Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Guerra de emissoras pelo controle televisivo

Por quase duas semanas, os noticiários da televisão mexicana bateram na mesma tecla: como os pobres do país sofrem com os altos preços dos remédios. A ampla cobertura do problema contou com imagens tocantes dos doentes e moribundos e tom acusatório. No fim, chegou-se à conclusão de que os culpados pela triste situação são dois distribuidores farmacêuticos que, juntos, controlam 70% do mercado.

O curioso é que as duas companhias de TV rivais do México, Televisa e TV Azteca, tenham escolhido tratar do assunto ao mesmo tempo, e com o mesmo enfoque. No fim, as duas concluíram que a culpa era mais especificamente de um dos distribuidores: o Grupo Casa Saba, uma companhia de US$ 2 bilhões controlada pelo recluso bilionário Isaac Saba Raffoul.

O que nem a Televisa nem a TV Azteca mencionaram em sua cobertura é que Raffoul tem interesses em outro negócio diferente do farmacêutico: o televisivo. O empresário é o parceiro mexicano da Telemundo, segunda maior emissora em língua espanhola dos EUA, de propriedade da NBC Universal. Em setembro deste ano, a Telemundo e outra companhia de Raffoul, o Grupo Xtra, requisitaram formalmente uma licença para estabelecer uma emissora de TV no México.

Objetivo jornalístico

As duas emissoras rivais dizem que sua cobertura foi guiada apenas com objetivo jornalístico. ‘O alto custo dos medicamentos em um país pobre com alto índice de problemas de saúde é uma questão real, e não está ligada apenas a Raffoul e seus outros negócios’, afirmou o porta-voz da Televisa, Manuel Compean.

O pedido de licença para uma nova emissora deu início a uma longa disputa entre a Telemundo e a TV Azteca, com direito à abertura de processos legais. Há poucas semanas, a Telemundo chegou a pedir à Comissão Federal de Comunicações americana que negue a renovação da licença de transmissão da KAZA, afiliada em Los Angeles da Azteca. A briga acontece ao mesmo tempo em que o México ganha um novo presidente. Felipe Calderón, durante sua campanha, já havia afirmado que pretendia aumentar a competição entre os meios de comunicação no país, e chegou a dizer que o México deveria ter uma terceira emissora.

Controle de mercado

Hoje, a Televisa e a Azteca controlam praticamente toda a indústria televisiva mexicana – ainda que a Televisa tenha presença consideravelmente maior do que a rival, concentrando 75% do mercado publicitário. No início do ano, reguladores antitruste começaram a fazer campanha contra a ampla concentração dos meios de comunicação no país.

Em abril, as duas foram beneficiadas por uma lei que, segundo os críticos, dá a elas espaço livre no cenário de radiodifusões. A lei levou ao aumento do debate sobre os problemas causados pelo monopólio televisivo mexicano. ‘Tem que haver pelo menos mais um canal aberto’, defende o regulador Eduardo Pérez Motta. Televisa e Azteca, por sua vez, declaram que não se incomodam com o aumento da competição. Dizem mais: estão preparadas para enfrentá-lo. Informações de Elisabeth Malkin [The New York Times, 6/12/06].