Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Os blogs, seus benefícios e armadilhas

Os blogs chegaram de mansinho ao sítio do New York Times. Mas chegaram. Hoje, o NYTimes.com conta com blogs editados por funcionários do jornal sobre os mais variados temas. Os espaços são, basicamente, livres. Escreve-se neles comentários opinativos ou informações factuais sobre assuntos como comida, vinho, mercado imobiliário e finanças.

‘Um blog nada mais é do que um pedaço de tecnologia’, afirmou o editor Jonathan Landman, cujas responsabilidades incluem os blogs, em uma nota para a equipe do Times em dezembro do ano passado. ‘Ele permite que as pessoas compilem pensamentos, conectem-se com outros e interajam rapidamente com os leitores. As pessoas podem usá-los da maneira como quiserem.’

Explicação dada, era hora de ‘blogar’. Alguns meses depois, o ombudsman do jornalão, Byron Calame [9/4/06], faz uma análise da experiência. Calame não viu como algo preocupante o fato de o Times ter começado tarde a ter seus próprios blogs – jornalões rivais como o Washington Post começaram bem antes. Para ele, é preciso ter sempre em mente que, apesar de blogs serem espaços livres, os do sítio do Times pertencem a um ‘jornal sério’. Por esta razão, era importante que o passo fosse dado cuidadosamente, já que se tratava de ‘funcionários postando diretamente suas próprias opiniões’.

Calame reconhece que hoje os blogs se tornaram parte do pacote de notícias, opinião, entretenimento e informação oferecido pelo Times aos leitores. Por isso, é importante que o sítio do diário deixe completamente claro a distinção entre blogs e o conteúdo tradicional de notícias. Os leitores, por sua vez, devem manter em mente esta diferença.

O ombudsman cita alguns blogs do Times para mostrar que, muitas vezes, seu conteúdo não é tão diferente do que aparece sobre o mesmo tema na versão impressa do jornal. É o caso das páginas sobre crítica gastronômica (Diner’s Journal) e sobre vinhos (The Pour). As duas, escritas por críticos do jornal, têm tom bastante pessoal, mas não diferem muito dos artigos impressos – já que estes também são críticas pessoais.

Outros blogs nascem com objetivos determinados, como o The Carpetbagger, criado como um suplemento à cobertura da premiação do Oscar de 2006. Os comentários de autoria de David Carr, que no resto do ano é repórter de cultura e colunista de mídia, eram pessoais e informais – e receberam destaque depois de sua previsão certeira de que Crash ganharia o prêmio de melhor filme.

DealBook, o melhor

Mas Calame quer mesmo é usar sua coluna para falar sobre o que é, para ele, o blog ‘mais fascinante’ do jornal. Trata-se do DealBook, lançado há um mês para acompanhar assuntos de Wall Street e da ‘comunidade financeira’. O DealBook teve início como um boletim informativo sobre o mercado e seus personagens que era enviado por e-mail aos leitores, em 2001. A idéia do blog é ‘juntar de maneira inteligente’ notícias e dados sobre o tema a partir de links para outros sítios e fontes de informação, explica o editor Andrew Ross Sorkin. ‘O blog oferece julgamento experiente e humano no processo de seleção de notícias, em vez da junção de dados gerada por computador presente em alguns programas de busca’, completa Calame.

Os links são de artigos do Times, de agências de notícias e de outros veículos e blogs. O ombudsman elogia o trabalho. ‘Uma das melhores coisas do DealBook, eu acho, é que ignora a tradicional resistência dos jornalistas em admitir que um veículo concorrente conseguiu algo exclusivo. O blog freqüentemente inclui links para histórias de grandes rivais como Washington Post, Financial Times e Los Angeles Times‘.

Calame ressalta, entretanto, que há o grande risco de que algumas das informações indicadas não sejam verdadeiras, pois não passam pelos ‘filtros’ do jornal. E aí, mais uma vez, entra a necessidade de se distinguir entre conteúdo jornalístico e conteúdo dos blogs do Times.

Jornalistas devem ser claros, leitores devem estar atentos. Com estas recomendações, o ombudsman diz que não vê motivos para que não sejam criados blogs ao mesmo estilo do DealBook sobre temas como saúde ou ciência.