Depois de várias experiências feitas por alguns exploradores de novas tecnologias, as redações começam a usar com mais regularidade um estilo de narrativa noticiosa que combina duas características opostas e que sempre desafiaram a criatividade dos jornalistas: textos compactos, mas ao mesmo tempo detalhados e profundos, definidos por alguns especialistas como informação com alta densidade.
O que era uma missão quase impossível tornou-se viável no ambiente digital online graças ao uso combinado do hiperlink, da multimídia e da organização não linear da reportagem ou notícia. O mais recente exemplo da rotinização dessa prática foi uma reportagem sobre assédio sexual em jogos online produzida pela repórter Amy O’Leary e a equipe multimídia do jornal The New York Times, publicada no inicio de agosto.
O diferencial dessa nova experiência de combinação de recursos textuais, audiovisuais e interativos está no design e no conteúdo da reportagem. O design inovou ao inserir no texto marcações em destaque com um pequeno ícone identificando o tipo de material possível de ser linkado (vídeo, foto, slideshow etc). Até agora as experiências limitavam-se a marcar o hiperlink, mas sem identificar do que se tratava. Com isso ficou muito mais fácil para o leitor decidir se entra no detalhe ou se continua a leitura linear.
No conteúdo, começa a ficar mais claro o equilíbrio entre narrativa e recursos tecnológicos multimídia. Até agora, o fascínio pela exploração de novos softwares atropelava o desenvolvimento da narrativa jornalística – frustrando o leitor, que era atraído pelo teor da reportagem mas acabava confundido pela parafernália multimidiática, curtida apenas pelos nerds da computação.
Esta aparente dicotomia narrativa e multimídia servia também de álibi para que os jornalistas formados na era analógica, acostumados a produzir textos densos e longos, normalmente no papel, rejeitassem os novos recursos tecnológicos sob a alegação de que tornavam a informação rasa e pouco detalhada.
A webificação das redações e dos profissionais independentes vai tornar cada vez mais frequente a produção de relatos jornalísticos estruturados em camadas de informação, onde o leitor pode escolher o grau de profundidade e detalhamento na exploração do tema central. Além disso, o potencial de interesse de uma reportagem aumenta pela possibilidade desse mesmo leitor, ou navegador, mergulhar no ambiente reproduzido pelo repórter ao entrar em contato com componentes sonoros, vídeos, infográficos e fotos, além de interagir com protagonistas.
Tudo isso reforça a tese de que o jornalismo não vai morrer, muito pelo contrário. O uso desses novos recursos e práticas na produção de reportagens aumenta consideravelmente o envolvimento do público com a notícia, e com isso abre novas possibilidades para a profissão. O problema é que o jornalismo com recursos multimídia exige a formação de equipes de trabalho, porque cada camada informativa exige habilidades e conhecimentos específicos.
As queixas de que a internet e a computação geram o desemprego maciço de profissionais perdem a razão de ser quando se verifica que o jornalismo multimídia requer muito mais pessoal do que o modelo tradicional. Se antes uma reportagem exigia uma equipe mínima de duas pessoas (repórter e fotógrafo ou cinegrafista), agora o mínimo, na média, subiu para três (repórter, programador e web designer). O problema real não é a automação gerando desemprego, mas a resistência da indústria jornalística em contratar e em apostar financeiramente no jornalismo de alta densidade.