Tuesday, 10 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1317

Caso Pimenta Neves chega ao fim


Leia abaixo os textos de sexta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Sexta-feira, 5 de maio de 2006


ELEIÇÕES 2006
Kennedy Alencar


Publicitário João Santana fará a campanha de Lula


‘João Santana será o marqueteiro da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à reeleição. Lula fechou com Santana no mês passado e orientou o presidente do PT e futuro coordenador de sua campanha, Ricardo Berzoini, a tratar de detalhes da contratação, inclusive do financeiro.


Lula pediu que haja um caixa para sua campanha separado das finanças das campanhas estaduais, ao contrário de 2002, quando o então tesoureiro Delúbio Soares cuidou de todo o dinheiro.


A Folha apurou que há duas negociações em curso com Santana. A primeira prevê uma remuneração em torno de R$ 5 milhões para um pacote incluindo o trabalho do marqueteiro propriamente dito, pesquisas para definir estratégias e produção de TV. A segunda só prevê a contratação do trabalho de Santana: o PT cuidaria das demais áreas. A tendência é que vingue o pacote: R$ 5 milhões é um valor baixo para uma campanha presidencial. Em 2002, o PT disse ter gasto R$ 7,085 milhões na campanha de TV de Lula.


Auxiliares do presidente disseram que ele montará campanha com estrutura mais enxuta que a de 2002 por entender que será beneficiado pelo cargo que ocupa. Há farto registro televisivo dos 40 meses em que Lula preside o país. Imagens do presidente poderão ser compradas da Radiobrás. Lula já vem cumprindo extensa ‘agenda positiva’ de inaugurações, viagens e solenidades que deverá se estender até junho, quando ele pretende assumir a candidatura. Em relação às imagens, Lula já teria um robusto ‘banco de dados’ disponível a preço razoável. Isso baratearia o custo da campanha, disseram à Folha dois auxiliares diretos do presidente, que confirmaram o acerto com Santana.


Fernando Henrique Cardoso, o primeiro a se beneficiar da reeleição, regulamentou gastos de um presidente-candidato. Por exemplo: o partido deverá pagar o combustível de uma viagem de cunho eleitoral, mas não terá de pagar pelo aparato de segurança e de cerimonial do presidente. ‘Farei campanha governando’, tem dito Lula, que avalia que a posição já garantirá espaço suficiente na imprensa e que o mais caro e trabalhoso será o programa de TV.


Santana vem dando consultoria a Lula desde novembro passado, quando foi indicado pelo então ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda). Santana, que fez a campanha vitoriosa de Palocci à Prefeitura de Ribeirão Preto em 2000, foi o responsável pela elaboração do pronunciamento oficial de Lula no 1º de Maio. Ele é ex-sócio de Duda Mendonça, que fez a campanha de Lula em 2002 e que perdeu a conta da Secom em 2005 após ter admitido que recebeu R$ 10,5 milhões no exterior de Marcos Valério. Lula já espera problemas com o anúncio de Santana, que deverá ser feito só depois de o presidente assumir a candidatura.’


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Marqueteiro já trabalhou com Duda e Palocci


‘Compositor, escritor e jornalista, o baiano João Santana começou a trabalhar com marketing político em 1993, iniciado por Duda Mendonça, ex-marqueteiro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e acusado de remessas ilegais de dólares ao exterior.


No início do ano, o Ministério Público Federal acusou Santana de ter remetido US$ 528 mil para paraísos fiscais entre 1999 e 2001, o que o fez cogitar desistir da campanha de Lula. Após a denúncia, Santana disse que os dados eram ‘inconsistentes’.


Santana assessorou o ex-presidente argentino Eduardo Duhalde em 1999 e 2002. No Brasil, cuidou das campanhas do ex-ministro Antonio Palocci para a Prefeitura de Ribeirão Preto (2000) e do senador petista Delcídio Amaral (2002).


A tentativa de convertê-lo em marqueteiro de Lula partiu de Palocci. Após o início da crise que atingiu o PT e Duda, foi de Santana a sugestão para que Lula trocasse o vocativo ‘companheiros e companheiras’ por ‘amigos e amigas’.


Santana foi também diretor da revista ‘IstoÉ’ em Brasília. Em 1992, ganhou o Prêmio Esso pela reportagem ‘Eriberto: Testemunha-Chave’, sobre o motorista que desmontou farsa montada pelo então presidente Fernando Collor.’


GAROTINHO EM GREVE
Sergio Torres e Talita Figueiredo


Garotinho deve encerrar greve de fome hoje


‘O pré-candidato do PMDB à Presidência Anthony Garotinho planeja encerrar hoje a greve de fome que iniciou no domingo.


A decisão de Garotinho foi anunciada à mulher, a governadora Rosinha Matheus (PMDB), à filha Clarissa Matheus e aos auxiliares considerados de confiança.


Para justificar o fim do protesto contra o que Garotinho chama de perseguição da imprensa e do sistema financeiro, a equipe de Rosinha chegou a marcar estúdio para que ela gravasse um pronunciamento a ser divulgado hoje nas emissoras de TV e rádios evangélicas controladas por aliados.


Como Garotinho é visto por auxiliares como uma pessoa que toma decisões inesperadas, o fim da greve era rotulado por eles apenas como uma probabilidade muito forte, não uma certeza. Se não mudar de idéia, Garotinho vai hoje para o hospital Quinta D’Or, onde será submetido a exames.


No pronunciamento preparado para Rosinha, não faltam críticas às Organizações Globo, à imprensa, aos bancos, ao neoliberalismo e até ao PMDB. Até o início da noite de ontem, o pronunciamento não havia sido gravado.


No fim da tarde, o médico Abdu Neme disse que Garotinho ‘não dura três dias’ se continuar sem comer. Pela manhã, Garotinho teve um acesso de tremedeira. O médico disse que o ex-governador sofreu crise de hipotermia.


Neme diz que Garotinho está desidratado, com alterações na pressão arterial e nos batimentos cardíacos e queda nos níveis de potássio, magnésio e cálcio no organismo. Ele perdeu 2,6 dos 89,9 kg com os quais começou a greve.


Garotinho aceitou beber à tarde 400 mililitros de soro caseiro. Precisaria de 3 litros, disse o médico.


O senador Mão Santa (PMDB-PI), o deputado federal Gilberto Nascimento (PMDB-SP) e o presidente da Assembléia Legislativa do Rio, Jorge Picciani (PMDB) visitaram Garotinho e pediram que desistisse do protesto.


No fim da visita, de olhos fechados e mãos para o alto, fizeram uma prece por Garotinho.


O deputado federal Leonardo Picciani (PMDB-RJ), filho do presidente da Assembléia, disse que estará hoje em Washington para pedir à OEA (Organização dos Estados Americanos) que acompanhe o processo eleitoral brasileiro.


Fora do prédio, cerca de 150 pessoas fecharam uma pista da avenida Almirante Barroso. Exemplares da revista ‘Veja’, cuja última edição traz Garotinho na capa, foram queimados.’


Raphael Gomide


Empresa da Globo é investigada no Rio


‘A Procuradoria Geral do Estado do Rio acusa a Net, firma de TV a cabo controlada pela Globopar, de apropriação indébita de ICMS e reclama na Justiça o pagamento de R$ 29,6 milhões em imposto supostamente cobrado de assinantes e não repassado ao Estado.


A investida do governo Rosinha Matheus contra as Organizações Globo ocorre em meio a denúncias de irregularidades de contratos do Estado com empresas que doaram dinheiro para a campanha do pré-candidato Anthony Garotinho, que acusa a Globo de persegui-lo politicamente.


Há ações de execução fiscal desde 2001. A Procuradoria do Estado obteve decisão favorável da Justiça em 20 de abril, relativa à ação deste ano no valor de R$ 8 milhões: a Justiça determinou a penhora de 5% do faturamento mensal da Net.


A próxima investida da PGE será assinar convênio com o Ministério Público para agir na esfera criminal contra a Net, por meio de ação por apropriação indébita: ‘O ônus financeiro é transferido para o consumidor, que paga o imposto, mas a empresa retém o dinheiro’.


A Net reconhece a existência de cinco execuções fiscais, mas afirma que são oriundas de autos de infração em que a empresa, ‘por um determinado período, excluiu o valor cobrado a título de taxa de adesão dos serviços de TV a cabo da base de cálculo do ICMS’. A empresa não informou a duração do período em que deixou de cobrar ICMS sobre a taxa de adesão: ‘A discussão nesses autos não versa sobre o não repasse, ao fisco, de valores cobrados dos assinantes’. A Net diz que ‘em todas as execuções existe oferecimento de garantia, em dinheiro ou carta de fiança. Já foram apresentados embargos em todas elas’.’


Folha de S. Paulo


‘Pânico na TV’ apanha ao tentar entregar pizza


‘Os integrantes do programa ‘Pânico na TV’, da Rede TV!, foram agredidos ontem por supostos adeptos de Anthony Garotinho quando tentavam simular a entrega de pizza ao candidato. A van da equipe foi destruída. A assessoria de Garotinho disse que não soube da agressão.


O diretor do programa, Ricardo de Barros, disse que ‘eles disseram que o programa não era sério e que não tinha nada lá para ser gravado’. ‘Pânico na TV’ liderou pela segunda vez consecutiva o ranking da baixaria na TV, da campanha ‘Quem Financia a Baixaria é Contra a Cidadania’. Barros diz ter cumprido todas as exigências do Ministério Público.’


CASO PIMENTA NEVES
André Caramante, Fabio Schivartche, Gilmar Penteado e Mário Rossit


Defesa vê trauma; acusação, crime pensado


‘No segundo dia do julgamento do jornalista Antonio Marcos Pimenta Neves, 69, os advogados de defesa tentaram demonstrar aos jurados que ele sofria de estresse emocional que o deixou confuso e desorientado na época do crime. Já a acusação sustentou a tese de que o assassinato da jornalista Sandra Gomide, 32, ex-namorada dele, foi premeditado.


As duas versões podem fazer diferença caso o jornalista seja condenado. Se o júri popular, formado por quatro mulheres e três homens, aceitar a tese da doença, a pena -que pode chegar a 30 anos- deve ser abrandada. O estresse emocional poderia derrubar as qualificadoras de motivo torpe (ciúmes) e impossibilidade de defesa (tiro pelas costas).


Se o júri entender que houve premeditação, o caso (homicídio qualificado) será classificado na lei de crimes hediondos -legislação mais rígida em relação ao cumprimento da condenação. O julgamento, que começou na manhã de quarta-feira, continuava até o fechamento desta edição. A previsão era que se encerrasse na madrugada de hoje.


Pimenta Neves, ex-diretor de redação do jornal ‘O Estado de S.Paulo’, confessou o assassinato. O crime foi cometido, em agosto de 2000, em um haras da zona rural de Ibiúna (a 64 km de SP) após uma discussão entre eles.


‘Transtorno de estresse’


A testemunha principal da defesa ouvida ontem foi o médico psiquiatra Marcos Pacheco de Toledo Ferraz. Professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), ele examinou o réu dois dias depois do crime.


Para ele, esse quadro patológico, conhecido como transtorno de estresse pós-traumático, ‘desorganizou’ a vida do jornalista. Essa doença, segundo ele, é comum entre pessoas que voltam de zonas de guerra ou de desastres naturais. No caso do jornalista teria sido causado por três razões: a doença de sua filha, a progressiva perda de visão e a complicada situação amorosa com Sandra.


‘Ele teve uma explosão emocional, algo que nenhum de nós está livre’, disse o psiquiatra. Questionado pela defesa sobre a intencionalidade do crime, ele afirmou: ‘Ele não premeditou. Isso é uma convicção para o médico, é uma vivência de quem conversou muito com ele. É uma opinião médica baseada na minha experiência’.


Para Ferraz, se Pimenta Neves tivesse premeditado o crime, teria um plano B. ‘Saberia o que fazer depois de atirar contra a Sandra. Mas ele não soube.’


Nove dias após o crime, o jornalista se submeteu a exame no Instituto de Medicina Social e de Criminologia de São Paulo. O resultado apontou que não havia evidências de depressão patológica.


Para Isabel Pimenta Hernandez, irmã do jornalista, o relacionamento atribulado com Sandra também teria contribuído para a crise emocional de Pimenta Neves. Ela afirmou, em depoimento, que tentou ajudar na reconciliação do casal. ‘Eu disse para ela ter paciência que eles iriam se casar. Então, ela me disse que o Pimenta Neves já tinha 63 anos e, quando chegasse aos 70, ela iria colocá-lo em um asilo. Aí eu desisti.’


Acusação


Três testemunhas de acusação ouvidas ontem afirmaram que o crime foi premeditado. João Gomide, pai de Sandra, disse que Pimenta Neves esperou que ele não estivesse ao lado da filha para matá-la. ‘Por que ele não matou a Sandra no sábado ou na manhã de domingo [dia 20 de agosto de 2000], quando estávamos juntos? Porque esperou ela ficar sozinha.’


Gomide também afirmou que Pimenta Neves passou a fazer ameaças após o fim do namoro, principalmente cobrando a devolução de todos os presentes que ele havia dado a Sandra. ‘Ele [Pimenta Neves] me ligava e dizia que não daria sossego enquanto ela não devolvesse tudo.’


Deomar Setti, dono do haras em Ibiúna, afirmou que Pimenta Neves, no dia do crime, esperou várias horas pela chegada da ex-namorada. ‘Ele olhava para cada carro que chegava no haras para saber se era ela. Só depois do crime eu percebi isso. Ele me enrolou o tempo todo para ter assunto comigo e depois matá-la.’


Marlei de Fátima, mulher de Deomar, disse que, três meses antes do crime, Sandra confidenciou ter sido ameaçada de morte pelo jornalista. ‘Sandra tinha hematomas no pescoço que, segundo ela, foram provocados por Pimenta.’ Ela disse que não havia falado sobre a suposta ameaça à polícia antes por ‘medo’.


Às 20h10 de ontem, antes do início do debate entre defesa e a acusação, a Promotoria pediu para que peças sigilosas do caso fossem lidas durante a apresentação. O juiz Diego Ferreira Mendes determinou que o plenário fosse esvaziado para que as duas partes pudessem utilizar os documentos sob sigilo, sem prejuízo para a acusação e defesa.


Por conta disso, familiares de Pimenta Neves e de Sandra, bem como a imprensa, tiveram de sair.’


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Jornalista evita encarar pai de Sandra no júri


‘No reencontro com João Gomide, pai de Sandra, ontem pela manhã, Pimenta Neves evitou encará-lo. Enquanto Gomide dava o seu testemunho, Pimenta sentou no lugar de sua advogada, Ilana Müller, de maneira que não ficasse diante dele.


Somente quando Gomide já havia acabado de falar, ele deixou a cadeira e voltou para o banco dos réus. Durante a maior parte do depoimento, o jornalista manteve a cabeça abaixada.


Logo em seguida, Gomide sentou-se na primeira fileira de cadeiras reservadas para o público. Em um dos intervalos dos depoimentos, Pimenta, discretamente, reclamou para sua advogada sobre a presença dele no local.


Ilana Müller pediu ao juiz que Gomide fosse retirado da cadeira em que estava sentado, sempre ao lado da cunhada de Sandra, Regina Celi Leite. Regina usava um vestido preto e verde comprado por Sandra em Londres, durante uma viagem dela com Pimenta.


O juiz não aceitou e permitiu que Gomide continuasse no local. Dali, o pai da vítima continuou, durante todo o julgamento, a encarar Pimenta, que desviava o olhar.


O pai de Sandra deixou o fórum por volta das 21h, quando o juiz decidiu que apenas os jurados iriam acompanhar os argumentos da defesa e da acusação. ‘Não é possível a família não assistir ao debate, é uma vergonha’, afirmou ele, que aguardaria o resultado do júri em São Paulo.’


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Porte de arma do réu é motivo de controvérsia


‘A discussão sobre quanto tempo antes do crime o jornalista Pimenta Neves já possuía uma arma também foi alvo de controvérsia entre defesa e acusação.


Os advogados alegaram que ele passou a andar armado poucos antes meses do crime, após uma série de ameaças anônimas decorrentes de reportagens sobre irregularidades cometidas por vereadores de São Paulo.


Mas, segundo João Gomide, pai da vítima, ele andava armado vários meses antes de cometer o assassinato. ‘Teve até uma vez que ele deixou uma arma num lugar e eu a peguei. O Pimenta foi até a minha loja para buscar essa arma’, afirmou.’


ROGÉRIO CENI vs. FSP
Toni Assis


Expulsão que brecou Edmundo rende elogio de cartola a Leandro


‘Se a falta providencial em Edmundo, quando o atacante palmeirense quase entrava na área são-paulina em chance clara para virar o jogo, custou ao atacante Leandro a expulsão no clássico de anteontem e o temor de ser responsabilizado por uma eventual eliminação da Libertadores, rendeu também ao atleta elogios da figura máxima do São Paulo: o presidente Juvenal Juvêncio.


‘O Juvenal [Juvêncio] estava na porta do vestiário me esperando para me dar apoio. Foi a primeira vez que fui elogiado por uma expulsão’, declarou Leandro, que disse ainda que o reconhecimento pela falta veio também da torcida e foi sentido ontem nas ruas.


‘Os torcedores me agradeceram por eu ter feito a falta, apesar de ter sido expulso. Disseram que a atitude foi vital para a classificação.’ O time pega nas quartas-de-final o argentino Estudiantes.


Leandro, no entanto, chegou a temer pelo pior quando o Palmeiras estava por cobrar a falta. ‘Não tive coragem de olhar. Depois, vi que a bola não tinha entrado. Mas foi uma sensação muito ruim.’


Para André Dias, a maior lição que o grupo tirou da partida contra o Palmeiras foi que o time soube se superar. ‘Foi um jogo em que o juiz errou para os dois lados. Nós não perdemos o foco e conseguimos a classificação.’


Sobre o clássico de domingo, contra o Corinthians, o zagueiro falou que a rivalidade deve ser esfriada. ‘Com certeza, o Pacaembu não vai estar lotado. Mas um jogo contra o Corinthians é sempre especial. Por isso acredito que ninguém deverá ser poupado pelo técnico Muricy [Ramalho].’


Ontem, após o treino no CT, um contratempo mudou a rotina de trabalhos da imprensa.


O goleiro Rogério, autor do gol da vitória sobre o Palmeiras após ter de cobrar um pênalti duas vezes, estava relacionado para falar com os jornalistas. No entanto, por meio da assessoria do clube, ele exigiu que a Folha não estivesse presente na entrevista.


Já pronto para falar com a imprensa, Rogério viu que o seu pedido não seria atendido, já que a reportagem da Folha se negou a ficar fora da coletiva. O goleiro, assim, resolveu não falar com a imprensa. A assessoria, então, teve que chamar outro jogador para substituí-lo -no caso, Leandro.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


TV Cultura reforma jardins e banheiros


‘A TV Cultura não tem dinheiro para investir em novos programas e recuperar o prestígio de outrora, mas seus jardins e banheiros estão impecáveis, destoando do que é levado ao ar.


A emissora pública paulista acaba de concluir uma completa restauração dos jardins de sua sede, que ocupa todo um quarteirão na zona oeste de São Paulo. As áreas verdes ganharam novas plantas de acordo com um projeto paisagístico, no qual teria trabalhado uma irmã do presidente da Cultura, Marcos Mendonça _o que a emissora nega.


Logo na entrada, uma fonte com jatos d’água e uma estátua do padre Anchieta foi restaurada.


O prédio administrativo, onde fica o presidente da emissora, ganhou um novo piso e nova tintura em suas paredes. E os cerca de 20 banheiros coletivos do complexo de edifícios da emissora foram completamente reformados, em uma obra que custaria cerca de R$ 400 mil, segundo estimativa da própria Cultura.


A emissora afirma que não gastou um tostão com todas essas obras. Informa que a recuperação do jardim foi ‘patrocinada’ pela empresa Internacional Paper _que em troca veiculou anúncios nos intervalos da TV.


Já as reformas foram feitas com material de construção obtido de empresas que devem ICMS ao Estado. Ou seja, houve uma troca de dívida por mercadoria _o que também é uso de recurso público.


OUTRO CANAL


Negativa 1 Procurada pela Globo, a família de Rubens Paiva se recusou a gravar depoimentos e a colaborar com um ‘Linha Direta’ especial que reconstituiria os últimos dias do ex-deputado, que desapareceu em 1971, no auge da repressão da ditadura militar. O programa da Globo é visto como excessivamente policial.


Negativa 2 Foi o segundo ‘não’ da família de Rubens Paiva à Globo. Em 1999, se recusaram a participar de uma reportagem de Pedro Bial sobre desaparecidos do regime militar.


Marmelo O SBT aliviou a barra para o jurado de ‘Ídolos’, Arnaldo Saccomani, que produziu um CD de uma participante do programa. A candidata, Karina Mathias, foi eliminada após a divulgação da informação. Para o SBT, substituir uma participante, entre 30, foi fácil, difícil seria arrumar um novo Saccomani.


Espinho Não está sendo nada fácil a missão de ‘Cobras & Lagartos’ de recuperar a audiência da faixa das 19h para a Globo. Os primeiros nove capítulos da atual novela das sete deram 31 pontos de média. É menos do que deu a falida ‘Bang Bang’ no mesmo período (32).


Delírio Atrizes e modelos que participarão da gravação de um jogo de futebol feminino para ‘Belíssima’ irão desfilar em carro conversível, só de calcinha e sutiã, para a torcida de Corinthians x São Paulo, no domingo no Pacaembu (São Paulo).’


BUSH & MÍDIA
Folha de S. Paulo


TV Fox deu vitória a Bush na Flórida em 2000


‘O ‘Washington Post’ publica estudo pelo qual o noticiário da Fox, rede conservadora de telejornalismo, deu a George W. Bush uma vantagem de 3 a 8 pontos percentuais no eleitorado da Flórida, que em 2000 decidiu sua vitória à Casa Branca. A pesquisa comparou mudanças pró-republicanas de voto, entre 1996 e 2000, em 9.256 cidades em que a Fox distribuía seu sinal por cabo.’


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O Globo


Sexta-feira, 5 de maio de 2006


CASO PIMENTA NEVES
Flávio Freire


Cansaço suspende julgamento de Pimenta Neves


‘IBIÚNA (SP). A pedido dos jurados, que alegaram cansaço, o juiz Diego Ferreira Mendes suspendeu na madrugada de hoje o julgamento do jornalista Antônio Pimenta Neves, que matou com dois tiros a namorada, a também jornalista Sandra Gomide, em um haras da cidade, em agosto de 2000. O julgamento, iniciado quarta-feira, será retomado às 11h, com a réplica para a acusação. A promotoria acredita que a sentença saia à tarde.


O casal proprietário do Haras Setti, local onde aconteceu o crime, disse ontem considerar que o assassinato foi premeditado, e não provocado por forte emoção, a tese dos advogados de defesa. Após prestar depoimento, o empresário Delmar Setti e sua mulher, Marlei Setti, disseram que Pimenta passou boa parte da manhã do dia 28 de agosto data do crime, conversando com eles e com funcionários do haras, sem demonstrar alteração de comportamento.


– Eu não posso provar que foi premeditado, mas eu não tenho dúvidas. Basta ver o tempo que ele ficou comigo (no dia do crime). Ele me enrolou o tempo todo para esperar a Sandra chegar e depois matá-la. Eu não tenho vergonha nem medo de dizer isso – disse Setti, aos jornalistas, na porta do Fórum de Ibiúna.


Antes do crime, cerveja


Em depoimento aos jurados, o empresário deu detalhes sobre o período antes da morte de Sandra. Disse ao juiz que chegou a conversar com Pimenta Neves sobre um boi que seria assado no haras naquele dia. O empresário serviu cerveja para o jornalista, que bebeu enquanto conversava.


– Mais tarde eu só ouvi os gritos de socorro, a Sandra gritando ‘não’, ‘não’ e os dois disparos. Quando cheguei perto do local já vi que ele estava dentro do carro, olhando pela janela como se quisesse se certificar do que acabava de fazer, e saindo calmamente do haras – contou o empresário.


A dona do haras, Marlei Setti, confirmou em depoimento que também considerava que o crime havia sido planejado.


– Eu acredito que ele planejou, sim. Uma pessoa que age sob o impacto de uma forte emoção não fica esperando a vítima chegar conversando com as outras pessoas como se nada tivesse acontecido. Mesmo depois do crime, ele saiu do haras com uma expressão fria. Não parecia que havia matado um ser humano – disse ela, que revelou ainda ter tido uma conversa com Sandra cerca de três meses ante do crime.


Na conversa, disse a empresária, Sandra mostrou marcas de hematomas no pescoço.


– Ela me disse que havia apanhado do Pimenta, e realmente tinha marcas e hematomas espalhados no pescoço – disse Marlei Setti.


Ainda no depoimento, Delmar Setti confirmou a versão do caseiro do haras, José Quinto, de que Sandra recebeu o primeiro tiro pelas costas, enquanto corria, depois que Pimenta tentou segurá-la pelo braço. Disse também que o jornalista se aproximou, agachou e disparou o segundo tiro, próximo ao ouvido. Pimenta Neves, segundo o empresário, entrou no seu carro e saiu do local calmamente.


Sem o porte de arma, Pimenta não teria matado Sandra Gomide. A avaliação é do psiquiatra Marcos Pacheco de Toledo, da Unifesp, antiga Escola Paulista de Medicina, que cuidou do jornalista por quatro meses depois que ele assassinou Sandra.


Arrolado como testemunha de defesa, o psiquiatra afirmou ao juiz Diego Ferreira Mendes, da 1 Vara Criminal de Ibiúna, que Pimenta Neves era uma pessoa inteligente, ‘brilhante do ponto de vista intelectual’, mas que não consegue lidar bem com as emoções.


– Muita gente é assim, é apenas um sinal de fragilidade – afirmou o médico, acrescentando que a personalidade do jornalista é normal.


Perguntado se Pimenta Neves tinha intenção de matar Sandra Gomide quando foi ao Haras Setti e passou a manhã esperando por ela, o psiquiatra afirmou que não:


– Não, ele não tinha intenção. Quando foi lá ele não tinha intenção. Minha sensação é que houve encontro entre a perda de controle e o porte de arma – disse Toledo.


O médico afirmou que Pimenta Neves queria ‘resolver’ o problema – o fim do namoro com Sandra – de forma racional. Depois do rompimento, Pimenta Neves dava sinais de depressão. Segundo Toledo, o jornalista, que era obsessivo com a organização da casa e de objetos pessoais, passou a deixar a casa ‘bagunçada’ com o fim do relacionamento.


Pai: Pimenta xingava Sandra


O pai de Sandra, João Gomide, disse que o jornalista maltratava sua filha e que chegou a chamá-la de ‘prostituta’ e ‘vagabunda’ num das discussões que tiveram no portão de sua casa.


– Ele nunca disse isso na minha frente, porque eu teria reagido, mas ouvi ele chamá-la de vagabunda e prostituta numa das vezes que discutiram no portão da minha casa – disse o pai de Sandra durante o depoimento à Justiça.


Por fim, fez um desabafo:


– Não consigo ver minha filha morta e o Pimenta solto. Eu preferia estar na cadeia do que sem minha filha. Minha vida não existe mais. Espero que a justiça seja feita para a pessoa pagar pelo que fez. Só que já são quase seis anos que isso não e resolve. Será que é porque a pessoa tem dinheiro e eu não tenho? E com isso eu fico sem minha filha e ele numa boa? – indagou o pai de Sandra Gomide, que acompanhou o resto do julgamento do plenário.’


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‘Filha igual a essa, nunca mais’


‘IBIÚNA (SP). Na primeira vez em que pôde olhar para o homem que matou a sua filha, cinco anos e oito meses depois do assassinato, o pai da jornalista Sandra Gomide, o aposentado João Florentino Gomide, classificou o jornalista Antônio Marcos Pimenta Neves de arrogante, prepotente e disse que sua vingança é vê-lo sair preso do Fórum de Ibiúna, onde é julgado desde anteontem. Gomide disse que não quer vingança, apenas justiça.


Pimenta Neves, que trocou de lugar com sua advogada para evitar ficar ao lado de Gomide, ouviu o depoimento cabisbaixo e com a mão escondendo o rosto. Por vezes, o assassino que confessou o crime orientava a defesa escrevendo bilhetes.


Depressão e três pontes de safena


No depoimento ao juiz e aos sete jurados, João Gomide descreveu ainda que Pimenta Neves gostava de se dizer poderoso e influente, amigo de ministros e secretários de Estado. Ao promotor Carlos Horta Filho, o aposentado contou o drama da família desde a morte de Sandra. Lembrou que passou a sofrer de atrofia diabética por conta do nervosismo após o brutal assassinato da filha, começou a ter falta de sensibilidade nos pés e nas pernas, além de piora de um problema no quadril, onde tem uma prótese, e teve que receber três pontes de safena por causa de problemas cardíacos. Sua mulher, segundo ele, passou a ter comportamento bipolar, oscilando momentos de euforia e depressão.


Emocionado, por vezes olhando para Pimenta, João Gomide falou sobre a relação que mantinha com a filha.


– Era a melhor coisa que eu tinha na vida. Queria perder tudo, menos minha filha. Filha igual a essa, nunca mais. Eu estou arrasado e passei a não acreditar mais em nada – disse ele, lembrando ter pedido algumas vezes para que Pimenta Neves parasse de ameaçar sua filha, por conta do rompimento do namoro. – Cheguei a dizer a ele que ele era um homem de cultura, que deveria parar de agir daquela maneira, mas não adiantou – disse o aposentado.


Num dos momentos mais tensos do depoimento, o pai da jornalista relembrou o dia do crime. Contou ao juiz que recebeu Pimenta Neves em sua casa horas antes do assassinato, e que nunca esperava uma reação como essa do jornalista. Acompanhado da nora, utilizando uma bengala, João Gomide, respondeu aos advogados de defesa sobre um dinheiro que deveu a Pimenta Neves por algum tempo por conta de uma negociação de troca de veículos.


– Fiquei devendo R$ 5 mil e ele ficava cobrando minha filha para que eu o pagasse. Demorei para pagar, mas paguei, em duas vezes.


A advogada também perguntou se Sandra tinha cavalos antes de conhecer o jornalista. O pai disse que sim. Ao ser indagado se a filha já havia passado por tratamento psicológico, foi taxativo:


– Não, ela só tomava remédios homeopáticos. Minha filha tinha uma saúde de ferro.


‘Não tenho instinto de matador’, diz pai da vítima


Mais tarde, outro advogado de Pimenta, Carlos Frederico Muller, lembrou que no depoimento ele havia dito que não se trata de pessoa vingativa, embora tenha feito declarações na imprensa de que pretendia fazer justiça com as próprias mãos.


– Falei isso no passado, não tenho mais essa vontade. A única vingança é que ele pague pelo que fez. Não tenho instinto de matador. Só quero justiça.’


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O Estado de S. Paulo


Sexta-feira, 5 de maio de 2006


CASO PIMENTA NEVES
Laura Diniz, José Maria Tomazela e Marcelo Godoy


Sob sigilo, debate no júri de Ibiúna


‘Só os jurados puderam acompanhar o debate entre acusação e defesa do jornalista Antônio Marcos Pimenta Neves, julgado pela morte da ex-namorada, Sandra Gomide, em agosto de 2000. O juiz Diego Ferreira Mendes mandou esvaziar a sala do Tribunal do Júri de Ibiúna às 20 horas de ontem.


Mendes rejeitou pedido da acusação para quebrar o sigilo de parte do processo. Depois, afirmou que, para garantir condições iguais à defesa, decretaria segredo para todo o procedimento. Testemunhas, parentes do réu e da vítima, jornalistas e o público tiveram de sair, restando juiz, promotor e assistente de acusação, réu, defensores e os sete jurados.


Os debates deveriam durar cinco horas. Às 22h30, houve uma pausa para o jantar. Às 23h20, começou a falar a defesa. A decisão dos jurados poderia sair na madrugada de hoje, mas o juiz poderia suspender a sessão e retomá-la pela manhã.


Durante o dia, Pimenta foi descrito pelas testemunhas – duas de acusação, duas convocadas pelo juiz e quatro de defesa – ora como assassino frio, capaz de premeditar o assassinato da ex-namorada, ora como profissional competente, mas abalado por depressão. Estava mais descontraído do que no primeiro dia de júri. Para evitar novo constrangimento, o réu não chegou pela frente do fórum, andando, como anteontem. Entrou no carro dos advogados, pelo portão de trás, às 9h15.


O primeiro a depor foi João Gomide, pai de Sandra. À noite, ele criticou a decisão do juiz de decretar sigilo nos debates. Disse que não estava tão confiante ‘numa boa condenação’ do réu.


A acusação alegou que o crime foi premeditado e cometido friamente. O promotor Carlos Sérgio Rodrigues Horta Filho considerou positivos os primeiros três depoimentos – além de Gomide, os donos do Haras Setti, Deomar e Marlei Setti, onde foi o crime. ‘Confirmaram que ele atirou pelas costas, deu o segundo tiro quando ela estava caída e saiu calmamente.’


A defesa procurou mostrar um profissional reconhecido, porém abalado por crise emocional. Ao ouvir o psiquiatra Marcos Pacheco de Toledo Ferraz, que o atendeu após o crime, Pimenta quase chorou: conteve-se, evitou o soluço e assoou o nariz. Não houve lágrimas.


Ferraz contava que examinara um homem ‘brilhante do ponto de vista intelectual e profissional’, mas com ‘dificuldade para lidar com a emotividade’. Segundo ele, que não acredita em crime premeditado, o réu estava deprimido havia três ou quatro meses antes do crime.


Sem fazer juramento, por ser irmã do réu, Isabel Pimenta Hernandes disse que ele tomava antidepressivos semanas antes do crime. Contou que recebeu uma ligação de Pimenta, em que chorava e falava da filha e da ex-namorada. Na véspera do crime, Sandra ligou para Isabel, contando que ele tinha surtos. ‘Pensei em fazer algo para ajudá-lo, mas não deu tempo.’


O depoimento mais emocionado foi o de Marlei Setti. Sandra contou à dona do haras que tinha sido ameaçada por Pimenta. ‘No começo não quis me envolver. Mas agora, após ele ficar tanto tempo livre, resolvi contar’, explicou. ‘Ela falou que ele a tinha agredido e mostrou uma marca no pescoço.’


Deomar Setti disse que, antes de cometer o crime, Pimenta se recusou a ver o abate de um boi por ‘não gostar de ver sangue’. ‘Ele me enrolou para esperar Sandra chegar e matá-la. Não tenho vergonha nem medo de dizer isso’, frisou, fora do fórum.


Para Gomide, os depoimentos de defesa foram ‘falsos’. ‘Disseram que minha filha levou presente e dinheiro para não publicar matéria. Se tivesse, estava rica’.’


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Pimenta evita encarar o pai de Sandra


‘O pai de Sandra Gomide, o aposentado João Gomide, encontrou Antonio Marcos Pimenta Neves pela primeira vez desde a morte da filha. O jornalista evitou ficar de frente para o ex-sogro e trocou de lugar no depoimento: em vez de se sentar na cadeira da ponta da mesa da defesa, mais próximo do juiz, ficou entre os advogados. No fim do testemunho, voltou ao lugar anterior.


Gomide ficou calmo ao rever o ex-genro, que parecia inconformado com o que ouvia. ‘Ele era agressivo com a Sandra’, disse, referindo-se a ofensas. Pimenta riu e fez que não com a cabeça. O aposentado mencionou um dia em que o réu foi ao apartamento de Sandra e a teria agredido fisicamente. A advogada Ilana Müller interferiu: disse que ele foi absolvido por isso.


Para Gomide, Pimenta premeditou o crime. ‘Não consigo ver minha filha morta e Pimenta, livre há seis anos… Isso não é Justiça. Preferia estar na cadeia do que perder minha filha.’’


Laura Diniz e Marcelo Godoy


Diego Ferreira Mendes assumiu por acaso o júri e pode ser efetivado


‘O responsável por presidir um dos mais importantes julgamentos do ano, o de Antônio Marcos Pimenta Neves, é um juiz substituto. No entanto, chama a atenção pelo rigor formal e, ao mesmo tempo, pela forma didática como conduz um júri difícil. De 29 anos, casado, o juiz Diego Ferreira Mendes está em início de carreira e ainda não tem vara própria para atuar. Ele pertence à circunscrição do Fórum de Sorocaba, onde atua há cerca de 4 anos. Ali, cuida de processos de juízo criminal e nas áreas cível, de família, criança e adolescente. Na condição de substituto, transitou por quase todas as varas de Sorocaba e já dirigiu alguns júris. Nenhum com tanta repercussão.


Mendes assumiu esse júri por acaso: com a promoção do juiz anterior, a 1ª Vara Criminal de Ibiúna vagou e ele foi designado para atendê-la. Até o fim do mês, a vara vai receber um juiz titular e ele deve voltar para Sorocaba, onde mora. A menos que seja efetivado, pois se inscreveu para a vaga. Rigoroso com a imprensa, Mendes chegou a proibir a tomada de imagens, mesmo fora do prédio do fórum. Mandou que a equipe da TV Globo retirasse uma câmera instalada num sobrado vizinho e proibiu a gravação dos depoimentos. Mendes explicou, num comunicado, que o réu manifestara vontade de que sua imagem e voz não fossem registradas. Fotógrafos e cinegrafistas não entram com equipamentos no Fórum. O público, escolhido por sorteio para acompanhar o júri, gosta da atuação do juiz. ‘Ele explica bem o que está acontecendo’, disse o estudante Everson Rodrigues Carneiro. Entre os advogados, divide as opiniões. ‘Ele faz perguntas às testemunhas que dão sentido e coerência aos depoimentos’, disse a advogada Joceli Monteiro Guedes Ribeiro. Para o advogado Cornélio Gabriel Vieira, na tentativa de tornar o processo inteligível para o público e os jurados, o juiz às vezes se excede. ‘Deixa o depoimento correr solto e permite que a testemunha divague.’’


Marisa Folgato


Os dois lados de uma disputa no tribunal


‘Anteontem, o jornalista Pimenta Neves se calou sobre o assassinato da ex-namorada. Foi essa postura que sua advogada, Ilana Müller, estudou para preparar a dissertação de mestrado na Faculdade de Direito da USP, em 2001. O tema defendido foi o Direito ao Silêncio no Processo Penal Brasileiro: Direito de Permanecer Calado e de Não Ser Forçado a Auto-Incriminar-se.


O silêncio também é característica da advogada paulistana, de 33 anos, avessa a entrevistas sobre o caso em que atua há um ano. Seu pai, o jornalista Roberto Müller Filho, foi arrolado como testemunha pela defesa. Seu irmão, o também advogado Carlos Frederico, representa Pimenta numa causa cível.


Sócia do escritório Nélio Machado Advogados há três anos, Ilana formou-se em direito pela Pontifícia Universidade de São Paulo (PUC) em 1996.


O assistente de acusação, Sergey Cobra Arbex, filho da deputada Zulaiê Cobra, entrou no caso há uma semana. Antes, o pai de Sandra, João Gomide, era representado pelo escritório de Márcio Thomaz Bastos. Gomide queria mais ação contra a avalanche de recursos da defesa. Ele conheceu Sergey num programa de TV. O advogado se ofereceu para cuidar do caso, dizendo que era possível brigar mais contra os recursos de Pimenta e, como os antigos defensores, não cobraria nada.


Cinco professores e dois funcionários públicos compõem o júri que decide o destino de Pimenta.


COLABORARAM JOSÉ MARIA TOMAZELA E LAURA DINIZ’


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Para criminalistas, decisão de segredo pode levar à anulação do julgamento


‘A decisão tomada pelo juiz Diego Ferreira Mendes de decretar sigilo nos debates entre defesa e acusação pode levar à anulação do julgamento do jornalista Pimenta Neves. Essa é opinião de criminalistas ouvidos ontem pelo Estado. A decisão foi tomada depois que a promotoria expôs sua intenção de usar peças sigilosas do processo. Até então o julgamento do assassinato de Sandra Gomide havia sido público, acompanhado por familiares do réu e da vítima e por jornalistas. A defesa, que não queria o uso das peças no julgamento, concordou com a decisão do juiz. O Ministério Público pretendia que, mesmo com o uso dos dados sigilosos, a publicidade da sessão fosse mantida.


O criminalista Antônio Cláudio Mariz de Oliveira disse que nunca viu isso na vida, apesar de toda a experiência. ‘O processo no Tribunal do Júri é o maior exemplo de democracia na Justiça brasileira e prevê a publicidade’, afirmou. Segundo ele, a decisão pode ser considerada uma nulidade no julgamento. Como defesa e acusação concordaram com o sigilo, nenhum deles deve suscitar essa questão em eventual recurso. Mas, caso alguém recorra, por qualquer outro motivo, ele acredita que exista a hipótese de os magistrados entenderem que o júri é nulo por esse motivo.


‘O Código de Processo Penal diz que as sessões de julgamento são públicas, a não ser que a publicidade cause escândalo, inconveniente grave ou perigo de perturbação da ordem pública.’ Mariz explicou que o juiz pode ter se baseado na questão do ‘inconveniente grave’, que, para ele, é subjetiva.


Segundo Mariz, para uma peça do processo ser sigilosa, a defesa ou a acusação teriam de pedir isso ao juiz, no curso da ação, e serem atendidos. ‘Nesses caso, os documentos seriam lacrados nos autos, o que também é raro.’


O advogado Luiz Fernando Pacheco, ex-assistente de acusação do caso, também disse que nunca viu processo com ‘sigilo parcial’. ‘Ou tramita inteiro em segredo de Justiça ou não’, afirmou. Segundo ele, a decisão é ‘híbrida e estranhíssima, porém acertada’ porque é preciso preservar o segredo. O ideal, explicou, seria que tudo fosse público ou sigiloso.’


TELEVISÃO
Renata Gallo


Milton Neves reage a Tutinha


‘Em reação ao que Antonio Augusto Amaral de Carvalho Filho, o Tutinha, dono da Jovem Pan e criador do Pânico, disse ao Estado sobre Milton Neves, o jornalista esportivo diz que não ganha R$ 1 milhão por mês e nunca foi office-boy da Jovem Pan. ‘Teria sido um orgulho, mas nunca fui. Mas lá, trabalhei nos departamentos de Jornalismo, Esporte e Comercial, ‘tanto quanto um peão de obra’ ajudando a transformar a emissora de Guarani em Corinthians’, declarou via e-mail.


Segundo Milton Neves, ele foi despedido (‘saído’) em um ‘cruel, precipitado, mal avaliado e autopredatório processo expulsório-humilhante-ingrato’. O jornalista afirma que não está processando o pai de Tutinha, Antonio Augusto Amaral de Carvalho, o Tuta, ‘apenas propondo, em local competente e o mais democrático possível, análise justa de uma série de situações e documentos trabalhistas, publicitários-comerciais e jornalísticos envolvendo uma vida de 33 anos como funcionário da Jovem Pan’.


A TRÉPLICA


Tutinha diz não se arrepender do que disse. Endossa que foi Neves quem pediu demissão da Jovem Pan e conta que dois meses antes de deixar a emissora ele tirou vários anunciantes do futebol da rádio e os levou para a Bandeirantes. ‘No dia seguinte, ele entrou com um processo no valor de R$ 30 milhões, equivalente a R$ 1 milhão por ano de trabalho’, afirma. E completa. ‘Como diria Boris Casoy, isso é uma vergonha. Aviso a outras emissoras que tomem cuidado, quem faz isso uma vez com quem o ajudou por 30 anos faz com qualquer um. O resto é teatro’, conclui Tutinha.


Em tempo: o processo entre Milton Neves e a Rádio Jovem Pan existe e corre na 40ª Vara do Trabalho de São Paulo, capital.’


Patrícia Villalba


Canal Brasil será distribuído pela TVA


‘Era o que faltava para o Canal Brasil: ser visto – ou mais visto. A direção anunciou ontem uma parceria de transmissão com a Associação Neo TV, que tem 820 mil assinantes em 321 cidades do País. Isso significa, também, que o canal fará parte da grade da TVA Digital e de outras associadas, Vivax e a Boa Vista Cabo. Na TVA, será o canal 79 e acessível aos assinantes do pacote intermediário a partir de junho.


É o primeiro canal Globosat a fazer parte da TVA, que tem 350 mil assinantes. Hoje, ele é distribuído pela Net, em apenas oito cidades e, ainda assim, não está no pacote mais barato. Pode ser visto também via satélite, pela Sky. ‘Éramos uma cabeça e um tronco, agora somos cabeça, tronco e membros’, brincou o cineasta e produtor Luiz Carlos Barreto, que fundou o canal em 1998 com um grupo de cineastas – Zelito Viana, Marco Altberg, Aníbal Massaini e Roberto Faria -, numa parceria com a Globosat. ‘Começamos o canal com nossos acervos. Desde o Cinema Novo, tínhamos o sonho de que o cinema nacional chegasse à TV.’


Oito anos depois, em tempos mais confortáveis para o cinema, a TV não só recebe, mas disputa os filmes nacionais campeões de bilheteria. E o Canal Brasil, que deveria ser o exibidor natural, sai perdendo nas negociações. ‘Claro que nossa receita não permite que sejamos competitivos nessas negociações, por enquanto. Mesmo assim, estamos incrementando constantemente a programação’, diz o diretor-geral do canal, Paulo Mendonça, citando a faixa Seleção Brasileira, de filmes recentes – o de maio é Os Normais, de José Alvarenga Jr.


A previsão de faturamento para este ano é R$ 600 mil. Não é muito, mas já é o dobro da publicidade de 2005. Com a receita, o canal atua como produtor: no momento, quatro documentários estão a todo vapor.’


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