Friday, 03 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1286

Para aprender a aprender

Possuir um sobrenome não muito comum e que, ao mesmo tempo, pertença seguramente a uma família única, permite reconhecer parentes com certa facilidade. É o caso do sobrenome ‘Perissé’.

E aconteceu outro dia. Entro na livraria para cultivar o vício impune, e descubro que um primo distante acaba de publicar um livro. Na impossibilidade de saber em que ponto da árvore genealógica encontra-se o desconhecido parente, ‘primo’ torna-se substantivo útil para indicar qualquer grau de parentesco distante. Primo distante também fisicamente, pois Paulo Perissé mora na Bahia, onde coordena o arrojado projeto The Global School.

O livro é sobre pedagogia: O educador aprendedor (Cortez Editora). Desenvolve a tese de que o professor deve ser, antes de tudo, um experto em aprender, um especialista na arte de pesquisar sistematicamente e pensar por conta própria. E, por ser assim e assim agir, reúne as condições necessárias para ensinar outras pessoas a aprenderem a arte de aprender.

Em potencial

Inspirado por Paulo Freire, Rubem Alves e Pedro Demo, meu primo (começo a não sentir tanta distância assim) escreve com clareza, explica com jeito que devemos superar a idéia já fossilizada de que o professor é apenas aquele que ensina e que o aluno é aquele que está ali somente para aprender. Lógica heterodoxa, tese paradoxal, mas argumentos simples. Nada de pedagogices e perdas de tempo. Um livro curto sem ser grosso. Ao contrário, cuidadoso e delicado com o delicado tema do educar.

Como empreendedor na área do ensino, Paulo defende (mais ainda, criou!) uma escola que se alimente de diversas fontes teóricas, e que seja capaz de elaborar a sua própria síntese pedagógica, com base num aprendizado coletivo. Porque se o professor deve ser aquele que mais se empenha em aprender, a escola deve ser uma instituição, uma comunidade empenhadíssima em aprender.

A proposta pedagógica da escola de Perissé (marcada pelo idealismo que jamais perece) é preparar pessoas multihabilidosas, o que nos remete à Didática Magna de Comenius, do século 17, para quem o papel da educação é fazer de cada ser humano um politropótaton, ou seja, uma pessoa versátil, com destreza intelectual, multihabilidosa e, portanto, um professor em potencial.

Fui ao site da The Global School (http://www.globalschool.com.br/). Lá, vejo as fotos da escola com que muitos sonham. E num vídeo institucional, para minha surpresa, outra prima distante: a atriz Heloísa Perissé.

Fala sério!

******

Doutor em Educação pela USP e escritor