Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Não entendi as risadinhas

Realmente a matéria retrata bem a coletiva. Em vários momentos não entendi as risadinhas, e fiquei sem saber se não entendi a piada ou se os ‘profissionais’ que lá estavam haviam bebido alguma coisa a mais. Aprendi com vocês que toda entrevista, principalmente com autoridades do governo que se concedem à retórica, acaba no vazio. Os debates com candidatos se dão da mesma forma, não esclarecendo o cidadão, uma vez que o jornalista não tem o direito de questionar. É isso que torna esses debates monólogos horríveis. São apresentados dados e números desconhecidos do grande público que não acompanha a administração do país, e salta aos olhos que os jornalistas também desconhecem se a exposição é verdadeira ou não. É extremamente desagradável a gritante ignorância da maioria de nossos jornalistas. Costumo mudar de canal ou ler um bom livro.

Voltando à coletiva, a apresentação do presidente nos levou a crer que o país está praticamente nos eixos. Milagre! Sinto-me indignada por ser considerada uma idiota sentada em frente a uma caixa que despeja um monte de baboseiras das quais não posso me defender. Tempos atrás vibrava com os grandes jornalistas que diziam exatamente o que eu gostaria de estar dizendo ao meu presidente! Bons tempos aqueles.

Gostaria de registrar que navegando deparei-me com o www.deolhonamidia.org.br e achei muito interessantes as análises feitas. As matérias sobre o Oriente Médio realmente são de uma riqueza estonteante para questionarmos qual caminho desejamos para nossa imprensa.

Valquiria Thomassoni, artista plástica, Itanhaém, SP



O projeto é da Fenaj

Caro Carlos Brickmann, agradeço a resposta a minha carta (é raro um jornalista dar satisfação aos leitores), embora você tenha mantido as desinformações. Reconheço que me expressei mal no primeiro item (não apoiar é diferente de se opor, mas não são expressões antagônicas). O que quis dizer é que Lula chamou de covardes, de forma provocativa, os jornalistas que ficaram em ‘cima do muro’ quanto ao CFJ (presumo que por medo de perderem o emprego, pois o CFJ vai confrontá-los com os patrões – todos contra o projeto). O adjetivo não foi dirigido aos jornalistas que se opuseram publicamente ao CFJ (por exemplo, você, Alberto Dines, Janio de Freitas, Hélio Fernandes).

O CFJ não é um projeto do governo, é da Federação Nacional de Jornalistas Profissionais (Fenaj). No próprio Observatório da Imprensa de 28/9 há textos que afirmam isso (‘Como a Fenaj esvaziou o debate’, de Maurício Tuffani; ‘A encruzilhada de uma profissão’, de Antônio Oliveira; ‘Justiça eleitoral cumpre o papel do CFJ’, de Walter Lima). Quando o assunto começou a circular, o ombudsman da Folha, Marcelo Beraba, disse que articulistas da Folha que abordaram o tema omitiram que o projeto era da Fenaj. Hélio Fernandes, na Tribuna da Imprensa de 25/9, diz que o projeto é da Fenaj, ‘encampado e escamoteado pelo PT-Governo’.

O CFJ, portanto, é da Fenaj. No máximo, é um projeto da Fenaj encampado pelo governo. Se Ricardo Kotscho (que sempre ressalva que o projeto é da Fenaj) o defende é porque concorda com ele (ou até tem interesse nele), mas isso não é prova de que o projeto é do governo. Se o governo encaminhou o projeto ao Congresso é porque o trâmite é esse, a julgar pelo que disse Marinilda Carvalho, na abertura do Canal do Leitor da semana passada: ‘O governo entra de pato na história, já que é obrigado por lei a assinar projetos de criação de autarquias federais’ Jornalistas não são representantes da opinião pública nem têm procuração de leitores para isso, pois jornalistas (a maioria deles) só escrevem o que os patrões permitem que escrevam. Assim, em última análise, nossos representantes seriam os patrões, pois os jornalistas teriam que substabelecer nossas procurações.

Muitas vezes, jornalistas (cumprindo ordens, logicamente) tentam enganar e manipular a opinião pública, como no caso da Globo na época das Diretas e, mais recentemente, a imprensa venezuelana, que tentou derrubar o presidente Hugo Chávez.

Larry Rohter foi citado implicitamente, no trecho: ‘…e quando vaza alguma notícia que não lhe interessa, [Lula] quer até expulsar o repórter do país’. Se você não se referia ao americano, gostaria de saber a quem se referiu, pois desconheço outro caso em que Lula tenha tentado expulsar um repórter do Brasil. Não faço a menor idéia da estrutura de comunicação do governo. Pensei que você se referia, como outros jornalistas, à cooptação que o governo fazia, e queria que fosse dado ‘nome aos bois’. Como a referência é para a estrutura oficial, é despropositada, pois se é oficial só pode ser ‘chapa-branca’. Continuarei a ler sua coluna, como faço há muito tempo. E, dependendo do desempenho do Corinthians, até relevarei alguma desinformação porventura publicada.

Rogério Ferraz Alencar, técnico da Receita Federal, Fortaleza

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Carlos Brickmann responde – Canal do Leitor [rolar a página]

Presentinhos de mau gosto – Carlos Brickmann



Bancos, silêncio sagrado

A imprensa brasileira se omite vergonhosamente de produzir reportagens sobre os bancos e suas relações com a sociedade. Para John Calvino, os bancos eram instituições sagradas, cabe a eles a missão santa de guardar nosso tesouro. Sugiro um debate sobre as instituições financeiras abordando sua história, seu papel e a realidade da postura dos bancos em relação ao indivíduo comum que, na visão de Calvino, deve ser o mais assistido pela agência financeira, pois é papel do banco acabar com a miséria e o subdesenvolvimento. Cabe ao banco este poder porque ele é o cofre das nossas riquezas. Aqui no Brasil os bancos exercem papel destrutivo.

Roque Luis Farias, jornalista



Menos misticismo

Parabéns ao senhor Marcelo Idiarte pelo artigo ‘Intolerância religiosa? E a culpa da mídia?’. Talvez só tenha faltado dizer que todas as igrejas atuam da mesma forma, ou seja, enquanto pregam que é o lado espiritual que deve prevalecer, que é a obediência a porta da salvação para os seus crentes, como instituições atuam de maneira bem diversa, pois cada vez estão mais ricas, poderosas e tentando influir na esfera política, inclusive com bancadas próprias no congresso. Respeito toda e qualquer crença que seja sincera e verdadeira, mas jamais respeitarei aqueles que exploram e obtêm dividendos com a boa fé das pessoas. É uma pena que, embora sejamos seres racionais, insistamos tanto em não pensar com clareza e de uma forma mais crítica. Mais filosofia e menos misticismo.

Evandro Agnoletto bancário, Porto Alegre

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Intolerância religiosa? E a culpa da mídia? – Marcelo Idiarte



Beleza e histeria

É verdade que a pesquisa, encomendada pela Dove, revela uma auto-estima baixa das mulheres. Por trás disso, contudo, e não só por culpa da mídia, está um problema mais complexo. Em livro recém-publicado, um grupo de psicanalistas brasileiros discute os padrões de beleza. A tese, que permeia os artigos, é de que a necessidade de ser bela substituiu a histeria como a principal neurose deste início do século.

André Nigri, jornalista, São Paulo