Friday, 26 de July de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1298

Leitura de pesquisas

O caminho mais fácil impera impávido dentro de muitas redações. Isso se constata, por exemplo, pela freqüência com que determinadas fontes de reportagens são acionadas. É mais fácil telefonar para alguém já conhecido do que avaliar se essa pessoa é a mais competente para falar de determinado assunto, ou se há gente nova, com novas visões, que valha a pena ouvir. O mesmo se aplica à edição das pesquisas de opinião.


Em diversos veículos, a pesquisa CNI/Ibope divulgada ontem estabelecia um intervalo temporal de junho a agosto, o que dramatizava a perda de popularidade do governo Lula. Acontece que, se a CNI contratou a pesquisa anterior em junho, o Ibope fez outras, perfeitamente comparáveis, em julho e em agosto. A queda foi gradativa. Em junho, quando foi feita a primeira pesquisa da série, a crise do “mensalão” estava no início.


A diretora executiva do Ibope, Márcia Cavallari, perguntou a jornalistas que lhe telefonaram, preocupados com o “tombo”: “Vocês não viram a pesquisa do Ibope divulgada em agosto?”. “Vimos. Mas não estava no relatório da CNI”… Márcia diz: os jornalistas não podem pegar o relatório da CNI e sair copiando. Têm outras fontes de informação. Para começar, as pesquisas divulgadas pelo Ibope em julho e em agosto.


Para Márcia, a constatação mais importante da pesquisa divulgada ontem é que a queda da popularidade de Lula aparece interrompida, embora registrem-se movimentos internos que merecem atenção e análise: há uma reversão em segmentos de menor escolaridade e menor renda, o que se reflete regionalmente (no Nordeste, em primeiro lugar); em compensação, continua a queda de prestígio entre os segmentos de renda mais elevada e maior escolaridade. Apesar da estabilidade no conjunto, há movimento interno.


Márcia acha engraçados títulos como o dado hoje pelo Valor: “Para Ibope, 81% conhecem denúncias”. “Não é <>!”, exclama. Quem já andou por uma redação sabe que, na hora de fazer o título, medida de uma linha de 31 toques, muitas vezes baixa o espírito do salve-se quem puder.


Márcia prevê que se as investigações das CPIs não comprovarem nada contra o presidente Lula pessoalmente, e se ele não cometer algum erro grave, ou fizer alguma declaração muito infeliz, os índices ficarão estáveis. Nesse caso, as análises sobre o quadro eleitoral vindouro deverão partir do pressuposto de que Lula conservará esses índices de aprovação.


“Já respondi mil vezes a esta pergunta: Chegou ao fundo do poço? Se não acharem nada que tenha a ver com ele, aparentemente estabilizou, porque a avaliação dele não mudou de um mês para o outro”, diz Márcia. “Agora, a opinião pública responde aos estímulos que recebe. Se ele falar uma besteira, ou as investigações acharem alguma coisa, pode cair sei lá eu para quanto. E ele pode também se recuperar. Começam a aparecer obras do governo, ele começa a tomar a frente das coisas, vira essa página, ele pensa no futuro, vai para a frente e se recupera. As coisas não são irreversíveis, nem para o bem, nem para o mal”.