Saturday, 05 de October de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1308

Mainardi vai ao STF para saber quem é

Diogo Mainardi está angustiado, corroído por dúvidas existenciais: será ele o ‘bandido, mau-caráter, malfeitor e mentiroso’ referido pelo presidente Lula?


Em vez de procurar um psicanalista, psicólogo ou psiquiatra escolheu o STF para tirar as dúvidas sobre a sua índole. O caso é fascinante, tem tudo para criar jurisprudência e/ou ser relatado num colóquio científico sobre a perda de identidade.


Não é todo dia que aparece na suprema corte um cidadão que reclama um atestado de maus antecedentes e maus bofes para habilitá-lo a ganhar algumas moedinhas numa ação para defender o seu bom nome na praça. Se o STF considerar que o reclamante não é aquilo que foi dito sobre ele, perde os 38.500 dólares que pretendia cobrar do presidente. Mas se os meritíssimos forem justos e reconhecerem que o parajornalista cabe perfeitamente no retrato falado, habilita-se à uma indenização.


Bingo!


 


Onde está o colunista?


Luiz Antonio Magalhães


O colunista Diogo Mainardi escreve sempre nas páginas finais da revista Veja. A coluna fica lá porque originalmente era dedicada a variedades e assuntos culturais, material que também sai nas últimas páginas.


Desde o início do governo Lula, porém, Mainardi vem se dedicando à política. De fato, desde que assumiu, em agosto do ano passado, que a sua tarefa é a derrubada de Lula do cargo de presidente (‘Quero derrubar Lula’, coluna publicada na edição 1.916 de Veja, de 3/8/2005), Mainardi praticamente só escreve sobre política. De lá para cá, também comprou brigas com jornalistas que julga ‘lulistas’, como Luís Nassif, Franklin Martins e Alberto Dines, entre outros.


De toda maneira, mesmo quando ataca jornalistas, o pano de fundo do colunista é a política e o combate ao governo Lula. Ainda assim, os textos de Mainardi continuaram a ser editados no final da revista e não nas páginas iniciais, onde aparece o comentário político propriamente dito (até morrer, Tales Alvarenga assinava a coluna; atualmente, a tarefa cabe ao chefe da sucursal de Brasília, André Petry). Na semana passada, no entanto, a coluna de Mainardi foi ‘recuada’ para o início da revista, como já havia acontecido na edição 1.942 (de 8/2/2006).


Nos dois casos em que Diogo Mainardi ganhou espaço nas primeiras páginas de Veja, isso se deu porque ele participou da ‘apuração’ das reportagens publicadas. Na semana passada, entrevistou o banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity, que confirmou ter conversado com o colunista de Veja, mas negou a maior parte das informações publicadas na reportagem. Na edição de fevereiro, a matéria principal era uma ‘denúncia’ da revista sobre o investidor Naji Nahas, que teria recebido 3,25 milhões de reais, em dinheiro vivo, por uma consultoria prestada à Telecom Itália. A reportagem principal não é assinada e informa que os documentos que embasaram a ‘denúncia’ foram obtidos por… Diogo Mainardi.


Campanha política


Um leitor atento vai reparar que o assunto de fevereiro é o mesmo tratado na edição da semana passada (edição nº 1956, de 17/5/ 2006). Na coluna de fevereiro, que acompanha a reportagem baseada em sua própria ‘apuração’, o parajornalista Mainardi ‘explica’ o ‘caso Nahas’ situando o pagamento que o investidor recebeu a título de consultoria como parte da guerra de bastidores travada pelo controle da Brasil Telecom – que envolve a Telecom Itália, de um lado, e o banqueiro Dantas e seu Opportunity, de outro.


Na semana passada, a coluna de Mainardi foi trazida para o início da revista para acompanhar a ‘denúncia’, esta assinada por Márcio Aith, de que Daniel Dantas teria em seu poder um dossiê com supostas contas bancárias no exterior de autoridades federais e ex-ministros do governo Lula, incluindo o presidente da República. Como pano de fundo nos dois casos, a disputa pela Brasil Telecom, as investigações da Kroll e as palavras de Daniel Dantas, com quem Mainardi esteve ‘por 4 horas’, conforme informou o colunista na semana passada.


A publicação da coluna de Mainardi nas páginas nobres da revista e a participação do parajornalista na apuração das duas reportagens – no material de Márcio Aith há indícios claros da colaboração de Diogo, além da entrevista com Dantas – revelam que Veja está levando a sério o que Mainardi tem a dizer. Enquanto sua coluna se resumia aos ataques repletos de adjetivos ao presidente Lula e sua equipe, Veja tinha a desculpa – meio esfarrapada, é verdade – de que publicava Mainardi para garantir o espaço ao contraditório, em nome da liberdade de expressão. Os leitores, por sua vez, poderiam tomar os textos do colunista pelo que realmente são – ataques gratuitos de um clown de extrema-direita, um bufão a procura de um papel.


Veja, no entanto, decidiu levar Mainardi a sério e passou a ‘comprar’ os delírios do colunista. A direção da Abril deve saber o que está fazendo. A cada dia que passa, porém, cresce a sensação de que a revista Veja perdeu o senso de realidade e se dedica não ao jornalismo, mas a uma campanha política contra Lula e o PT.