Wednesday, 08 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1286

O mapa da mina

O jornalista Leandro Fortes, um veterano com passagens pelas principais redações do país, está lançando a obra Jornalismo investigativo, pela Editora Contexto. Trata-se de um trabalho sem paralelo no mercado editorial, posto que não apenas comenta grandes casos da investigação brasileira: vem também com uma enxurrada de técnicas para tornar mais preciso o trabalho do jornalista dado às investigações. Leandro disse o seguinte ao Observatório:

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Como surgiu a idéia do livro?

Leandro Fortes – Na verdade, a idéia não foi minha, mas de Luciana Pinsky, jornalista e uma das diretoras da Editora Contexto, de São Paulo. A Contexto mantém a chamada ‘Coleção Comunicação’, com diversos títulos sobre jornalismo, muito usados como referência didática em universidades brasileiras. Ela, então, me convidou para escrever o volume sobre jornalismo investigativo. Como sempre foi uma área na qual atuei, e da qual gosto muito, aceitei o trabalho.

Está acabando o jornalismo investigativo no Brasil?

L. F. – Acabando talvez seja um exagero, mas é uma atividade que está em baixa, embora ainda seja o que de mais interessante exista na profissão. O crescente endividamento das empresas jornalísticas está na base dessa crise, mas poderia ser superada com criatividade e coragem – duas coisas que há muito não habitam as cabeças das chefias das redações brasileiras. Redações, aliás, quase todas comandadas pelos departamentos comerciais, preocupados que andam em investir em capas e matérias mirabolantes de cosméticos, sexo, celulite, dietas e outros assuntos comezinhos. Os grandes chefes de redação foram abandonados ao esquecimento. Hoje, pululam os publishers, que quase nunca entendem nada de jornalismo, mas adoram esse programas de qualidade total bolados pelos gênios de auto-ajuda da literatura de recursos humanos. No fim das contas, sobra dinheiro para todo tipo de bobagem, menos para mandar um repórter ao sertão investigar o desvio do leite da merenda escolar.

Ações judiciais estão brecando a ânsia de furos?

L. F. – Não tenho a menor dúvida. Mas isso acontece em maior escala quando os veículos se acovardam ou cuidam do problema deixando a bomba estourar em cima do repórter. Eu acho que, em vez de cada veículo enfrentar esse problema com seu próprio time de advogados, a ANJ e a Fenaj deveriam se unir para elaborar uma ação conjunta que resulte num plano estratégico de defesa da atividade jornalística junto ao Judiciário. Porque, como qualquer foca logo descobre, juiz não gosta de jornalista.

O que falta no jornalismo investigativo brazuca?

L. F. – Continuidade. O Brasil viveu um boom de jornalismo investigativo na década de 1990, por conta do impeachment do presidente Fernando Collor de Mello e da CPI dos anões do Orçamento. Depois, as redações foram se burocratizando, virando fábrica de sabão, pobres e enxutas, preocupadas mais com a o tamanho da cesta de Natal do fim de ano do que com furos jornalísticos. É claro que, do ponto de vista prático, falta mesmo é investimento. Jornalismo investigativo demanda tempo e dinheiro. Como as redações ficaram pequeninas, fica difícil abrir mão de um ou dois repórteres por vários dias ou meses. E embora sempre exista grana para os acampamentos de qualidade total e cursos da Universidade de Navarra, quase nunca há caixa disponível para a investigação jornalística.

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Jornalista