Friday, 26 de July de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1298

Espionagem gratuita

O The New York Times relata hoje o mal-estar de diversos governos com o serviço gratuito Google Earth, que oferece fotografias aéreas com tratamento em três dimensõs da superfície terrestre. Índia, Coréia do Sul, Tailândia e Rússia são países cujas autoridades temem o uso que possa ser feito das fotos. Um general do Serviço Federal de Segurança russo, Leonid Shazin, deu a seguinte declaração: “Terroristas não precisam fazer o reconhecimento de seus alvos. Agora uma empresa americana trabalha para eles”.


Não é a primeira vez que se noticia o problema.


Especialistas americanos dentro e fora do governo consideram que o serviço do Google pouco ou nada acrescenta ao que já está disponível na internet e por empresas que vendem imagens. O site Globalsecurity.org, por exemplo, tem um repositório online de imagens de satélites.


A idéia original do criador da empresa Keyhole (“Buraco da Fechadura”), John Hanke – que foi para o Google quando esse comprou a Keyhole –, era usar imagens de satélite e fotografias aéreas para elaborar um mapa-múndi tridimensional que tornasse mais interessantes jogos de computador, informa o The New York Times. Hoje, ele está metido numa discussão sobre segurança.


A Índia, devido a seu conflito interminável com o Paquistão, tem leis que proíbem a divulgação de fotos aéreas de determinados locais. Os governos israelense e americano tentam barrar detalhes de certas instalações, inclusive o heliponto no teto da Casa Branca, em Washington. Mas o número de países que têm satélites espiando tudo não pára de se ampliar: a reportagem cita Nigéria, China e Brasil.


Um dos especialistas ouvidos pelo jornal, Vipin Gupta, analista de segurança do Sandia National Laboratories, sediado na Califórnia, diz: “Quando se têm múltiplos olhos no espaço, o que se está fazendo é criar um globo transparente onde qualquer um pode obter informação básica sobre qualquer outro”. Gupta recomenda ao governo da Índia que aceite a nova realidade e se adapte aos avanços tecnológicos. O Times só não diz como isso poderia ser feito.


Tomara que não aconteça, mas se houver um episódio de uso criminoso do Google Earth o assunto voltará à discussão. O software é uma maravilha tecnológica deslumbrante, mas, como no caso de muitos outros produtos e serviços, faz-se primeiro e depois se verificam as implicações.