[do release da editora]
Pelo discurso aparentemente neutro e objetivo, pretensamente representativo da natureza, as ciências naturais ganham repercussão nos meios de comunicação como campos privilegiados de conhecimento capazes de produzir verdades. No entanto, são objeto de intenso questionamento por parte dos estudos sociais que apontam o caráter valorativo das ciências. Entre os estudos que ganham destaque na mídia, aqueles realizados no âmbito da epidemiologia, na sua maioria, tratam da conformação de comportamentos, fazendo, portanto, intersecção com a dimensão cultural traduzida em regras, obrigações, desejos e aversões relacionados ao processo saúde-doença.
Este livro apresenta o resultado de uma pesquisa cujo objetivo foi explorar os significados e conteúdos da divulgação sobre risco epidemiológico nos dois jornais diários de maior tiragem no Brasil, bem como nas respectivas publicações científicas que serviram de fonte.
O risco à saúde no discurso jornalístico é e não é diferente do risco relatado nos periódicos científicos. É diferente porque no primeiro adquire dimensão maior ao expressar “risco relativo” como medida de risco. Além disso, as notícias deformam a polêmica e o caráter coletivo na construção do conhecimento. Na medida em que dá visibilidade à dimensão individual do processo saúde-doença, apontando hábitos nocivos ou protetores, os jornais ignoram o significado de risco e as características sistêmicas, estruturais e sociais relacionadas à distribuição das doenças.
Olinda do Carmo Luiz é médica formada pela Escola Paulista de Medicina (atual Unifesp), mestre e doutora em Ciências pelo Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP. Trabalhou vários anos em monitoramento da mídia, analisando notícias sobre saúde reprodutiva. Tem artigos publicados em revistas científicas e atualmente é professora da disciplina Saúde Coletiva da Faculdade de Medicina do ABC e pesquisadora do Instituto de Saúde da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo.