me um salário equivalente ao que ganhava como diretor do outro jornal, mas abriu o jogo: que eu ficasse quieto na Redação, fazendo o trivial variado, mas, no fundo, que ajudasse JK a redigir suas memórias, começadas por Josué Montello e Caio de Freitas, mas que estavam emperradas, necessitando de um texto final e de uma edição. JK ficaria à minha disposição e eu à disposição dele.


Mas não era isso que eu desejava lembrar. O lado folclórico de Adolpho era vário e divertido, como soem ser os folclores. Eu ainda não o conhecia bem, ouvia histórias sobre ele, mas nunca presenciara nenhuma de suas pantomimas. Até que um dia, pouco depois do almoço, estava no sexto andar, fui chamado pelo telefone, em voz baixa, pelo Justino Martins, editor de ‘Manchete’, cuja Redação era no oitavo andar. Adolpho, segundo Justino, estava ‘impossível’. Não gostara do número que fora para as bancas, esculhambou todo mundo aos gritos, com gestos de mujique (ele era russo) e os olhos chispando fogo, como os de Rasputin, cuja resistência física e temperamento eram mais ou menos iguais ao seu. Em momentos de raiva, ficava sublime.


Dispensei o elevador para chegar mais depressa, Justino achava, sem razão alguma, que com minha presença as iras de Adolpho se abrandariam. Pelas escadas, ouvia os gritos dele, palavras grosseiras, lubrificadas pela cólera.


Quando cheguei ao oitavo andar, vindo das escadas, encontrei-o numa pausa: estava no corredor de serviço, bebendo no bebedouro para refrigerar a boca e a garganta em brasa. Vindo das escadas, ele não me viu. Eu é que o vi e ouvi. Depois de beber água, enxugou a boca com o punho da camisa e disse em voz calma e baixa para si mesmo: ‘Hoje eu estou terrível!’.


Logo saiu da copa e entrou novamente na Redação, aos gritos, dando início ao segundo tempo daquela bronca, que só não foi memorável porque todas as suas broncas eram inesquecíveis.


Encolhido em sua mesa de editor, cercado de cromos e textos, Justino olhou para mim, cobrando-me uma intervenção salvadora. Não foi preciso. Adolpho finalmente me viu e veio contra mim: ‘E você, que botou na capa do ‘Desfile’ aquela mulher com chapéu?! Já disse que não quero mulher com chapéu na capa de nenhuma revista!’.


‘Aquela mulher’ era a princesa de Mônaco, a Grace Kelly, que naquela semana estava sendo acusada de ter tido um caso com um playboy internacional, chifrando o príncipe Rainier e, segundo a matéria que havia vindo de uma agência internacional, ‘dando mau exemplo às suas filhas, ainda púberes, Caroline e Stéphanie’. (Aliás, nenhuma das duas precisavam do mau exemplo da mãe, tinham um DNA caprichado, logo em seguida iniciaram elas próprias uma carreira respeitável de casos que emocionaram os consumidores de escândalos).


Bem, diante da ira do Adolpho, me defendi como pude. Disse que a mulher de chapéu era a princesa de Mônaco, que Grace Kelly sempre vendia bem as revistas que a traziam na capa, tanto no Brasil como em todo o mundo. Era um dos recursos dos editores, apelar para ela como para Liz Taylor, Sophia Loren, Rachel Welch. Com chapéu ou sem chapéu elas vendiam.


Adolpho esbravejou:


-Com chapéu elas não vendem nada!


Mudei a linha de defesa e argumentei: não podendo falar mal do governo, não tinha nenhum assunto que merecesse capa. Ponte Rio-Niterói, a grande obra do governo naquela época, é que não vendia mesmo, ainda mais numa revista feminina.


Adolpho mudou de tom, mesmo assim me fuzilou:


-Quando não tiver assunto, bote o Cristo Redentor! Ele vende tudo.


E foi novamente ao bebedouro, constatar que estava terrível.’


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O Globo


Sexta–feira, 19 de maio de 2006


SP SOB ATAQUE
Arthur Dapieve


Os policiais de São Paulo


‘Nos últimos oito dias, a onda de ataques terroristas comandados de dentro das cadeias contra Estado e população de São Paulo levou todos os órgãos de comunicação do país a estabelecer uma cronologia dos acontecimentos. Ela foi traçada, invariavelmente, a partir da decisão do governo paulista de transferir os chefes de gangue para um presídio de segurança máxima e, assim, tentar abafar a rebelião já esperada para o Dia das Mães.


Embora esta linha do tempo seja fiel aos fatos imediatos, que resultaram na morte de pelo menos 138 pessoas, entre policiais, civis e bandidos, ela perde de vista o quadro mais amplo. Não se pode dissociar de todo a afronta do Primeiro Comando da Capital paulista das praticadas pelo Primeiro Comando da Capital federal, que açambarcou Brasília não é de ontem. O fato de os elos entre as quadrilhas serem simbólicos não os torna menos fortes: ambas vicejam na impunidade que nos consagra como o País do Vale-Tudo.


Se enxergarmos as ações criminosas num contínuo, o marco zero da cronologia dos ataques mais recentes ao Estado brasileiro deve ser outro. Pode ser o dia 14 de maio de 2005, quando Maurício Marinho, então diretor dos Correios, inadvertidamente revelou um esquema de corrupção comandado por Roberto Jefferson, então presidente do PTB. Ou, talvez melhor, o dia 6 de junho, quando, numa entrevista ao jornal ‘Folha de S. Paulo’, o próprio Jefferson expôs ao país o segredo de polichinelo conhecido como ‘mensalão’.


Apenas de lá para cá, tivemos notícia, entre outras coisas: dos supostos empréstimos do publicitário Marcos Valério a partidos; da risível versão do caixa dois; dos hábeas-corpus preventivos nas CPIs dos Correios e dos Bingos; do ‘mensalinho’ cobrado pelo ex-presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP); da quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa pelo então ministro da Fazenda, Antônio Palocci; da denúncia, pelo procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, dos 40 ladrões de uma ‘sofisticada organização criminosa’, comandada por José Dirceu, ex-braço-esquerdo do presidente Lula; da entrevista do ex-secretário-geral do PT, Silvio Pereira, aqui ao GLOBO, anunciando que o propósito desta rede de corrupção era arrecadar R$ 1 bilhão.


Já se disse alhures que a impunidade é pior que os escândalos em cachoeira. (Para banhar a memória: Waldomiro Diniz, assessor de Dirceu, foi flagrado ao extorquir o bicheiro Carlinhos Cachoeira em 2003, ano em que o Planalto ainda tinha crédito ético.) Palocci caiu, ok, mas só Jefferson, Dirceu e Pedro Corrêa (PP) foram cassados na Câmara. Outros quatro acusados de envolvimento com o ‘mensalão’ renunciaram antes de suas cabeças irem a plenário, gabaritando-se, deste modo, a retornar à Casa já em 2007.


Nem precisavam: 11 deputados foram absolvidos por seus pares e um teve o pedido de cassação derrubado diretamente na Comissão de Ética, hoje tomada pela base aliada do governo, PMDB-PTB-PP-PL. Siglas que, aliás, encabeçam as citações por envolvimento num velho-novo escândalo, o das ambulâncias superfaturadas por emendas na Saúde.


Não cabe mais, diante da profusão de afrontas, falar em ‘impressão’ de que o país inteiro é refém de uma quadrilha. Tendo a certeza disso, os bem informados chefões das cadeias paulistas querem dividir lucros e regalias. Apesar de episódica, sua sangrenta arrogância no desafio ao Estado brasileiro é estimulada pela constatação de que este vampiriza a população desde… desde… 1822? Isso. Sem falar, claro, do Estado português.


Nossa tragédia é antiga e suprapartidária. No presente caso de São Paulo, combina corte de verbas pelo governo federal do PT, 12 anos da proverbial tibieza de governos estaduais do PSDB e despreparo da gestão-tampão de Cláudio Lembo, do PFL. Assim como ele acha que 115 mortos não são ‘nada de errado’, nega ser ‘acordo’ a entrada de 60 TVs nos presídios, para os rebelados de ontem assistirem em paz à Copa de amanhã.


Portanto, os policiais de São Paulo foram mortos não só pela gangue local, mas também pela classe política. Os policiais de São Paulo foram atingidos pelos ricochetes das absolvições na Câmara. Os policiais de São Paulo foram fuzilados pelo samba da deputada federal Angela Guadagnin (PT-SP). Os policiais de São Paulo foram debilitados pela patética greve de fome do ex-governador fluminense Anthony Garotinho (PMDB).


Os policiais de São Paulo foram preparados para abate, ainda, quando o jornalista Pimenta Neves foi condenado a 19 anos de prisão pelo assassinato da namorada Sandra Gomide – e imediatamente posto em liberdade, graças a uma de nossas tradicionais tecnicalidades jurídicas, fomentadoras da impunidade, sobretudo quando se é branco e rico. Os policiais de São Paulo foram atraiçoados, at last but not least , por seus próprios colegas corruptos e pelos agentes que facilitaram a entrada de celulares nas penitenciárias.


Quarenta policiais de São Paulo morreram, enfim, não apenas porque algum bandido apertou o gatilho, e sim porque o mau exemplo do Estado, nos seus poderes Executivo, Legislativo ou Judiciário, federal, estadual ou municipal, ocupado por PSDB ou PT, não importa, atiça os instintos mais primitivos da corja.


Os policiais de São Paulo morreram antes do tempo porque estavam vivos no Brasil.’


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O Estado de S. Paulo


Sexta–feira, 19 de maio de 2006


SP SOB ATAQUE
Laura Diniz e Renata Gallo


MP investiga entrevista na TV


‘A edição do Jornal da Noite, da Rede Bandeirantes, será investigado pelos Ministérios Públicos Estadual (MPE) e Federal (MPF), pelo Departamento de Execuções Criminais (Decrim) e pela Polícia Civil de São Paulo por ter levado ao ar à 0 hora de ontem suposta entrevista com Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder do Primeiro Comando da Capital (PCC).


Em entrevista ontem ao Jornal da Band, o apresentador do programa, Roberto Cabrini, disse que chegou ao líder do PCC por meio de membros da facção que estão fora dos presídios e que a voz de Marcola foi identificada por essas pessoas e por seu advogado. A Secretaria de Administração Penitenciária (SAP), no entanto, divulgou nota dizendo que a entrevista é falsa. Segundo a pasta, Marcola está incomunicável, em Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), e não haveria como falar por telefone celular com a emissora. A SAP diz que ‘repudia a forma criminosa e irresponsável que as emissoras de televisão Rede Record e Bandeirantes colocaram no ar falsas gravações com líderes de facções criminosas e informa que tomará as medidas necessárias para responsabilizar, civil e criminalmente, os autores’.


Na terça-feira, a Rádio e a TV Record divulgaram entrevista que teria sido dada por Orlando Mota Júnior, o Macarrão, outro líder do PCC. Procuradas, a Band e a Record preferiram não se pronunciar. O Jornal da Noite costuma registrar 2 pontos de Ibope, mas alcançou média de 5. Em relação à audiência das últimas terças, Jornal da Record obteve 4 pontos mais de audiência – de 8 para 12. Cada ponto corresponde a 52.300 domicílios na Grande São Paulo.


A reação imediata não veio só do governo. A juíza Isaura Cristina Barreira, do Decrim, pediu ontem à Band cópia da fita e informações à SAP. Segundo a juíza, o uso de celulares em presídios é falta grave.


O MPE, em Presidente Prudente, e o MPF vão pedir cópias à emissora. O MPE pretende pedir comparação fonográfica para saber se a voz é de Marcola. Se ficar comprovado que houve comunicação, autoridades que deveriam manter o preso isolado serão responsabilizadas. Se a voz não for do preso, o MPE pode denunciar a emissora por apologia ao crime.


O episódio lembra o de setembro de 2003, quando o programa Domingo Legal, do SBT, apresentado por Gugu Liberato, levou ao ar falsa entrevista de integrantes do PCC. No programa, tirado do ar temporariamente pela Justiça Federal, dois homens apareciam fazendo ameaças. ‘Não importa se é verdade ou mentira. Uma concessão pública não pode ser usada para veicular ameaças de bandidos à população’, disse a procuradora da República Eugênia Fávero, que investigou o caso do SBT e vai apurar o da Band. Segundo ela, o único contexto viável para exibir entrevista com preso incomunicável seria provar que ele não está incomunicável.


Segundo a SAP, que também comparou os dois episódios, ‘a Polícia Civil de São Paulo já instaurou inquérito para apurar o delito de apologia de crime ou criminoso’ e o Ministério das Comunicações foi informado dos fatos.


Eugênia pediu à Rede TV! cópia do programa de Marcelo Rezende, que divulgou anteontem boatos sobre novos ataques do PCC. ‘Vamos avaliar até onde a eventual divulgação de fatos sem confirmação atingiu a população.’’


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RedeTV! tem maior Ibope com programa criticado


‘A RedeTV! registrou anteontem, durante o RedeTV! News, de Marcelo Rezende, a maior audiência de sua história. Das 21h10 às 23h05 a emissora ficou em segundo lugar no Ibope, atrás apenas da Rede Globo. Nesta quarta, o programa de Rezende se estendeu por uma hora a mais, mas, de acordo com o jornalista, o aumento no tempo de duração da atração não está relacionado com a ótima audiência. ‘Não tenho interesse na audiência, não posso ter interesse no que tenha relação com o sofrimento da sociedade. Se eu quisesse audiência, teria ficado na Globo, onde dava 40 pontos’, diz Rezende.


Para ele, os altos índices no Ibope se devem apenas ‘à ânsia da sociedade em obter informações verdadeiras’. ‘Todas as informações que eu dei, do ataque em Osasco e dos ônibus queimados, foram confirmadas e estão hoje (ontem) nos jornais. Eu não menti e não tenho culpa do que está acontecendo, quem tem culpa é o Estado e o PCC’, diz.


Durante o RedeTV! News, Rezende recebeu a ligação da major Maria, chefe interina do setor de comunicação social da Polícia Militar, que desmentiu algumas informações. ‘Ele anunciou que as universidades haviam sido orientadas pela polícia a liberar os alunos e isso não existiu’, afirma. Para ela, o programa fez muito alarde, o que gerou pânico na população. ‘As linhas do 190 congestionaram, as pessoas ligavam em pânico’, diz.


De acordo com a major Maria, o programa tinha apenas duas informações, mas as repetiu de tal maneira que a impressão que se tinha era de que a situação da cidade era muito mais grave do que realmente era. ‘O tempo todo era exibida a mesma imagem, parecia que o número de casos era muito maior. Quando eles desmentiram alguns dados, já era tarde. O impacto já havia sido criado’, diz.’


Fabiano Rampazzo


Boatos e convocação de protesto correm pela internet


‘A cada dia, o medo, o repúdio, a indignação e a paranóia, todos os sentimentos que tomaram a cidade depois do início dos ataques do PCC, se proliferaram na internet. Uma das mensagens mais difundidas vem por um e-mail que conclama as pessoas para o Dia da Dignidade Nacional, marcado para domingo, às 15 horas, em passeatas que estão sendo organizadas em São Paulo, Rio, Curitiba, Belo Horizonte e Porto Alegre.


‘Essas passeatas representam a voz de milhões de brasileiros que clamam por Justiça e punição para a organização criminosa que se apossou do Estado’, diz parte do texto da mensagem que também bate na ‘corrupção dos políticos’. Em São Paulo, a concentração está marcada para a Praça Osvaldo Cruz, perto do Shopping Paulista.


Há outras mensagens, menos comprometidas e mais alarmantes. Um desses e-mails alertava sobre uma nova ação do PCC em um shopping da cidade, que aconteceria ontem e que fez muita gente ficar assustada. ‘Não é para ir em shopping de jeito nenhum! Avise o maior número de pessoas que puder!’, dizia a mensagem.


‘Olha, exagero ou não, a verdade é que hoje (anteontem) eu não piso em shopping de jeito nenhum’, disse a estudante Camila Autran, de 19 anos, uma das que receberam a mensagem. Para a analista de comunicação Lilian Santos, de 26, esses e-mails não contribuem para o aumento do terror. ‘Até porque o terror foi visível. Essas mensagens pela internet são só um reflexo do que está acontecendo’, disse.


Um outro e-mail pedia pela divulgação do nome de um advogado ligado ao PCC que seria candidato a deputado federal nas próximas eleições. A mensagem trazia o currículo do sujeito e implorava para que ninguém votasse nele, que representaria a organização criminosa no Congresso. E a mais recente novidade é a mensagem que conclama para a ‘greve de comércio’ neste final de semana em protesto contra a falta de segurança. ‘Não freqüentem shoppings, bares, restaurantes, cinemas, casas noturnas, supermercados nesses dois dias’, dizia um trecho da mensagem que, se for seguida à risca pela maioria da população, vai fazer da Virada Cultural, programa da Prefeitura que prevê a realização de vários eventos simultâneos durante 24 horas no fim de semana, uma ‘furada cultural’.


Essa leva toda que mescla indignação, ação e bom humor também invadiu o site de relacionamentos Orkut. Existem lá 766 comunidades com a sigla PCC, entre as quais a ‘PCC quero o seu fim’, com 359 integrantes, ‘Morte ao PCC e ao Marcola’, com 305, e ‘Marcola, a lenda’, com 76. Outras promovem a batalha da facção com a polícia, como ‘Polícia x PCC’, com 212 membros. Até um perfil do Marcola aparece no site ‘Marcola líder do PCC’. O Marcola do Orkut bebe excessivamente e está aberto a relacionamentos.’


INCLUSÃO DIGITAL
Renato Cruz


Brasil cai no ranking de aptidão digital


‘O Brasil voltou a cair no ranking de e-readiness, que mede o quanto os países estão preparados para a economia digital. O País perdeu três posições, como já havia acontecido no ano passado, e passou da 38ª posição para 41ª. ‘O principal motivo da queda foi aumento mais lento do uso da internet na América Latina’, afirmou Ricardo Gomez, diretor da IBM Global Business Services.


O Chile, país mais bem colocado da América Latina, ficou estável em 31º. A maioria dos países da região, no entanto, caiu. Menos de 15% da população latino-americana tem acesso à rede. Na Europa, são 65%. Além da baixa conectividade, a entrada de dois novos países, Bermudas e Emirados Árabes derrubou o Brasil. Eles entraram na frente, em 20º e 30º lugares, respectivamente. A Dinamarca continuou em primeiro lugar, seguida dos Estados Unidos.


O avanço lento da conectividade acaba afetando outros itens, como a adoção da internet por consumidores e empresas e a criação de serviços pela internet. ‘O acesso à internet começa a esbarrar em um tema de infra-estrutura, que é a renda per capita, a capacidade de compra’, explicou Gomez.


A menor diferença do Brasil em relação aos países bem colocados está no ambiente político e legal. ‘Aqui existe liberdade total de uso e facilidade para se conduzir negócios na internet’, afirmou o diretor da IBM. Segundo ele, a adoção do software livre, como o sistema operacional Linux, como política pública ajuda a diminuir a exclusão digital na América Latina. O índice de e-readiness é medido pela Economist Intelligence Unit e pela IBM.’


CASO PIMENTA NEVES
Thélio de Magalhães


Procurador pede ao TJ prisão imediata de Pimenta Neves


‘O procurador da Justiça José Guerra Armede quer a prisão imediata do jornalista Antônio Marcos Pimenta Neves. Em manifestação enviada ontem ao Tribunal de Justiça (TJ), Guerra destaca que o fato de Pimenta ficar em liberdade, embora condenado a 19 anos de prisão pela morte da jornalista Sandra Gomide, ‘constitui verdadeira afronta à ordem pública, e isso significa incitar o terrível retrocesso à vingança privada’.


Armede defendeu o acolhimento do mandado de segurança impetrado pelo promotor Carlos Sergio Rodrigues Horta.


A manifestação da Procuradoria da Justiça não tem força decisória, mas pode influir nos votos dos desembargadores. Não há data prevista para o julgamento do mandado.’


IMPRENSA LIVRE ATACADA
Simone Menocchi


Grupo invade e saqueia jornal


‘‘Foram longos dez minutos de horror.’ Foi assim que o editor-chefe do jornal Imprensa Livre, Igor Veltman, descreveu o atentado que sofreu, com outros cinco funcionários, na madrugada de ontem, em São Sebastião, litoral norte. O prédio do jornal diário foi invadido por três homens às 3h40 de ontem. Armados e encapuzados, eles chegaram à gráfica, onde obrigaram quatro trabalhadores a se deitar no chão. Deram coronhadas e fizeram ameaças. Depois foram até a sala de diagramação e renderam outro funcionário.


Da redação, o editor-chefe percebeu a ação e saiu correndo. ‘Tentei fugir por um corredor, mas a porta estava trancada, aí fiquei no escuro, assistindo a tudo.’ Com gasolina, os bandidos atearam fogo nos exemplares prontos e destruíram alguns equipamentos. Antes de fugir a pé ainda estouraram uma bomba caseira no local. Na saída, apontaram a arma para o fotógrafo Reginaldo Pupo e o repórter César Rodrigues, mas não atiraram. As chamas tomaram conta das máquinas e só foram controladas com a chegada do Corpo de Bombeiros.


‘Se tivermos que trocar os equipamentos teremos que gastar pelo menos R$ 250 mil.’ Apesar dos danos, o jornal não deixou de rodar. ‘Levamos para imprimir em São José dos Campos’, contou Veltman.


Apesar da semelhança com os atentados promovidos pelo PCC nos últimos dias, a Polícia Civil não acredita que o fato tenha ligação com o crime organizado. ‘Esta hipótese está descartada’, informou ontem o diretor do Departamento de Polícia Judiciária do Interior 1 (Deinter 1), delegado Waldomiro Bueno Filho. As investigações seguiram ontem, mas formalmente os funcionários começam a ser ouvidos hoje e na próxima semana. ‘Temos suspeitos e pelas investigações é uma disputa local’, disse o delegado José Lamartine Fagundes, que conduz a apuração do crime.


Para o editor-chefe, está claro que se trata de crime político. ‘Acreditamos em oportunismo. Usaram o momento e o nome do PCC para impedir o jornal de circular’, disse Veltman.’


TELEVISÃO
Keila Jimenez


Supernanny terá 2.ª temporada


‘O SBT acaba de acertar com o canal inglês Channel Four a compra da segunda temporada de SuperNanny. A superbabá, que vem impressionando em audiência, ganhará novas aventuras na rede de Silvio Santos.


O contrato inicial previa a produção de 13 episódios da versão brasileira do reality, comandada pela especialista em educação infantil Cris Poli.


A primeira temporada, que termina em 25 de junho, já atingiu audiência na casa dos 17 pontos e mantém média de 14 pontos no horário.


Pelo contrato, as novas aventuras de Cris Poli devem começar a ser produzida em agosto e exibidas em outubro. O site da atração já tem mais de 12 mil famílias inscritas. Nos EUA e na Inglaterra, a série original também está em sua segunda temporada.


Por aqui, as novidades são muitas. A superbabá vai resolver problemas de pequenos rebeldes de famílias de outros Estados. A primeira temporada limitou-se a atender famílias selecionadas em São Paulo e no interior.


Cris Poli ainda deve adotar novas táticas para ‘domesticar’ as crianças, mas sem abandonar o que já é marca registrada da atração, como o ‘cantinho da disciplina’, lugar onde a criança fica por alguns minutos pensando no que fez de errado, e a ‘caixinha do desabafo’, em os pequenos depositam bilhetes desabafando sobre situações que os incomodam.


Outra novidade é o uniforme. Cris Poli deve abandonar as roupas com pinta de aeromoça para adotar um novo visual, a pedido de Silvio Santos. Vale lembrar que a na versão original, a babá Jo Frost também troca de roupa a cada temporada. O cenário onde a educadora brasileira faz suas reflexões também vai mudar. Resta saber se as más criações continuarão as mesmas.’


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