Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Como é o noticiário “hiperlocal” do NH

Sede NH. (Foto: Elvira Lobato/ Arquivo pessoal).

A edição do NH de 6 de abril de 2019 é exemplo do jornalismo hiperlocal praticado nos impressos do Grupo Sinos. A capa chamava para um problema corriqueiro nas cidades, mas que dificilmente merece destaque nos jornais das capitais: o excesso de barulho feitos pelos vizinhos. “A quem apelar quando o barulho mora ao lado” foi a manchete daquele dia.

O tema ocupou a página 7 inteira do jornal, que analisou o assunto sob vários ângulos:

— como o excesso de ruído interfere na saúde das pessoas
— como se dá a atuação da polícia
— o que diz a legislação
— como funciona a fiscalização da prefeitura
— um professor de direito opinou sobre a conveniência de se recorrer à Justiça quando o problema é persistente

O comandante do 3º Batalhão da Polícia Militar, tenente-coronel Márcio Uberti Moreira, foi ouvido na reportagem e aconselhou que os moradores tentem resolver o conflito com “uma conversa educada” antes de ligarem para o telefone 190 ou irem pessoalmente ao batalhão registrar queixa. O professor de direito da Universidade Feevale, Igor Ratz, especialista em direito civil, foi ouvido sobre os aspectos legais. Já a fonoaudióloga Tatiana Lehnen discorreu sobre o impacto negativo que o som prolongado acima de 85 decibéis provoca em nosso sistema auditivo. O jornal também trouxe uma arte com os limites de decibéis permitidos por faixa horária e os telefones e horário de funcionamento do plantão da Secretaria do Meio Ambiente.

Outro exemplo de jornalismo hiperlocal são os depoimentos de moradores sobre os problemas e o que poderia ser melhorado nos bairros. As opiniões — elogiosas ou críticas — são publicadas com as fotos dos entrevistados. Com isso, os moradores se sentem representados pelo jornal. O motorista aposentado Lineu Soares, de 77 anos, elogiou o bairro Canudos, onde mora há 40 anos. “Eu não tenho nenhuma queixa… é um lugar muito bom de se morar,” afirmou ao NH.

O NH também divulga a relação dos assinantes que aniversariam no dia. Trata-se de uma promoção feita pelo jornal junto com a rede de pizzaria, churrascaria e galeteria Primavera. O aniversariante tem direito a um jantar de graça no dia do aniversário se estiver com acompanhante, bastando apresentar o documento de identidade e a página do jornal com o nome dele na lista.

Educação

Os jornais do Grupo Sinos dão sempre destaque aos assuntos de educação, com predomínio de enfoque local. A iniciativa de uma escola para melhorar o desempenho dos alunos merece mais atenção do que as notícias de Brasília sobre a crise de comando no Ministério da Educação.

“Nossas manchetes são, quase sempre, de assuntos locais. Quando o assunto é nacional, acrescentamos o viés local,” diz o editor-chefe do NH e dos jornais do grupo, Jeison Rodrigues. Os editores-executivos dos demais jornais se reportam a ele. Para ter a visão hiperlocal, os repórteres precisam conhecer em profundidade a realidade que os cerca. Por isso, na seleção de repórteres são priorizados os nascidos na região. A filosofia é adotada por todos os jornais do grupo.

Editorias

A prioridade para os assuntos locais se reflete na distribuição das páginas. A principal editoria é a de “Comunidade,” que ocupa a maior quantidade de páginas e reúne um leque variado de assuntos de interesse do morador: política local, educação, eventos da cidade, problemas de trânsito, obras públicas etc. Dos 42 jornalistas do NH, dez são lotados nessa editoria. As páginas de mundo, política nacional, esporte e televisão feitas pela equipe do NH são utilizadas pelos outros jornais.

À exceção do Correio de Gravataí e do Diário de Cachoeirinha — que têm páginas mais coloridas e chamativas —, os jornais do Grupo Sinos têm visual comportado, para se adequar ao perfil mais conservador dos leitores. O noticiário policial tem importância secundária, o que também é reflexo do perfil da cidade, que tem uma taxa de violência relativamente baixa se comparada a outras cidades de porte semelhante.

Segundo Rodrigues, os jornais do grupo fiscalizam os gastos do setor público e fazem investigação. Ele cita como exemplo o ranking das câmaras municipais mais econômicas divulgado anualmente pelo NH. O jornal faz o ranking de 50 câmaras com o percentual de gastos sobre o orçamento, quantidade de funcionários e salário médio dos servidores.

Os repórteres produzem conteúdo para o jornal impresso, portal de notícias, webTV e para a Rádio Progresso. O jornal NHNews, com cinco minutos de duração, é transmitido diariamente da redação do NH pela internet. Editores e repórteres são comentaristas na rádio.

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Elvira Lobato é jornalista.