Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1280

Sobre o comentário de Zeca Camargo

Ouvi atentamente o artigo narrado por ele no YouTube. Claro, não concordo 100% com que ele disse, principalmente quando ele fala em alienação cultural. Basta olhar para a emissora em que ele trabalha, a Globo. O que é que essa emissora costuma passar todos os dias, mesmo? E no Faustão? E nos contextos das novelas, onde matar, enganar, sequestrar, mentir etc. é a coisa mais normal do planeta? A maioria dos brasileiros hoje com 20 anos sequer sabe quem são Mamonas Assassinas, ou então Michael Jackson.

O que sabem é o que foi vivido pelos pais ou irmãos mais velhos, assim como nós vivemos do “sopro” das emoções que os meus pais vivenciaram com o Roberto Carlos ou com o Elvis. O Zeca critica a comoção nacional sobre a morte do Cristiano, dizendo que ele era quase um anônimo. Mas como, se ele não era famoso, não aparecia constantemente na mídia – mas que mídia mesmo, que não a Globo? Terrivel mesmo é quando ele cita que não se fazem mais ídolos como antigamente. Penso eu é que a grande mídia quer mesmo é ficar 100% apegada ao passado, sem sequer olhar os talentos que estão surgindo.

Como o mundo que insiste que a Nadia Comăneci é a melhor ginasta do planeta e sequer olha para os talentos tão bons quanto ela, mas que jamais irão ganhar outros 100. Quanto aos livros de colorir, se são febre? Concordo, são febre, sim. E adianto que logo serão substituídos por qualquer outro modismo – do qual também faço parte, mas que afirmo que, assim como eu, a maioria que também pinta não faz parte da “atual pobreza da alma cultural brasileira”, como ele mesmo diz. Ressalto que se virou febre é porque a emissora dele também ajudou a colocar fogo nessa “onda” de modismos. E realmente pintar desestressa quando o assunto é esse, de ver uma opinião unilateral.

Veja, fácil mesmo é ser um jornalista da grande mídia e, sendo viajado, pôde comparar diversas culturas, provindas do mundo inteiro (ou seria apenas a cultura americana? Fiquei na dúvida agora) com a do brasileiro. Ele comparou o sucesso “repentino” ou “quase anônimo” de Cristiano Araújo com as dos astros nacionais e internacionais do pop e do rock que já entrevistou. Mas esqueceu de mencionar que cada um tem sua trajetória. Estranho. Entendo que a liberdade de expressão é para todos, porém é fundamental saber que ela poderá gerar represálias. E ele teve, pediu desculpas em rede nacional – mas parece que piorou a situação.

Para falar o que pensa hoje em dia é ter de enfrentar os “mimimimis”, tão unilaterais quanto o artigo que ele escreveu. Portanto, tem coisas que não se discute, porém, hoje em dia, quase tudo não ser discutido. Vamos parar onde então? Ah sim, nos livros de colorir. Pelo menos, cada um respeita a cor que quer usar, não interferindo no desenho alheio.

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Adriane Baldini é jornalista e editora-chefe.