Thursday, 09 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

Recordar é… às vezes, passar vergonha

 

O entusiasmo com a eleição de Fernando Collor de Mello passou a fronteira da compostura e explodiu em êxtase na edição do Estado de S. Paulo do dia de sua posse na presidência da República, 15 de março de 1990.

Não se trata de reportagem, mas de um pequeno ensaio sobre a possível – ou esperada – longevidade política de Collor. Ele poderia se reeleger sucessivamente, se reeleger a intervalos, ou se tornar primeiro-ministro num regime parlamentarista, pelo qual já demonstrara várias vezes predileção.

No alto da página (10), o texto diz, ladeando um selo com o mapa do Brasil cortado na diagonal por uma faixa presidencial que lembra a marca dos dois eles da campanha collorida:

“Êxito no governo e votos podem fazer de Collor um presidente dos últimos anos do século 20 e dos primeiros do século 21. Os adversários nem sonham, mas ele poderia se reeleger no ano 2000, quando terá 50 anos, e repetir a façanha em 2010. A juventude ajuda o presidente até em uma possível mudança de regime. No parlamentarismo, ele poderia disputar reeleições seguidas e realizar o sonho de algumas centenas de amigos que querem vê-lo governando o país por pelo menos mais 30 anos.”

De volta ao palco

Se alguém naquele dia dissesse aos editores do Estadão que o antagonista de Collor, Lula, é que poderia protagonizar tal saga…

O box “Arte e ciência” informa que um ilustrador do jornal levou 20 horas desenhando as três imagens de acordo com orientações de um cirurgião plástico e apoiado no exame de fotos de antepassados de Fernando Collor, como o avô, Lindolfo, o pai, Arnon, e a mãe, Leda. Como se diria em tom blasé, os desenhos antecipatórios saíram à côté de la plaque.

Collor, que submeteu o povo a desastres econômicos e políticos, exibe em 2012 uma estampa bem mais jovem do que a prevista para 2010. E já deixa um sorriso aflorar aqui e ali: ultimamente, até conseguiu uma pontinha no elenco da política nacional. Bem distante do esplendor exibido naquela posse que, vinte e dois anos atrás, eletrizou o Estadão. Mas, como se sabe, ninguém é perfeito.