Tuesday, 30 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Jornalismo de resistência

[do release da editora] 

Páginas de Resistência resgata as lutas do Partido Comunista Brasileiro do Pará e a oposição de seu jornal, a Tribuna do Pará, numa pesquisa do jornalista Francisco Ribeiro do Nascimento. Ela abrange 91 edições da Tribuna do Pará, com 431 páginas e 175 títulos, além da relação de jornais e revistas dos anos de legalidade e ilegalidade do PCB que existiram até 1964 e os nomes dos jornalistas vítimas da ditadura após esse período.

Francisco Ribeiro do Nascimento – ou seo Chiquinho, como é mais conhecido na imprensa –, tem 76 anos, nasceu na Ilha de Marajó, entrou no Partido Comunista Brasileiro aos 18 anos e começou no jornalismo em 1954, na Tribuna do Pará. Em 1958 assumiu a direção do jornal, mas nesse mesmo ano o jornal deixou de circular por problemas financeiros. Sua história de vida compreende a prisão em Parintins, em 1954, quando trabalhava como técnico laboratorista e liderava uma manifestação pelo aniversário de Luiz Carlos Prestes. Em 1964, logo após o golpe militar, ficou seis meses clandestino para fugir de uma nova prisão em Belém do Pará.

Foi para Santos como clandestino, deixando mulher e dez filhos que só se juntaram a ele em fevereiro do ano seguinte. Em Santos, participa da diretoria do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo, que ele considera uma ‘extensão de sua casa’. Pesquisar as páginas do jornal em que trabalhou e trazer à luz fatos como as lutas formadoras da consciência da nacionalidade e soberania nacional, as ameaças ao petróleo brasileiro, a necessidade de distribuição de terras na II Conferência dos Trabalhadores Agrícolas, depoimentos de Luiz Carlos Prestes, a defesa de Fernando de Noronha, as manifestações contra Carlos Lacerda, movimentos sindicalistas e muitos outros assuntos da época.

Mártires da imprensa

Para o autor, hoje anistiado pelos ministérios do Trabalho e da Justiça, o livro é, antes de tudo, uma grande homenagem aos companheiros perseguidos pela ditadura militar: ‘É a minha maneira de contribuir para que fatos como a repressão e o autoritarismo não sejam esquecidos em nosso país. Meio século depois, temas como reforma agrária, conflito e assassinatos no campo, defesa da Amazônia, salários dignos e mais empregos continuam atuais e ainda hoje perturbam a sociedade brasileira. O livro é resultado do envolvimento e do incentivo de minha família e dos amigos e é dedicado a Vladimir Herzog e outros jornalistas que sofreram as conseqüências dos tempos da ditadura’.

Hubert Alquéres, presidente da Imprensa Oficial do Estado, acredita que a publicação deste livro é uma forma de mostrar às novas gerações o registro de fatos que passaram a fazer parte da história, além de relembrar as dificuldades trazidas pela interrupção do processo democrático.

Fred Ghedini, presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, ressalta na apresentação da obra a postura combativa de Francisco Nascimento em sua militância de esquerda: ‘Essa militância veio até os dias de hoje, quando o sentido da própria militância encontra-se em xeque. Pois vivemos tempos em que os indivíduos se enclausuram em seus objetivos e desejos particulares de vida. Seo Chiquinho se transforma em pesquisador por vontade própria e por amor à história e graças à obstinação de sempre e à solidariedade de seus colegas procurou revelar aos jovens a existência de uma imprensa que tinha outra razão de ser que não os mecanismos do mercado’.

Outros destaques do livro: ‘Uma breve história do PCB no Pará’, de Alfredo Oliveira, o texto ‘Doze Anos de Luta’, transcrito da edição 352 (agosto de 1958) do Tribuna do Pará, textos/memória sobre o jornalista João Adolfo da Costa Pinto (ativista que lutava pela unidade do movimento sindical) e João Amazonas, presidente de honra do PC do B.

Outro destaque é a homenagem aos mártires da imprensa, com dados do livro Dossiê dos mortos e desaparecidos políticos a partir de 1964. Além disso, um quadro com a relação de jornais e revistas dos anos de legalidade e ilegalidade do PCB, que existiram até 1964, com informações atualizadas pela Fundação Biblioteca Nacional, em dezembro de 2001.