Saturday, 27 de July de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1298

Empresas de free lancers crescem vertiginosamente e ocupam lugar de jornalistas demitidos nos EUA

O inevitável acabou acontecendo. A indústria dos jornais começou a comprar por preços que vão de dois a 15 dólares artigos e reportagens feitas por free lancers para empresas instaladas na internet e que chegam a ter até 300 mil colaboradores espalhados pelo mundo.


 


Até agora, apenas os jornais, revistas e emissoras de televisão locais e regionais dos Estados Unidos e  Europa recorriam a este expediente mas, desde o  início do ano, gigantes como a agência de noticias Reuters, a maior do mundo e com sede na Inglaterra; a rede de jornais Cox, norte-americana; e o conglomerado Hachette, francês; passaram a utilizar regularmente os serviços de empresas como a Associated Content e a Demand Media. 


 


A entrada dos grandes conglomerados jornalísticos num mercado que até agora era ocupado quase exclusivamente por pequenas empresas consolidou a tendência à terceirização na produção de material jornalístico, tendo como principal atrativos a diversidade de temas em oferta e o baixíssimo custo por conteúdo adquirido.


 


A Associated Content, por exemplo, paga até 10 dólares por um texto de 50 linhas sobre um tema que a empresa considere atrativo, não importa a qualificação do autor. Já para os chamados colaboradores cadastrados o valor sobe para 100 dólares, mas o autor tem que fazer pelo menos três artigos por mês e ser considerado um especialista no tema escolhido.


 


São valores considerados irrisórios pelo mercado convencional de reportagens produzidas por autônomos nos Estados Unidos, onde uma reportagem de 60 linhas, original, tem um valor mínimo de 400 a 500 dólares num jornal de médio ou grande porte.


 


Mas apesar dos números ínfimos, só a Associated Content tem 300 mil colaboradores que aceitaram as condições de pagamento. A Demand Media afirma vender diariamente quatro mil reportagens em texto e vídeo.


 


Essas duas empresas têm menos de cinco anos de existência e são as líderes num mercado que está crescendo mais de 100% ao ano, principalmente a partir de 2007, quando estourou a crise financeira. Esta vertiginosa expansão está sendo alimentada pelo enxugamento das redações norte-americanas, como a promovida no final do ano passado pela cadeia Cox, que reduziu a redação do jornal Atlanta Journal Constitution em 30% e substituiu o trabalho dos demitidos por material de free lancers.


 


O fenômeno dos jornalistas autônomos está sendo alimentado por um exército de quase 17 mil profissionais demitidos nos últimos 10 anos na imprensa norte-americana. Outro segmento que faz a alegria de empresas como a Associated e a Demand é formado por profissionais liberais com conhecimento especifico em alguma área, e que resolvem faturar alguns trocados adicionais escrevendo artigos para a imprensa.


 


Mas as surpresas não param ai. Os consumidores de informações também já descobriram as empresas de free lancers, antigamente conhecidas como sindicatos ou cooperativas de autores, como fonte de informações. A Associated, por exemplo, tem 30 milhões de visitas (page views) por mês, enquanto a Demand, se especializou em preparar vídeos para o YouTube, onde o material é visto diariamente por mais de dois milhões de internautas.


 


É claro que a questão provoca apaixonadas discussões entre os jornalistas e em especial entre os associados a sindicatos de profissionais. Evidentemente essas empresas estão se aproveitando da crise nos jornais e do desemprego entre jornalistas para faturar alto, pagando preços aviltados por reportagens.


 


Mas também é preciso levar em conta as mudanças provocadas pela internet ao dar o poder de publicar para pessoas comuns, os chamados jornalistas amadores. A informação qualificada é a matéria prima dos profissionais, que já não podem mais concorrer em número e preço com os free lancers.