Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Imparcialidade utópica

Há uma parte no texto em que o autor descreve o jornalista como comunicador imparcial. Mas será que essa imparcialidade não é tão utópica quanto a isenção necessária ao antropólogo? Será que existe algum ser imparcial? Pode até ser que exista, mas não se encaixa no perfil de profissionais cujos vencimentos são pagos por grandes grupos de mídia. Na minha burra opinião a imparcialidade não é algo a ser alcançado, mas sim almejado. A imparcialidade é como a paz, intangível na realidade, tangível no sonho de milhões. Se os jornalistas realmente fossem imparciais, boa parte da aura que cerca o jornalismo estaria na sola do sapato.

Pedro Daltro, estudante, Rio de Janeiro



Opinião, mas de óculos

Está havendo uma grande confusão por parte de alguns jornalistas em relação ao CFJ. São dois pontos simples.

1) O primeiro é sobre o texto do projeto. Muitos jornalistas estão dizendo que o projeto não pretende censurar a imprensa. Tais colegas não sabem ler – ou não leram o projeto. Está citada de forma clara e objetiva a palavra ‘censura’ como uma das possíveis punições aos jornalistas que supostamente faltarem com a ética da profissão. Está escrito no projeto. Basta ler.

2) Outra confusão é sobre o posicionamento dos setores conservadores da sociedade. Está sendo alardeado que os ‘senhores’ da mídia e gente do PFL e de associações conservadoras não gostaram nem um pouco do projeto. É correta essa análise. E daí? Do que eles gostam nós não gostamos?

É saudável analisar o que há por trás do medo da direita. No entanto, a opinião de qualquer articulista sobre o tema deve ser pautada pela independência de pensamento, sob o risco de sermos utilizados por gente oportunista, atuando contra a própria classe. A esquerda escolhe a bandeira da democratização da comunicação para, no fim, apoiar um projeto que não cita uma linha sobre o assunto e, ainda por cima, fala explicitamente em censura? Definitivamente, não estamos com o foco correto.

Gustavo Barreto (www.consciencia.net), jornalista, Rio de Janeiro



Advertência e censura

Se há ojeriza entre os jornalistas quanto a enquadramentos, fiscalização, penalidades etc. devo informar que ao advogado, em julgamento por seus pares e com direito ao contraditório, são aplicadas advertência, censura e expulsão dos quadros da OAB, conforme o grau de infração. OAB nada tem a ver com jornalismo, no entanto, a exemplo do que também ocorre com a publicidade, há um instância na própria categoria que poupa ao cidadão de recorrer à Justiça – inatingível, pois kafkiana.

Jackson Silva, advogado, Penápolis, SP



Foro privilegiado?

Gostaria de entender o porquê de tanta reação contrária ao CFJ. Pelo que sei, conselho profissional existe para fiscalizar o exercício profissional dos seus registrados, e não estabelecer metodologias comportamentais, isto é, censuras e críticas ao exercício da profissão. Pelo que sei, os representantes no conselho são elegidos por seus pares, em votação democrática e se candidatam livre e espontaneamente, sem critérios pré-estabelecidos quanto a sua competência.

Não entendo essa gritaria toda, pelo fato de que o conselho, pela sua existência, garante total liberdade ao profissional, não estabelecendo qualquer tipo de censura no seu exercício! A censura passa a existir quando, por denúncia devidamente comprovada, o profissional é condenado a alguma punição. Mas é julgado após amplo direito de defesa. Portanto, a liberdade total de ação e opinião é assegurada, já que qualquer coisa em contrário seria inconstitucional. Agora, por que o jornalista tem foro privilegiado em relação a todos os demais profissionais?

Se comete um erro do tamanho que foi exemplificado pelo caso Ibsen Pinheiro, como é que fica? Quem paga? Os jornalistas e empresas afins foram de uma incompetência atroz e desprezível e continuam aí, provocando mais desgraça sem que nada aconteça? A qualidade da imprensa de uma maneira geral é péssima e tem piorado a cada dia. Talvez com a instalação de um conselho a situação melhore, já que os jornalistas teriam que ter mais cuidado nas suas investigações e publicações, pois estariam, no caso de erro grave, como no caso citado, expostos ao julgamento imediato de seus pares.

Lia Baião Feder, bibliotecária, Niterói, RJ



A imprensa ganha

Sugiro que os interessados leiam também o artigo ‘A ética jornalística precisa de um conselho’, de Sérgio Murillo de Carvalho e Aloísio Lopes, da Fenaj, publicado na Folha de S. Paulo de 18/8/04. Está certo que o governo tem feito uma porção de bobagens, mas em matéria de bobagem, e más intenções, a nossa imprensa é um adversário difícil de ser batida.

Vicente Estevam Junior, bibliotecário, Santos, SP



Última intervenção

Desde quando entrei no site do OI, um ano atrás, criei a expectativa de que este Observatório fosse um canal de debates democráticos, de pretensões aliadas à prática da boa liberdade de expressão, que fosse crítico contumaz das informações ruins e parciais que assolam por toda a mídia, denunciando uso da informação para obtenção de prestígio, mas vejo e analiso, após esse episódio, que se trata de mais um canal de divulgação de notas medíocres em defesa de um interesse político. Todas as semanas assistia ao programa na TV Cultura e imediatamente fazia análises no site acreditando que contribuiria, mesmo que com singelas linhas, para elevar o debate a respeito do fluxo de informações que circulam em nossa terra.

Contudo, me decepcionei com Alberto Dines, a quem tinha como um baluarte no campo da democracia, e com o próprio site. Por isso, faço desta minha última intervenção. Vou passar a ler Veja, Caras e Contigo. Pelo menos são muito mais autênticas em sua mediocridade.

Alexandre Carlos Aguiar, Florianópolis

Nota do OI: Prezado Alexandre, o OI lamenta a perda e pergunta: debates democráticos só o são quando de acordo com a opinião do caro leitor?